A denúncia publicada pelo Coletivo Maria Bonita pode ser conferida aqui. A Carta de resposta às denúncias pode ser conferida aqui.
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Sobre as agressões de um ex-militante à nossa companheira
Viemos por meio desta nota expressar nossa solidariedade, publicada tardiamente, à companheira do MPL-Rio que foi violentamente agredida e oprimida por um ex-militante do movimento. A companheira sofreu violências, físicas, materiais e psicológicas durante sua relação com o ex-militante, como relatada na denúncia da Coletiva Maria Bonita – RJ.
Algumas das agressões foram assumidas pelo mesmo. Porém, nenhuma atitude de solidariedade à sua ex-companheira ou busca por tratamento foi realizada pelo mesmo e somente um pedido de desculpas não sana as problemáticas causadas à vítima. Entendemos que mesmo que o agressor tenha assumindo a culpa e pedido desculpas, isso não o isenta da responsabilidade de ter agredido sua então companheira, ter tido práticas machistas/opressivas que chegaram ao ponto extremo da agressão. Entendemos que sua postura não representa o que se espera de um companheiro de militância.
Como resultado das agressões, a companheira agredida se encontra prejudicada em exercer suas funções profissionais e de militância. Assumimos que nossa posição foi tardia. Por falta de uma organização mais ágil, não conseguimos debater internamente o assunto da maneira merecida, o que atrasou a construção e o lançamento de nossa posição. Reforçamos que o coletivo repudia a violência de gênero.
Também não enxergamos no punitivismo a saída para a resolução de nenhum tipo de prática violenta. Somos a favor de um outro tipo de sociedade e entendemos que a punição pela punição não nos levará à ela. Entendemos que pessoas que cometem posturas machistas/opressivas devem ser responsabilizadas por suas atitudes, mas também devem ser acompanhadas e observadas, das maneiras que forem possíveis, buscando promover a autocrítica da pessoa e prepará-la para a para a convivência em um mundo sem opressões. Não acreditamos na punição e no ostracismo como ferramentas para isso. Infelizmente, por não conseguirmos nos organizar para debater o assunto da maneira merecida em tempo hábil, fizemos pouco nesse sentido, e agora não nos parece mais possível assumirmos o papel desse acompanhamento, pois o agressor não se encontra mais no Rio de Janeiro.
Por fim, declaramos que o agressor já não se encontra em nossas fileiras militantes desde janeiro deste ano.
Por uma vida sem machismo e sem catracas!
Movimento Passe Livre – Rio de Janeiro
Como se combina o “não ser a favor do punitivismo” com as notas públicas e os escrachos? Não são punitivistas? Não lembram o suplício pré prisões? As punições podem não ser corporais mas são igualmente espetaculares e tentam “dar a lição”…
Pessoa chamada ?:
Responsibilização não é o mesmo que punição. Responsabilização é uma prática necessária para a justiça. O policial que tortura tem que ser responsabilizado, o general da ditadura também, quem matou o Amarildo também, o latinfudiário miliciano também e sim, quem comete violência de gênero, chegando ao ponto da agressão física, também deve ser responsabilizado por seus atos.
Apesar de não concordar com a maneira que a nota do coletivo Maria Bonita faz a denúncia, não posso me posicionar à favor de que uma vítima de opressão física dentro de um relacionamento conjugal não tenha o direito de tornar públicas as violências sofridas. Isso é um direito básico, assim como é o direito à resposta da pessoa acusada de agressão.
O caso agora está público e estão sendo lançadas as posições. Não vejo incoerência nesta nota. Ela comenta um caso de denúncia pública de agressão. Se posiciona e coloca a questão do punitivismo em debate, além de se posicionar contrário à essa prática.
Qual contradição você vê? Acha que não-punitivismo se relaciona com omitir denúncias de agressão? Não, isso não é anti-punitivismo, isso é complacência unilateral com uma das partes, no caso a que está sendo acusada.
Anti-punitivismo envolve direito a resposta, responsabilização e a partir daí promover algo na busca para que ele possa voltar à uma prática social saudável, num mundo sem opressões, onde queremos viver. Acompanhar, observar, se responsabilizar por estas pessoas, não no sentido autoritário de reprimi-las, mas no sentido de apóia-las em favor da mudança de postura e autocrítica. Essas são ferramentas pra se transformar algo, e rumar até uma sociedade sem opressões, que é o que todo militante libertário sincero deseja.
Ostracizar, prender, isolar do convívio social não é uma prática que nos libertará. Por isso é preciso ser anti-punitivista. O anti-punitivismo vale pra todos: pro ladrão de carro, pro que não teve oportunidade e cometeu algo ilícito, pro laranja, pro varejista do tráfico, e sim, também pra uma pessoa que cometeu agressões à uma mulher. Não tem como fazer anti-punitivismo seletivo.