Crítica coletiva e pública à realização do Seminário Internacional “Cidades Rebeldes”,organizado pela Boitempo Editorial e o SESC São Paulo. Por Movimento Independente Mães de Maio

“Eu sou problema de montão / De carnaval a carnaval / Eu vim da selva / Sou leão / Sou demais pro seu quintal” – Racionais MCs em “Negro drama”

No final da semana passada, após o cancelamento – por questões de saúde – da participação do intelectual-companheiro Stephen Graham no Seminário Internacional “Cidades Rebeldes”, alguns companheiros-trabalhadores da Boitempo Editorial (organizadora do seminário) convidaram integrantes de nosso movimento para completar a mesa específica sobre “Polis, polícia: violência policial & urbanização”, que compõe a sua programação completa (Confira as mesas na íntegra aqui:).

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Diante do convite de última hora, durante o fim de semana nós do Movimento Independente Mães de Maio meditamos e discutimos bastante, coletivamente, e decidimos não participar deste Seminário Internacional pelas razões a seguir, as quais também achamos importante tornar públicas (não apenas para os inscritos e demais participantes do Seminário, mas também para a reflexão de toda esquerda autônoma e anticapitalista).

 Para começo de conversa, uma primeira grande decepção: com toda nossa história de luta cotidiana contra a violência policial no Brasil ao longo dos últimos 9 anos, e (humildemente) o barulho, as denúncias, as medidas práticas (e as reflexões) que temos feito, todos os dias, frente a cada execução/chacina da polícia não só aqui em SP, mas em todo o Brasil, o movimento Mães de Maio ter sido chamado apenas após a desistência de um dos intelectuais da mesa não nos soou digno, à altura do respeito que exigimos e fazemos por onde merecer cotidianamente nas ruas. Os companheiros intelectuais, sobretudo os de esquerda, a nosso ver deveriam ser os primeiros a tomar a iniciativa e construir espaços em conjunto com/de/para os movimentos sociais populares, principalmente para escuta e aprendizado mútuo. Rebeldemente rompidas algumas dessas persistentes torres de marfim – reprodutoras de hierarquizações e privilégios seculares, possivelmente muito teríamos a aprender de parte a parte. Porém, salvo raras exceções – as estrelas de sempre de alguns movimentos, as catracas das mesas de seminários, da participação em pesquisas ou em grandes colóquios públicos, as cercas dos “latifúndios do ar”, infelizmente, seguem erguidas para a grande maioria dos integrantes dos movimentos sociais.

 Por outro lado, num primeiro momento, soou francamente tentador (e para nós seria uma honra) poder trocar ideia com intelectuais-realmente-compromissados-e-companheiros como Lúcio Gregori, David Harvey, Mariana Fix, entre outros que compõem as mesas atualizadas do Seminário e, sobretudo, trocar ideia com as centenas de pessoas inscritas no ciclo – a grande maioria delas, certamente, pessoas de esquerda e interessadas em buscar conhecimento crítico e transformador – que tem na editora e nesses intelectuais referências importantes nas suas trajetórias. Além de nossa contribuição ao debate-papo, poderíamos também levar os materiais de agitação/informação/formação do nosso movimento (camisetas, livros, DVDs etc produzidos nós por nós), que geralmente vendemos (a preços baixos) para garantir a nossa autonomia na luta cotidiana, ao mesmo tempo em que dividimos/difundimos nossa caminhada com outros tantos compas. Uma troca de ideia proveitosa com alguns verdadeiros camaradas, o “luxo curricular” de constar o nome de alguns de nossos integrantes em meio à galáxia de estrelas da nossa intelectualidade de esquerda (e de exquerda tb, de currículos que lattes-mas-não-mordem), muito possivelmente venderíamos um bocado de material – o que, tudo somado, poderia ser muito interessante para nós… (Particular e pessoalmente?)

PORÉM, HÁ UMA QUESTÃO MUITO SÉRIA E ANTERIOR A TUDO ISSO, REFERENTE A ESTE SEMINÁRIO ESPECÍFICO, que diz respeito a toda esquerda anticapitalista, implicando todos nós: participar desta programação significaria, a nosso ver, de alguma maneira, compactuar com a forma como foram concebidos e estão sendo realizados tanto a tônica/composição dessas mesas, como o mecanismo seletivo das suas inscrições (ao preço de R$ 60,00). Opções que, infelizmente, dão um sentido político claro e alarmante ao Seminário como um todo: uma verdadeira “gourmetização” da Rebeldia, bem concreta, vivida por muitas e muitos de nós no cotidiano. Na pele, na mente, e nos corações.

 Ora, em primeiro lugar, a nosso ver um Seminário Internacional intitulado “Cidades Rebeldes”, cujo tema remete de imediato às Revoltas Populares de Junho de 2013 e a uma publicação que a própria Boitempo coorganizou sobre esses acontecimentos (“Cidades Rebeldes – Passe Livre e as manifestações que tomaram conta das ruas do Brasil” -), num evento subsidiado e correalizado junto à organização patronal SESC – Serviço Social do Comércio, não poderia de maneira nenhuma ter este valor de inscrição (R$ 60,00) como efetiva Catraca para o público em geral. Quem conhece a realidade da classe trabalhadora brasileira – como muitos autores da Boitempo bem analisam em diversos livros, sabe que este valor é muito pesado no orçamento mensal dos trabalhadores, ainda mais pressionados pela crise atual. A nosso ver, preços mais acessíveis ou, de preferência, a entrada gratuita deveria ser um “princípio de esperança” e de “rebeldia” (de classe?) da própria organização do seminário para a plena realização dos fins anunciados pela sua convocatória.

coverTODAVIA, TALVEZ AINDA MAIS GRAVE DO QUE ISSO, a nosso ver, é tanto a ausência de nossos irmãos e irmãs, trutas de batalhas, do Movimento Passe Livre São Paulo na programação original – e mesmo na atualizada – do Seminário Internacional que leva o nome de sua rebeldia, ao mesmo tempo em que assistimos à simultânea presença de figuras como o Sr. Luís Inácio Lula da Silva (originalmente na Abertura do seminário, para uma palestra sobre “Das Diretas Já às Jornadas de Junho: os desafios para uma esquerda democrática” – palestra depois cancelada por ele); bem como do Sr. Fernando Haddad (que vai participar do Encerramento, junto ao David Harvey, na mesa “Da Primavera dos Povos às cidades rebeldes: para pensar a cidade moderna”). Afora a presença de algumas figurinhas carimbadas de mediadores e comunicadores totalmente integrados, e sempre a postos, à máquina petista-governista de lavagem cerebral (“progressista”, “livre” e “amorosa”) de trabalhadores e trabalhadoras…

 

Nós não acreditamos ser mais possível, a esta altura do campeonato, intelectuais de esquerda dignos deste nome, organizarem um seminário sugerindo que o Sr. Luís Inácio Lula da Silva tenha qualquer legitimidade para falar sobre “os desafios para uma esquerda democrática”. Logo este Sr. que, todos sabemos – ou deveríamos saber, se trata das figuras mais centralizadoras e autoritárias da chamada exquerda brasileira; que capitaneou, usou, abusou e ainda capitaliza até hoje todo um projeto coletivo de décadas e gerações de trabalhadores brasileiros [o hoje – não por acaso – agonizante Partido dos Trabalhadores (PT)], em torno de si e em favor de um projeto pessoal permanente de poder, que se renova a cada ciclo eleitoral. Uma figura cercada por fiéis correligionários que fazem todo o trabalho sujo para ele, que nunca permitiram qualquer democracia interna dentro do PT, e que nunca toleraram a ascensão de qualquer forma de questionamento/oposição a sua figura (desde a época de liderança sindical no ABC, e as muitas histórias tenebrosas que aquelas cidades escondem, até os dias atuais de Instituto Lula). Ademais, foi o próprio Lula quem disse, já em 2008, para um insuspeito Mino Carta e para quem mais quisesse ouvir, em alto e bom som, que ele “NUNCA FOI DE ESQUERDA”.

O que este sujeito, então, teria agora a dizer sobre as “Jornadas de Junho” e a noção de “rebeldia” para a verdadeira esquerda brasileira nos dias de hoje – que não sejam dicas para a melhor cooptação (ou repressão) de movimentos sociais e para a preservação/renovação da ordem do capital e seus espaços/territórios de acumulação (e espoliação, como nos ensina Harvey) atualmente no Brasil?!

 A quem interessa promover, pela enésima vez, esta confusão na cabeça das pessoas realmente de esquerda (que acompanharão o Seminário), colocando joio e trigo juntos e misturados: sugerir que o Sr. Luís Inácio Lula da Silva, e a alta-burocracia do Campo Majoritário do PT (Lula, Dirceu, Pallocci et caterva, que destruíram este projeto coletivo de 30 e tantos anos, e ainda por cima carimbaram por longo-tempo o selo da “corrupção” em toda a esquerda do país), tenham qualquer coisa a dizer (em favor) ou a contribuir para uma real renovação da esquerda brasileira?! A quem interessa esta confusão (ou este proposital “red washing” na imagem de Lula), se não única e exclusivamente aos interesses pessoais, político-eleitorais, do Sr. Lula – o eterno-candidato dessa alta-burocracia e seus asseclas?! Acompanharíamos a sua bela retórica, pela enésima vez “na história deste país”, com uma total ingenuidade ou um total cinismo? Temos cara de trouxas?! Até quando?!

O mesmo raciocínio vale – ou deveria valer – para a participação do Sr. Prefeito Fernando Haddad na mesa de Encerramento do Seminário Internacional, justamente aquela que tratará “Da Primavera dos Povos às cidades rebeldes: para pensar a cidade moderna”, e que, emblematicamente, também não conta com nenhum integrante do Movimento Passe Livre São Paulo – nem de qualquer uma das centenas de organizações autônomas de trabalhadores que nos rebelamos e saímos às ruas cotidianamente ANTES, DURANTE E DEPOIS DE JUNHO DE 2013 (até os dias atuais), não apenas para “pensar”, mas efetivamente construir “uma cidade moderna” desde baixo, horizontal e coletivamente, sem velhos nem novos guias geniais dos povos, visando uma sociabilidade realmente mais igualitária, justa, não-punitivista, diversificada, autônoma e livre.

A organização de um Seminário Internacional intitulado “Cidades Rebeldes”, que se inspira na luta popular do Passe Livre e de todos nossos movimentos que saímos às ruas “por uma vida totalmente sem catracas”, não chamar nenhum dos integrantes desses movimentos para a mesa sobre o tema e, ao contrário, chamar aquele que criminalizou, reprimiu e até sugeriu que os integrantes do MPL seriam espécies de “fundamentalistas” “intolerantes” – os comparando com os terroristas do atentado contra o jornal Charlie Hebdo, nos parece uma tomada de posição política bastante clara por parte dos organizadores do Seminário. Em uma palavra: revisionismo total de Junho (e, inclusive, de muitos dos textos/análises editadas pela própria editora, a começar pelo livro homônimo do Seminário). Sob qual interesse? A soldo ou a serviço de quem?

Sob esta lógica, valeria então também convidar o governador-genocida Sr. Geraldo Alckmin, que no fatídico dia 19 de Junho de 2013 foi quem tomou a iniciativa, depois de toda pressão popular daquelas semanas, e telefonou ao Sr. Haddad, avisando que iria revogar o aumento ANTES deste e, se o Prefeito quisesse o seguir, que fosse ao Palácio dos Bandeirantes (sic) o acompanhar (desde que no humilhante papel de coadjuvante!) para o anúncio oficial da derrota de ambos os gestores – frente à persistente “rebeldia das ruas”.

[Ainda se Haddad tivesse cedido (bem) antes à pressão da esquerda autônoma por singelos R$ 0,20 Centavos na passagem do Busão, que ali representavam uma vitória histórica, clara e necessária das ruas de esquerda (e talvez não tivesse sido criado todo este espaço/tempo/condições para a onda coxinha fascista subsequente…): só que não, Haddad quis demonstrar ser um gestor capaz de “segurar a pressão popular” “no limite da irresponsabilidade” e dos seus ótimos serviços prestados (em benefício das planilhas e dos lucros de quem?). A Direita o agradece profundamente até hoje… E pouco nos importa que o Sr. Prefeito Fernando Haddad se autodefina como um “gestor da nova esquerda” – diferente do assumidamente conservador Lula, afinal, na prática, Haddad cotidianamente beija a cruz das empreiteiras, construtoras, dos grandes empresários do transporte (cuja tarifa ele voltou a aumentar para pesados R$ 3,50 apenas um ano e meio depois de Junho: rebeldia?), do próprio padrinho Lula, e de todo o grande capital que financiou a sua eleição (a reboque do projeto de poder lulo-petista dos últimos anos). Ouviremos Haddad analisar, no Seminário, se ele será ou não rifado nas próximas eleições de 2016, mesmo sustentando-se nas Tattolândias e Andres Sanchezlândias deste neoPT, e mesmo com os já amarrados apoios “renovadores” do PMDB de Gabriel Chalita e do PDT de Luis Antônio Medeiros: a que projeto de “rebeldia” ISSO diz respeito? Porque não tem nada a ver com a nossa. Enquanto a esquerda intelectual insiste em cultivar seus autoenganos e seus gourmetizados ovos de serpente – não levando a sério sequer aquilo que ela própria escreveu, editou e publicou, eles todos (da exquerda à velha direita) sabem muito bem o que fazem…]

978-85-7559-328-8E por que seriam justamente eles, agora, na Abertura e no Encerramento do Seminário, o Criador e a Criatura – que, não esqueçamos, foram lá num ato de subversão incrível, não?, literalmente, beijar a mão do Sr. Paulo Maluf para a eleição de 2012 – a ditar os novos desafios e rumos da nossa histórica rebeldia?! A nossa rebeldia sentida na pele, atualizada a cada novo dia de trabalho, de transporte público e de humilhação cotidiana vivida nestas Cidades-Mercadorias frente os patrões e o estado, por quem hoje seguimos sendo monitorados, criminalizados e reprimidos pela simples rebeldia de existir pobre, preto ou periférico, desde pelo Exército de Lula e Dilma na Favela da Maré no Rio de Janeiro – e tb sempre a postos diante de qualquer manifestação popular mais radical (nossos presos de Junho e dos despejos e espoliações da #CopaDasCopas que o digam…); ou nas vilas e Cabulas cotidianas chacinadas pela Polícia Militar Baiana dos governadores-genocidas petistas, Sres. Jaques Wagner, este sionista baba-ovo de torturador, e agora o sr. Rui Costa (PT-BA); ou pela Guarda Civil Metropolitana de Haddad e seus “rapas” de todos os dias, por toda a região central da cidade de São Paulo. Esquerda?! Onde, cara pálida?! Essa “Democratização”, esse “Desenvolvimento” e essa “Pacificação” promovida por vocês… essa Exquerda e essa Paz são “uma senhora branca que nunca sequer olhou na nossa cara!”.

Definitivamente, companheiros e companheiras deste Seminário: desde quando “somos todos de esquerda”?! Desde quando “é tudo a mesma coisa”?! Até quando sustentarão essa farsa conciliatória de classes do “amplo, geral e irrestrito” campo “democrático-popular”?! O que nós temos a ver com as construtoras, empreiteiras e banqueiros que financiaram, por anos a fio e às pilhas de dinheiro, pelos Caixa 1, 2 ou 3, este projeto de poder-pelo-poder?! O que há de esquerda e de rebeldia nisto?! Quem foi que nos colocou neste balaio de gatos e ratos, cobras e porcos, nos tornando reféns da constante chantagem desta nova direita prática?! Desde quando houve/haverá “governabilidade” possível (à esquerda) com o padrão sarney-temer-renan-cunha que hegemoniza as instituições de todo o estado brasileiro há décadas – e estamos vendo muito bem a que ponto chegou na atual hiper-atuação, sob a regência de Cunha e Renan, das bancadas do Boi, da Bíblia e da Bala, sempre tratadas a pão de ló como “base aliada”, nos últimos anos, pelos “habilidosos” gestores petistas?! Verdadeiros “craques”… Em que?! Para quem?!

Qual será o próximo engodo de “esperança” e “rebeldia” “paz e amor” lulo-petista: uma “frente ampla” de exquerda forjada como “livre e independente” para esconder a desgastada “marca PT” nas próximas cédulas eleitorais?! Nossos sonhos e nossas rebeldias se restringirão, mais uma vez, ao ritual cívico de apertar algumas teclas a cada dois anos, em verdadeiras urnas funerárias de nossas ações diretas, para ato-contínuo tomar uma sucessão de tapas na cara e vacas tossindo, e nos conformar a participar todos os santos-dias de cada novo aparato-embuste criado pelo sistema petista de governabilidade biopolítica e contenção da nossa revolta (Conselhos, Encontros, Audiências, Fóruns, Seminários, Diálogos, Festivais etc etc etc)?! Como já disse os nossos companheiros Hamilton Borges e Fred Aganju, da campanha Reaja ou Será Mort@, frente ao sucesso de tantas políticas públicas de “inclusão social”, “afirmação dos direitos humanos”, “participação popular”, “mesas de diálogo”, “promoção da igualdade racial” e blá blá blá “nós preferimos o fracasso de enfrentar o Terror nas ruas”. O Terror para o qual eles, quando não protagonizam, colaboram ativamente contra as nossas Raças Perigosas e Classes Rebeldes.

De uma vez por todas: a alta burocracia, o Campo Majoritário petista e seus principais gestores – Sr. Lula e Sra. Dilma Rousseff à frente – não são de esquerda! A maioria deles sequer ex-querda é. Nunca foram, nem nunca “voltarão” a ser. Não nos confundam com eles! Simplesmente parem: não mais em nosso nome! Já basta!

Enfim, por tudo isso (e muito mais!), o nosso Movimento Independente Mães de Maio acha que seria – no mínimo – contraditório demais com a nossa caminhada autônoma, que trilhamos com muita luta, compromisso e sacrifício no dia-dia (sem receber favores nem pagar simpatia para ninguém), aceitar a cômoda e glamurosa participação neste seminário “Cidades Rebeldes” e, ao fim e ao cabo, compactuar com essa verdadeira operação político-ideológica de reescrita das Revoltas de Junho de 2013 e da história recente do país, com a colaboração e coparticipação ativa de nossos inimigos. Sentar à mesma mesa, como “aliados”, daqueles que nunca sequer olharam na nossa cara ao longo desses mais de 12 anos?! Jamais! Lembrem-se: os Crimes de Maio de 2006, que vitimaram fatalmente mais de 500 jovens, nossos filhos e filhas, irmãos e amigos – dando origem ao nosso movimento, ocorreram sob a gestão Lula no governo federal, o qual seguido por Dilma nunca sequer nos recebeu nem de forma protocolar – mesmo diante de pedidos formais feitos há anos – a não ser indiretamente, por meio de seus correligionários, para tentar nos cooptar… Por que nos receberiam, pois?! Não temos uma conta bancária que faça jus ao cerimonial do Palácio do Planalto (quantas vezes será que os Sres. Lula e Dilma Rousseff já não se reuniram com banqueiros do quilate e dos círculos íntimos dos Henriques Meirelles e Joaquins Levys que, afinal das contas, dão a tônica política-econômica de seus governos… Rebeldes?). E seguem comodamente encrustados no alto poder do país há mais de uma década (fazendo também lobbies internacionais para grandes corporações brasileiras, junto a sanguinários gestores mundo afora – Teodor Obiang da Guiné Equatorial que o diga, com dinheiro do FAT e FGTS dos trabalhadores brasileiros, via BNDES, para mais espoliações territoriais na reprodução ampliada do espaço capitalista global). Rebeldia?

Para colocar em prática estas operações de falsificação da realidade (das revoltas e das esperanças reais dos trabalhadores) eles não precisariam deste Seminário, pois já têm uma série de canais de comunicação-marketing, de certas mídias tradicionais ligadas ao que há de pior nas igrejas exploradoras da fé de nosso povo aos ditos meios “progressistas”, passando pelos Joãos Santanas contratados a peso de ouro, permanentemente à serviço de seu eterno projeto de poder (dentro e em prol da renovada ordem capitalista). De nosso lado, na “Margem Esquerda” do chão de terra que nós pisamos cotidianamente, mirando firmemente “Para Além do Capital”, não há espaço para compactuar com esses oportunistas da exquerda – que do alto de seus gabinetes e contratos com as agências de comunicação oficial do governo torciam e incentivavam que a Gaviões da Fiel “escorraçasse” das ruas os nossos companheiros de trincheiras da verdadeira Periferia Rebelde, tratados como cachorros “vira-latas” por quem desde lá – sem saber? – já fazia coro com os coxinhas fascistas antes destes saírem às ruas pedindo – na mesma toada de “escorraçar” e “ fazer faxina”, só que agora, em 2015, pela limpeza (leia-se prisão) dos petistas e pelo impeachment de Dilma Rousseff. Que rebeldia real há nesta falsa polarização histérica, doentia e fascista que marca a disputa espelhada entre a horda da fé oposicionista versus a horda da fé governista?! Não jogamos este jogo sujo.

Não ficaremos mais reféns deste tipo de exquerda, suas falsificações da história, nem cairemos mais em suas armadilhas. Não seria intelectualmente honesto de nossa parte, seja em relação aquilo que lemos (inclusive em vários livros da Boitempo – que deveriam ser levados mais a sério), seja principalmente em relação aquilo que vivenciamos na prática. David Harvey colocado lado-a-lado com um dos principais lobbistas globais da Oderbrecht, juntos no mesmo balaio de “rebeldia”?! Onde isso vai parar?! É urgente voltarmos a demarcar muito claramente limites, que não falamos essa mesma novilíngua, não “jogamos no mesmo time”, não estamos do mesmo lado da trincheira: NÃO!

Só nos faltava mais esta: seriam Lula e Haddad, agora, os “novos rebeldes” na visão da Boitempo?! Figuras para quem a verdadeira rebeldia é um espectro a assombrá-los, cotidianamente, ao menos, desde o ápice das revoltas populares de Junho de 2013…

“Cidades Rebeldes”, “Periferias Rebeldes”: no que depender de nossas forças, não se tornarão o novo “Nome da Marca”. Recusamos este espetáculo que nos sufoca e, por trás das suas “Videologias”, se alimenta do sangue de nossos mortos, aqui na periferia do “Planeta Favela”, que segue sangrando… Não em nosso nome! Nossos mortos têm voz em nossa luta, e exigimos respeito a sua memória – e à rebelde tradição dos oprimidos que nós carregamos no dia-dia conosco. Os movimentos sociais autônomos, em meio ao vertiginoso e sufocante “Novo Tempo do Mundo” e do Brasil, não permitiremos que a nossa rebelião seja gourmetizada pela exquerda que encarcerou e enterrou muitos dos nossos: sonhos, projetos e irmãos/ãs de carne e osso. E seguem enterrando.

O mínimo de rebeldia necessária, diante desta proposta política indecente, é a RECUSA pública deste convite.

Rebeldia, para nós, começa pela luta para se garantir a respiração. E pela ressuscitada fúria.

Movimento Independente Mães de Maio, Junho de 2015

 

PS – Fazemos questão de distinguir a postura pessoal dos companheiros-trabalhadores da Boitempo Editorial, em especial dos compas editores-adjuntos Kim Dória e Isabella Marcatti (sempre muito respeitosos conosco), das opções políticas-ideológicas e comerciais de seus patrões. Receamos que este “Seminário Internacional”, da forma como foi concebido – aparentemente sob milimétrica encomenda dos interesses político-eleitorais do Instituto Lula e cia. ltda., muito provavelmente tenha o “selo Emir Sader” de subserviência intelectual e política. Um selo-vergonha (reiterado até quando?) para uma editora que, simultaneamente, é capaz de trazer verdadeiros intelectuais de esquerda como David Harvey ou István Mészaros, e editar coleções como a “Tinta Vermelha” ou a “Estado de Sítio”, coordenada pelo compa-de-várias-horas, o professor e intelectual-rebelde Paulo Arantes. Menos submissão editorial ao “estado de sítio” atual no Brasil (copromovido pelo lulo-petismo e seus pau-mandados), e cada vez mais tinta vermelha de rebeldia real cairá bem para uma editora que pretende se manter como referência para as novas gerações da esquerda autônoma e anticapitalista no Brasil. “O dia é um pasto azul que o gado reconquista(rá)”.

108 COMENTÁRIOS

  1. FÓRMULA DA FELICIDADE:
    “…um sim, um não; uma linha reta, uma meta.” Nietzsche

  2. que paulada.

    Uma reflexão apenas: estaria a palavra “gourmet” servindo como uma variante de extrema-esquerda para a palavra “caviar”?

  3. 1. senhor(a) editor(a), monstro sagrado de princípios da esquerda anticapitalista, que oportunismo do cão colocar a foto do livro do Boulos, ein?

    2. baita texto.

    3. gente, a Boitempo é firma, né? e uma que respeita bem pouco os direitos trabalhistas. ainda bem que colocaram essa nota no fim.

  4. Concordo com todo o texto. Mas por que não ir para o evento e subvertê-lo com todas essas críticas? Conduzir as mesas para o nosso lado poderia acompanhar imensos ganhos para os movimentos autônomos.

  5. certinho… como se, se fosse na USP, de graça, os pretos e os pobres iriam colar. Mano, para de viajar rapaziada.

  6. 1- O texto deixa a clara impressão de que se o convite tivesse sido feito a priori essas criticas ou não existiriam ou seriam feitas na mesa do seminário e, por por razões obvias com muitíssimo mais modicidade.

    2- Um movimento que mede a sua importância pelos convites que recebe para seminários organizados para um público seleto em espaço fechado equipara-se ao tamanho do seminário.

    3- A dedicação que aparenta ter sido necessária para produzir uma material desse tamanho para criticar um seminário revela o quanto tempo livre tem os companheiros, que respeito muito, do movimento mães de maio.

    Um abraço e mais felicidade nos próximos manifestos, nesse se queimaram um pouquinho com quem não duela só pelo teclado…

  7. O Movimento Independente Mães de Maio, de forma bastante reacionária, perdeu a oportunidade de dizer sim e tecer as argumentações críticas durante o próprio evento, abrindo assim um debate. Os extremos da esquerda no Brasil derrota-se a si própria.
    A única coisa que dá para concordar é a crítica ao uso abusivo do termo anticapitalismo que muito bem percebem. Como ser anticapitalista cobrando valores altos para o público participar?
    A esquerda está fadada ao fracasso. É assim que os conservadores vão ganhando espaço. Radicais de plantão brigam sozinhos, enquanto os oportunistas fazem a reforma política! Pasmem!

  8. E parece que a maioria dos companheiros está seguindo ainda a lógica do “mudar por dentro”…
    Nossa luta é nas ruas, não compartilhando mesas com lacaios do capital, seja em eventos, seja em cúpulas dos governos. Esse projeto já mostrou seus resultados.
    Priorizemos as quebradas ao palanques!
    Força na luta, Mães De maio!!!

  9. Maximo respeito a essas mulheres fortes e de luta q não negociam sua dignidade e integridade. Pedrada!

  10. Baita texto!
    já passou da hora de confrontarmos diretamente esse petismo e fortacer a nossa luta!

  11. Vamos lá, a que se propõe o movimento mães de maio?
    Contribuir na organização dessas companheiras e muitas outras vitimas da violência policial nas periferias do Brasil.

    A que se propõe esse texto?
    Criticar o Lula, o seminário da boitempo e a sua organização, recusando um convite que na avaliação dos companheiros, diminuiu a organização.

    Qual a relação entre o objetivo manifesto dos autores e de sua manifestação nesse material?
    Estranha para ser generoso, despreza uma importante chance de divulgar a luta e resistência dessas mulheres, de fortalecer a luta contra a violência da polícia e da política, de, em ultima instância denunciar os próprios participantes e organizadores do seminário em um espaço com muito maior repercussão que o passa palavra.
    Em outras palavras, para a luta cotidiana do movimento o texto não tem propósito de existir, para fortalecer as posições que os companheiros manifestam no texto tão pouco, pois abrem mão de divulgar sua crítica.
    Como não acredito que as pessoas façam coisas evidentemente despropositadas, só me resta a hipótese do despeito pelo convite não ter sido feito a priori.

  12. O Master Chief está muito viciado em pratos cozidos e salvamento de receitas, aí não vê que quando alguém salga o pudim e quer chamar ele de cupim de forno o melhor é partir pro churrasco e outros pratos fora da cozinha. O forno e seu pudim salgado que azedem. E se as revistas culinárias e degustadores de plantão estão dando mais atenção pro pudim de areia, o azar é deles e vamos nos divertir com nosso churrasco entre camaradas, longe dessa gosma toda.

  13. Ok quem não concorda e/ou se identifica com a postura expressada aqui, pero 60 pratas para entrar num evento com esta chamada, sinceramente né? não rola. ENTRADA LIVRE e quem não concorda com o preço que entre mesmo e PULE A CATRACA desses formatos caretinhas de “diálogo”

  14. caros,
    parabéns às mães de maio. a luta de vcs inspira e transpira rebeldias.
    parabéns ao passa palavra por ser via de expressão das práticas e pensamentos que são fora da curva, mas que se dão como papo reto.
    e como dizia a cantora careca, nos idos dos 1970, “a política é a guerra continuada poe outros meios”.
    e como dizia albert camus, um peid-noir (pé-preto) que nunca foi bem aceito pela esquerda oficial francesa (leia-se sartre e sua camarilha): “o revolucionário é um revoltado ou não é mais revolucionário, e sim policial e funcionário que trabalha contra a revolução”.
    belo texto! potência política e analítica invejáveis! as práticas discursivas também rompem muros e diques. vcs estão fazendo passar.
    ps1: os autores da epígrafe são apoiadores históricos do pt
    ps2: por favor, parem com a metáforas gastronômicas, como dizia o anarquista e garçom gil de souza passos, comer é bem é bom e é disso que eles querem nos privar.

  15. Sobre o ps1 do comentário anterior: Racionais já foi apoiador do PT, como muitos já foram e já nele votaram e hoje não mais o são. O próprio Mano Brown reafirmou este ano estar desiludido e não mais dar apoio nem a este nem a qualquer outro partido

  16. Concordo muito com a posição adotada – mas preciso dizer que a nota está terrivelmente mal escrita. Sem foco, divagante, repetitiva. Quem não tiver muita vontade de ler desiste ali pelo segundo parágrafo. Ela não precisaria ser maior que a nota de pé de pagina no final. Diria tudo e todo mundo leria.

  17. Compas, acho que deve estar havendo alguma confusão no que se refere aos valores. É barato o curso, preço quase simbólico:
    CURSO DE INTRODUÇÃO À OBRA DE DAVID HARVEY (9 a 12/6)
    Inscrição para o curso (quatro aulas, com Ermínia Maricato, Mariana Fix, Raquel Rolnik e Marcio Pochmann. Inclui apostila Introdução à obra de David Harvey e material completo do evento)
    R$15 (credencial plena: trabalhador do comércio de bens, serviços e turismo matriculado no Sesc e seus dependentes)
    R$25 (meia: estudante, servidor de escola pública, +60 anos, aposentados e pessoas com deficiência)
    R$50 (inteira).

    SEMINÁRIO INTERNACIONAL CIDADES REBELDES
    Inscrição integral no seminário (9 a 12/6)
    R$18 (credencial plena: trabalhador do comércio de bens, serviços e turismo matriculado no Sesc e seus dependentes)
    R$30 (meia: estudante, servidor de escola pública, +60 anos, aposentados e pessoas com deficiência)
    R$60 (inteira).

    Inscrição dia avulso do seminário (para cada um dos dias isoladamente: 9, 10, 11 ou 12/6):
    R$6 (credencial plena: trabalhador do comércio de bens, serviços e turismo matriculado no Sesc e seus dependentes)
    R$10 (meia: estudante, servidor de escola pública, +60 anos, aposentados e pessoas com deficiência)
    R$20 (inteira).

    Honestamente, 15, 25 reais, recebendo apostila, bloco, caneta, existe onde? Estou inscrita, e adorei tudo ontem!

  18. Todo academicismo de humanas é considerado fajuto pela tuma das exatas. Pra mim o espaço acadêmico HUMANAS é tão permeado de luta quanto mídia e o espaço político em si. Tanto que é financiado por uma pá de FordFoundation, think tanks liberais, ONGs que são canais de dinheiro das agëncias de arapongagem e contra-informação do imperialismo e afins. E nessas vou falar que certa crítica aí faz sentido sim. E queria que algum outro partido encampasse minimamente a luta-antiimperialista no Brasil, por que o PT mesmo, cheio de PEDRO ABRAMOVAY AVAAZ (patrocinado pela Open Society Foundation do George Soros) enquanto o resto da esquerda fica nessa de Trosko que acha que tem que ser mais pró-EUA ainda, que já tá muito de soberanismo do jeito que tá. Voltando pra academia, metam o malho mesmo, mas daí, tão fazendo pequena política de novo com esse papinho de PT METEU A PECHA DE CORRUPÇÃO NAS ESQUERDAS (zzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzz), não tenho paciência, sinceramente. A POR QUE OS INTERESSES POLITICOS ELEITORAIS DO SENHOR LULA. Essa turma acha que Zé Maria, Lu Genro, Iasi ou COsta Pimenta tem chances eleitorais? Se for ver bem, só uns louco conservador da direita apontam isso do imperialismo dentro do PT, e só muito por que não querem a legalização da maconha pro exemplo). Muito duro não ter ninguém da esquerda nesse discurso quase, como de fato rola nas outras experiências de esquerda do continente Lat. Am.

    Inclusive deve ser por isso que o PT é tão pelegão em comparação com o resto das esquerdas da América Latina. Mas aí passa também por terem roubado o PTB que era pra ser do Brizola e outras questões históricas. E viso que mesmo na academia, pra esses grandes acadêmicos gringos (financiados por quem e com quais interesses, essa deveria ser a questão crítica no meu ver também), Lula pra eles é muito mais combativo e de ES(e não ex)querda do que até os outros pares deles lá na Europa acham aceitável, saudável, liberal-democrático ou sei lá o que.

    Que façam as criticas que o governismo merece onde ele merece mas sem estratégia, seguirão marginalizados simplesmente tentando capitalizar pra pequena política local, enquanto na verdade dão forças á direita abertamente conservadora e reacionária no plano nacional e internacional. Pra turma que não consegue enxergar esse horizonte e que acha que o mundo gira em torno só dessas questões internas de CiDaDeS ReBeLdEs daqui, ok, é justo que tenham esse paradigma assim como é justo eu achar isso pouco inteligente e também não querer me somar a isso.

    “AH MAS NÓS NOS REBELAMOS MAIS DO QUE VCS”. OS caras pintam como se junho tivesse sido desses grupos, sendo que não foi. Não foi capitaneado pelo Mães de Maio nem pelo MPL. Nem pautado nem porra nenhuma. Podem ter acendido a polvora lá, mas explodiu foi na esquerda toda, se não conseguem ver isso, boa sorte para todos. Só irão ressucitar a fúria da massa contra eles mesmos.

  19. EXTREMESQUERDIZANDO A CONSIGNA ou VICE-DICÇÃO
    [antes] A rebelião não será gourmetizada.
    [depois] A revolução não será gourmandizada.
    P.S.: E no durante, não vai nada?

  20. bom em primeiro lugar gostaria de dizer que trabalhei na boitempo e apesar de registrado, o que é milagre em trabalhos “de esquerda”, eu o era em outra função, pra não receber o piso. fora os constantes assédios morais e as condições de ultraexploração no dia a dia….

    fora isso, me parece que o PS é a chave. não é contraditório que a boitempo publique harvey e faça eventos ofensivamente pelegos como esse, eles querem grana. querem vender pra chico e pra francisco, pra autonomistas e stalinistas. pra isso mesmo que a coleção do paulo nem venda tanto, ela é útil pra fazer a imagem da empresa. e a relação com o governo é bastante útil pra incentivos fiscais, apoio pra eventos, patrocinios, etc.

    e claro que isso não é de graça. não so nos conteudos dos eventos, mas dos proprios livros. é só ver que a cada eleição, geralmente bem antes do prazo oficial de campanha, a boitempo lança algum livro petista sobre lulismo, dilma, etc. e aí os autores viajam o brasil fazendo campanha antecipada, convidados por prefeituras muitas vezes, disfarçando de lançamento de livro…

    e não esqueçamos nunca: a editora foi criada e estabelecida graças ao EMIR SADER – inclusive ha uns anos rolaram denúncias, bem críveis atingindo quem atinge, de corrupção relativas ao incentivo fiscal pra caríssima enciclopédia latinoamericana, deem um google.

  21. realmente no final do seu comentário ce tem razão, leodn, junho não foi causado por mães de maio nem pelo mpl, apesar deles terem ajudado e muito a riscar a pólvora como vc mesmo afirma. FOI CAUSADO PELO ESTADO. dirigido pelos que participam do seminário que fala sobre… a rebeldia contra o estado. se pra vc ta de boa, cola lá. eu to com as mães de maio e cago pra isso.

  22. Diante de um seminário realizado nos termos que o texto destrinchou, salta aos olhos o silêncio dos intelectuais de esquerda convidados para o evento, próximos à Boitempo ou distantes dela. Nada a dizer?

  23. O artigo vem num momento muito oportuno, às vésperas da realização do 5º Congresso do PT, em Salvador. Vejam só a matéria que saiu ontem no Estadão:

    “Com frente popular, PT propõe guinada à esquerda para a a sucessão de Dilma” > http://m.politica.estadao.com.br/noticias/geral,pt-vai-propor-nova-politica-de-aliancas-para-2018,1702934

    Grupo ligado a Lula, que estimulou aliança eleitoral com o PMDB, agora faz críticas veladas ao aliado e procura criar fato político para desviar o foco da agenda negativa do pacote fiscal e das denúncias de corrupção para a disputa presidencial de 2018

    Veja a íntegra da “Carta de Salvador” que será apresentada no 5º Congresso do PT > http://politica.estadao.com.br/blogs/radar-politico/wp-content/uploads/sites/39/2015/06/cartapt.pdf

  24. Belo texto, sobre um seminário que evidentemente tinha como um dos intuitos políticos fazer um “red washing” do Lula-Haddad…

    Sobre o David Harvey, a informação que tive é que ele cobra para dar palestra. Não sou madre teresa e cada um sabe quanto e quando cobra pelo que considera trabalho.

    Então creio que o caso desse seminário serve para deixar claro que existe nichos mercadológicos de “esquerda”. O interessante é que a Boitempo correu o risco de fazer um branding negativo da sua marca (como creio que ocorreu), para fazer um branding positivo do Lula-Haddad-PT. O que mostra um grande comprometimento com uma corrente política. Nesse sentido o estranho não é que nunca tenham feito uma segunda edição do “Mudar o Mundo sem Tomar o Poder” do Holloway, mas que um dia tenham lançado uma edição sequer dele, com tradução do Emir Sader.

  25. Nós do Movimento Independente Mães de Maio havíamos feito uma postagem na página do evento do Seminário Internacional “Cidades Rebeldes” (https://www.facebook.com/events/1584644328477277/), compartilhando respeitosamente, com todos os participantes e demais interessados, a nossa crítica coletiva à realização do mesmo.

    OCORRE QUE, ACABAMOS DE NOTAR, A POSTAGEM FOI APARENTEMENTE DELETADA PELO ADMINISTRADOR DO EVENTO! (como ela foi curtida por mais de centena de pessoas, há testemunhas de sobra…)

    Por essas e outras pedimos aos companheiros e companheiras que nos ajudem a divulgar este texto, fazendo-o circular também entre os participantes do Seminário. Se tivéssemos condições o imprimiríamos e distribuiríamos para os participantes do evento…

    Afinal, qual deveria ser o papel e o tom da Crítica? A descrição que o site da Boitempo faz da sua reedição do livro “Ideologia Alemã”, de Marx e Engels, talvez nos dê algumas pistas importantes: “A crítica – quase toda em tom sarcástico – dos dois filósofos ridiculariza o idealismo alemão e articula as categorias essenciais da dialética marxista (como trabalho, modo de produção, forças produtivas, alienação, consciência), constituindo assim um novo corpo teórico” (http://www.boitempoeditorial.com.br/…/view/a-ideologia-alema). Não tem como ler essas passagens e ficar inerte… Então: como nós deveríamos proceder, aqui no Brasil dos dias atuais, frente às operações da hegemônica ideologia gourmetizadora do lulismo?

    Como já disse o nosso companheiro intelectual-rebelde Paulo Arantes, no livro “Extinção” – aliás, outro tb editado e publicado pela própria Boitempo, sobre o mesmo personagem: “Deu no que deu. O mediador providencial nomeado conciliador universal de todos os antagonismos de uma nação dilacerada quando muito armou um jogo de cena entre tese e antítese: enumerando a esmo, agronegócio e reforma agrária, Monsanto e movimento ambientalista, Microsoft e software livre, gesticulação diplomática Sul-Sul e tropas no Haiti a mando do Império etc. A síntese não veio e não virá” (http://www.cartamaior.com.br/?%2FEditoria%2FMidia%2F-Extincao-de-Paulo-Arantes-e-lancado-com-debate%2F12%2F12911).

    A REBELIÃO NÃO SERÁ GOURMETIZADA!

    A REBELIÃO NÃO SERÁ SILENCIADA!

    Movimento Independente Mães de Maio

  26. A Boitempo (Jinkings …) receber regime de importação especial e vender enciclopédias a preços altos, sem licitação, pra seminário em universidade federal situada no nordeste, não é também um contrassenso?
    Quanto às ‘xornadas de xunho’, me desculpem mas foi o pavio que a direita queria para fazer sua revoltazinha fascista e tentar repetir o que ocorreu em 68, só que agora como farsa. E como quem acende pavios e não sabe a direção do vento se dá mal, logo foram proibidas as bandeiras dos partidos nos quais foram gestadas. Então o ‘Ocupa’ era suprapartidário e o MPL não tinham nenhuma vinculação com partidos? Não foi isso o que se viu ao longo dos desenvolvimentos dos atos.
    Rebeldia que reproduz o discurso da direita e suas alianças, quando convém? Também tô fora.

  27. Camarada Eugênio Varlino defendo churrasco na laje que vc ta ligado.

    Receita que nunca caduca! Sal grosso no contra, bica no suquinho de soja e bora lutar que o trampo ta puxado, obviamente, pra quem trampa.

  28. Quer coisa mais gourmet do que falar mal do Lula? Com certeza isso atrairá a simpatia de uma porção de gente, não necessariamente de esquerda. Ainda tiveram a cara de pau de citar uma música do Racionais. Mano Brown certamente estaria numa mesa com Lula e Haddad, por que vocês não? Não ir no encontro e sair falando mal em rede social, além de um tremendo estelionato intelectual, é de uma covardia tamanha. Vocês pipocaram, afinaram. Essa é a verdade. Era a chance de expor as feridas, de confrontar ideias com essa “esquerda gourmet”, segundo vcs. Mas é fácil ficar na zona de conforto da internet se fazendo de vítima do sistema, não? Lembro de um dia em que estava saindo do trabalho e cruzei com uma passeata de vcs na praça da Sé. A princípio achei que fossem os professores que tinham marcado passeata naquele mesmo dia. Mas eram vcs que, estranhamente, marcaram uma passeata no mesmo dia da greve dos professores, momento totalmente inoportuno. Tudo muito esquisito. Começo a desconfiar que vcs estão mais interessados com o próprio ego do que defender causas da periferia, que é onde moro e nasci.

  29. Vocês se acovardaram. São bundas-moles, isso sim. Preferem ficar vomitando suas teses e não enfrentar desafios. É POR GENTE intelectualmente anêmica como vocês que a direita e a violência dela CRESCE

  30. Os trolls lulistas começaram a dar as caras por aqui, sinal que o texto está incomodando mais do que poderia se imaginar… Valeu pelo feedback!

  31. Achei que eu não viveria para ver gente xingando as Mães de Maio de reacionárias e bundas-moles.
    Essas mulheres do Mães de Maio são mais lutadoras que todos aqui juntos. Que falta de respeito, que asco me dá ver gente querendo dizer o que elas devem ou não fazer, chamando-as de covarde! Que asco, que asco! Meçam suas palavras ao darem seus valores distorcidos a quem luta contra a violência policial, a quem teve seus filhos assassinados pelas mãos do Estado.

    Em relação ao texto, aplaudo em pé. Tamo junto, Mães de Maio!

  32. Eis o Populismo brasileiro. Lula é o significante vazio.
    Tudo que se polariza com ele é anti-popular, inimigo do povo. Quem não quiser se unir a ele é porque faz frente com a direita.
    Tempos terríveis em que discursos dos mais distintos setores da esquerda remetem ao stalinismo.
    Espero que isso seja o sinal de que estes discursos se esgotam, e não de que se reorganizam.

  33. Parabéns pelo ótimo texto. Estou em total acordo com a decisão do Mães de Maio de não participar no evento que aliás tomou proporções de shopping do saber. Estranhos tempos em que ser de esquerda reduz-se ao debate intelectual pago, muitos flaches e boas vendas de livros.

  34. Sim, marisa greeb, nós somos o ressentimento: de classe, raça e território. Somos a geração pós-PT e pré-rancor, isso é só o começo. Vai pensando que tá bom…

  35. VICE-DICÇÃO II

    [antes] Boitempo
    [depois] Boi com Abóbora

    A C.D.A., In Memoriam.

  36. Numa página pública do Facebook, de um colega seu do PSOL:

    https://www.facebook.com/juliano.medeiros.14

    Maringoni Gilberto – Caro Juliano Medeiros, lamento que você divulgue essa nota sectária e preconceituosa contra o seminário Cidades Rebeldes.

    E me espanto que um movimento que eu respeito faça uma nota longa, rebarbativa e repleta de insinuações maldosas e meias verdades.

    Participo com muita honra deste evento, que julgo fundamental nessa quadra histórica em que vivemos.

    Veja a qualidade dos outros participantes.

    Veja os temas!

    Agora me diga: que editora comercial arrisca-se a fazer algo semelhante?

    Não vi os signatários dessa péssima nota fazerem diatribe equivalente contra editoras como a Record, a Objetiva, a Leya e outras, especializadas em obras de direita e em autores que ganham seu pão em blogues de lugares como Veja.

    E nem se colocarem contra casas publicadoras caça-níqueis, especializadas em autoajuda, bestsellers, livros para colorir e lixos editoriais desse quilate.

    A Boitempo – e sua editora, Ivana Jinkings, minha amiga há 25 anos – remam contra a maré num mercado oligopolizado, dominado por megaempresas com capital externo. Sou testemunha da luta dela e de sua equipe, que não conta com um aparato de mídia que chegue aos pés daquele tipo de conglomerado.

    A nota divulgada por você é infame e vergonhosa.

    Graças à Boitempo, temos no Brasil David Harvey, Leonardo Padura, Marx e Engels (em traduções diretas do alemão), Slavoj Zizek, Michael Lowy, Leandro Konder, Istvan Meszáros e muitos outros “malditos”.

    Quando os grupos que atacam esse seminário atacarem com igual fúria as editoras conservadoras, podemos conversar com mais racionalidade.

    Abraço do amigo e camarada que lhe quer muito bem
    Curtir · Responder · 6 · 21 h

    Caroline Nerval – Certíssimo, Maringoni Gilberto! Irresponsável compartilhar esse texto raivoso e babaca.
    Curtir · 2 · 10 h

    Maringoni Gilberto – Sim, Caroline, o texto é infame, mentiroso e baixo. Nunca vi um manifesto assim contra as grandes editoras da direita. É um desserviço!
    Curtir · 2 · 10 h

    Paulo Souto – Triste que o Movimento se preste a esse papel e que companheiros como o Juliano Medeiros se prestem a divulgá-lo

  37. Permanece. Retumbante.

    Não, ops… o Gilberto Maringoni resolveu quebrar o silêncio.

    A ver se os demais intelectuais se sentem contemplados…

  38. Os supostamente rebeldes não fizeram e nem farão revolta da passagem em Macapá – por que será? Muito menos em Itaocara – com que cara? E se aliam, quando lhes convém, aos oligarcas locais de um partido que hoje representa o antissocialismo. E na festa do Círio, ajudam a organizar e custear o evento(clamores por um estado laico é só na visita do Papa, né?) – sem falar (sem rodeios) de festas de peões e rodeios. Essa rebeldia seletiva ….

  39. Admiro e respeito o Movimento Mães de Maio, no entanto, repudio enfaticamente esse texto infame, equivocado e oportunista. Pessoal e profissionalmente, compartilho da postura da Boitempo Editorial e de sua proprietária, Ivana Jinkings, com a qual tenho enorme prazer e orgulho de trabalhar todos os dias. Para dizer o mínimo, seminários como o Cidades Rebeldes prestam importante serviço à sociedade e ao pensamento das esquerdas (assim mesmo, no plural), enquanto cartas como essa, em cujo PS sou citada, só servem para semear mal-entendidos e espalhar a ignorância. Lamentável.

  40. Vejamos, “editora de direita” é a que explora os funcionários e a mercadoria final é um livro que defende a prática da exploração.
    Já é “editora de esquerda” é a que explora os funcionários, se aproveita do trabalho voluntário/não pago de militantes e intelectuais de esquerda, e a mercadoria final é um livro que além da mais valia tem um conteúdo que contesta a prática da exploração – incluída a do editor.
    Será que a editora de esquerda pensa que ganha pra si os créditos políticos do conteúdo que os autores que ela publica defendem? Será que ela não sabe que o que faz é mil vezes pior que as concorrentes “de direita”, pois capitaliza e lucra privadamente em cima do pensamento coletivo dos trabalhadores, voltado justamente contra práticas tais quais a de tal editora? A editora de esquerda pensa que está ajudando alguém além de si mesma, ao lucrar em cima desse legado coletivo apropriado por ela? Ok, todo capitalista vive de ilusões no plano moral, para deitar de cabeça leve no travesseiro.
    No mais, sobre o comentário de Maringoni, não vejo editoras de direita tentando se apropriar ideologicamente (por puro interesse petista) e difamar as lutas sociais organizando eventos sobre chapeuzinho vermelho e colocando lobos maus pra falar etc. E aliás, o comunicado das mães de Maio foi até elogioso demais, pois pressupos de Boa fé que a editora é amiga das lutas anticapitalistas, quando tão somente encontrou um nicho de mercado, e agora pretendia disponibilizar sua plataforma para o “red washing” petista.

  41. Isabella Marcatti,

    Me desculpe, mas só serve para semear mal-ententidos e espalhar ignorância colocar num seminário que, como bem aponta o texto, se remete ao tal ‘junho de 2013’ pessoas que estiveram no papel de criminalização como Fernando Haddad, e que sempre foram explicitamente contrários à gratuidade no transporte, como o Lula.
    Pessoas que foram a antítese, junto com os gestores dos demais partidos, das lutas que deram origem ao nome “Cidades Rebeldes”.
    Me custa muito acreditar que não havia intenção política por trás disso, ainda mais numa época em que a linha do PT e colocar a esquerda atrás dele visando eleição em 2018. Vide o V Congresso do PT e suas teses. O “red washing” na imagem de Lula-Haddad-PT iria exatamente nesse sentido.

    Mais triste ainda é achar que somos estúpidos o suficiente.

  42. Sobre esquerdas (assim, no plural).

    “A questão de saber se ao pensamento humano cabe alguma verdade objetiva (gegenständliche Wahrheit) não é uma questão da teoria, mas uma questão prática. É na prática que o homem tem de de provar a verdade, isto é, a realidade e o poder, a natureza citerior (Diesseitigkeit) de seu pensamento. A disputa acerca da realidade ou da não realidade do pensamento – que é isolado da prática – é uma questão puramente escolástica” (Marx, Ad Feuerbach, Tese 2, Boitatá, 2007).

    “E, assim como na vida privada se costuma diferenciar entre o que uma pessoa pensa e diz de si mesma e o que ela realmente é e faz, nas lutas históricas deve-se diferenciar tanto mais as fraseologias e ilusões nutridas pelos partidos do seu verdadeiro organismo e dos seus reais interesses, deve-se diferenciar as suas concepções da sua realidade” (Marx, O 18 de Brumário de Luís Bonaparte, Boitatá, 2011).

  43. Em resposta a essa carta tão infeliz (tanto no sentido de inoportuna, por mostrar armas a quem está no mesmo time, quanto no sentido do ressentimento evidente, pelo fato de representantes da organização terem sido convidados apenas em um segundo momento), gostaria de dizer algumas palavras também: trabalho há cinco anos na Boitempo e aprendi a chamar esse lugar de minha casa. Nesse período, tive a oportunidade de conhecer autores que admiro e respeito, como David Harvey, Paulo Arantes, Maria Rita Kehl, Slavoj Zizek, Ricardo Antunes, entre muitos outros. Editei obras de Marx e Engels que me marcaram profundamente. Trabalho com paixão e empenho, acredito nos livros que publicamos e nos seminários e eventos que organizamos! Respeito muito as Mães de Maio e sempre considerei que estivéssemos do mesmo lado. A voz delas acaba de sair em livro recém-publicado por nós, elas foram convidadas para o evento e não quiseram ir, por se sentirem desprestigiadas pelo fato de o convite ter sido feito em substituição a um cancelamento. Aqui na editora, temos por critério diversificar as vozes, ouvir diferentes opiniões e dar espaço à esquerda como um todo. Nosso catálogo e a programação de nossos eventos não me deixam mentir (a quem quiser ver a programação completa do Seminário Internacional Cidades Rebeldes, ela está disponível no site a seguir e conta com representantes tanto da academia quanto de movimentos sociais, tanto da situação quanto da oposição: http://cidadesrebeldes.com.br/programacao/).
    Por ser tão diversificado, o seminário dá a oportunidade de refletir, debater e conhecer mais a fundo pessoas das mais diversas facetas, desde aquelas ligadas ao atual governo petista até aquelas que o criticam — sempre do ponto de vista da esquerda, claro. Quer oportunidade melhor do que essa para criar um terreno fértil a um governo com mais participação popular? Por que fugir do debate justamente quando se tem uma oportunidade como essa para fazer sua voz ser ouvida? Além disso, para quem não pode ir ao evento, ele está sendo transmitido gratuitamente na internet e depois será disponibilizado no canal de Youtube da Boitempo (como, ressalte-se, costumamos fazer com todos os nossos eventos, já que nossa intenção é difundir conhecimento mesmo para quem não possa comprar nossos livros, não deixar esse conhecimento estanque, sem servir para nada). A maioria dos nossos eventos é gratuita, mas há que se ter em conta que um seminário do porte desse, para acontecer, consome mais recursos do que a editora poderia bancar sozinha, por isso as parcerias e o valor simbólico cobrado do público (vejam no mesmo site mencionado acima os valores cobrados; será que eles são tão inacessíveis assim para todos que “curtiram” a crítica ao pagamento?).
    A Boitempo é principalmente, claro, reflexo de sua editora e fundadora, Ivana Jinkings, que tenho como modelo de mulher combativa, coerente e íntegra. Mas é também um coletivo de ideias de todos que ali trabalham e que se sentem livres para opinar e organizar, junto com ela, as ações da editora — não como funcionários burocráticos, e sim como parte de um todo maior cujo objetivo é refletir sobre a esquerda e seus diversos matizes. É aí que a carta acima volta a falhar: a organização desse evento e a escolha dos nossos livros não é um ato autoritário de nossa editora, é uma escolha comum, da qual nós todos participamos DIARIAMENTE. Nossas ideias são abraçadas, nossas sugestões são bem-vindas. A Boitempo é a Ivana, mas também somos nós todos que trabalhamos ali, que dali fazemos nosso campo de batalha na luta por um país melhor e mais justo, buscando levar informação e conhecimento de todas as formas, seja pelos livros, seja pelos eventos, seja pelas nossas mídias sociais. Onde é que se acha um Blog como o da Boitempo, com uma variedade de comentaristas daquele porte e totalmente gratuita? Não temos anunciantes e muito menos (como gente desinformada disse aqui) apoio de governos. Somos independentes e assim permaneceremos. E, sim, SOMOS. Porque pensamos juntos. E as portas estão abertas para quem quiser pensar conosco, sempre estiveram e assim permanecerão.

  44. Parabéns Mães de Maio! De fato, não podemos nos curvar à espetacularização da rebeldia!
    Grande admiração e gratidão pela luta de vocês, que também é nossa!
    Renata

  45. Vejam que talvez nenhuma empresa capitalista típica alcance a perfeição em termos de engajamento e colaboração da parte de seus empregados como uma empresa de esquerda.

    Vendo Isabella e Bibiana falarem — a não ser que tenham sido coagidas, espero que não –, é quase uma utopia das Relações Humanas.

  46. O Passa Palavra não publica comentários que atribuem autorias pessoais a textos coletivos.

  47. Seminário “Cidades Rebeldes”: a falsificação da história sob o biombo do espaço plural

    (Publicado originalmente aqui: http://proluta.blogspot.com.br/2015/06/seminario-cidades-rebeldes-falsificacao.html)

    A Editora Boitempo promove, entre 9 e 12 de junho, o Seminário Internacional Cidades Rebeldes. Trata-se de evento em que figuras de ímpar relevância, notória erudição, exemplar refinamento metodológico e abnegado compromisso praxeológico com o pensamento crítico contemporâneo, como David Harvey, hão de comparecer. É preciso pontuar, contudo, as profundas contradições, senão acintes à rebeldia do junho brasileiro de 2013, estampados nas escolhas praticadas pela organização do evento. Três delas merecem destaque:

    1) O ex-presidente Lula foi o convidado para a abertura do evento, sob a missão de falar em uma sessão com o título “Das Diretas Já às Jornadas de Junho: os desafios para uma esquerda democrática”. Sim, o homem que dá nome a um instituto financiado pela empresa Camargo Correa e que governou o país por oito anos, no contexto dos quais engendrou-se o modelo político-econômico em que as cidades se transformaram no caos contra o qual emergiu o Junho de 2013, é chamado para falar sobre os “desafios” da esquerda. Seria como convidar-se De Gaulle para um seminário sobre Maio de 1968.

    2) Fernando Haddad, cuja gestão fora o alvo central dos protestos de 2013 em São Paulo, é convidado para falar em mesa com o tema “Da Primavera dos Povos às cidades rebeldes: para pensar a cidade moderna”. Ora, seria como convidar-se o General Figueiredo para palestrar sobre as democracias de “terceira onda” na década de 80. Como se sabe, Haddad – cuja obra acadêmica, em especial no que concerne ao pensamento frankfurtiano de primeira e segunda gerações, é primorosa – não se destaca como historiador ou teórico dedicado à sucessão de eventos que ocorreram na Europa do século XIX, conhecida como “Primavera dos Povos”. Trata-se, por outro lado, do prefeito cuja política de transporte público levou centenas de milhares de jovens às ruas, em franca e direta oposição à gestão municipal.

    3) Cobra-se o proibitivo valor de R$ 60,00 para acesso ao evento, que recebe, ainda que indiretamente, dinheiro público, advindo dos tributos arrecadados pelo co-organizador SESC. Em suma, um seminário sobre a catracalização das cidades: teoria e prática.

    O Movimento Mães de Maio escreveu um contundente e certeiro texto sobre o assunto, que pode ser lido aqui.

    Antes de um momento de reflexão crítica, de problematização científica ou de interação entre a formulação acadêmica e a dinâmica militante, o evento se revela, de fato, como uma tentativa de associar a burocracia corrupta do PT às mobilizações que se levantaram precisamente contra os seus governos e as suas práticas políticas. Possivelmente, se estivesse na Guerra Civil Inglesa, a Boitempo convidaria Ireton e Cromwell para expor as lutas e demandas dos Levellers e Diggers. Não se trata de um evento acadêmico, mas de um engenhoso ritual de falsificação histórica.

    Francisco Tavares
    Coordenador do PROLUTA – Programa de pesquisa sobre ativismo em perspectiva comparada

  48. O texto risca o chão abaixo à esquerda de forma contundente e definitiva, desgourmetizando toda a operação do Instituto Lula – que hoje sabemos ser financiada indiretamentetb pela OAS.

    Uma pena que a iniciativa tenha sido do movimento Mães de Maio, e não do MPL-SP, a propor uma crítica mais ampla à tentativa de sequestro de suas jornadas por parte do referido seminário. Desde que saiu a programação na internet eu confesso qie estava esperando uma imediata reação do MPL, que infelizmente não veio. Me parece que xs companheirxs do passe livre estejam mais preocupadxs com o próximo escracho contra fulano ou beltrano de tal do seu movimento, conduzido por algumas de suas militantes feministas excludentes, do que à discussão e à luta mais ampla, que ele teve papel determinante em junho de 2013.

    A propósito, me chamou atenção especificamente o silêncio dealgumas dessas feministas excludentes e punitivistas ante este texto das Mães. Me refiro a algumas que sempre ecoam as próprias mães, junto a qualquer abobrinha postada pelas vedetes radfems, mas que ao mesmo tempo pleiteiam espaço editorial na Boitempo. Achava que elas não tinham qualquer amarra nas suas metralhadoras giratórias de facebook, mas chego à conclusão que – como toda expressão política do multiculturalismo – elas tb selecionam a sua exposição de acordo com os respectivos nichos de mercado. Por essa atuação seletiva são premiadas.

    Sim, fiquem à vontade para me escrachar nos comentários a seguir.

  49. Escrevo este comentário ‘na humilde’, como quem chega para somar, para compreender estratégias, para aprender e, quem sabe, seduzir (por isso não faço uso de anonimato).
    A posição crítica mobilizada em face da composição do seminário não deveria ser estendida à composição do recém-lançado “Bala perdida” (https://boitempoeditorial.files.wordpress.com/2015/06/sumario_vp.pdf), que conta com artigos de pesquisadores do NEV-USP e do Luiz Eduardo Soares, além de ser apresentado por Guaracy Mingardi?
    Não são esses pesquisadores/núcleo que há duas décadas vêm subscrevendo, ao lado de outros ‘experts’ em violência, segurança pública e direitos humanos, a tese do falecido Edmundo Campos Coelho, segundo a qual o combate da “criminalidade” nada tem a ver, primordialmente, com reformas econômico-políticas, mas sim com reformas das instituições de controle? Não são eles que, sob a bandeira da democracia, evitam a terrível conexão entre as “políticas sociais” e a questão da propriedade? Não são eles que usam a palavra “social” no sentido liberal, conectando-a, inclusive, com a palavra “segurança pública”? Não são eles que conciliam cursos de Foucault, Wacquant, Garland, ao mesmo passo em que elogiaram/apoiaram as importações de tecnologias de seguranças receitadas pelos “New York Boys” durante os governos Covas e Garotinho?
    Na esperança de contar como reforço, ou como se diz por aqui: “progresso”. Salve.

  50. aposto mil reais e uma coleção de posteres do lula com o maluf que a ivana jinkings pressionou e muito isabela e bibiana a virem aqui defender a editora e passarem esse vexame patético e assinado. vergonha alheia de tanta capachice.

  51. pesquisa rápida no google, imagina se fuçar.

    “A Boitempo já recebeu, entre 2006 e 2009, R$ 328.477 de recursos diretos do governo federal. Em 2009, por exemplo, a editora recebeu R$ 196.380 do Ministério da Educação. Em 2008, foram R$ 112.684 do Ministério da Cultura. A Boitempo recebeu ainda, desde 2007, autorização do MinC para captar R$ 1,058 milhão de patrocínio por meio da Lei Rouanet.”

    http://oglobo.globo.com/politica/emir-sader-deve-reassumir-laboratorio-na-uerj-2815291

    aqui emir sader lançando livro em evento de prefeitura, isso não é apoio?

    http://www.boitempoeditorial.com.br/publicacoes_imprensa.php?isbn=978-85-7559-158-1%20%20&veiculo=Prefeitura%20Municipal%20de%20Maca%E9

    aqui no centro cultural sp, q é da prefeitura de sp
    http://grabois.org.br/portal/noticia.php?id_sessao=54&id_noticia=11149

    e essa PARCERIA aqui bibiana, não é apoio?
    http://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/cultura/noticias/?p=13101

    ainda emir sader, agora sem aparente ligação com a boitempo, mas bom tb so pra saber de quem se trata.

    http://grabois.org.br/portal/noticia.php?id_sessao=54&id_noticia=11149

    não sei não hein, se passar um lava jato nas contas da boitempo… vish. ou será que a editora tem coragem de emitir um comunicado público garantindo que não recebe nem nunca recebeu grana pública? truco.

  52. Nada de Rousseau e o “bom-trabalhador”.
    já tive chefe que pedia “likes” de facebook na página da empresa. Mas disso para escrever eloquentes loas em defesa de uma propriedade privada que explora tua mão de obra, me parece mesmo que se trata de vestir a camiseta.
    Repare que até utilizaram o espaço do comentário para fazer propaganda do catálogo de autores.

  53. Muito honestamente, em resposta a brutal honestidade de vocês: a confusão contra a qual vocês apelam não é menor do que a confusão que vocês causam com um texto como este. Em que pese a pertinência da núcleo da crítica, com este texto, vocês jogam no lixo a potência e a riqueza que foi este evento, oportunizado pela Boitempo, mas REALIZADO pelos seus participantes que com suas experiências e saberes promoveram uma mobilização intensa de afetos. Lamento que vocês não tenham percebido a oportunidade de usar o espaço que se abriu para subverter justamente ordem distorcida que vocês apontam no evento. Nos precisávamos de vocês e queríamos vocês aqui, mas vocês narcisicamente se negaram. Abaixo ao narcisismo das pequenas diferenças!

  54. ellen, vc não está sendo narcisista por achar as críticas narcisistas? não está reduzindo o debate? pras pessoas que tão falando aqui, pras mães de maio, pro passa palavra, pra um monte de gente, ter articulação com o estado genocida, e ainda mais com representantes deles que diretamente, literalmente, tentaram nos matar diversas vezes nos últimos anos! pra eles virem nos falar sobre o que é rebeldia, po, pelamor, isso nos ofende. imagino que tenha sido em geral um bom encontro, bons debates, ótimos participantes mas pra gente isso já seria motivo suficiente pra criticar o evento, mesmo que quem tenha ido gente firmeza.

    além do mais o evento veio de quem vem, um pequeno grupo empresarial altamente oportunista e governista, isso também nos incomoda, pelo menos eu não curto. e tenho vários livros deles, bons livros, fazer o que, quem sabe a crítica não estimule que tenham mais vergonha na cara ou, mais provável, que a gente viabilize e visibilize outras formas do conhecimento circular. na feira anarquista tem uma porrada de editora ativista, em outros países tem todo um rolê de publicações independentes, aqui mesmo nos saraus por exemplo tem mta gente fazendo seus próprios livros e vendendo por mto menos que os sessenta conto da boitempo – dos quais um real no max deve ir pro autor, isso se ele for famoso.

  55. Caro Maringoni,

    Companheiro: a treta política não é(ra) com você…

    Porém… diante de nosso texto “A rebelião não será gourmetizada” (), o jornalista, cartunista e último candidato a governador pelo PSOL-SP em 2014, nosso companheiro Gilberto Maringoni – por quem nós sempre nutrimos muito respeito – qualificou publicamente a nossa nota de “infame”, “mentirosa”, “baixa”, “sectária”, “preconceituosa”, “maldosa”, “irracional”, “vergonhosa” e “covarde”.

    Firmeza.

    Maringoni: a nossa treta não é(ra) com você, muito menos com seu partido o PSOL – que é de esquerda realmente, nossos companheiros de várias lutas. Nossa treta não é com a imensa maioria dos palestrantes e participantes do Seminário, como deixamos bem claros, intelectuais e alguns poucos ativistas que tb são nossos companheiros. Nossa treta tampouco é com ninguém pessoalmente da Boitempo (à exceção do Sr. Emir Sader, que publicamente atiçou a Gaviões da Fiel – e a polícia, em mais de uma ocasião – a nos “enxotar” das ruas, entre outras patifarias). Aliás, a nossa rebeldia estava quieta em nosso canto: foi a Boitempo que resolveu fazer um seminário chamado “Cidades Rebeldes”, sobre as Jornadas de Junho, sem convidar o MPL nem quem mais estava nas ruas (e que emprestamos nossa vida e nossa luta ao título de um livro homônimo), enquanto convidou Lula e Haddad para serem as estrelas do evento. Nossa treta não é pessoal, é POLÍTICA – diante de uma operação polícia. Você não entendeu, Maringoni?

    Mas, já que você resolveu entrar na treta política, vamos ponto a ponto dos seus comentários:

    Você diz: “Participo com muita honra deste evento, que julgo fundamental nessa quadra histórica em que vivemos. Veja a qualidade dos outros participantes. Veja os temas! Agora me diga: que editora comercial arrisca-se a fazer algo semelhante?”.

    Ora, Maringoni… Maringoni… Se você, que tem décadas de militância e atualmente é do PSOL – Partido Socialismo e Liberdade, ainda não entendeu – ou finge não entender – algumas manobras POLÍTICAS rudimentares, fica difícil… Foi Delfim Netto quem afirmou, com todas as letras, ainda antes de Luís Inácio Lula da Silva ser eleito pela primeira vez em 2002, que “somente um político com o perfil (legitimidade) do Lula poderia salvar o capitalismo brasileiro” (Atualizada aqui: http://www.fabiocampana.com.br/2009/09/delfim-neto-diz-que-lula-salvou-o-capitalismo-brasileiro/). Você se lembra disso?

    Pois agora nos diga: quem tem o perfil ideal para ser um Capitão do Mato, Maringoni? Quem tem o perfil ideal para ser um Pelego – com legitimidade? Então, qual outra editora teria maior capacidade/legitimidade para promover um “red washing” em Lula/Haddad/PT, em cima das Revoltas de Junho/2013, se não a esquerdista Boitempo Editorial?

    Ainda assim você nos diz que não fizemos nada semelhante contra outras “editoras como a Record, a Objetiva, a Leya e outras, especializadas em obras de direita e em autores que ganham seu pão em blogues de lugares como Veja”.

    Maringoni: se você der um singelo Google, verá que a nossa treta – nas redes e nas ruas – com editoras como a Abril ou a Rede Globo (e os grupos político-econômicos que as sustentam) é tão grande e pesada que elas e seus articulistas, as Reginas Casés, Lucianos Hucks, José Júnior, Reinaldo Azevedos, Pedro Biais e Rodrigos Constantinos (dê um Google para cada um junto a nossa tag) – que falam literalmente sobre tudo – praticamente não ousam tocar diretamente em nosso nome: pois sabem que a caminhada aqui é responsa, sem rastros, e comprar a treta conosco os exporia demais, e eles não teriam como explicar massacres como p. ex. os Crimes de Maio – promovidos por seu maior contratante. Como dar visibilidade às Mães de Maio na revista Veja, se eles estariam noticiando a todo mundo o maior massacre estatal da história brasileira contemporânea?

    Nossa luta, Maringoni, você deve acompanhar um pouco: é cotidiana a cada execução/chacina dos nossos, batendo de frente contra as Polícias Civis e Militares do estado de São Paulo (uma legião fascista com mais de 150.000 homens armados, na ativa); contra o Exército de Jacques Wagner e as Polícias de José Eduardo Cardozo (dezenas de milhares de homens, alto armamento – sobretudo contra favelas, e tecnologia de inteligência/monitoramento); todas as manobras do Executivo Federal para abafar a legítima luta pelo direito à memória, verdade e justiça das vítimas de ontem e de hoje (que nós somos solidários incondicionalmente); toda estrutura reacionária e hiperpoderosa do Judiciário, enfim: “é muita treta pra Vinícius de Moraes”, Maringoni. Com todo o respeito a sua trajetória, companheiro, você não tem a menor ideia das implicações que isso tem no nosso cotidiano… Não tem a menor ideia também da rede silenciosa e invisível que compõe o nosso movimento, de informação e autodefesa, composta por centenas de pessoas em todo o país (e no mundo), sobre a qual raramente comentamos. Mas que está na ativa aqui, ali, aí do lado, acolá. Muitos amigos pessoais seus, inclusive – que tb são nossos amigos. Nossa forma de auto-organização não corresponde aos padrões de partido, sindicato e movimentos sociais tradicionais com que você está acostumado, até porque bebe de outras tradições de resistência quilombista. E assim buscamos nos autoorganizar e reagir, com uma série de limitações tb, ao Terror da Democracia das Chacinas que estamos metidos.

    Passamos aos adjetivos que você utilizou em relação a nossa nota, Maringoni:

    “Mentirosa” – desafiamos que você aponte uma única “mentira” ou “meia-verdade” em nosso texto, Maringoni. Explicite-a e prove a mentira, por gentileza. A Boitempo organizou ou não um seminário intitulado “Cidades Rebeldes”, originalmente com o Lula abrindo com fala sobre as Jornadas de Junho, e o Haddad fechando sobre “as cidades rebeldes” (junto com o respeitável Harvey), ao mesmo tempo em que não convidou o MPL para falar da sua luta? Aonde NÓS estamos mentindo, Maringoni?

    “Infame” – Sobre a “infâmia” que você nos qualifica, Maringoni… Não sabemos o que você entende por isto, mas como você se sentiria se a editora Perseu Abramo organizasse um seminário com o título “A Venezuela que se inventa” – nome de um dos seus livros -, não o convidasse para o evento, e em seu lugar chamasse Henrique Capriles para dissertar sobre a “luta sobre a invenção de uma Venezuela democrática”? Ou se a Boitempo amanhã resolver organizar um novo seminário chamado “Partido, Socialismo e Liberdade”, não convidar vocês do PSOL, e resolver chamar o Lula para abrir, e o Haddad para fechar o evento. Qual seria o seu sentimento e a sua reação diante dessas verdadeiras infâmias, Maringoni?

    Alguns integrantes de nosso movimento, inclusive, toparam colaborar recentemente para uma coletânea organizada pela Boitempo: imagina se daqui a dois anos resolverem organizar um Seminário sobre o tema, chamarem o fascista José Eduardo Cardozo para abrir, e o sionista Jacques Wagner para fechar, falando sobre o “anti-militarismo” e a “paz social”. Enfim…

    “Vergonhosa” – Infame e vergonhosa, Maringoni, nos desculpe, mas foi a sua postura durante Junho/2013, de qualificar como “terroristas” (http://www.viomundo.com.br/politica/gilberto-maringoni-cobrir-o-rosto-e-o-de-menos.html), citando Trotsky e tudo mais, os manifestantes Black Blocs que estavam nas ruas – ainda que você pudesse discordar em público de suas táticas (e só por isso não o criticamos mais publicamente à época), porém uma atitude POLÍTICA de sua parte que – ainda mais vindo de uma liderança da esquerda como você é, só botou mais lenha/legitimidade nas Políticas práticas e na Legislação Anti-Terrorista que já estavam em gestação pública na época – e todo mundo sabia. Ora, se até uma importante liderança do PSOL está afirmando que há “terroristas” nas manifestações, por que não agilizar as leis e as políticas práticas – de massacre dos ativistas? É muito curioso os momentos decisivos e as formas desastradas como você, Maringoni, resolve se manifestar publicamente – contra a extrema-esquerda…

    “Baixa” – Sobre a baixeza, Maringoni, que você tb nos qualifica. Você parece não achar baixa toda a operação política-ideológica feita pela editora que é da sua amiga – ao contrário, sente “honra” de participar da história. OK. Tampouco lembramos de você ter manifestado publicamente qualquer indignação quando o seu amigo Sr. Emir Sader resolveu tentar atiçar os integrantes da Gaviões da Fiel – e também a polícia – a “enxotar” nossos companheiros sem-teto das ruas onde estávamos protestando. Você não se indigna publicamente nessas horas decisivas, Companheiro. Mas, frente a nossa denúncia pública deste tipo de impostura e da operação lulista em curso, aí sim merece um indignado comentário público de sua parte. Tá certo, Maringoni.

    “Sectária” – Expressar claramente as diferenças em relação às manobras lulistas, colocar os pingos nos Is chamando a nova direita por seu devido nome, e riscar o chão de forma nítida, é qualificado por você como “atitude sectária”. Sectária em relação ao que e a quem? Já a postura cotidiana de governistas doentes, como o seu amigo Sr. Emir Sader, não merecem o mesmo adjetivo (“sectário”) de sua parte. Análise POLÍTICA ou amizade pessoal? Não à toa Sader saudou publicamente a substituição de Vladimir Safatle – da “Esquerda que não teme dizer o seu nome” – pelo seu nome como candidato a governador pelo PSOL-SP nas eleições de 2014, como um indício de que então ocorreria uma “elevação do debate” – e, como a figura não dá ponto sem nó, uma “elevação” para os fins do Campo Majoritário do PT, obviamente.

    “Preconceituosa” – Repetimos que em nosso texto só há pós-conceitos (amadurecidos em mais de 12 anos de PT à frente do Governo Federal, encarando/mapeando cada uma das estratégias torpes do lulo-petismo), e desafiamos novamente você, Maringoni, a apontar alguma mentira do texto. Onde está a “mentira” ou o “pré-conceito” no texto, e a sua contraprova?! Maringoni: não só a você, mas a todos os demais que quiserem entrar nesse debate-papo ou nessa treta – todos muito bem-vindos, pois a (auto)crítica precisa avançar e muito em relação a todos nós: sugerimos que entrem preparados, pois nós estamos preparados e com disposição para aprofundá-la – em prol da rebeldia e da esquerda verdadeira. Um seminário internacional sobre o tema “Cidades Rebeldes” deve(ria) se propor a fomentar a reflexão sobre as lutas da cidade e a rebeldia, e é o quê nós estamos buscando honestamente com este texto. Nós simplesmente nos levantamos rebeldemente diante de uma manobra claramente vil, e até aqui simplesmente dissemos: “não façam mais isto”. Ponto.

    “Maldosa” – Maldosa, a nosso ver, foi a intenção dos organizadores do Seminário de imporem – goela à baixo – os nomes de Lula e Haddad para abrir e encerrar um Seminário que tem como tema central as Jornadas de Junho de 2013. Maldoso é insistir, “nesta quadra da história”, que Lula ainda seja parte “das esquerdas”, e não chamá-lo pelo devido nome: direita. Mas enfim…

    “Covarde” – Você não acha covarde pessoas que se autodenominam de “esquerda” instigarem torcida organizada e a própria polícia a reprimir quem estamos cotidianamente nas ruas – foram centenas de presos, milhares de feridos, gente que ficou cega, alguns mortos -, e menos de 2 anos raptarem essa luta em seu nome – pois agora convém – e falarem como se estivessem alinhados a ela, “por uma esquerda democrática”. Maringoni: nós estamos cotidianamente nas ruas, sabemos quem é quem – só agora em Maio/2015 foram mais de 10 atos públicos de rua, mas afora o período eleitoral nós não vemos essas pessoas nas ruas, muito menos naqueles atos realmente de esquerda. Uma rebeldia contra a qual eles ajudam a mobilizar o exército e polícia. Se Lula e companhia tivessem se mobilizado sem-covardia para liberar nosso companheiro Rafael Braga Vieira, preso covardemente desde Junho/2013 por portar um Pinho Sol, na mesma medida em que estão se mobilizando para tentar garantir a liberdade dos empreiteiros presos pela Lava-Jato… Agora querem falar em nosso nome, da nossa rebeldia e dos nossos?! Não vira! “Covardia”, para nós, também é um conceito prático que tem recorte de raça e de classe.

    “Irracional” – Irracional, a nosso ver, é depois de tanto tapa na cara e vacas tossindo sucessivamente, a cada 2 anos, nos últimos longos 12, continuar a respaldar / legitimar o discurso de que o PT (totalmente controlado pelo Campo Majoritário) ainda seja parte da real esquerda ou das esquerdas. Como você, Maringoni, infelizmente faz de forma reiterada, nos momentos decisivos (não estamos nos referindo sobre o período inter-eleitoral quando você produz críticas e charges mais radicais e interessantes, muitas das quais você sabe que nós utilizamos e divulgamos em nossos materiais). Nos referimos aos momentos eleitorais decisivos, que são os únicos que importam para a alta burocracia do PT: você Maringoni, mais uma vez, durante as eleições do ano passado 2014 (http://www.cartacapital.com.br/politica/o-inimigo-e-a-velha-direita-e-nao-o-pt-diz-candidato-do-psol-em-sp-3839.html). O PT expulsou sumariamente – nos idos de 2003-2004 – os fundadores do seu atual partido, Maringoni, e o Lula comandou todo este rito! Lula jamais atendeu os pedidos de reunião com o nosso movimento enquanto era presidente, mesmo após mais de 500 assassinatos comprovados em apenas uma semana, ao mesmo tempo em que se deu ao trabalho de visitar pessoalmente o ditador Romeu Tuma quando este estava para morrer (http://g1.globo.com/politica/noticia/2010/09/lula-visita-romeu-tuma-em-hospital-de-sao-paulo.html). Se não é irracionalidade de sua parte insistir em chamar de “esquerda” lideranças burocráticas e centralizadoras que comandam ritos sumários de expulsão de dissidentes e passam pano para torturadores, ou é sadomasoquismo, ou é má-fé. Nossa concepção de esquerda não é nem stalinista nem sadomasoquista.

    Em suma, companheiro Maringoni: se o PT é a exquerda que a alta-direita gosta, o PSOL de Maringoni – com posturas públicas como a que você está tendo, mais uma vez, nesta polêmica – é a protoesquerda que o PT adora. Uma espécie de “tendência externa” (diferente de outros PSOLs, como o do Rio de Janeiro, que não temem dizer o seu nome e a sua diferença substancial em relação ao PT), extremamente funcional para garantir uma reserva de mercado eleitoral a alguns ex-petistas, chegar a no máximo 2-3% dos votos nos 1ºs turnos, e então legitimar/reforçar o apoio ao “voto útil” (crítico?) no PT, como eterno “mal menor”, nos segundo e decisivos turnos que realmente interessam de cada eleição. O Emir Sader e a alta cúpula do PT – para quem ele trabalha – agradecem. A banca agradece. Soma e segue.

    Maringoni, de uma vez por todas: a treta não é pessoal com você, pois apesar dos seus inúmeros erros estratégicos e a fragilidade da sua atuação política, você – como muitos outros companheiros da base do próprio PT – está na mesma Margem Esquerda que nós estamos. Nossa treta POLÍTICA fundamental tampouco é com a Boitempo, uma editora que é instrumentalizada e a alta-cúpula do PT tenta transformar numa correia de transmissão a mais – ainda que bastante refinada –, via Emir Sader, para os fins políticos de perpetuação do lulismo, mistificando portanto o que seja a esquerda real, e hegemonizando a exquerda (esta nova direita prática) no Brasil.

    É em nome do que aprendemos e sabemos estar do mesmo lado da grande dos debatedores do Seminário Internacional (incluindo você, obviamente), em defesa também do legado crítico de vocês que a gente propôs esta reflexão coletiva e publicamente.

    Maringoni, como diz um finado maloqueiro: “o certo é o certo, não é o errado, nem o duvidoso”. Nossa ideia e nosso papo sempre foram retos e respeitosos com tod@s @s verdadeir@s. Como você nunca foi diferente. Apenas não admitimos tiração, nem com as nossas lutas, nem com os nossos militantes e demais companheiros, muito menos com a memória de nossos mortos.

    Se quer paz, Compa, queremos em dobro.

    Respeitosas saudações,

    Movimento Independente Mães de Maio

    PS – Em seu comentário na nossa página de Facebook, Maringoni, você fez uma outra insinuação infame, sugerindo que haveria quem se “escondesse atrás de uma firma coletiva” para fazer “arrazoado vergonhoso”. Um dos grandes problemas da esquerda – intelectual, sobretudo – foi ter perdido a capacidade de se envolver / se entregar a projetos coletivos. Muitas dessas pessoas, que não é o seu caso, Compa Maringoni, mas que estão mais preocupadas em zelar por seu nome pessoal (profissional e carreira) do que pelos efetivos interesses coletivos dos trabalhadores. Talvez essas pessoas já tenham desaprendido como elaborar um texto a várias mãos, a partir do ponta-pé inicial de alguém ou alguéns, e este texto passar pela edição coletiva e troca de versões/complementos que, hoje, a internet possibilita. No caso deste texto sobre o seminário, após discussão prévia das linhas gerais (que vinha desde muito antes de termos sido convidados pro seminário, conforme a gente antecipou numa atividade na USP), cerca de 8 pessoas – entre companheiros de nosso movimento e a opinião/complementos de compas de movimentos autônomos aliados, e até de um psolista e de um petista (ambos tb próximos a você). Obviamente, em comum acordo entre todos, que se trata de uma colaboração entre irmãos e irmãs da mesma trincheira, mas que a assinatura e responsabilidade sobre estas intervenções específicas recaem exclusivamente ao coletivo que assina a nota / comentário. Nós.

    Mas, implícita na sua insinuação está algo mais grave, que diz respeito à leninista subestimação da capacidade de elaboração/crítica coletiva e atuação política de certas organizações e militantes populares. Sobre isso a gente pode conversar melhor noutra mão (vamos acompanhar atent@s se você ou alguém mais avançará o sinal da infâmia neste sentido), mas sugerimos que você assista desde já o filme “Apelo”, concebido, escrito e dirigido por nossa coordenadora Débora Maria junto à nossa companheira artista plástica Clara Ianni (https://vimeo.com/123255444), após muitas discussões coletivas preparatórias entre tod@s nós. Um vídeo-documentário cuja longa narração, após a escrita coletiva, foi tb decorada de cabo a rabo pela Débora – que atua no vídeo – e virou arma política-discursiva em nossos atos, como pode-se ver aqui a Débora recitando todo o texto decorado para o filme e para a nossa luta cotidiana nas ruas: https://www.youtube.com/watch?v=hEMBUCnibA0.

    Nossos mortos têm voz, Maringoni, redobram as nossas vozes, e multiplicam a nossa força. Um último Apelo: Respeite-nos, por gentileza, até porque estamos na mesma Margem Esquerda da racializada luta de classes no Brasil.

    *** Na medida do possível, responderemos a todos os comentários relevantes AQUI sobre esta importante polêmica, mas nossas respostas demorarão pela nossa troca de ideias/versões para cada uma delas. A primeira que conseguimos fechar um bom recorte foi esta aqui, mas na medida do possível vamos dialogar com todas as demais relevantes. Saudações a tod@s verdadeir@s!

  56. Ellen Machado,

    A subversão foi feita com a não participação, não com a participação. Basta ver a repercussão da carta de não participação e as reações. Estou dizendo apenas o óbvio.

    Não importa o que fosse dito, a imagem das pessoas e grupos nesse seminário é o que importa para o ‘branding’ do Lula-Haddad-PT e para a falsificação histórica a que esse evento pretende e pretendia servir.

    Então esse discursinho de que ‘tem que participar para dizer o que pensa’, supõe que sejamos muito burros e estúpidos. Mesmo literalmente cagando no palco do Sesc a participação estaria dada. Não é o conteúdo que importa, mas a imagem. São os nomes, as ‘marcas’ presentes que importam ao red washing do Lula-Haddad. Colocar eles no meio de toda a esquerda, ou a esquerda toda atrás deles, é essa imagem que se tentou construir, e isso só se consegue com a participação, seja ela qual for.

    Podre o uso que se tenta fazer das lutas pelos mesmos que a criminalizam assim que acham necessário, e assim que novamente quando não lhes servirem mais.

  57. em sua página no facebook: https://www.facebook.com/babapsol

    Brilhante de texto do Movimento Mães de Maio. Declaro total apoio a esta recusa em palestrar ao lado de Lula, Haddad, ao lado de quem faz lobby global para a Odebrecht.

    “Que rebeldia real há nesta falsa polarização histérica, doentia e fascista que marca a disputa espelhada entre a horda da fé oposicionista versus a horda da fé governista?! Não jogamos este jogo sujo.”

  58. Caros camaradas do Movimento Independente Mães de Maio,
    envio-lhes nosso pequeno texto-manifesto sobre a nossa conjuntura.
    O IBEC se solidariza com sua crítica.
    Abração,
    Paulo
    Enfim, o colapso da primeira fase da transição democrática.
    Paulo Alves de Lima Filho
    (coordenador geral do IBEC-Instituto Brasileiro de Estudos Contemporâneos)
    Vivemos o fim da primeira fase da transição democrática, da sua crise terminal devido às suas próprias limitações. Afinal, a ditadura civil-militar não foi derrotada e a democracia que se lhe segue se desenrola nos seus limites sociais, políticos e econômicos. É o que se costumou denominar de transição transada. A democracia vigente no pós-ditadura, democracia da miséria, encontra-se encapsulada nos marcos históricos da contrarevolução herdada de 1964.
    O colapso e suas razões
    Esta segunda etapa do movimento democrático demonstra não estar à altura de liquidar a ordem da contrarevolução. As alas democráticas desse movimento pró-capitalista resultaram ser também liberais e acomodaram-se pouco a pouco com as antigas vertentes liberais da contrarevolução, parte das quais tem agora como vanguarda uma certa ex-esquerda MDBista, redenominada socialdemocrata. Outras alas democráticas se situaram fora desse corpo ex-situacionista ditatorial, tendo à frente o PT. Ambas, contudo, atuando firmemente sob a batuta do capital financeiro.
    A aceitação dessa subordinação agravou ainda mais os elementos de crise imanentes à transição democrática. Os possíveis e realizados avanços democráticos estiveram, permaneceram e assim permanecem nas periferias da dominação monopolista, cujo centro determinante é o abandono da estratégia nacional de emancipação econômica, da qual a industrialização por substituição de importações foi expressão maior. Esta é a pedra de toque da contrarevolução. As mudanças e melhorias democráticas passíveis de serem realizadas na primeira fase da transição tinham como limite não alterar esta ordem econômica subalterna. Desse modo, a desindustrialização e a dívida interna que se seguiram nesta fase são faces de um único processo.
    A maioria liberal em ambos os blocos vassalos do capital monopolista só puderam diferenciar-se e compor maiorias parlamentares enquanto os elementos de crise não conseguiam alinhar a ambas nos marcos da mesma rinha. Este agora é o momento de indiferenciação: as maiorias da rua, ou seja, da plebe, reelegem um presidente apontado para prosseguir sua marcha melhorista em detrimento dos limites históricos da contrarevolução. Para surpresa destas, o corpo de ministros nomeados é cem por cento empresarial, a expressar o bloco de forças situacionista e a política econômica é francamente liberal ortodoxa, ou seja, anti-keynesiana, nos moldes daquela a se realizar pelo bloco de oposição ultraliberal caso este elegesse o novo presidente. Escancaram-se os momentos solidários da reprodução social promovida pelo bloco no poder: o povo vota, a burguesia governa e o capital financeiro manda. O hieróglifo da ordem melhorista foi traduzido em praça pública.
    Esta é a gota d’água a encher o pote. As velhas mazelas da república ressurgem sob o fogo da história: a maledicência, a baixaria, o lacerdismo e o golpismo. A indiferenciação política atinge seu ápice e novamente conflagra as ruas. A massa trabalhadora e a ultradireita passam a frequentar as novas manifestações, muitas vezes ainda lado a lado, como ocorreu neste último 12 de abril. Outras vezes de forma orgânica, como nas greves dos professores da escola pública de São Paulo e Paraná, desesperadamente longas e difíceis, ou na manifestação de alguns sindicatos em Brasília por ocasião da votação do PL da terceirização.
    A ordem política da contrarevolução até aqui sobrevivente deixa de cumprir sua função de dominação, o palco foi ocupado pela desesperança irada, avassaladora, massiva. O precário imanente torna-se impraticável, embora também aqui a regressão se instale com a aprovação do distritão e o presidencialismo denominado de coalisão se transmute de uma forma envergonhada em forma real de parlamentarismo. Enquanto isso, os financiadores das eleições cobram seu preço. Seus representantes no congresso não perdem tempo e se esforçam para adequar a sua democracia à máxima superexploração possível, liquidando a CLT. Até o momento esta é a máxima expressão das potencialidades regressivas da democracia restrita. O pagamento da dívida pública em situação de crise externa constrange o liberalismo social a uma política econômica antitrabalhadores. O melhorismo expõe suas limitações, obrigado a revelar a sua verdadeira face.
    A ação conjunta do executivo e legislativo na supressão de direitos trabalhistas emudece e conflagra o PT, atarantado e atolado também nas espertezas corruptoras nas esferas máximas da administração da Petrobrás. Seu secretário de finanças acaba de ser preso hoje, descobertos os valores milionários em posse de seus parentes mais próximos. Isso não é pouco, mas pode não ser tudo. A ditadura democrática do capital financeiro nunca foi tão acachapante. (14/04/2015)
    A primeira fase da transição democrática acabou, urge criar novo campo democrático dentro da ordem e contra ela, criar o campo da revolução democrática, único capaz de resolver as tarefas republicanas, nacionais e populares. Revolução democrática cujo caráter é necessariamente anticapitalista e anticapital.
    Não há capitalismo de outro tipo, ao sabor dos desejos piedosos dos contra-revolucionários, mais amantes das miragens norte-americanas ou francesas, que não seja este do caos de miséria no qual nos submergimos. Somos o solo adubado com a miséria do capital, cujos reitores sempre sonham com o útero protetivo da escravidão, dos preconceitos, da ditadura, da violência institucional salvadora da pequenez de sua ordem tropical miserável e subalterna.
    Para tanto, urge criar um novo movimento democrático, por cima da ordem político partidária-oficial, por dentro da ordem e contra a ordem político-econômica vigente. Criar um novo movimento democrático por cima da ordem político-partidária oficial, que deverá caminhar desatado dos calendários oficiais, livre para proclamar suas grandes e esquecidas verdades sobre todos os temas urgentes, vitais para construirmos uma pátria igualitária liquidadora da miséria, política e economicamente soberana, solucionadora das ingentes necessidades seculares dos explorados, humilhados e ofendidos.
    Para estes objetivos bem sabemos, de longa data, quais as necessidades maiores da educação, da energia, dos recursos hídricos, da ciência e da tecnologia, da indústria, das relações internacionais, das leis trabalhistas, das florestas e do cerrado, e tudo o mais. Não o fizemos ainda não porque não soubéssemos, mas porque não nos foi permitido. (22/04/2015)
    A revolução da burguesia e o fim da primeira fase da transição democrática
    A única revolução admitida pelas burguesias unidas nos espaços ex-coloniais é a contrarevolução, este eficaz moedor de carne da história. A única revolução chancelada pelo capital financeiro, reitor do capitalismo da miséria, permitida e estimulada às burguesias do orbe subordinado, é a contrarevolução. Esta não pode parar, dela se exige caminhar e viver em suas pátrias, o banco de gente e sangue dos quais se alimenta.
    Elas podem até aceitar a democracia e certa expansão das liberdades civis, i.e., elas podem até aceitar melhorias na ordem, desde que esta permaneça contrarrevolucionária. Elas podem até aceitar a democracia, desde que esta signifique a construção de uma ordem capitalista cada vez menos democrática. A boa transição democrática para a única revolução concebida (e consentida) pelas burguesias nacionais e mundiais unidas é aquela na qual elas reinem tão plenas e tão donas da ordem, de modo a ela vir a ser a realização de sua ditadura real.
    A única transição capitalista aceita pela contrarevolução é aquela que vai da ditadura formal à ditadura real e vice-versa, nos limites da sua democracia da miséria. Esta é a exemplar transição capitalista brasileira contemporânea em seus dois pólos, de 1964 a 2015 e, de modo geral, das ditaduras militar-civil e civil-militar da primeira república à ditadura do golpe de 1964 à ditadura congressual de 2015.
    Desde as jornadas de junho de 2013, a perplexidade grassa nos meios intelectuais e políticos do país, incapazes de determinarem as suas causas. O status-quo político descolou-se da rua, das suas reais necessidades e não há como ressoldá-lo. Ao contrário, ele mais e mais se distancia dela. O neoliberalismo liquida sistematicamente o principal ator político capaz de, nas atuais circunstâncias, realizar as políticas públicas necessárias às maiorias – o Estado – enquanto os partidos políticos populares não tem massa organizada na rua nem maioria no parlamento. O capital elege o novo congresso e realiza seus interesses, à revelia das necessidades das maiorias.
    O neoliberalismo é teoria e prática do capital para o governo do Estado por sobre os interesses nacionais e necessidades das maiorias da classe trabalhadora e camadas populares. Impõe-se pela força avassaladora de sua potência econômica mundial que dessa forma ousa criar uma nova ordem capitalista mundial. Nela, a contrarevolução é a forma universal de sua reprodução política.
    As jornadas de junho acionaram as estratégias de divergência nos partidos políticos, i.e., nas classes burguesas representadas no congresso. A divergência é estratégia de fuga para o futuro, para atravessar o fogo no cerrado, as ruas em movimento. Fuga da revolução popular latente nas ruas, mas todas as forças do status-quo correm na raia do capital financeiro e querem se posicionar melhor com relação a ele.
    O sistema político desfila na passarela da ditadura real do capital financeiro, este é um dado político central e vital. O congresso está lá para realizar esta ditadura.
    Todas as análises e propostas se esquecem da ditadura econômica neoliberal, cuja economia política implica em eliminação, teórica e prática, das contradições entre capital e trabalho e o predomínio ditatorial do capital. A economia política do neoliberalismo pressupõe a ditadura do capital, formal ou real. Sob o governo civil-militar tivemos a ditadura formal, agora, sob o governo civil, temos a real. O neoliberalismo é a economia política ideal do capital na contrarevolução desde meados dos anos 60 do século XX, de modo semelhante ao que o liberalismo fora para as revoluções burguesas antifeudais.
    Como os próprios intelectuais do status-quo já notaram, mas não conseguiram explicar, a política do status-quo flutua sobre as necessidades da rua, i.e., das maiorias, porque se pauta pela economia política neoliberal, pelo melhorismo, pela contrarevolução, pela aceitação da ditadura real e da subordinação econômica nacional ao capital financeiro.
    A rua exige a transformação, a revolução democrática adiada desde sempre, ao passo que a economia política da contrarevolução se impõe forçar ao máximo a regressão social, econômica e política, tal como ora ocorre no Brasil. Esta é a forma particular da reprodução política nas revoluções burguesas conservadoras da América Latina.
    É exatamente por havermos chegado ao pólo máximo da transição da contrarevolução, o da ditadura real do capital sobre toda reprodução social capitalista, primeiro de tudo pela reprodução política e seu coração econômico é que podemos sem erro dizer que a primeira fase da transição democrática acabou. O congresso o mais conservador possível desde o pós II Guerra e a genuflexão dos democratas melhoristas no poder aos ditames do capital financeiro marcam esse momento. De agora em diante a nova transição democrática, caso as maiorias trabalhadoras se disponham à luta, se dará desde a ditadura real do capital sobre a reprodução social à ditadura das forças anti-capital, da ditadura real e democrática da contrarevolução à ditadura real e democrática da revolução daquelas maiorias, da democracia da miséria à liquidação desta.
    Para isso, sem demora devemos construir o novo movimento democrático contra a ordem da contrarevolução. Dele surgirão os novos partidos da nova ordem democrática. Diferentemente da atual ordem em colapso, o novo movimento não deverá naufragar na nova ordem a ser construída, diluir-se nela sob a forma de partido, tal como o movimento dos liberais o fez. Assim o fizeram os liberais porque o capital é uma potência fora do âmbito da reprodução política. Igualmente, não existe emancipação dos trabalhadores, das maiorias trabalhadoras sem a força decisiva e permanente de seu movimento. Não será o partido ou partidos, muito menos o Estado, a realizar a emancipação da classe trabalhadora. A expressão autônoma da classe é o movimento e é este a garantia da transição para além do capital.
    O movimento é o meio de criação da autonomia da classe e da nação, da emancipação de ambas, expressão da teoria, de criação de uma política que seja expressão real da transformação social, ou seja, da realização das necessidades reais das maiorias, colada aos seus anseios e desejos. (28/04/2015)

  59. Adalton, fiquei pensando no seu comentário sobre esse livro… É verdade que ele tem um texto de Luiz Eduardo Soares, mas tem também logo em seguida um texto da jurista Maria Lucia Karam, que até onde sei é bastante crítica à proposta de desmilitarização no contexto da guinada punitivista da esquerda. Tem um texto do centro de estudos de violência da USP, mas tem também pelo que vejo um texto assinado pelo próprio Movimento Mães de Maio. Tem essa introdução de Guaracy Mingardi, mas tem também um texto da Vera Malaguti.

    Fiquei pensando se nesse sentido o livro ideal seria mesmo um livro só com os textos e autores com abordagens das quais eu conheço e compactuo… entende? Olha, nem li esse livro, mas a princípio me parece justo tentar abarcar perspectivas diversas sobre violência policial num mesmo livro. Posso estar errado mas me pergunto se às vezes nós não temos que tomar cuidado para não confundir manobra ideológica com simples embate de ideias. Sei lá. Pra mim, a esquerda só ganha força quando é capaz de debater ideias e abordagens entre si (e até com a direita). E só perde quando rechaça de antemão as perspectivas que são diferentes.

    Lembro da discussão entre o Christian Dunker e o Rodrigo Constantino, sobre como a nova direita abriu mão de dialogar com o outro etc e às vezes temo o perigo de isso poder acontecer no interior da própria esquerda… cada nicho no seu próprio “condomínio”, dialogando só com quem não discorda deles… desqualificando totalmente as vozes diferentes e projetando nelas a imagem do “inimigo”. E é uma operação de deslocamento que faz sentido em termos ideológicos pois substitui os difíceis impasses que a esquerda tem de enfrentar (e cujas respostas ainda não estão dadas), por um quadro binário mais simples — esquerda caviar contra direita gourmet, coxinhas contra petralhas…

  60. Caros, não entendi o trecho “leninista subestimação da capacidade de elaboração/crítica coletiva”. Onde Lenin entra nessa história? O que Maringoni tem de leninista? De resto, a crítica procede.

  61. A guerreira Katiara, da Kilombagem, escreveu:

    “Pei!
    ‪#‎MãesdeMaioResiste‬!
    ‪#‎PorUmaEsquerdaAutonomaFrenteAoGoverno‬
    ‪#‎ContraoGenocídio‬!

    Não deixem de ler, em no máximo 1hora vc terá elementos da realidade social brasileiro à partir da treta entre academia, luta social, politicagem e mercado.

    o Passa Palavra representou a favela!”

    _

    A guerreira M do Movimento Passe Livre (MPL) curtiu.

    # Katiara Oliveira, do Kilombagem, é autora do Manifesto “A fúria negra ressuscita outra vez!” (http://kilombagem.org/manifesto-a-furia-negra-ressucita-outra-vez-por-katiara/), que provavelmente deve ter inspirado o texto do movimento MM.

    Obrigada Passa Palavra!

  62. A POLICARPO (com torresmo & sem quaresma)
    Lênin, antes de renegar seu mestre Kautsky, russificou muitas de suas fórmulas doutrinárias. Entre as quais (em O que Fazer?), a de que o proletariado é incapaz de, em e por si mesmo, assumir uma consciência revolucionária. Caberia, pois, à vanguarda educá-lo.
    Mas quem educa o educador? (ver Marx, Teses sobre Feuerbach)

  63. Realmente a crítica parece ter incomodado, provavelmente pois acertou nas articulações de quem quer retomar os meios de controle dos movimentos sociais.

  64. A resposta leninista é a mesma: adjetivações, calúnias e comentários desprovidos de respeito, bom-senso e camaradagem. Sobre o texto das mães de maio: extremamente oportuno e necessário (assim como a resposta ao Maringoni, velho burocrata da exquerda daqui).

  65. Eu respeito o movimento Mães de Maio e o Movimento Passe Livre, mas discordo dessa nota, apesar de concordar que eles que eles deveriam ser convidados. O seminário foi muito interessante, e o preço cobrado, provavelmente, foi necessário para a o organização. Por outro lado, eles disponibilizaram tudo pela internet, que é um meio de democratização do conhecimento. É claro que nem todo têm acesso, mas não dá para resolver tudo de uma vez. Quanto o Lula eles têm razão, mas não ocorreu o evento citado. Quanto ao prefeito Haddad, primeiro, acho ele competente, segundo,acho que as autoridades e lideres políticos precisam, e muito, participar desses debates. Eu acompanhei o seminário pela internet. E, ainda, acho que quando foram convidados eles deveriam ter sido humildes e aceitado, seria importante para o debate e para a luta. E eles misturam critica ao seminário com os editores da Boitempo – talvez porque eles são os mesmo ou próximos – mas acho que são coisas diferentes. Uma editora vende livro, precisa ter lucros para pagar os funcionários. O que é importante é que façam um bom trabalho, como fazem, e como têm tendência de esquerda cobrar preços justos. Mas se os livros não são acessíveis, e às vezes não são mesmo, acho que é um problema que eles mesmos não podem resolver.

  66. Bom, tendo em vista a qualidade da discussão, nós resolvemos começar a reunir os textos produzidos a partir desta polêmica (ou citados/referidos por ela) para quem quiser melhor acompanha-la.

    Uma espécie de “Seminário Autônomo Permanente sobre a Esquerda Rebelde”, nesta página aqui: https://arebeliaonaoseragourmetizada.wordpress.com

    Quem sabe daqui a algum tempo a Boitempo não reúne esses textos e publica uma nova coletânea sobre o tema ;)

  67. Não ouse falar da nossa dor e ofender publicamente nosso movimento. Não ouse desconsiderar nossa caminhada e essa luta de quase 10 anos. Você não nós apóia, não nos representa e não sabe o que vivemos nas trincheiras da luta cotidiana. Sua posição equivocada, e distorcida do nosso posicionamento enquanto Movimento Social e autônomo, já diz de que lado você está. Menos hipocrisia, colega, alveje o real inimigo, aquele que dilacera vidas, executa sumariamente jovens, negros e periféricos. Não vamos te dar Ibope não!!!!!!!! Meu irmão Paulinho, foi vítima de desaparecimento forçado. Uma das mais de 500 vítimas de Maio de 2006. É disso que estamos falando.

  68. ao que parece a crítica das mães de maio surtiram efeito no maringoni. ponto pra esquerda! como elas disseram, vamos ver se o novo posicionamento dele se mantém nos próximos momentos decisivos.

    maringoni escreeu hoje em sua página:

    O PT E O JOGO DO BICHO:
    NÃO VALE O ESCRITO

    O PT não morreu.
    Não morreu como registro no TSE.
    Não morreu como legenda eleitoral.
    Não morreu como máquina caça-votos.
    Mas quem acha que o PT conduzirá alguma transformação social na sociedade brasileira pode esperar sentado.
    O Congresso petista sacramenta um partido que se tornou correia de transmissão da lassidão política.
    Termina num ponto morto, para não romper com o governo, não desfazer alianças, não atrapalhar o ajuste fiscal e não descontentar uma presidente sem o menor talho para o enfrentamento com os mais fortes.
    O dado novo da conjuntura de 2015 – e do avanço conservador – é que uma força até aqui de centro se juntou objetivamente à direita.
    Ao não se colocar nitidamente diante do ajuste fiscal, o PT funciona como qualquer partido conservador do Congresso.
    O problema é que não marcha de forma ativa, com resoluções e teorizações claras e compreensiveis.
    Marcha para a direita com um programa e uma linha política que soa como se de esquerda fosse. Algo sinuoso e malandro.
    É uma marcha passiva. O partido vai paulatinamente se rendendo aos fatos, à vida como ela é, à situação de menor esforço.
    Em Salvador não se viu um congresso equivalente ao de Bad Godesberg, que selou a virada ideológica do Partido Social-Democrata alemão (SPD), em 1959. Ali, a agremiação renegou o marxismo como base teórica e fez um giro nítido à direita.
    Não existe linha nos textos petistas de igual quilate.
    Quem se der ao trabalho de ler os documentos partidários, verá a defesa da justiça social, da democratização da mídia, da reforma agrária, do desenvolvimento, da melhoria da qualidade de vida, da força dos trabalhadores etc. etc.
    Nada indica tratar-se de um agrupamento hoje conservador na ação prática.
    Esse o maior problema do partido.
    Faz seus movimentos táticos, mas pouco disso ganha letra de forma.
    Melhor buscar nos cânones oficiais o que não está escrito, ou o que está vagamente enunciado.
    Assim, como nas profecias de Nostradamus, cada um interpreta como quer tal produção, digamos, teórica, que não tem consequência objetiva alguma.
    Diferentemente do jogo do Bicho, no PT não vale o escrito.

  69. Num entendi o texto do MURILO CLETO..

    A Boitempo organiza um seminário sobre as Jornadas de Junho e não chama para ouvir o MPL – que há menos de 2 anos atrás ela chamou pra abrir o livro de mesmo nome. E as Mães de Maio é que são “a esquerda que não quer ouvir”? Num entendi..

    Você é formado em história, MURILO?

  70. Quanto mais eu li o texto, mais achei que o movimento deveria ter comparecido no evento para fazer tal contraponto. Não vejo nenhuma vantagem estratégica neste distanciamento (em relação inclusive à massa que o PT ainda representa), apenas ressentimento.

  71. Francamente, uma coisa é criticar (com razão, na minha opinião) a ausência de certos movimentos sociais que tiveram nas recentes manifestações de rua um papel central. Outra coisa é projetar na organização do evento um grande complô para manipular os movimentos sociais. Além de cegueira, me parece quase paranoia.

    Cegueira porque, na minha opinião, se existe um complô desses ele já mostrou a cara em movimentos como o MBL e o VEM PRA RUA, que, parodiando explicitamente alguns movimentos de junho de 2013, conseguiram de fato colocar muita gente na rua e ofuscar em larga medida o tabu que conseguimos quebrar em junho.

    Sou do Rio e acompanhei boa parte dos debates do seminário pela internet e posso dizer que não vi em nenhum momento ninguém disputando as jornadas de junho. Vi muita gente boa de esquerda discutindo cidade e capitalismo. E acho que precisamos mais disso. Não me importo que tenham nomes do PT. Apesar de não ser muito simpático ao partido, não acho que a experiência política deles seja descartável. É que às vezes parece que algumas críticas vão mais na direção de cobrar um maior do PT (e de todos outros que não são “verdadeiramente de esquerda”) no seminário, do que uma maior participação de outros movimentos sociais. Além do mais, os debates que vi não tinham nada de viés petista — então a crítica me parece mesmo sem muito respaldo. No máximo um cara que ajudou a organizar a Copa defendendo o desenvolvimentismo petista e o legado positivo dos megaeventos no Brasil — mas ele entrou numa mesa junto com o Carlos Vainer e com o Souto Maior, que foram mais do que um belo contraponto à posição dele.

    Por isso “paranóia”. E ainda falar em “red washing”… parece o Rodrigo Constantino, que vê o fantasma manipulador do PT em qualquer manifestação minimamente de esquerda. Tipo quando ele foi enxergar no logo da Copa uma mensagem subliminar dizendo “Lula”. A programação está toda no youtube, vejam lá e me digam onde está esse “red washing”! Parece vocabulário da guerra fria…

    E mais: desde quando movimento social se pauta de cima para baixo por eventos como esse? Como, exatamente vocês acham que um mero seminário faria para “retomar” (???) controle sobre movimentos sociais? Realmente não acho que isso sequer seja possível. Fico me perguntando que tipo de ameaça real o MPL e o Mães de Maio veem num evento como esse. Certamente não devem acreditar que seu trabalho de base seja tão frágil assim…

    Pra mim, uma das coisas mais legais que a experiência do MPL mostrou em junho foi justamente que os movimentos sociais não são pautados de cima para baixo pelo “espetáculo” (entendido de forma corriqueira, claro). Então me espanta mesmo ver companheiros do MPL projetando na organização do evento a figura do grande manipulador midiático.

    Gente, menos medo! Mais fé no nosso trabalho de base pô! Vamos nos unir mais. É duro ver a direita fazendo a festa na rua assim depois de junho, e o congresso surfando na onda da crise do PT. Quanta gente nova interessada não deve ter acompanhado o seminário — vamos agora ficar chamando eles de “gourmets”, pô?

    O companheiro Tuca parece ter matado a charada no comentário dele: parece mesmo mais fácil projetar num seminário como esse a grande figura do inimigo que deve ser combatido, do que enfrentar as difíceis tarefas que a esquerda tem pela frente. Acho que ninguém de nós tem as respostas certas ainda. E enquanto não soubermos dialogar — cada um no seu canto se achando dono da verdade — não vamos chegar a lugar nenhum.

    PS: Sobre o título da carta, “A revolução não será gourmetizada”, me remeteu diretamente à bela música “A revolução não será televisionada”, do Gil Scott-Heron. Pra mim, a música nunca foi sobre a “televizionização” da revolução (como se fala agora em uma “gourmetização” da rebeldia). Ela insiste que a verdadeira revolução aconteceria nas ruas, não na TV. Instigava as pessoas a deixarem de ser espectadores para serem atores no processo de luta. Quem recuperou o chavão foi o Malcolm Gladwell no artigo “A revolução não será tuitada”, que o professor Paulo Arantes voltou a recuperar recentemente para discutir o papel das redes sociais e do trabalho de base em junho de 2013. Então acho curioso a mesma formulação sendo usada, um pouquinho modificada, pra repôr essa hipóstase dos eventos midiáticos diante das mobilizações sociais concretas. Quer dizer, nem com MPL, nem com Mães de Maio, nem com nenhum movimento social um seminário como esse vai ser “rebelde”! Vocês estão como que olhando para a “televisão” criticando a “revolução” que lá se veicula. “A revolução não será televisionada” não era uma crítica à programação da TV, era uma crítica à forma-tv substituindo a luta real. Se essa crítica pode ser estendida a todo tipo de seminário internacional como esse eu não sei… aí já estaríamos em outro registro. Mas acho forçado dizer que os seminários acadêmicos bloqueiam como um todo a ação política. Nesse seminário francamente não vi isso. O que posso dizer é que assisti a debates muito muito bons e saí bastante animado para discutir, pensar a cidade e agir. Por isso brochei um pouco quando cheguei aqui e vi muita gente se recusando sequer a ver os debates… e rechaçando quem participou… não vi ninguém discutindo as posições e questões que foram levantadas pelos debatedores (ainda que pra criticar ou se contrapor a elas).

  72. Charles,

    Se os marinheiros de Kronstadt repudiassem um evento baseado na sua revolta e cuja organização colocara Trotsky para falar na abertura, isso seria paranoia dos marinheiros?

    Acho de uma ingenuidade política sem tamanho sua posição. Não se trata de paranoia quando se faz leitura dos fatos. Colocar pessoas que são a antítese das demandas e das práticas do tal junho de 2013 na abertura e fechamento obviamente tem um intuito político. E não importa o que eles falassem (a esquerda pelo jeito precisa de umas boas aulas de marketing). Não se trata de paranoia quando até o mundo mineral sabe que Lula-PT tentam articular uma frente de esquerda para viabilizar a reeleição do PT em 2018. Esse seminário se prestava a isso, colocar simbolicamente Lula à frente dos sentimentos genuínos de esquerda, como se ele estivesse alinhado com essas demandas. Claro que a operação não se concretiza apenas por um seminário. E alguém disse isso?

    Engraçado vc falar em dialogar, no último parágrafo do seu comentário. Você cobrou alguma vez o Lula receber as Mães de Maio enquanto era presidente? Se não cobrou e agora ‘cobra’ participação das Mães de Maio em evento para “fazer fita’ para aqueles que não recebem as Mães de Maio quando estão no poder, me desculpa mas vc não é apenas ingênuo politicamente, mas um inocente útil.

  73. A propósito da frente de esquerda, ver o artigo que o passapalavra publicou no começo do ano, desvendando a estratégia: http://passapalavra.info/2015/01/101808 e notem que não por acaso o mtst ficou incomodado com a nota das Mães de Maio e com o uso da capa do livro de Guilherme Boulos na ilustração.

  74. CAMPANHA INTERNACIONAL “LAVA-JATO PERIFÉRICA” NA JUSTIÇA BRASILEIRA!

    Enquanto muitos brasileiros estão mais preocupados em denunciar os abusos sofridos pelos colarinhos brancos presos na Operação Lava-Jato da Policia Federal, nós do Movimento Independente Mães de Maio queremos saber de tod@s se há a mesma disposição para se indignar e lutar por Justiça e Reparação Imediata aos companheiros Heberson Oliveira, ao Rafael Braga, e ao Vitor Borges.

    Conheça a história de cada um deles abaixo, compartilhe e se some imediatamente a esta campanha!

    INDENIZAÇÃO PARA HEBERSON OLIVEIRA – Após passar 3 anos preso injustamente, ser estuprado, e contrair HIV na cadeia, ex-pedreiro afro-indígena de Manaus-AM ainda luta por indenização. Leia a história completa dele aqui: http://www.portaldenoticias.net/apos-passar-3-anos-preso-…/…

    Acompanhe a Luta em Solidariedade a Héberson Oliveira neste Grupo Público: https://www.facebook.com/groups/244196222416105/

    LIBERDADE E REPARAÇÃO IMEDIATA À RAFAEL BRAGA VIEIRA – Ele tem 27 anos, é negro, morador de rua, catador de latinhas, e foi preso no dia 20 de junho de 2013 ao sair de uma loja abandonada no centro do Rio com uma garrafa de água sanitária, um Pinho Sol e uma vassoura. Condenado a 5 anos de prisão, ainda não foi nem liberado, muito menos indenizado. Leia a história completa dele aqui: http://www.geledes.org.br/quem-e-rafael-braga-vieira-o-uni…/ .

    Acompanhe informações atualizadas sobre a Luta Pela Liberdade de Rafael Braga Vieira e a Campanha Nacional pela Liberdade de Rafael Braga Vieira nessas páginas.

    PROTEÇÃO E REPARAÇÃO INTEGRAL A VITOR BORGES – Uma semana após ficar ferido com tiros nas pernas e no tórax disparados por soldados da Força de Pacificação da Maré, na sexta-feira (13/2/2015), o estoquista negro Vitor Santiago Borges, 29 anos, teve a perna esquerda amputada no Hospital Estadual Getúlio Vargas, no Centro. Leia a história completa da tragédia que acabou com a vida de Vitor e sua família aqui: http://g1.globo.com/…/homem-que-levou-tiros-dentro-de-carro…

    Acompanhe a Luta por Reparação Integral (Física, Psíquica, Moral e Material) a Vitor Santiago Borges na página do movimento independente Mães de Maio e da Justiça Global.

    SE CONSEGUIRMOS PASSOS CONCRETOS E EFETIVOS, AO LONGO DOS PRÓXIMOS DIAS, PARA ESSAS TRÊS LUTAS PRÁTICAS (POR INDENIZAÇÃO, LIBERDADE E REPARAÇÃO), PARA NÓS TOD@S JÁ TERÁ VALIDO TODOS OS ESFORÇOS DOS ÚLTIMOS DIAS! (incluindo esta polêmica desgourmetizadora aqui)

    SEM JUSTIÇA NÃO HÁ PAZ!

    ‪#‎LavaJatoPeriférica‬
    ‪#‎IndenizaHeberson‬
    ‪#‎LibertemRafaelBraga‬
    ‪#‎ReparaçãoParaVitorBorges‬
    ‪#‎MemóriaVerdadeJustiçaReparação‬

    com a Rede de Comunidades e Movimentos contra a Violência, Fórum Social de Manguinhos – FSM., Fórum de Juventudes do Rio de Janeiro e Comissão Nacional da Verdade – Parte 2 “Democracia”

  75. Texto franco e necessário, parabéns. Só acrescentaria o seguinte: os livros da Boitempo são acintosamente caros e O Capital foi traduzido por um Olavete… Sei lá, contradição bem amalucada.

  76. Alipio Freire escreveu na edição 642 (15/06/2015) do jornal Brasil de Fato:

    A VOLTA DO CIPÓ DE AROEIRA…

    Como já era esperado, depois de derrotada nos três turnos da eleição do ano passado, e apesar das vitórias que tem registrado na composição do atual primeiro escalão do Executivo nacional – além de nadar de braçada nas duas Casas do Congresso e no Judiciário, a direita brasileira prepara-se neste momento para inviabilizar a candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 2018. No atual quadro, não é impossível que o consigam.

    A rigor, porém, o problema é mais simples e ao mesmo tempo mais complexo: as denúncias e processos contra dirigentes petistas (legais ou não, legítimos, ou não), na verdade, buscam e buscarão sempre acabar e inviabilizar o Partido dos Trabalhadores e a esquerda (toda ela) do nosso país – golpe estratégico que repercutirá em toda a América Latina.

    Pois bem: para aqueles que a política começa e acaba nas instâncias institucionais do Estado – como o próprio Partido dos Trabalhadores –, a situação deve estar desesperadora, pois sequer contam com um nome de expressão e viável que possa substituir o do ex-presidente, em caso de necessidade, e sequer também contam com instrumentos próprios de comunicação capazes de fazer um mínimo de enfrentamento aos oligopólios midiáticos.

    No que diz respeito às lideranças do Campo Majoritário – e sobretudo ao próprio ex-presidente – isto pode parecer uma ironia da História. Na verdade, porém, não há qualquer ironia. Em latim vulgar, essas situações são simplesmente ditas “a volta do cipó de aroeira”.

    Simplesmente e infelizmente.

    Desde o início do PT e, sobretudo a partir de 1983 (quando foi intensificada), a destruição de lideranças e o impedimento que novas brotassem; com as greves do ABC paulista transformadas no ano Zero da História; com a caça às bruxas das estruturas clandestinas (lembram da história das “duas camisas”?); com os P2 infiltrados em todas as instâncias e aparelhos do partido; com as teorias “da emergência espontânea dos movimentos e greves” – desenvolvidas por acadêmicos de plantão; com a ordem de que fossem fechados todos os jornais populares construídos pelas organizações e outras forças de esquerda desde meados dos anos 1970; com a decisão de não se construir uma imprensa partidária, sob o argumento de que bastaria “termos um quadro de confiança em cada redação”; com as intervenções dos donos do partido junto às instâncias democráticas do partido e sua destruição planejada; com a política de cooptação dos movimentos populares e/ou suas lideranças; com a definição das instituições do Estado como o terreno principal (e em seguida, exclusivo) de disputa política; com a política de alianças com gatos-e-cachorros; com uma moral fundada na Lei de Gerson (“o importante é se dar bem”); com os etcoeterae daí decorrentes, construiu-se o atual quadro com os seu detalhes mais ignominiosos e pusilânimes. Assim, só poderíamos chegar onde chegamos.

    Agora, não adianta chorar; não adianta se fazer de vítima; não adianta culpar o inimigo de ter agido como inimigo.

    Que os mais jovens aprendam com mais esta experiência da classe trabalhadora, e jamais a repitam. Que vão fundo na crítica.

    ALIPIO FREIRE é fundador do PT, ao qual permanece filiado. Foi presidente da ABI-SP e do Núcleo de Preservação da Memória Política. Atualmente membro dos Conselhos Editoriais do Brasil de Fato e da Editora Expressão Popular, integra o Conselho Curatorial do Memorial da Anistia (BH-MG), é jornalista, escritor, artista plástico e cineasta.

  77. Queria manifestar meu respeito ao Gilberto Marinboni, que apesar de totalmente equivocado foi o único intelectual da B?itempo que se manifestou publicamente até aqui sobre o seminario,

    Como diz o poeta: ame e dê vexame, mas apesar de desastrosa é uma postura mais respeitavel que a omissão.

    Triste esquerda que já teve como referência intelectuais como Caio PRado, Antonio Candido, Abdis Nascimento, Mário Pedrosa, Maurício Tragtemberg, Clovis Moura, Florestan Fernandes… Hojee…

  78. Se o seminário não era propriamente internacional, agora ele se tornou:

    LA REBELIÓN NO SERÁ GOURMETIZADA – http://desinformemonos.org.mx/2015/06/la-rebelion-no-sera-gourmetizada-movimiento-independiente-maes-de-maio/

    DEL LUTO A LA LUCHA: LAS MADRES DE MAYO INCANSABLES EN SU BÚSQUEDA DE JUSTICIA – http://site.adital.com.br/site/noticia.php?lang=ES&cod=85382

    MAES DE MAIO: ¿QUIENES SON? ¿DE DONDE SALIERON? – http://www.pueblosencamino.org/index.php/donde-estamos/lectura-de-contexto/1373-maes-de-maio-quienes-son-de-donde-salieron

    DE LAS DESAPARICIONES DE AYOTZINAPA AL EXTERMINIO EN BRASIL – http://subversiones.org/archivos/116846

  79. As respostas oficiais da editora Boitempo foram, até aqui, tão patéticas, que elas apenas reforçam a força, a relevância e o potencial crítico desta nota do Mães de Maio.

    Um punhado de adjetivos – sem qualquer factualidade, e o coro coordenado (que até o Harvey entrou) de que a crítica estaria vindo de certa “esquerda sectária” que “não sabe ouvir” ou “quer silenciar” quem quer que seja.

    A Ivana sintetizou esta nova operação no seguinte trecho de sua recente entrevista: “Assim se constroem projetos coletivos, ninguém tem o monopólio do que é ou deixa de ser de esquerda, de quem pode ou não falar sobre este ou aquele tema. Qualquer tentativa de impor o silêncio seria inaceitável e abriria um enorme e perigoso precedente nas esquerdas.” – http://cartamaior.com.br/?/Editoria/Cultura/Cidade-pra-quem-Entrevista-com-Ivana-Jinkings-fundadora-da-Boitempo/39/33753

    Como se as pessoas que estão acompanhando atentas esta importante discussão fôssemos esquecer que quem sectou do MPL o debate sobre as jornadas de junho foram os próprios organizadores do seminário – ao mesmo tempo em que abarcaram Lula na “esquerda democrática” e Haddad no papel de estrela dessa; E que os únicos que “não quiseram ouvir” (o MPL) ou “impuseram o silêncio” (à postagem do Mães de Maio na página do evento, divulgando o seu texto) foram os próprios organizadores do ciclo de debates.

    Desde a primeira vez que li o texto original do MM, e depois as respostas coordenadas dos funcionários da editora remetendo a este ecumenismo gourmet “das esquerdas”, não me sai da cabeça outro artigo publicado neste site, “Sobre a esquerda e as esquerdas”, redigido pelo meu xará e verdadeiramente “maldito” escritor autônomo, o João Bernardo. Vale a pena relê-lo – http://passapalavra.info/2014/04/93811 .

  80. Leo Vinícius,

    acho que não preciso nem responder se cobrei ou não que o Lula recebesse o Mães de Maio enquanto era presidente, né? Cara, você pode apresentar qualquer análise por mais brilhante que seja da crise do PT e das suas estratégias de perpetuação, mas isso simplesmente não vem ao caso.

    O seminário pode ser uma peça na engrenagem maquiavélica de lavagem cerebral lulo-petista? Pode. O seminário pode ser simplesmente uma iniciativa de debate que não compartilha da sua análise de que nenhuma autoridade petista deve ser convidada a dar sua opinião sobre a questão urbana hoje? Pode também.

    O fato é que ninguém apresentou absolutamente nenhuma prova concreta de que o seminário foi organizado como uma jogada de marketing do PT — jogada que, diga-se de passagem, você mesmo concordou comigo que seria bastante ineficaz. Veja: para o Rodrigo Constantino também só um completo “ingênuo político” para não ver que o logo da Copa traz consigo uma mensagem subliminar para alavancar o nome do Lula. O PT tinha interesse em capitalizar eleitoralmente em cima da imagem da Copa? Acho que não há dúvida de que sim. Mas uma coisa não explica a outra. Porque daí pra dizer que o logo da copa é obviamente uma jogada subliminar no interior desse grande projeto político é dar um passo maior do que a perna.

    Veja, em nenhum momento “cobrei”, como você diz, a participação do Mães de Maio. Acho que não preciso nem dizer que o movimento tem todo o direito de aceitar ou recusar todo convite que lhes é feito. O que estou questionando é a desautorização total de um seminário, de uma iniciativa de debate e diálogo de ideias (que eu acompanhei e, pessoalmente, achei bom pra pensar), com base numa “leitura dos fatos” apoiada numa argumentação extremamente frágil. O que me chocou, em outras palavras, foi chegar aqui depois de ter visto o seminário e ver gente de esquerda se recusando a sequer ver os debates dizendo que é tudo uma grande jogada da direita para neutralizar a rebeldia de junho.

    Reforço: não acho que a rebeldia de junho possa ser neutralizada com um mero seminário, e não há nada que prove que o seminário seja uma faceta da estratégia petista de reestruturação de seu poder. Uma coisa seria dizer que o seminário foi organizado por “uma esquerda que não entendeu junho”, outra coisa é dizer que ele foi organizado por uma esquerda que entendeu junho e quer acabar conscientemente com o que ele representa. Se você quiser sustentar a segunda posição, precisa de provas concretas. Senão fica parecendo aquela punhetagem de ver quem é mais de esquerda que o coleguinha.

    P.S.: Estou assumindo que “inocente útil” não seja uma forma politicamente correta de me chamar aqui de “petralha”. Por isso não precisaria nem dizer que até concordo que o PT abandonou o trabalho de base e o diálogo com os movimentos sociais há muito tempo, deixando inclusive um enorme legado de despolitização da classe trabalhadora. Não mencionei minha avaliação pessoal do PT no meu comentário aqui porque, como disse, ela simplesmente não vem ao caso.

  81. Charles,

    O que é mais concreto do que Lula e Haddad terem sido convidados para o seminário cujo nome é baseado em práticas e demandas dos quais Lula e Haddad são antagonistas, e como estando no mesmo campo dessas práticas?

    Precisaria mais o que? O que seria uma “prova” da intenção política?

    A comparação com Constantino e o logo da Copa não faz o menor sentido. Se a cara do Lula aparecesse no logo da Copa, o que vc acharia? É disso que se trata.

    Há que desautorizar sim toda tentativa de usar para um velho projeto de poder os sentimentos e práticas que esse projeto de poder reprime, difama e criminaliza.

  82. Eu concordo com o Charles, não há prova alguma. Em 2005, por exemplo, 3 alunos da Unesp de Franca colocaram garrafas com urina numa mesa em que estava o Reitor, depois um deles vomitou em um balde, e um terceiro defecou em um jornal e colocou o jornal embrulhado na mesa do reitor. Um absurdo ocorreu na sequência: os alunos foram expulsos. Ora, não há prova nenhuma de que tinham alguma intenção para além dos desígnios impostos pela mãe natureza, afinal podem ter dado o azar de passar mal naquela hora, e de não ter onde guardar a garrafa com mijo da viagem, e não é sempre que dá pra segurar a vontade de defecar. O próprio Lula, por exemplo, poderia ter cagado no Seminário, se tivesse ido. Aliás, se estiver em um palanque alto, pode até respingar merda nalgum trabalhador. E de repente apareceria depois gente caçando a cabeça de Piero Manzoni, de Andres Serrano e de Siobhan Meow, acusando-os de plágio. Por isso deixe de teorias da conspiração, Leo Vinicius!

  83. Hahahaha cara, ter o Lula e o Haddad na programação de um seminário que, na sua avaliação, tinha um tema que era antagônico aos dois, definitivamente não é uma “prova concreta” de que o seminário inteiro tinha o intuito de alavancar a reeleição do PT a partir do “sentimento genuíno das ruas”! Povo de fórum de internet perde a noção… Não preciso nem dizer que a esquerda só enfraquece quando depende de teorias da conspiração para sustentar sua posição.

    Repito: “Uma coisa seria criticar o evento por ter sido organizado por ‘uma esquerda que não entendeu junho’”. – aí ainda haveria espaço para algum debate (O que foi junho? Quem são os autênticos atores sociais de junho? Quais deveriam ser as tarefas e desafios de uma esquerda à altura de junho? etc.) – “Outra coisa é dizer que o seminário foi organizado por quem entendeu junho e quer conscientemente acabar com o que ele representou” – aí não há mais espaço algum para debate.

    Se não há absolutamente como sustentar essa segunda posição com os argumentos apresentados aqui, os próprios debates do seminário (pra quem os acompanhou) apontam na direção contrária. Vejamos: Lula e Haddad não aparecem “como estando no mesmo campo” das práticas que na sua avaliação são antagônicas aos dois, assim como Carlos Vainer e Jorge Luiz Souto Maior também não estão no mesmo “campo” que Luis Fernandes. Mas isso não impediu que os três fossem reunidos numa mesma mesa de debate no seminário. Veja aqui e me diga se você acha que o Carlos Vainer se sentiu manipulado e abusado por ter sua imagem associada à de um gestor da Copa do Mundo: https://www.youtube.com/watch?v=EW29-POJEaE

    E a galera já tá dizendo que o David Harvey também é pago pelo Lula… vixe fala sério, tô fora!

  84. “…Us ‘com’diploma vesus us com-ciência.
    A fundação é tudo, menos casa pro interno.
    É mó boi odiar o diabo, quero ver vocês viverem lá no inferno.
    Não existe amor em SP?
    Existe pra caralho. Vocês acham que as Mães de Maio choram por que?
    Ter que sobreviver ao pai que abusa,
    aos ferros sobre a blusa,
    as fardas que mata nóis e nunca fica reclusa,
    ao Estado que te usa,
    ao padrão de beleza musa,
    e aos otário,
    que ainda quer me falar de racismo ao contrário.
    Tempo doido, a espinha gela.
    onde as mulher é estuprada e no final a culpa ainda é delas
    O problema é seu e da sua dor
    ás vezes eu me sinto inútil aqui, eu não valho nada,
    igual o governo tem tratado os professor.
    Mas pra esses bunda mole ai que acha que nóis tá dormindo,
    uma aviso, não é porque nóis tá sonhando que nóis tá dormindo,
    ouviu?…”

    https://www.youtube.com/watch?v=kneSyqI5lXA

  85. Charles,

    Na minha primeira reposta a você eu já disse que a esquerda precisa ter umas boas aulas de marketing. Quem disse que o “o seminário inteiro tinha o intuito de alavancar a eleição do PT”?
    Tem que desenhar para você pelo jeito.
    Lula na abertura de todo o resto, Haddad no meio.. todos misturados como se fizessem parte da ‘esquerda’, como se fizessem parte das práticas que eles na prática são contra.
    Esquece o conteúdo do seminário, não é disso que se trata, mas de operação de marketing, branding.

    O seminário foi organizado por quem entendeu junho e agora quer usa-lo para refazer uma imagem de esquerda àqueles que estiveram do outro lado da barricada. Agora, quem acha racional colocar Lula na abertura de um seminário desse, falando sobre algo que o Partido dele estiveram no papel de cri8minalização… Novamente, somente sendo muito ingênuo politicamente. É fácil repetir que se trata de ‘teoria da conspiração’. Fica parecendo o sujeito que depois do golpe de 64 afirma que aqueles que dizem que houve golpe se baseia em teoria da conspiração… Enfim, termino essa discussão por aqui, pois o sujeito que diante do fato não quer enxergar, só pode ser alguma defesa de consciência por ter gostado do seminário. E não tem problema nenhum em gostar. Se alguma palestra tivesse me interessado teria assistido na internet sem problemas.

    O governador de Minas Gerais, Fernando Pimentel, do PT, assim como representante do PT de Minas serão provavelmente convidados para o próximo seminários “Cidades Rebeldes”, em nome da diversidade e do não sectarismo.

    Nesse momento ele e seu partido colocam a PM para expulsar e reprimir violentamente 8 mil famílias das ocupações da região do Isidoro em Belo Horizonte, em nome de grandes empreendimentos imobiliários. Se não bastasse o PT-MG solta notas criminalizadoras e manipuladoras. E ainda há gente que acha normal esses gestores serem convidados para um seminário sobre rebeldia nas cidades. Mais sensato seria logo convidar o comandante da PM.

    “Repudiamos a nota do PT-MG e a cobertura midiática sobre as ocupações da Izidora”
    https://www.facebook.com/notes/705514579594522/?pnref=story

  86. eliane Brum em sua coluna de hoje no El País Brasil:

    “Cidades Rebeldes” é o nome de um seminário promovido pela editora Boitempo e pelo SESC, na segunda semana de junho, que reuniu alguns pensadores da maior relevância sobre o tema, tanto brasileiros, como o próprio Christian Dunker, autor do livro citado anteriormente, quanto estrangeiros como o geógrafo marxista David Harvey. Era também um encontro das esquerdas nesse momento tão desafiador, em que as ruas do país foram tomadas por gritos de direita. Mas houve uma rebelião no debate que debatia a rebelião. O Movimento Independente Mães de Maio divulgou um manifesto cortante com o seguinte título: “A rebelião não será gourmetizada”. (Leia aqui. E sugiro ler também os comentários, para compreender o quadro maior).

    O “Mães de Maio” tem na origem um grupo de mulheres, a maioria negras, pobres e periféricas, que perderam seus filhos assassinados, suspeita-se que muitos deles executados pela polícia, nas ruas do estado de São Paulo em maio de 2006. O grupo faz a denúncia cotidiana da violência praticada pelo Estado contra os mais pobres. Costuma chamar Geraldo Alckmin de “governador genocida” e denuncia o que chama de “terrorismo de Estado”. Também empresta o nome à Comissão da Verdade que investiga os crimes cometidos pelo Estado no período democrático. Neste seminário, o movimento foi convidado de última hora para substituir um convidado de primeira hora que precisou cancelar sua participação. Mas recusou o convite. No manifesto explica o porquê.

    Entre as justificativas, o Mães de Maio denuncia uma ausência considerada por muitos uma obscenidade: a falta do Movimento Passe Livre (MPL), que provocou as manifestações de 2013 no país, na grade dos debatedores. Também negou a legitimidade de convidados como Luiz Inácio Lula da Silva, que cancelou sua participação antes do início do seminário, e o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad. Este último é considerado um repressor dos protestos de 2013, contra o aumento da tarifa do transporte público, o que tornaria sua presença num seminário sobre cidades rebeldes uma ofensa. Não me recordo de nenhum outro manifesto recente de movimentos sociais tão contundente em sua crítica ao PT, definido como o “agonizante Partido dos Trabalhadores” e a Lula, chamado a certa altura de “este sujeito”.

    Há muitas interpretações possíveis para a rebelião contra o seminário sobre a rebelião. Também há muitas versões. Todas elas fascinantes e muito mais fundamentais para compreender o atual momento do que pode parecer à primeira vista. Como estamos murados, porém, muitos dos sentidos possíveis foram apagados por polarizações (sempre elas). Alguns desqualificaram o debate já antes do manifesto, por ter nele figuras do PT. Logo, nada ali, nem todos os outros, inclusive críticos do PT, poderiam ser escutados. Outros desqualificaram o Movimento Independente Mães de Maio. Outros ainda magoaram-se porque suas melhores intenções não foram compreendidas e se viram num lugar muito incômodo, já que temos a tendência de acreditar que somos só bacanas e estamos a salvo.

    Com esse gesto, o Mães de Maio dificultou a recolocação do PT no contexto das ruas e das rebeliões e também na identificação como “esquerda”, o que é muito forte. Dificultou a recolocação do PT não só como protagonista, mas também como participante do movimento mais amplo das cidades rebeldes. Mostrou também que hoje não basta incluir no debate um ou dois representantes das periferias e dos movimentos sociais, o que até pouco tempo teria sido suficiente e garantiria um ambiente controlado. O que o Mães de Maio disse talvez de mais importante é que, no Brasil atual, para ter legitimidade não é suficiente falar sobre, é preciso falar com. Para isso também é necessário que todos – todos mesmo – compreendam que “com” significa “com” – e não “só nós”. Do contrário a lógica dos muros permanece a mesma, ainda que se mude os personagens de lugar. Hoje, é urgente estar de fato com o outro e se arriscar ao que isso significa. Arriscar-se, portanto, à rebelião.

  87. “a falta do Movimento Passe Livre (MPL), que provocou as manifestações de 2013 no país”

    Pessoal, São Paulo é importante, é o centro. O passapalavra tem sua base em São Paulo e o debate aqui sempre fica bem centrado por aí. Mas me incomoda mais do que consigo explicar essa tese de que junho foi provocado pelo MPL-SP. Isso está em vários textos (alguns do MPL, aquele livrinho “20 centavos”) e agora reaparece. Isso é no mínimo mentira e se for considerado em suas consequências políticas de invisibilização de milhões de processos de resistência que contribuíram para junho, é no máximo, de uma violência autoritária muito grande.

  88. Sobre o breve parêntese acima, vale lembrar de um cartaz que se destacou num dos primeiros grandes atos em SP, talvez o primeiro: “Acabou o amor em SP. Isso aqui vai virar Porto Alegre.”

    Desde a destruição do Tatu da Copa, em 2012, e depois a luta contra o aumento da tarifa entre fevereiro e maio, num crescendo, a capital gaúcha contribuiu bastante com o exemplo.

  89. Menos de 10 dias depois do V Congresso Nacional do PT e de sua corrente, o Campo Majoritário – sob seu total controle, ter abafado todas as propostas de mudança nas estruturas internas do partido, feitas pelas correntes minoritárias mais à esquerda, Lula deu as seguintes afirmações em seminário no seu Instituto:

    ((Mantendo um discurso crítico ao PT, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva defendeu uma mudança no Partido dos Trabalhadores (PT) durante seminário nesta segunda-feira, em São Paulo. Para Lula, é preciso fazer uma revolução no partido e colocar pessoas mais jovens no PT. No sábado, O GLOBO informou que o ex-presidente, em tom de desabafo, criticou duramente a presidente Dilma Rousseff em reunião no instituto que leva o seu nome. Para Lula, “Dilma está no volume morto, o PT está abaixo do volume morto” e ele próprio está no volume morto.

    — Eu acho que o PT perdeu um pouco a utopia. Eu lembro como é que a gente acreditava nos sonhos, como a gente chorava quando a gente mesmo falava, tal era a crença. Hoje nós precisamos construir isso porque hoje a gente só pensa em cargo, a gente só pensa em emprego, a gente só pensa em ser eleito e ninguém hoje mais trabalha de graça — disse Lula nesta segunda-feira.

    — O PT precisa urgentemente voltar a falar pra juventude tomar conta do PT. O PT está velho. Eu, que sou a figura proeminente do PT, já estou com 69 (anos), já estou cansado, já estou falando as mesmas coisas que eu falava em 1980. Fico pensando se não está na hora de fazer uma revolução neste partido, uma revolução interna, colocar gente nova, mais ousada, com mais coragem. Temos que decidir se nós queremos salvar a nossa pele e os nossos cargos, ou queremos salvar nosso projeto. E acho que nós precisamos criar um novo projeto de organização partidária nesse país.

    — O PT está velho. Eu que sou a figura proeminente do PT tenho 69, estou cansado, já estou falando as mesmas coisas que falava em 80. Eu fico pensando se não está na hora de fazer uma revolução neste partido, uma revolução interna e colocar gente nova, gente que pensa diferente, gente mais ousada, gente com coragem — propôs o ex-presidente. ))

    A fala de Lula foi recebida com palmas pela plateia formada por dirigentes petistas, os ministros Juca Ferreira (Cultura) e Renato Janine Ribeiro (Educação) e integrantes de movimentos sociais tradicionais (Movimento dos Sem Terra) e recentes (Levante Popular da Juventude e Fora do Eixo).

  90. Ocorre que pelo que estou entendendo a estratégia do PT prevê Lula criticando o governo – já que Dilma não pode ser reeleita – alçando-se, assim, como A alternativa de esquerda para 2018. Se nesse caminho precisar criticar o Partido, ótimo, já que assim se reforça frente ao eleitorado insatisfeito como o cara que sabe que a coisa vai mal e que – basta elegê-lo – para que tudo se conserte. Como o conserto é de fachada, um red washing visando vitória eleitoral, é claro que o Encontro (Congresso) do Partido não faria mudança alguma. Aliás só os ingênuos esperariam alguma mudança interna no Partido que tem o melhor formato para o governo capitalista no Brasil, assim como só os ingênuos esperam alguma mudança substantiva pela via institucional e com a troca de Presidente ou de Partido no poder.

    http://passapalavra.info/2015/01/101808/

  91. Que babaquice é essa? Vai abraçar o aécio/alckimin que é mais honesto. me lembra um tal de junior do RJ que defendia não sei o que e virou um compulsivo de extrema direita.

  92. Em tempo, é evidente o desgosto do David Harvey quando Haddad coloca palavras em sua boca “o senhor mesmo já publicou sobre isso” e depois desmerece a luta autônoma.

  93. Pouco mais de 3 anos deste artigo e, afinal de contas, a rebelião à esquerda foi sim totalmente gourmetizada e eleitoralizada por aqui. Lula “preso político” como símbolo e mártir desta rebelião gourmetizada – ponto de fuga de toda redução das estratégias das esquerdas à mera disputa institucional. Haddad e Boulos são os candidatos a sucessores, à moda antiga ou com o “novo” verniz, cada qual instrumentalizando os seus respectivos partidos, sindicatos, movimentos sociais e respectivas rebeliões fraudadas e extorquidas. O chamado “campo autonomista” simplesmente esfrangalhou-se, silenciou-se E desapareceu. Esfrangalhou-se, silenciou-se, implodiu-se, foi desaparecido OU desapareceu? A saber… Caminho aberto para a rebelião ser cada vez mais direitizada (o recente lockout dos caminhoneiros e os Bolsonaros da vida que o digam). Enfim: soma e segue – os fascismos à brasileira.

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