Uma vitória dos bancários sobre o arrocho pode sinalizar que apesar das direções que se pautam pela conciliação de classes, os processos de luta e enfrentamento estão forjando uma nova geração de lutadores. Por Bancários da Intersindical

12088128_441700082679967_8269531566674072201_nA greve nacional dos bancários entra em sua segunda semana sem nova manifestação dos bancos e do governo, que inicialmente apresentaram proposta de 5,5% de reajuste, o que para os trabalhadores é inaceitável, já que mal cobre metade da inflação do ano, e portanto na prática é uma redução salarial. Os bancários em São Paulo vêm demonstrando que estão dispostos a lutar para barrar o ajuste e o arrocho que os patrões e o governo querem empurrar para o conjunto da classe trabalhadora nesse contexto de crise econômica. Além da adesão massiva à greve nos bancos públicos, setores organizados da base vêm demonstrando que é possível construir uma outra greve, para além dos piquetes de fachada e do jogo de luzes e fumaça (ver aqui) que o sindicato dos bancários de São Paulo, controlado pela Articulação sindical do Partido dos Trabalhadores, protagoniza não ao lado dos bancários organizando-os para a luta, mas em seu nome, terceirizando a luta dos trabalhadores com seus militantes profissionais e alijando-os da possibilidade de construir o movimento de forma classista e independente.

Desde o início da greve importantes locais de trabalho foram completamente paralisados, em uma dinâmica diversa daquela em que todo ano vemos a direção do sindicato encenar. Normalmente nas agências e departamentos em que o sindicato faz piquete não ocorre uma real paralisação das atividades, pois os bancários muitas vezes são enviados para outras unidades próximas que se encontram abertas, isso quando não ficam fazendo serviço interno sem atender a população – muitas agências, suspostamente fechadas pela greve, continuam atendendo normalmente os cliente de alta renda, o que faz com que existam relatos de funcionários que batem metas de vendas (empréstimos, seguros, capitalização) durante a greve. Em muitos departamentos inclusive existem as “listas” de quem vai entrar para trabalhar na greve, em um acordo entre sindicato e chefias para não prejudicar demais os negócios da banqueirada. Neste ano os trabalhadores têm demonstrado que é possível no momento da greve protagonizar atividades que, ao contrário do script rotineiro da burocracia sindical, façam um enfrentamento com as tentativas dos patrões de arrefecer a luta.

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A política da articulação sindical para a greve: cola o adesivo na porta do banco e deixa o bancário trabalhando dentro! (Na foto Juvandia, da Articulação, presidente do Sindicato)

Um exemplo disso foi a paralisação GIPES-sp (Unidade de gestão de pessoas da Caixa Econômica Federal), que amanheceu fechada em ação organizada pelo coletivo Avante Bancários em resposta às tentativas de perseguição ao movimento grevista por parte da empresa. Ao marcar processos seletivos e exames médicos durante a greve, e enviar emails de caráter coercitivo aos trabalhadores para não participarem do movimento sob risco de não poderem fazer parte desses processos a empresa pretendia enfraquecer a forte adesão à greve dos trabalhadores da Caixa.

Dentro dessa perspectiva, o Avante Bancários, em conjunto com os demais setores da oposição unificada à atual diretoria do sindicato organizou uma importante paralisação no prédio da CIOPI (Habitação, telemarketing e outros setores internos da Caixa) no Brás, em solidariedade às centenas de trabalhadores terceirizados que têm sofrido na pele os efeitos da precarização, com atrasos de pagamentos e uma constante rotina de ameaças e incertezas por parte da empresa que em nome da Caixa cumpre o papel de capataz dessas mulheres e homens que na verdade efetuam serviços bancários como qualquer efetivo e deveriam receber os mesmos direitos.

Ainda em conjunto com os demais setores da oposição, os trabalhadores que impulsionam o Avante Bancários cumpriram um papel central na paralisação total do Telebanco do Bradesco, aonde em enfrentamento contra a burocracia do sindicato que fazia ali um de seus pretensos piquetes, foi garantido o fechamento total do prédio, no lugar da usual greve de fachada em que o lucro do patrão não é atingido e muitos bancários, mesmo em “greve”, entrariam na unidade para trabalhar com anuência do sindicato. Além do Telebanco, a diretoria regional do Bradesco na avenida Paulista também foi paralisada em ação do Avante, causando impacto nas atividades do banco de Trabuco e Levy na região mais rica da cidade.

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Os báncarios do CAT, do Itaú no Tatuapé foram forçados pela direção da empresa a dormir dentro da unidade para impedir a paralisação das atividades da mesma por conta do movimento. Cerca de 400 trabalhadores foram alojados em condições indignas e desumanas, como mostram as chocantes fotos divulgadas pelo SEEB-sp, única e exclusivamente com o objetivo de garantir o lucro de Setúbal e companhia.

O CAT (Centro administrativo do Itaú, no Tatuapé), segundo maior concentração de trabalhadores bancários do Itaú no país, com milhares de trabalhadores, também foi completamente paralisado em atividade da oposição unificada. O recado a ser dado pelo Avante Bancários e pela oposição no CAT era claro: é inadmissível a postura do Itaú de coagir os trabalhadores a trabalharem em contingências durante a greve, e o que é pior, a coação para os trabalhadores entrarem de madrugada nas unidades para fugir dos piquetes da greve e garantir os lucros de Setubal e companhia, conforme recentes denúncias (ver aqui). É inadmissível também a postura do sindicato que diante dessa situação, apesar de fazer o enfrentamento jurídico, se omite na importante tarefa de fazer o enfrentamento no local de trabalho, sendo conivente com a situação desumana que os trabalhadores estão enfrentando no CAT, e também se privando de efetuar o fechamento das contingências do Banco, fazendo com que a greve não afete em nada os lucros do banco e na verdade só aumente o desgaste e a deterioração da saúde dos bancários, bem como de suas condições de trabalho.

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Assembleia dos bancários de São Paulo lotada, mesmo sem propostas por parte dos banqueiros e governo (13/10)

Em uma clara demonstração de descontentamento com a omissão dos bancos e disposição de luta, os bancários das mais diversas regiões da cidade lotaram a última assembleia no dia 13\10, mesmo sem propostas novas, unicamente para organizar e fortalecer a greve da categoria. Além da inesperada assembleia lotada, um setor da categoria, os Atendentes da Central de atendimento e do SAC do Banco do Brasil, compareceram em massa na assembleia, publicizando suas demandas específicas, demonstrando a capacidade de auto-organização e convocando o conjunto da categoria para participar de um ato que ocorrerá amanhã as 9h no complexo da rua Verbo Divina, zona sul de São Paulo. Este será o primeiro ato de rua realizado pela categoria sem ser comandado pela direção do sindicato em muitos anos. As reinvindicações são por melhores salários, contra a constante deterioração das condições de trabalho e a falta de critérios para a ascensão profissional (com caso recente de suspeitas de nepotismo).

A atual diretoria do sindicato, ao invés de saudar e incentivar a auto-organização dos trabalhadores, tentou deslocar o foco da combatividade dos companheiros da CABB, clamando por um pretensa unidade e culpabilizando os bancários de bancos públicos por todos os problemas do movimento. Esses ações de força dos bancários da base de São Paulo indicam que nesse contexto de acirramento da luta de classes essa importante categoria não está inerte e ensaia uma resposta que pelo seu conteúdo deve ser classista e independente em relação aos patrões e ao Estado. Os encaminhamentos dessa greve bancária podem dizer muito a respeito do futuro da política de arrocho e ajuste dos patrões e do governo para o conjunto dos trabalhadores, sendo os bancários uma das categorias mais combativas e com histórico de lutas no país, de modo que uma vitória dos bancários sobre o arrocho pode sinalizar que apesar das direções que se pautam pela conciliação de classes, os processos de luta e enfrentamento estão forjando uma nova geração de lutadores que se forma na luta contra o arrocho e que com certeza será central para os enfrentamentos da classe no próximo período. É dentro dessa perspectiva que nós do Avante Bancários compreendemos nossa atuação, fortalecendo a organização nos locais de trabalho e nos propondo a construir um campo de oposição à política de conciliação, de conteúdo classista e que se paute pela independência e autonomia em relação aos patrões e seus partidos e ao Estado.

BANCÁRIOS DA INTERSINDICAL – Instrumento de organização e luta da classe trabalhadora -, Espaço Socialista e Movimento Revolucionário Socialista, CONSTRUINDO O AVANTE BANCÁRIOS!

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