As portas se abrem e começa a correria. Alguém comenta: “e você aí que achava que a dança das cadeiras era só uma brincadeira de infância”. Por Passageira

Musical-Chairs-Game-ShowAs portas se abrem e começa a correria. Alguém comenta: “e você aí que achava que a dança das cadeiras era só uma brincadeira de infância”. Aqueles que criticavam a violência do empurra empurra no metrô, agora, andam com os cotovelos para frente. Uma senhora com as mãos calejadas e o olhar cansado se segura nas hastes de apoio do trem para continuar lendo um livro de autoajuda. Naquela página, o autor incentiva a força interior sem que se caia na tentação de culpar a economia ou o sistema capitalista pela sua situação. É preciso que cada um assuma a responsabilidade de seus atos.

Dança-das-cediras-3Hora de descer da Linha Amarela a caminho da Linha Verde. O que foi inaugurado há pouco tempo como a linha mais moderna e elegante do metrô de São Paulo, a garantia do bilhete de passagem para o futuro, é chamada de “inferno” por alguns. O modelo de uma sociedade vigiada parece se encerrar naquelas estações. A todo momento mensagens de aviso. “Para sua segurança, câmeras de vigilância estão espalhadas por essa estação”, “Ao presenciar atos de vandalismo, denuncie”, “Denuncie o comércio ambulante nas estações”. Às seis da tarde invariavelmente soa “Não fique na região das portas” e se segue com: “Impedir o fechamento das portas atrasa o funcionamento do metrô”. E, por fim, aquela que parece anunciar quando o pesadelo começa: “Crianças a partir de 6 anos de idade já pagam passagem”.

Em silêncio, a multidão caminha a passos lentos pelos corredores com barreiras de condicionar a manada. De repente, uma voz destoa. Debocha da quantidade de funcionários disponíveis para auxiliar o cidadão. “Mil funcionários? E andamos assim?”. Olhares de recriminação pedem que o homem se cale e apenas ande. Melhor não reclamar. A operadora da linha anuncia que há déficit de passageiros. Pode piorar.

As ordens vindas do alto-falante finalmente cessam. De um lado da plataforma sobra espaço, os passageiros têm lugar de sobra para sentar. No outro, a mesma aglomeração das linhas anteriores. Faltam algumas estações e cotoveladas para chegar ao trabalho.

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Última ilustração de Greg Morrissey, intitulada Chair Dance, 2015

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