A rede deixa de ser um meio e passa a ser o fim e dessa forma surge uma nova forma de militância. Por Anônimo e Coletivo.
O novo palco da história exige de nós estarmos ativos, as redes sociais colocam novas formas de participação, é necessário a performance em tempo integral da vida, postar nas redes sociais representa a significância.
E nesse momento político de histeria generalizada, as opiniões políticas tomam conta. Todos devem se manifestar, e na futebolização da política devem defender seu lado. Mas o que isso de fato significa? Uma participação popular intensa sobre a vida política nacional? Ou uma generalizada despolitização?
Esse novo jeito de se comunicar se torna hostil a textos longos chamados “textão”, três parágrafos se tornam algo demasiadamente prolixo, o que produz informação são memes. Antes a vida de cada pessoa era restrita ao meio social mais próximo, hoje a rede social toma uma ampla dimensão. A existência torna-se parte de um espetáculo, a rede deixa de ser um meio e passa a ser o fim. E dessa forma surge uma nova forma de militância.
Talvez apenas, e sobretudo, a espera do reconhecimento, o reconhecimento individual de capacidades.
E se fôssemos pensar nos zapatistas que colocam seus passamontanhas para serem reconhecidos pela sociedade que os dispensava enquanto seres incivilizados e arcaicos? Os indígenas do México utilizaram uma estética que demostra acima de tudo o símbolo de coletividade.
E quanto a nós que esperamos transformar o mundo, e acabamos numa servidão voluntária, quando nós próprios estamos a espera do reconhecimento?
Portanto, como diz Milan Kundera, “A insignificância, meu amigo, é a essência da existência. Ela está conosco em toda parte e sempre. Ela está presente mesmo ali onde ninguém quer vê-la: nos horrores, nas lutas sangrentas, nas piores desgraças. Isso exige muitas vezes coragem para reconhecê-la em condições tão dramáticas e para chamá-la pelo nome. Mas não se trata apenas de reconhecê-la, é preciso amar a insignificância, é preciso aprender a amá-la”.
A insignificância aos olhos corridos e em uma cultura narcisista parece um suicídio, mas e se a pensássemos como uma potência? A potência do desamparo como uma despersonalização, ou seja, a condição de estar sem outro a lhe “reconhecer”.
A hipervalorização do eu constituindo-se sob bases extremamente narcísicas tem gerado novas formas de subjetivação. Claro que as ações não partem genuinamente apenas dos indivíduos, a sociedade do desempenho tem produzido a falsa ideia de liberdade, ou melhor uma liberdade coercitiva com a finalidade de maximizar o desempenho. Não é mais o senhor patrão que nos observa e pune, mas a competição de todos contra todos, que você individualmente deve lutar para seu mérito. Assim nos tornamos propaganda viva de intenções de realizações, e as redes sociais são o próprio portfólio de nós mesmos.
Até aqui não há muito o que dizer sobre contradição. Se pensarmos que é a própria lógica de reprodução das forças produtivas do sistema capitalista que transforma o mundo do trabalho e consequentemente as relações sociais.
Mas e quanto à militância, também não há uma nova forma de desempenho em busca do reconhecimento?
As imagens que ilustram o artigo são obras de Yayoi Kusama
e na dialética do reconhecimento, quem seria o sujeito que devolve o olhar para este tipo de militante?
Quanto a estes militantes, são os epígonos da democracia. Passam de disputar o Estado para disputar o Espetáculo. Oras, só pode ser porque hoje o espetáculo é muito mais democrático que o Estado.
pessoal, corrijam “extremante”, é “extremamente”, não?
abs, fernando
Caro Fernando,
Obrigado pelo aviso. Já está corrigido.