O crescimento do discurso da antipolítica tem chamado cada vez mais atenção e se colocado como tema de debate. Por Passa Palavra

1.

Recentemente temos nos deparado com certa perplexidade da esquerda perante as eleições. Parte considerável destes agrupamentos alegam que as pessoas estão votando no retrocesso, contra os interesses dos trabalhadores, por uma política recessiva. Como se em algum momento o sufrágio universal tivesse se convertido em uma forma de garantir os interesses dos trabalhadores e agora não garantisse mais; como se o aparato estatal não tivesse sido moldado para garantir o controle sobre os explorados, e as repetidas vezes que votamos não ajudassem a construir essas formas de dominação! Não é desse papel histórico do Estado que cabe falar agora, ele já foi muito bem desenvolvido e qualquer um com algum interesse no tema consegue achar bom material sobre o assunto.

03-exilesO que interessa é que por vezes os capitalistas liberais, o establishment político, as grandes corporações midiáticas e a extrema-esquerda têm se chocado com a mesma coisa. Como exemplo, nas últimas semanas, a empresa Lego cancelou seu contrato de publicidade com o Daily Mail sob a justificativa de que o jornal incitaria o ódio; o publisher do New York Times enviou uma mensagem para os assinantes do jornal pedindo desculpas por não terem percebido o avanço da candidatura de Donald Trump; a revista Veja fez uma capa denunciando, uma semana antes do segundo turno, o prefeito eleito do Rio de Janeiro, Marcelo Crivella, por corrupção.

Nas votações na Câmara dos Deputados acerca do impedimento da presidenta Dilma Rousseff, os deputados à esquerda, a grande mídia e mesmo setores da “direita ilustrada” estiveram unidos no assombro perante os discursos que alegavam votar por Deus, pela família e por sua cidade natal. Sobrou indignação, mas faltou fôlego explicativo para entender o porquê de políticos utilizarem o momento de maior exposição que teriam na mídia para afirmarem isso. A resposta óbvia é que isso dá voto. Os deputados já vislumbravam as votações para prefeitos nas quais eles, ou algum membro de sua família, se candidatariam. Passadas as eleições municipais, os discursos pela família e por Deus parecem ter mobilizado um elevado número de pessoas, o que levou a esquerda a se horrorizar ainda mais perante a onda conservadora. Desses episódios, fica para nós o desafio de tentar compreender a base material que de fato existe para essa identificação.

2.

Em tempos de crise e insegurança no emprego, as pessoas tendem a ancorar-se nas redes de apoio mais consolidadas, como a família e as comunidades religiosas. Em momentos de maior medo e incerteza, buscam aí suas forças não apenas motivacionais, pois dependem dessas redes para conseguir empregos, comida, alguém para ajudar com os filhos, enfim, para suprir demandas materiais. Há ainda um rescaldo de anos, talvez décadas, de desarticulação da identificação coletiva enquanto trabalhador, no discurso “Brasil, um país de todos”, na conversão dos sindicatos em gestores de fundo de pensão e mediadores de preço da força de trabalho, na inserção de demandas difusas como as que os trabalhadores precisam. Isto, em alguma medida, contribuiu para que se afrouxassem as oposições referenciadas no antagonismo de classe e, em seu lugar, tomassem a cena múltiplos conflitos discursivos e identitários que podem mudar de lado conforme o vento sopra.

Após o resultado das eleições municipais no Brasil e da presidencial nos EUA, o crescimento do (ou o crescente) discurso da antipolítica tem chamado cada vez mais atenção e se colocado como tema de debate. A princípio, há dois aspectos dessa antipolítica.

Primeiramente, há uma linha que enfatiza a boa gestão, a eficiência, os saberes técnicos e a desideologização dos governos. Em segundo lugar, existe a tendência que enfatiza a indignação perante os vícios e a iniquidade do sistema político, com candidatos e outros atores autoproclamando-se como elementos outsiders que, enquanto tal, serão capazes de revolucionar a velha política. Estes discursos às vezes fundem-se numa mesma pessoa, mas, em outras, colocam-se em oposição frontal. Qual teria sido a contribuição da esquerda ao quadro atual?

Ao deslocar seu foco de atuação dos temas ligados aos interesses de classe para arrogar-se o papel de moralizadora do sistema político e aperfeiçoadora dos mecanismos de gestão, a esquerda jogou água no moinho que agora se agiganta. Afinal, a propaganda sobre a eficiência administrativa e intolerância em relação à corrupção não foi um dos pilares da campanha que levou Dilma ao Planalto? Sanders e Freixo, apresentados como grandes novidades por certos setores, não representam este discurso de outsiders, daqueles que vêm de fora do mar de corrupção e podem “salvar o povo”? Não são uma versão de esquerda do salvacionismo outsider?

3.

Os partidos de direita têm apostado no marketing extremista. Utilizam um discurso extremo porque a situação é extrema, isto é, uma situação de crise, o que já tem certo apelo perante uma massa popular revoltada com o declínio de suas condições de vida. Tal discurso não teria tanta repercussão, porém, se não viesse acompanhado de outro elemento: eles falam o que as pessoas que vivem essa situação extrema querem ouvir, isto é, falam em emprego, em crescimento econômico etc., enquanto a esquerda está falando de quem tem pica ou boceta, quem é branco e quem é preto, quem é de “classe média” (ou playboy e patricinha) e quem é da periferia, sem falar na ecologia, na exploração animal etc.

koudelka_mapfreAo contrário do que eram os processos eleitorais tradicionalmente, em que havia uma “corrida para o centro” de modo a praticamente não haver diferença entre um partido e outro, parece estar havendo agora uma corrida para os extremos durante as campanhas para, em seguida, após a vitória eleitoral, haver uma guinada em direção a posições mais equilibradas. Ou seja, o marketing exige um discurso extremista. Já os partidos de esquerda, com possibilidades efetivas de assumirem governos (e o PSOL é o exemplo maior no processo eleitoral recente) continuaram insistindo na “corrida para o centro” (tome-se a carta do Freixo ao “povo” carioca como exemplo). Ou seja, temos uma situação em que a esquerda anda mais legalista e institucional que a própria direita.

Ao mesmo tempo em que apresenta novos salvadores, a esquerda no poder tem desferido fortes golpes na classe trabalhadora. Os socialistas na Europa foram, e continuam sendo em vários países, responsáveis por aplicar as políticas de austeridade econômica, por reprimir manifestações, por aplicar a cartilha dos organismos de gestão internacional com uma ou outra variação contextual. A resposta dada por certas frações da esquerda e da extrema-esquerda foi uma aproximação ao discurso nacionalista. A União Europeia é tratada pela esquerda de países em crise como Portugal como a raiz dos problemas, e não se aponta nenhuma saída internacionalista construída pelas lutas da classe trabalhadora. Se nenhuma saída deste tipo é apresentada, e a única integração global é a comandada por capitalistas, a ideia de um mundo sem fronteiras passa a ser vista como sinônimo de piora das condições de vida e aumento do poder de controle em mãos dos capitalistas e suas instituições. Com efeito, é de se esperar que os trabalhadores afetados pela crise busquem outras formas de melhorar suas vidas. A esquerda produziu como resposta à crise de 2008 uma aversão à ideia de globalização, e com isso jogou mais água no moinho dos nacionalismos xenófobos que apresentam uma solução “fácil”: protecionismo econômico e fechamento de fronteiras.

A isso se soma a esquerda autodeclarar-se como a representante do “povo pobre e periférico”, sendo que essa inserção nas periferias tem se dado por reforço de políticas de identidade. Dois aspectos sobre esta inserção são centrais.

O primeiro é o quanto essa prática incentiva cisões na sociedade que não se orientam pelo viés de classe. Neste discurso identitário, quando o dono do mercadinho e seus funcionários são negros, eles pertencem ao mesmo grupo oprimido, enquanto o bancário branco é um privilegiado. O segundo aspecto é a ilusão sobre a inserção nas periferias. Ao tomar a periferia pelos grupos culturais associados à identidade declaradamente periférica, a esquerda se isola das demandas que envolvem a maioria da população do bairro, das aspirações e problemas dos trabalhadores e trabalhadoras que pela periferia se espalham. Cria-se a ilusão de estar com o povo, quando se está apenas no coletivo que fala para os que já pensam em determinados assuntos e dialoga-se com os já convencidos.

4.

nazarenos-josef-koudelkaAs pessoas costumam votar, independentemente de sua opinião política, naquilo que acreditam que irá melhorar sua vida. O combate a esta onda, aqui ou lá, tem se focado em denunciar o quanto estas figuras são conservadoras ou retrógradas, o que parece ter pouco efeito. A direita vem adotando um discurso adequado ao cenário de crise, uma retórica radical perante uma conjuntura radical; e, mais ainda, um discurso pragmático, que repercute e ganha adeptos na classe trabalhadora.

Em primeiro lugar, o pragmatismo. Numa situação de crise, a classe trabalhadora quer saber de emprego e crescimento econômico, exatamente o que tem prometido Trump, por exemplo. Não é gratuito o nacionalismo protecionista, a xenofobia etc., nem muito menos a negação do aquecimento global etc. Mas, no lado oposto do espectro político, temos a esquerda agitando os temas da ecologia — note-se que a principal candidata da esquerda radical, em 2016, nos Estados Unidos, foi Jill Stein, do Partido Verde — e do identitarismo. Os temas da ecologia podem até preocupar os trabalhadores, mas em momentos de crise e com sua sobrevivência ameaçada querem, acima de tudo, ter emprego e consumir; na medida em que a ecologia propõe restrições a atividades econômicas que geram emprego e/ou produtos que os trabalhadores desejam consumir, eis aí um conflito de difícil contorno. Os temas do identitarismo, por sua vez, convergem com a xenofobia nacionalista da direita.

Em segundo lugar, a retórica radical. Freixo não é o único exemplo. Em Goiânia, o candidato do PSOL, Flávio Sofiati, também adotou uma retórica moderadíssima e tendendo à conciliação, afirmando, por exemplo, que governaria “para todos” e que faria da Prefeitura uma expressão, de fato, do que é a sociedade goianiense, colocando mulheres, negros, pessoas da comunidade LGBT no governo municipal. E, do ponto de vista econômico, o que este candidato tinha para oferecer era o “ecossocialismo”, partindo de uma crítica “à ‘ecologia de mercado’ que se adapta ao sistema capitalista e ao ‘socialismo produtivista’ que fica indiferente à questão dos limites da natureza”. Ora, seria de se esperar que um candidato da esquerda, numa conjuntura de crise, dissesse, abertamente, que governaria para a classe trabalhadora, privilegiando a classe trabalhadora, privilegiando medidas de interesse da classe trabalhadora, mas parece que, para surfar na onda do identitarismo e da ecologia, é mais conveniente deixar a direita falar o que a classe trabalhadora quer ouvir, ou o que a classe trabalhadora mais quer ouvir. E este ponto é central: partidos como o PSOL assumem uma retórica desse tipo, em primeiro lugar, porque querem se aproximar de movimentos, coletivos e grupos de militantes adeptos da ecologia, do nacionalismo e do identitarismo; e, em segundo lugar, porque, tal como estes movimentos, coletivos e militantes, não são, no fim, comprometidos com uma revolução social da classe trabalhadora, e sim com a chegada ao poder de Estado. Uma vez adotado o posicionamento político a favor das “identidades oprimidas” não convém, para partidos como o PSOL e outras organizações candidatas a gestoras da máquina pública, levantar com destaque os temas fundamentais para a classe trabalhadora, como os temas do crescimento econômico e do emprego. Nesse contexto, é fácil e cômodo colocar a culpa da derrota eleitoral ― e outros fracassos ― na “onda de conservadorismo”.

5.

Como visto, se fôssemos utilizar a retórica hegemônica na esquerda, seria justo dizer que, por muito tempo, as esquerdas nacionalista, ecológica e identitária “fizeram o jogo da direita” e abriram caminho para o cenário atual, ao passo que, por outro lado, as pessoas que, na esquerda, criticavam as posições dos nacionalistas, dos ecologistas e dos identitários foram incapazes, até agora, de promover práticas à esquerda, e difundir discursos à esquerda que repercutissem satisfatoriamente entre os trabalhadores. Não por acaso, proliferam na Europa grupos como o Identitäre Bewegung (IB), o Génération Identitaire e o Identitair Verzet, cujas práticas são muito próximas ao que se vê no Brasil com o Movimento Brasil Livre (MBL) e, não por acaso, afirmam-se como identitários sem meias palavras.

O resultado: isolamento, no interior da extrema-esquerda, da crítica ao nacionalismo, à ecologia e ao identitarismo; isolamento, no interior do cenário político global, da extrema-esquerda em geral; enfraquecimento, no interior do cenário político global, da esquerda em geral perante a direita; atração do proletariado pelo discurso demagógico pragmático da direita e da extrema-direita populista e fascista.

A luta por reconhecimento funciona atualmente como certa compensação à inexistência de um discurso econômico de esquerda com clara força de transformação das relações econômicas e com capacidade de implicar os trabalhadores, em especial aqueles mais afetados pela crise econômica.

Com a capacidade da internet e das redes sociais de reprodução do discurso do senso comum e de elevá-lo à enésima potência, têm se destacado nos pleitos populares aqueles que melhor usam essa linguagem e a partir dela conseguem se apresentar com algo que, nas redes sociais, merece uma curtida ou um compartilhamento, aqueles que dominam o discurso televisivo, aqueles que podem viralizar nos diversos meios de comunicação. Isso vale para João Doria, Jair Bolsonaro, Crivella, Alexandre Kalil, e vale para Donald Trump. Em resposta, a esquerda tenta se contrapor denunciando, ou formando seus próprios virais, e pouco tempo se gasta para combater os mecanismos que permitem que esse discurso permeie a classe trabalhadora.

E enquanto isto, segue a perplexidade. Não mais a perplexidade com a “guinada à direita” na conjuntura global, mas a perplexidade com a incapacidade da esquerda e da extrema-esquerda de reconhecer sua parcela de responsabilidade neste processo, de fazer uma revisão profunda e de se reinventar para tornar-se, novamente, uma força relevante na política. Ou o que nos resta, depois do dilúvio, é surfar atônitos nas mobilizações da direita?

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(As fotografias que ilustram o artigo são de Josef Koudelka)

20 COMENTÁRIOS

  1. Eu acho que vocês estão mexendo no fulcro da problemática contemporânea que todxs aquelxs interessadxs em fazer crítica, teórica ou prática, do capitalismo estão lidando. Mas eu fiquei muito incomodado com uma concepção de classe trabalhadora no argumento de vocês que parece imutável, um em si eterno que não se modifica diante dos desdobramentos da própria modernização. Não há qualquer menção, no mínimo, à reestruturação produtiva, globalização, relocalização de indústrias ao redor do mundo, etc.. Parece que a classe trabalhadora continua lá onde sempre esteve, na produção de mais-valia de um lado e em seu território de reprodução (a periferia), do outro; e o problema agora é que a consciência de classe ou o discurso classista precisa ser retomado (como se ele não continuasse aí, formando novos quadros, novas tendências dentro de antigos partidos, novos partidos, novos intelectuais orgânicos dentro dos movimentos sociais, dentro da própria periferia, e muitas vezes com formulações cada vez mais dogmáticas, diga-se se passagem) contra a invasão alienígena de um discurso identitarista, alheio às “verdadeiras” questões de classe. Eu nem discordo de certas críticas que vocês fazem ao chamado discurso identitário, mas eu não vi qualquer tentativa, salvo engano, de lidar com a constituição desse discurso identitarista na sua relação contraditória com as próprias transformações da assim chamada classe trabalhadora. É muito mais fácil enxergarmos a constituição do discurso ecológico, racial, feminista, trans, como produtos de políticas mundiais levadas a cabo por instituições como a ONU, o FMI, o Banco Mundial, o BID e seus “aparelhos ideológicos” como as ONGs e outros subprodutos territorializados aos montes pelas periferias mundiais, do que fazer o raciocínio inverso, ou seja, buscar encontrar as condições históricas da emergência de um tipo de discurso e atuação social que, infelizmente, parece ter cada vez mais capilaridade na vida da juventude periférica, para ficarmos nesse exemplo, ao contrário do discurso abertamente classista, que mesmo querendo reivindicar as condições materiais dessa população como esteio da sua validade discursiva, parece não mais sensibilizar as pessoas. Em outras palavras, o meu camarada da quebrada, vivendo em condições muito, mas muito precárias, politizado, se identifica mais com o discurso racial e indígena, do que com o discurso de classe. E olha que eu discuti umas boas partes d’O Capital com ele e outros… (talvez meu trabalho de base não tenha sido suficiente… rsrsrs). Vocês irão continuar lamentando que as pessoas não encontraram ainda a verdadeira consciência de classe ou buscarão se perguntar porque é que a suposta validade universal do trabalho já não parece dar mais “liga” pras práticas políticas? Isso pra não falar em “liga” pra população trabalhadora se pensar como sujeito político. Eu acho o identitarismo bem problemático, mas eu tampouco aceito um discurso classista que, do meu ponto de vista, já não se encaixa de maneira óbvia diante na nova e catastrófica configuração da experiência negativa do trabalho no mundo atual. Vcs mesmos citaram o exemplo do pequeno patrão negro que contrata funcionários negros. Já passou pela cabeça de vocês (eu imagino que sim ou então já viram isso pessoalmente) que esse pequeno patrão negro já pode ter sido trabalhador assalariado numa indústria metalúrgica nos anos 70 e que “investiu” a pequena poupança ganha da rescisão do contrato quando foi demitido, para transformar sua casa autoconstruída (em mutirão ou não) em um pequeno empreendimento? Eu acho que tá faltando processo histórico ao rés do chão na análise de vocês. E o outro lado da moeda, mais sinistro, é que o discurso do trabalho pode ganhar contornos muito tenebrosos, justificando encarceramento e genocídio, já que a defesa do trabalho não está só na boca do intelectual orgânico do movimento social ou do partido, mas na boca das pessoas e elas organizam e justificam suas práticas a partir dessas discursos, né?
    Não esgotei e nem daria pra esgotar as questões que o texto me suscitou, mas eu acho que tem mais caroço nesse angú e me interesso deveras por essa conversa! Abs

  2. “… pouco tempo se gasta para combater os mecanismos que permitem que esse discurso permeie a classe trabalhadora.”
    Fale-me mais sobre estes mecanismos e como combatê-los, PassaPalavra.

  3. Eu queria um esclarecimento do coletivo Passa Palavra quanto aos conceitos de esquerda e extrema-esquerda. Qual a definição desses termos? O campo revolucionário se inscreve em algum desses conceitos?
    As seguintes organizações se inscrevem em algum desses conceitos? PT, PSOL, PSTU, PCO, LBI.

    Em relação às definições dos campos em que se colocam as organizações eu estou de acordo com os conceitos usados por organizações da Esquerda Comunista, como a CCI e TCI, que afirmam que as organizações social-democratas, stalinistas e trotskistas fazem parte da esquerda ou extrema esquerda do capital, sendo as duas últimas defensoras do capitalismo de Estado. Quanto a definição que fazem de si mesmas, tanto TCI como CCI, se colocam enquanto organizações proletárias ou revolucionárias. Pra mim, tal definição está mais próxima com o movimento operário clássico. Não vejo em obras de Marx, Engels, Rosa, Lenin, Pannekoek, Mattick, dentre outros eles se colocando enquanto no campo da esquerda ou extrema-esquerda, mas como parte do campo proletário, do campo proletário.

  4. QUASE IMPOSSÍVEL
    Há quem diga, cartesianamente: o verdadeiro é claro e distinto. Porém – desde Spinoza e Leibniz, pelo menos – sabemos que se é distinto não é claro; e vice-versa. E a verdade, posto que concreta, não é exata.
    PT, PSOL, PSTU, PCO, LBI – rivalizam na esquerda e extrema-esquerda do capital.
    Na ultra-esquerda e adulterando o materialismo histórico em messianismo histérico, “tanto TCI como CCI, se colocam enquanto organizações proletárias ou revolucionárias”.
    Obscuramente, afirmamos que são todos (partidões & grupelhos: PT, PSOL, PSTU, PCO, LBI; TCI, CCI… ) expressões do partido formal. Ou seja, caricaturas mais ou menos contrarrevolucionárias (distintas e obscuras?) do partido histórico (proletariado suprassumindo-se em Gemeinwesen).

  5. to Clara Luz, with love

    “EXTREMA ESQUERDA tupiniquim (sinopse)
    tardobolches: psolpstupco&stalinomaoguevaristas(3ºperiodistas).
    tardoanarcas: farjunipa&monturo libertário (blackbloc incluso).” (ULISSES, 2015: s/n)

    Referências bibliográficas
    ULISSES, Sábio. Esclarecimentário de 9 de março. in: Austeridade à brasileira. Passa Palavra. 2015. Disp. em: http://www.passapalavra.info/2015/03/103142.

  6. Como sempre leio o site, já conhecia esse comentário do Ulisses, E. Varlino. Eu li na época que ele postou. Mas eu queria uma posição do próprio coletivo Passa Palavra. Há uma ambiguidade nas posições do PP. Parece que há uma possibilidade de salvação das organizações da esquerda e extrema-esquerda do horizonte capitalista, como fica evidente no parágrafo final do texto. É claro que há possibilidades que indivíduos ou pequenos grupos dessas organizações rompam com seus programas e práticas, mas o conjunto dessas organizações é impossível, no máximo elas visam chegar a um capitalismo de Estado. Até onde sei, nunca ouvi falar de uma organização socialdemocrata, stalinista ou trotskista mudem de posições e adotem um programa de classe. Apenas sei de pequenos grupos que as abandonaram.
    Outra questão ao PP, o coletivo se considera de esquerda ou de extrema-esquerda?

  7. Clara, esquerda e direita, me parece, são parâmetros de posição política, e sempre relativos – não absolutos, nem correspondentes necessariamente às classes sociais (“do capital”, “do proletariado”).
    Nesse sentido, para o contexto brasileiro, me parece que o PP usa em geral esquerda para designar um campo amplo que inclui o PT e outros que estavam junto no governo, e extrema-esquerda para os que se opunham ao governo à esquerda – de PSOL aos anarquistas.
    Sobre um suposto “campo revolucionário” (não conheço as organizações às quais a camarada se referiu), aí acho que estamos falando de outra coisa. Um campo revolucionário é composto por siglas ou pelo movimento real das massas trabalhadoras contra o capitalismo? Poderíamos situar nele então, por exemplo, o movimento das ocupações secundaristas – em movimento – seja lá quais letrinhas formarem sua sopa em cada luga… Quando o Ulisses faz referência, na sua linguagem cifrada, a um “partido histórico do proletariado”, entendo que é mais ou menos por aí a ideia.

  8. Concordo com a análise do papel da esquerda e da direita nas eleições. Mas, parece que o texto nos conduz sutilmente à importância de uma esquerda que se apresente discursando pelo emprego e crescimento econômico. Isto é, se apresentando como candidata à gestão do Estado Restrito, com um programa de crescimento econômico. Não há espaço, portanto, para uma esquerda antiparlamentar e anticapitalista? Em tempos de crise só nos resta tentar gerir o capitalismo “a favor dos trabalhadores”?

  9. HYPOMNEMA (once again…):
    O mais otário dos proletários sabe, mas os intelectuais orgânicos ignoram que esquerda&/direita são a polaridade pseudoantagônica do kapitalestado.

  10. SINE IRA ET STUDIO
    Tarefa imediata para um sedizente intelectual orgânico: harmonizar seu escólio de 26/12 com o de 24/12. Sem cair na perplexidade…

  11. Me parece, Ulisses, que vc não entendeu a minha questão, e se apressa em me rotular um “sedizente intelectual orgânico” ignorante da pseudo oposição entre esquerda e direita. O que eu disse foi que o texto, correto em suas críticas ao identitarismo, parecia cobrar um programa eleitoral “de classe” da esquerda. Mas, parece que mesmo os comunistas e os autonomistas entraram na onda do “nem de esquerda, nem de direita”. Só existe a esquerda do capital, para Ulisses? O passapalavra não seria de esquerda também, neste caso. Este espaço virtual paira sobre a realidade política, sem tocar na mundanice da militância, pois essa se dá apenas nas fronteiras do “kapitalestado”. Qualquer um que almeje se organizar contra o capitalismo se torna um “intelectual orgânico”. Tudo isso captado em apenas um parágrafo questionando um aspecto de um artigo. Fico feliz em descobrir um novo campo político além de esquerda e direita: Ulisses.

  12. É mesmo divertido ver – juntas e misturadas? – a competência (que falta) e a petulância (que sobra).
    Segunda tarefa (quase imediata) para um sedizente intelectual orgânico: pesquisar – pode ser no google – a diferença (que não é de grau…) entre típico e tópico.

  13. Ulisses, vc não sabe nada sobre minha competência, mas de certo é um mestre da petulância, disto vc entende. Caso contrário não escreveria em linguagem (?) pseudo cifrada, com termos em latim, nem sairia por aí rotulando quem não conhece, se escondendo em um personagem virtual. Nada mais petulante. É uma pena que este espaco, que acompanho há uma década, tenha se tornado isso. Mesmo seus comentários Ulisses, que acompanho há tempos. Tentei colocar uma dúvida séria de início, mas não passei pelo filtro virtual de Ulisses, o sedizente erudito. Enquanto isso, o capitalismo se diverte…

  14. No mais, Ulisses, vc me lembra o Chatotorix, personagem de Goscinny e Uderzo, o bardo das aventuras de Asterix e Obelix. A diferença é que naquela história ninguém o levava a sério… Se vc fosse trosko, bem poderia ser da Negação da Negação. É quase certo que vc vem daquelas “vanguardas” formadas na USP, ou de algo parecido. Existe um importante papel para a arte na revolução, mas com certeza não é este que vc pretensiosamente exerce. Uma personalidade narcísica e solitária que encontrou neste espaço um habitat natural para suprir suas carências subjetivas. Infelizmente, as tarefas do nosso tempo estão além, muito além disso… Encerro por aqui.

  15. Chamamos a atenção dos comentadores para o fato de que o Passa Palavra tem por regra não permitir a troca de ofensas nos comentários. Novas postagens com teor semelhante serão vetadas pela Comissão Editorial.
    Atenciosamente,
    Passa Palavra

  16. A grande questão é que os revolucionários necessitam conformar uma organização popular em volta de uma proposta radical que responda as necessidade basicas do povo como alimentação, emprego, moradia e segurança, apontando como e de onde sairão os recursos para ser realizadas tais medidas. Tal proposta para ser revolucionária não deve ser feita pelo Estado e sim por uma organização popular de base (ou junção destas). Além disso, a forma como esta proposta se apresenta é importante, pois o povo está cansado do lenga lenga cirandeira do psol (ainda mais no momento de desmoralização da “esquerda” oficial), no momento de crise, as pessoas esperam respostas contundentes e firmes, a propaganda e as ações revolucionárias devem expressar isso. A ultima questão em concordância com o texto, é a busca de uma solução internacionalista, que deve estar baseada em solidariedade concreta (brigadas internacionais, caixas de greve, etc)

  17. Eu gostaria de ter ouvido uma resposta do Passa Palavra diante da minha primeira ponderação sobre o texto, a primeira publicada. Infelizmente não recebi… Mas fiquei impressionado como todos os outros comentários sobre o artigo apenas confirmaram um aspecto do que eu havia escrito, aquele da proliferação de dogmatismos de esquerda diante da incapacidade desta mesma esquerda não conseguir dizer mais nada sobre o que anda acontecendo ao redor do mundo, se aferrando a picuinhas pra saber quem é e quem não é esquerda e o que é ser de esquerda, com direito a brinde do outro supondo “o” proletário como o mais astuto dos sujeitados a essa merda toda, nem iludido com a esquerda, tampouco com a direita. Tristeza de debate.

  18. Excelente texto.
    A arma da crítica contra a própria cabeça.

    Nesse labirinto, há alguma saída?

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