Parte do discurso acadêmico nas “ciências humanas” foi dominado por uma terminologia encontrada sobretudo nos escrevinhadores nazistas. Por Loren Goldner
Dada a recorrência com que a “desconstrução” tem sido empregue nos meios de esquerda, o Passa Palavra, na tentativa de provocar reflexões críticas sobre o assunto, traduziu esta resenha de 1993, em que o autor toma a obra de Jean-Pierre Faye como base para demonstrar as ligações entre a “desconstrução”, o pós-modernismo e o nazismo.
Jean-Pierre Faye esteve na maior parte do tempo à margem da moda parisiense e, para seu crédito, assim permanece. Em 1972, seu volumoso Langages totalitaires (“Linguagens totalitárias”), o tomo anterior da obra em consideração nesta resenha, foi saudado com um clima pouco receptivo. Tal obra anterior foi uma tentativa de exegese de conceitos-chave do pensamento político e cultural alemão entre 1890 e 1933, e demonstrou uma profunda “oscilação” entre a linguagem da Konservative Revolution iniciada por Nietzsche e o marxismo, até o triunfo do nacional-socialismo. Faye mostrou a impressionante trajetória de certas palavras, até as “oscilações” extremas de 1923, quando a “guinada Schlageter” do KPD[1] levou-o a trabalhar com os nazistas contra o tratado de Versalhes, e 1932, quando comunistas e nazistas mais uma vez trabalharam juntos para derrubar os social-democratas na Prússia. Uma vez que esta resenha se restringe à obra imediatamente posterior, que lida com o período entre 1933 e 1990, o que resta fazer é remeter o leitor a uma obra-prima que, infelizmente, recebeu menos atenção que o necessário na França, e quase nenhuma no mundo anglófono[2].
Há muitas razões para um tal silêncio. A obra de Faye é, definitivamente, parte da grande “virada linguística” do pensamento francês em voga desde os anos 1960[3], mas a teoria da linguagem de Faye é bem sui generis. Além disto, o que distingue Langages totalitaires da grande maioria das tentativas suas contemporâneas, na França e em outros lugares, de entender a sociedade e a política por meio de uma teoria da linguagem, é que o livro de Faye é baseado na minudente e detalhada reconstrução de uma vasta gama de ideologias alemãs ao longo de quatro décadas, muito vinculada a uma teoria e a uma crítica da economia política. Em contraste a muitas teorias da moda, que presumem que o desmascaramento de um “sujeito tomado em seu gênero” no mais abstruso nível literário ou filosófico explica épocas históricas inteiras, Faye domina seu material como o faria um historiador empírico, sem perder de vista o enquadramento teórico, quaisquer que sejam seus problemas. Em última instância, Faye também parece ver a história se desdobrar no nível da linguagem mas, ao lê-lo, não se sente o tipo de desprezo às complexidades da realidade que se pode encontrar na vulgata pós-moderna, como em Hayden White[4] ou Dominick LaCapra[5].
Quase duas décadas separam La raison narrative de seu predecessor. Apesar de seu foco estar no impacto da obra de Martin Heidegger, particularmente na França pós-1945, há nele um alcance muito mais amplo que no livro anterior. Escrito em 1989-1990, portanto na sequência imediata do “escândalo Heidegger” parisiense de 1987-1988[6], ele se baseia num lapso temporal muito maior, mais adequado a um ataque frontal a Heidegger e aos heideggerianos franceses, Jacques Derrida[7] em particular. Faye se baseia em elementos inicialmente tão dispersos quanto Homero, a nova arqueologia da história da escrita no antigo Oriente Médio, o contexto mais amplo das narrativas épicas ocidentais (de Gilgamesh a Cuchulain), possíveis influências indianas na filosofia grega por meio da marcha de Alexandre para o Indo, a haggadah judaica[8], o momento árabe da redescoberta de Aristóteles pelo Ocidente medieval, Cervantes e Rabelais. É, até onde vai o conhecimento deste resenhista, uma das mais extensas críticas de todo o projeto de la pensée française tal como tem sido exportado durante vinte anos, por Derrida em particular.
O centro de La raison narrative, todavia, permanece sendo uma sequência muito precisa à história da ideologia alemã no período entre 1890 e 1933, feita anteriormente por Faye. Seu foco está na evolução de Martin Heidegger no período crucial entre 1927 e 1952 (um período que “não foi qualquer quarto de século”, como o autor coloca), e como sua transformação foi entendida e internalizada, particularmente na França depois de 1945.
A versão dominante desta história, como é dito por la pensée française anteriormente à sua explosão em 1987 (em particular por heideggerianos franceses, de Beaufret[9] a Derrida), é como se segue: o maior envolvimento de Heidegger com o nazismo se deu entre 1933 e 1934, quando aceitou a reitoria da Universidade de Friburgo, da qual pediu demissão quando entendeu que o nazismo não era o que parecia no primeiro fluxo de sua “revolução da existência (Dasein) do povo alemão”, como Heidegger disse num de seus famosos discursos como reitor. (Heidegger tinha tanta certeza de suas convicções que republicou inalterado, em 1952, seu ensaio “Introdução à Metafísica”, de 1935, em que se refere à “grandeza interior” do movimento nacional-socialista, no qual via uma primeira tentativa de chegar a algum acordo com o destino humano na era da “técnica planetária”.) A maioria dos heideggerianos franceses nos últimos tempos consideraram o breve envolvimento de Heidegger com o nazismo (que Victor Farias[10] demonstrou em 1987 não ter sido tão breve) como um “detalhe”, como Jean Beaufret afirmou sucintamente, mas interpretaram tal detalhe dentro de complexa estrutura de controle de danos que se movia rapidamente das ações assumidamente imorais de Heidegger como reitor para o nível muito mais abstruso de sua filosofia. Faye não se contentou nem um pouco em confrontar este debate ao nível de um trabalho detetivesco acerca do papel administrativo de Heidegger entre 1933 e 1934, apesar de ter trazido à luz alguns itens notáveis, em geral negligenciados pelos heideggerianos de depois de 1945. (Um deles é o texto do discurso de Heidegger em novembro de 1933, ”Bekenntnis zu Adolf Hitler und dem national-sozialistischen Staat”, título traduzível como “Declaração de fidelidade a Adolf Hitler e ao Estado nacional-socialista”, discurso que atraiu bem menos atenção que o discurso de Heidegger no Dia do Trabalho de 1933 à brigada estudantil de trabalho de Friburgo. Em meio ao “escândalo Heidegger” francês em 1988, François Fedier[11] conseguir traduzir este discurso com o título ”Appel pour un plebiscite”.) Faye mostra que, como reitor, Heidegger não era nenhum nazista passivo, permitindo, por exemplo, a tomada do prédio da associação estudantil judaica por uma multidão furiosa e a detenção de estudantes judeus pela SS. Mas o livro de Faye opera num nível bem diferente daquele de Farias, que lançou o “escândalo Heidegger” e, primariamente, detalhou tais ações e a participação ativa de Heidegger no partido nazista até o final da guerra. Faye, ao contrário de Farias, pega Heidegger pela jugular em sua famosa “redescrição” (o termo é de [Richard] Rorty) da história da filosofia ocidental como a história de uma “metafísica niilista”.
O lado mais filosófico da história contada por la pensée française depois de 1945 centrou-se na Kehre, ou guinada, de Heidegger entre os anos 1930 e 1940, expressa numa série de ensaios que culminaram na “Carta sobre o humanismo” de 1946, endereçada ao antigo oficial da Resistência Francesa e filósofo Jean Beaufret. Na sua Kehre, Heidegger reconheceu que toda a filosofia ocidental, de Parmênides até Nietzsche, passando também pelo Heidegger de Ser e Tempo, tinha sido enclausurada numa “metafísica da presença”[12] (essencialmente, o entendimento da verdade como representação), e que tal metafísica da presença tinha em sua essência a “vontade de poder” de um “sujeito” voltada para a “dominação planetária da técnica”, que tinha sido a essência do nazismo. Heidegger, em tal interpretação, desde a Kehre até sua morte em 1976, voltou-se ao projeto de “desconstrução” (em alemão, Abbau ou Dekonstruktion) desta metafísica ocidental da presença.
O grande poder de La raison narrative de Faye está não somente em confrontar esta interpretação do pensamento ocidental, que se tornou quase um humor inefável na academia pós-moderna, mas também em mostrar, como ninguém havia feito, suas origens na mesma política partidária sórdida enfatizada por Farias. O que Faye mostra, em resumo, é que quarenta e cinco anos da filosofia francesa do pós-guerra (para começo de conversa) foram dominados por uma problemática e um vocabulário articulados primeiramente num ataque a Heidegger feito por um filósofo mercenário do partido e futuro oficial da SS, Ernst Krieck[13]. Antes de tal ataque, Heidegger nunca havia chamado a tradição metafísica ocidental de “niilista”; a partir daí, por meio de uma evolução detalhada, marcada por dificuldades ulteriores com ideólogos nazistas entre 1933 e 1945, tal caracterização moveu-se para o centro de seu projeto. (De fato, em sua famosa entrevista de 1966 para o Der Spiegel, publicada quando de sua morte dez anos depois, Heidegger mais uma vez exaltou o nazismo como a primeira tentativa de repensar a relação humana com a tecnologia.)
Além disto, Faye mostra como a famosa palavra Dekonstruktion foi empregue pela primeira vez num jornal psiquiátrico nazista editado pelo primo de Hermann Göring[14], e que a palavra Logozentrismus foi cunhada (com propósitos denunciatórios) nos anos 1920 pelo pensador protofascista Ludwig Klages[15]. Em resumo, partes do discurso acadêmico nas “ciências humanas” na França e, mais recentemente, nos EUA, foi dominado durante décadas por uma terminologia originada não em Heidegger, mas sobretudo nos escritos dos escrevinhadores nazistas, reciclados por meio de heideggerianos do Quartier Latin[16]. Faye mira com precisão cirúrgica nas evasivas deste grupo, particularmente nas daqueles situados à esquerda, para quem o “grande filósofo” do século de Auschwitz calhou de ser – por mero detalhe – um nazista.
Mas há mais, muito mais. (Nenhuma resenha curta fará justiça aos múltiplos níveis deste livro.) Faye argumenta que a evolução de Heidegger desde 1932-1933 até 1945 pode ser entendida essencialmente como uma resposta aos ataques do partido, feitos por Krieck e outros, e às tentativas (aparentemente exitosas) de Heidegger de se distanciar daquilo que Krieck chamou “niilismo metafísico” dos Judenliteraten (ou seja, literatos judeus) que, segundo Krieck, estava na obra de Heidegger anterior a 1933.
Faye mostra que, depois de 1933, sob pressão da polêmica nazista, Heidegger começou a caracterizar a tradição metafísica ocidental como “niilista”, e concebeu toda a análise pela qual se tornou famoso depois de 1945: a “queda” na concepção ocidental do Ser depois de Parmênides e sobretudo Aristóteles; a essência desta queda, no desenvolvimento moderno, como a metafísica do “sujeito” teorizado sobretudo por Descartes; e a evolução deste sujeito até sua apoteose em Nietzsche e no Heidegger inicial de Ser e Tempo. Entre 1933 e 1945, este diagnóstico foi aplicado às decadentes democracias ocidentais superadas pela “grandeza interior” do movimento nacional-socialista; depois de 1945, Heidegger transpôs sem esforço algum tal estrutura para mostrar que o niilismo culminava não na democracia mas… no nazismo. Na “Carta sobre o humanismo” de 1945, em particular, o humanismo ocidental é assimilado à metafísica de um tal sujeito. O novo projeto, a ser erguido sobre as ruínas do Terceiro Reich, era derrubar o “humanismo ocidental”, responsável pelo nazismo! Deste modo, a acomodação inicial a Krieck e outros mercenários do partido, que produziu em primeiro lugar tal análise, passou para uma versão “de esquerda” em Paris quase sem perder o compasso. O processo, para um contexto mais estadunidense, vai de Krieck a Heidegger, depois a Derrida, e em seguida aos sequazes pós-modernos da Modern Language Association[17]. A “oscilação” que Faye demonstrou para o período entre 1890 e 1933 em Langages totalitaires teve sua extensão nos desconstrucionistas contemporâneos das “ciências humanas”, sumarizados talvez de modo mais sucinto no chamado de Lyotard, em 1988, a donner droit de cite a l’inhumain[18].
Faye traça a oscilação por meio da qual, em 1987-1988, tornou-se possível a Derrida, Lyotard, Lacoue-Labarthe[19] e outros dizer, com efeito: Heidegger, o nazista “por um detalhe”, graças a seu desmascaramento da niilista “metafísica do sujeito” responsável pelo nazismo, foi, de fato, o verdadeiro antinazista, enquanto todos aqueles que, em 1933-1945 (ou, por extensão, hoje), opuseram-se e continuam a se opor ao fascismo, ao racismo e ao antissemitismo com base em alguma convicção humanista, seja ela liberal ou socialista, ao se referirem em última instância à “metafísica do sujeito”, tais pessoas foram e são, de fato, “cúmplices” do fascismo. Daí os chamados para um pensamento “inumano”.
É talvez aqui que o nível “linguístico” em que Faye opera alcança tanto seu maior sucesso quanto revela sua fraqueza. Isto porque, muito longe da filosofia e da linguagem, não faltam exemplos de como o liberalismo, a social-democracia e o stalinismo, para ficar com três grandes forças geralmente listadas como antifascistas, foram cúmplices com o próprio fascismo. Na Alemanha, antes de 1933, foram os partidos liberais de centro que se dissolveram, perdendo sua base para Hitler; os social-democratas alemães sobrepujaram-se a si próprios, mesmo depois de janeiro de 1933, na tentativa de construir para si um papel de oposição leal ao nazismo (até o Dia do Trabalho de 1933, dia tanto do discurso reitoral de Heidegger quanto do banimento do SPD); quanto ao KPD stalinista, é justamente o caso em análise na “oscilação” de Faye.
Na última década, temos visto, na França e na Alemanha, partidos moderados de esquerda e de direita, à moda clássica, movendo-se para acomodar as demandas da nova extrema-direita racista. Faye, escrevendo na hoje esquecida euforia democrática de 1989-1990, sentiu-se livre para usar termos como “democracia” e “direitos humanos” de modo completamente acrítico, enquanto tais termos haviam sido igualmente deslustrados pelas bocas de figuras como François Mitterand[20] e Jacques Attali[21], para não falar de Bernard-Henri Levy[22] e Alain Finkielkraut[23]. Faye está absolutamente certo em mostrar de onde vem a força total do projeto heideggeriano e a que bancarrota moral ele conduz: Heidegger, em três décadas depois da Segunda Guerra Mundial, nunca conseguiu condenar Auschwitz, e num ensaio de 1952 mencionou os campos de concentração no mesmo fôlego que a mecanização da agricultura como exemplos comparáveis de “niilismo”. Faye também está certo em mostrar como Heidegger e os heideggerianos, em sua “redescrição” do pensamento ocidental, distorceram a todos, de Aristóteles a Espinosa e Nietzsche, este último tendo sido um denunciador virulento do antissemitismo e que se descreveu como “sendo um” com Espinosa, enquanto, para Heidegger, Espinosa era um Fremdkörper – um corpo estranho – na filosofia. Há uma crítica profunda a ser feita acerca de Heidegger, dos heideggerianos franceses, Foucault, Derrida e sua recente progenitura bastarda a que se chama de pós-modernistas, e Jean-Pierre Faye contribuiu muito com tal crítica. O pensamento ocidental passará longo tempo se livrando dos efeitos da “redescrição” de sua tradição. Não obstante, este projeto não pode ser levado à frente a contento sem um exame crítico do modo pelo qual muitos “democratas” e defensores dos direitos humanos, por sua hipocrisia e padrões duplos, contribuíram, eles próprios, para o mal-estar acerca do sentido positivo de tais conceitos por meio da mais impressionante migração de palavras, das ideias de Ludwig Klages, do Dr. M. H. Göring e do oficial da SS Ernst Krieck.
Traduzido pelo Passa Palavra a partir do original disponível no site do autor: http://breaktheirhaughtypower.org/the-nazis-and-deconstruction-jean-pierre-fayes-demolition-of-derrida/.
Notas de tradução
[1] Para maiores detalhes, cf. “Marxismo e nacionalismo (III): O Partido Comunista alemão e a extrema-direita nacionalista”, de João Bernardo.
[2] Langages totalitaires foi publicado em 1972 na França em dois volumes: Théorie du récit (“Teoria do relato”), que oferecia as bases metodológicas e a teoria geral empregue na análise, e Langages totalitaires, (“Linguagens totalitárias”), já descrito pelo autor da resenha. Desde 1973 a editora parisiense Hermann costuma relançá-los num só volume de 771 páginas. Foi traduzido para o português, a partir da edição francesa de 2003, apenas o primeiro volume, com 156 páginas, sob o título Introdução às linguagens totalitárias: teoria e transformação do relato (São Paulo: Perspectiva, 2009).
[3] “Virada linguística” é uma expressão popularizada pelo filósofo estadunidense Richard Rorty para designar o movimento filosófico iniciado nas primeiras décadas do século XX, especialmente por Bertrand Russell, Gottlob Frege, Ludwig Wittgenstein e Ferdinand de Saussure. Tal movimento, com diversas vertentes, toma como principais objetos as relações entre a linguagem e os fatos, entre a filosofia e a linguagem. Por meio de Ferdinand de Saussure surge o estruturalismo, fundamental para o surgimento da corrente pós-estruturalista (Jacques Derrida, Jacques Lyotard, Gilles Deleuze etc.) no seio do pós-modernismo.
[4] Professor aposentado de literatura comparada na Universidade de Califórnia em Santa Cruz.
[5] Professor emérito de história do pensamento ocidental na Universidade de Cornell.
[6] O “escândalo Heidegger” foi um fenômeno restrito ao ambiente intelectual francês, onde a obra de Martin Heidegger gozava de imensa influência: de Sartre a Derrida, de Lévinas a Foucault, de Beaufret a Merleau-Ponty, os principais luminares da filosofia francesa do pós-guerra deviam o essencial de sua filosofia a Heidegger, e a “descoberta” do profundo envolvimento de Heidegger com o nazismo, na esteira da publicação de Heidegger et le nazisme, de Victor Farias (Paris: Verdier, 1987), colocou o meio intelectual francês em polvorosa. Como seria possível que os filósofos franceses, muitos deles ex-membros da Resistência Francesa, houvessem por tanto tempo seguido acriticamente a obra de um nazista? O debate segue quente até hoje, com a publicação dos Cadernos Negros de Heidegger, onde haveria plenitude de indícios de seu antissemitismo.
[7] Jacques Derrida (1930-2004) foi um influente filósofo francês, professor na Escola Normal Superior e depois diretor do EHESS, responsável por introduzir a “desconstrução” como método de pesquisa nas ciências humanas.
[8] Haggadah, ou agadá, é o texto utilizado para os serviços da noite do Pessach, contendo a leitura da história da libertação dos judeus do Egito como descrito no Livro do Êxodo.
[9] Jean Beaufret (1907-1982) foi um filósofo francês, amigo de Martin Heidegger e principal responsável pela divulgação de seu pensamento e obra na França do pós-guerra.
[10] Victor Farias (n. 1940) é um escritor chileno radicado na Alemanha, responsável pela publicação, em 1987, de Heidegger et le nazisme, obra responsável por reacender – ou iniciar, no caso francófono – a polêmica em torno da participação de Heidegger no regime nazista.
[11] François Fedier (n. 1935) é um filósofo francês, professor aposentado do liceu Pasteur, consagrado desde 1958 à tradução e interpretação de textos de Heidegger.
[12] A interpretação desconstrutivista mantém que toda a história da filosofia ocidental e sua linguagem e tradições tem enfatizado o desejo pelo acesso imediato ao significado, e então constrói uma metafísica acerca do privilégio da presença sobre a ausência.
[13] Ernst Krieck (1882-1947) foi um professor, orador e escritor, tido como um dos principais teóricos do nazismo. Mesmo sem grau universitário, foi apontado como presidente da Universidade Johann Wolfgang Goethe, em Frankfurt, um dia depois de ter sido nomeado professor de educação e de filosofia na mesma universidade. Uma de suas primeiras medidas foi queimar livros em praça pública em 10 de maio de 1933, iniciando uma política de “limpeza intelectual” da universidade. Preso pelos soldados estadunidenses no final da guerra, morreu num campo de prisioneiros em 1947.
[14] O “primo de Hermann Göring”, citado ao fim da resenha como “M. H. Göring” é Matthias Heinrich Goering (1879-1945), psiquiatra alemão. A princípio ligado à escola adleriana, cedo desenvolveu uma teoria do “sentimento comunitário” de ordem patriótica, que contrapôs às teorias psicanalíticas de raiz freudiana. Em 1936, junto a outros psiquiatras alemães como Felix Boehm, Carl Mueller-Braunschweig, Harald Schultz-Hencke e Werner Kemper, fundou o Instituto Alemão de Pesquisa Psiquiátrica e Psicoterapia, que presidiu até 1945; o “Instituto Göring”, como ficou conhecido, foi responsável pela destruição do Instituto Psicanalítico de Viena e pela dissolução da Sociedade Alemã de Psicanálise em 1938, e promoveu a Neue Deutsch Seelenheilkunde (“nova medicina alemã da mente”); entre os objetivos do instituto estavam a prevenção de acidentes de trabalho, pesquisas psicológicas sobre a cosmovisão (Weltanschauung) dos pacientes, reações das crianças aos bombardeios, psicologia dos aviadores abatidos e estudos criminológicos sobre a homossexualidade e o exibicionismo, além de pesquisas sobre guerra psicológica, formação de psicólogos de guerra e o tratamento de neuroses de guerra. Carl Gustav Jung foi vice-presidente do “Instituto Göring” a partir de 1939, justificando tal fato após a guerra pela necessidade de salvar a psicanálise da total destruição; aproveitou-se do cargo para enviar ao exílio amigos e psicanalistas ameaçados de morte, e provocou sua demissão em 1940 com uma entrevista a um jornal estadunidense onde qualificou Hitler como “obviamente, um psicopata”.
[15] Ludwig Klages (1872-1956) foi um filósofo, psicólogo e grafologista alemão. É creditado por antecipar, junto a Nietzsche e Bergson, a fenomenologia existencial, e por inventar a palavra logocentrismo nos anos 1920. Além disto, levou a Lebensphilosophie de Nietzsche às suas mais extremas conclusões, estabelecendo uma distinção entre uma Geist (mente) destruidora da vida, representada pelas forças da racionalização moderna, industrial e intelectual, e um Seele (espírito) afirmador da vida, representando a possibilidade de superar a intelectualidade alienante em favor de um enraizamento telúrico renovado. Quando Klages morreu, o filósofo alemão Jürgen Habermas escreveu-lhe um obituário no Der Spiegel afirmando que as realizações de Klages nos campos da filosofia da linguagem e da antropologia não poderiam ser “escondidas sob os véus” de sua “metafísica anti-intelectualista” e de sua “filosofia apocalíptica da história”, pois suas realizações não estariam “ultrapassadas”, mas sim além de seu tempo.
[16] Quartier Latin é uma área entre os 5º e 6º arrondissements de Paris, situada à margem esquerda do rio Sena, próximo à Sorbonne e outras universidades, conhecido por sua longa associação com a vida universitária parisiense.
[17] Fundada em 1883, a Modern Language Association (“Associação da Linguagem Moderna”) é a principal associação de acadêmicos em linguagem e literatura nos EUA.
[18] O chamado de Jacques Lyotard a donner droit de cite a l’inhumain (“dar direitos de cidadania ao inumano”) foi feito principalmente em L’Inhumain: Causeries sur le temps (Paris, Galilée, 1988), mas também em Le Différend (Paris, Minuit, 1983).
[19] Philippe Lacoue-Labarthe (1940-2007) foi um crítico, filósofo e escritor francês. Muito influenciado em sua juventude pelas revistas Socialisme ou Barbarie e Internationale Situationniste, tornou-se, depois de formado, especialista nas obras de Jacques Derrida, Jacques Lacan e Martin Heidegger, cuja filosofia caracterizou como um “arquifascismo”.
[20] François Mitterand (1916-1996) foi um político francês, filiado ao Partido Socialista, que presidiu a França entre 1981 e 1995.
[21] Jacques Attali (n. 1943) é um economista francês. Conselheiro especial de François Mitterrand entre 1981 e 1991, foi o primeiro presidente do Banco Europeu de Reconstrução e Desenvolvimento (BERD), instituição criada para mediar a transição dos países do Leste Europeu ao capitalismo privado. É hoje editorialista do L’Express e dirige o grupo Positive Planet.
[22] Bernard-Henri Levy (n. 1948) é um escritor, filósofo, cineasta e homem de negócios francês. Fez parte do grupo dos chamados nouveaux philosophes (“novos filósofos”) franceses surgido na década de 1970: apesar de extremamente heterogêneo, o grupo, especialmente por influência de O arquipélago Gulag de Alexander Soljenitzin, tornou-se conhecido pelos paralelos feitos entre o marxismo e o totalitarismo, e foi muito criticado pela sua superficialidade.
[23] Alain Finkielkraut (n. 1949) é um ensaísta e locutor de rádio francês, também vinculado ao grupo dos nouveaux philosophes.
Obrigado mim ajudou muito no trabalho da facu. Favor escrever sobre pos-modernismo no Brasil.