A chave para a viabilidade dos BRICS reside na interação efetiva entre seus dois principais atores, a Rússia e a China. Por Bobo Lo

Resumo

Duas narrativas dominaram a discussão dos BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul). A primeira afirma que este grupo de países se tornou uma força importante na política internacional do século XXI, destacando a mudança no poder global do Ocidente. A segunda, pelo contrário, vê os BRICS como uma incógnita, marcada pelo abismo entre a retórica extravagante e a conquista mínima. O debate não poderia ser mais polarizado. No entanto, em um ponto, há convergência: a chave para a viabilidade dos BRICS reside na interação efetiva entre seus dois principais atores, a Rússia e a China.

Moscou e Pequim têm assiduamente promovido uma imagem de “semelhança” dentro dos BRICS, mas tais esforços dificilmente conseguem ocultar diferenças significativas nas atitudes e na abordagem. O Presidente Putin identifica os BRICS como o fundamento de uma ordem multipolar não-ocidental em que a Rússia desempenha um papel central. Para os chineses, no entanto, os BRICS são um espetáculo de fachada – apenas um entre muitos instrumentos para avançar seus interesses na Eurásia e além. Essas perspectivas contrastantes limitam severamente o potencial dos BRICS em oferecer um modelo alternativo de governança global ou atuar como um motor eficaz de desenvolvimento internacional. Enquanto os BRICS permanecerem parte do cenário internacional, nos próximos anos, sua relevância será cada vez mais questionada.

Introdução

Duas narrativas dominaram o debate sobre os BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul). A primeira afirma que este grupo se tornou uma força importante na política internacional do século XXI. Ele pode até ter se originado como um slogan de marketing, segundo os clientes da Goldman Sachs [1], mas na última década o processo dos BRICS gerou um ímpeto sério. Uma vez que os conceitos abstratos adquiriram substância genuína, a ascensão dos países BRICS passou a expressar uma tendência maior – a mudança do poder global do Ocidente para o Leste.[2] O sistema internacional liderado pelos EUA estariam dando lugar a uma ordem pós-americana multipolar e as instituições de Bretton Woods estabelecidas após a Segunda Guerra Mundial estariam sendo suplantadas, lenta, mas inexoravelmente, por novas figuras para um novo século.

Muitos céticos, entretanto, contestam esta visão otimista. Eles observam que, apesar das grandiosas declarações de intenções, o progresso tem sido muito modesto. Diferenças no nível econômico, na cultura política, nas aspirações estratégicas e nos objetivos políticos asseguraram que os BRICS continuassem a ser um “talk-shop”. Países membros individuais, em particular a China, são influentes, mas coletivamente a influência do grupo BRICS é mínima. Sua fraqueza foi sublinhada por acontecimentos recentes: a desaceleração do crescimento econômico chinês, as recessões na Rússia e no Brasil, o permanente atraso da Índia e a quase irrelevância da África do Sul.[3] A decisão da Goldman Sachs de encerrar seu fundo BRICS em favor de uma abordagem mais adaptada e individualizada revela até que ponto essa construção se tornou desacreditada.[4]

O debate sobre os BRICS dificilmente poderia ser mais polarizado. No entanto, em um ponto essas perspectivas muito diferentes se juntam. Na visão do processo BRICS como a base de uma nova ordem mundial ou de um elaborado enigma, a relação sino-russa, claro, detém a chave para suas perspectivas futuras. Não é por acaso que o incremento do “perfil” dos BRICS nos últimos anos coincidiu com o ganho de expressividade desta “parceria estratégica”. Esse nexo pode permanecer por algum tempo. Um cenário positivo para o futuro desenvolvimento dos BRICS depende de sinergias econômicas, de segurança e geopolíticas duradouras entre Moscou e Pequim. Por outro lado, qualquer degradação de laços bilaterais iria expor a fragilidade da construção BRICS.

A questão-chave, então, é a direção da viagem. Moscou e Pequim cooperarão na realização de uma visão ambiciosa para os BRICS? Ou seus objetivos e aspirações são incompatíveis? Líderes de ambos os lados aproveitam todas as oportunidades para enfatizar sua semelhança, mas essas garantias apontam para uma realidade em evolução ou simplesmente ensaiam antigas platitudes? E mesmo se assumirmos um compromisso sincero, até que ponto isso pode ser traduzido em realização tangível frente a numerosos obstáculos? Para responder a estas perguntas, precisamos identificar os objetivos russos e chineses em relação aos BRICS; examinar as semelhanças e contradições entre suas respectivas políticas; e avaliar as realizações e deficiências de sua interação até agora.

Os BRICS na grande visão de poder de Putin

Dos cinco países membros, a Rússia é de longe a mais empenhada em maximizar o potencial dos BRICS como uma instituição internacional. Já em 2013, Vladimir Putin apelou à transformação dos BRICS “de um fórum de diálogo, que coordena as posições sobre um número limitado de questões, num verdadeiro mecanismo de cooperação estratégica”.[5] Moscou tem, desde então, exercido esforços árduos para impulsionar o grupo nessa direção – com um grau de sucesso formal. Isso se reflete no número de iniciativas destacadas na “Declaração UFA”, o comunicado da cúpula BRICS de 2015. Entre elas, destacam-se a entrada em vigor do Novo Banco de Desenvolvimento (NDB) e do Acordo de Reserva de Contingência (CRA). Mas a Declaração também se refere a outros mecanismos, reais e antecipados: um Mecanismo de Cooperação Interbancária; uma Estratégia de Parceria Econômica; um Grupo de Trabalho sobre Cooperação Anti-Corrupção; o Conselho Empresarial; e uma Rede Universitária.[6] Embora Putin tenha descartado a criação precoce de uma “estrutura burocrática” para os BRICS, ele confirmou que “para melhor coordenar nossa cooperação… nós criaremos uma secretaria virtual ou eletrônica”.[7]

O entusiasmo de Moscou pelo BRICS e sua institucionalização tem suas razões. Primeiro, os BRICS são um dos poucos organismos globais não dominados pelo Ocidente. De fato, sua própria razão de ser – e atração principal para o Kremlin – é que ela é uma estrutura não ocidental. Nele a Rússia desempenha um papel de liderança por direito e aclamação. Ao contrário do G-8 (onde era o único membro não ocidental antes de sua suspensão em 2014) [8] e do G-20, não enfrenta ali nenhuma luta para ser reconhecido como uma grande potência; tal “respeito” é livremente concedido. Isto não é apenas de conforto psicológico para Moscou, mas tem também outros dividendos. A influência da Rússia no BRICS é maior do que em outras organizações internacionais, incluindo o Conselho de Segurança da ONU.[9] Ela ajuda a moldar a agenda, determina os procedimentos operacionais e exerce uma influência determinante sobre os resultados das políticas.

Nisso, a Rússia é ajudada pelo fato de que os outros parecem felizes o bastante em deixá-la assumir a liderança. As principais preocupações da China estão em outro lugar. A Índia tem assumido um perfil deliberadamente modesto, consciente de restrições estratégicas (como manter os Estados Unidos do seu lado). As fraquezas crônicas do Brasil e a tirania da distância limitaram severamente sua influência para além da América Latina. E a presença da África do Sul é essencialmente para aumentar as credenciais globais do grupo.[10]

Em segundo lugar, a parceria – ou co-liderança com a China – nos BRICS confere à Rússia uma associação de sucesso. Esta consideração tornou-se especialmente pertinente na esteira do crash financeiro global de 2008. Embora a Rússia tenha tido a pior performance das economias do G-20 em 2009 [11], o crescimento logo retornou. Para o Kremlin, os BRICS são emblemáticos de um novo dinamismo na política internacional, em contraste com um Ocidente decadente e complacente, com suas instituições obsoletas e normas descabidas.[12] A Rússia é parte deste admirável mundo novo – ou gostaria de acreditar nisso.

Em terceiro lugar, os BRICS servem de contra-narrativa para Putin em resposta às afirmações ocidentais de que a Rússia está internacionalmente isolada após sua anexação da Crimeia. A Rússia não só é um centro independente de poder global, mas também tem amigos influentes em muitas partes do mundo: China, Índia, América do Sul e África. Os BRICS tornaram-se um símbolo do desafio do Kremlin – enviando a mensagem de que cabe ao Ocidente adaptar-se à nova ordem mundial e a uma Rússia confiante, e não o contrário.

Na foto, de 2015, da esquerda para a direita: Vladimir Putin (Rússia), Narendra Modi (Índia), Dilma (Brasil), Xi Jinping (China) e Jacob Zuma (África do Sul).

Finalmente, Moscou vê os BRICS como um potencial estímulo para o desenvolvimento econômico russo. A imposição de sanções ocidentais sobre a Ucrânia encerrou o comércio, investimentos e transferências de tecnologia em muitos setores. Os BRICS, com suas instituições emergentes como o NDB, oferecem um enquadramento onde a Rússia pode adaptar-se a estas realidades mutantes e, com o tempo, colocar sua economia numa base mais promissora e menos vulnerável. É também um meio de facilitar o investimento em larga escala – tanto para compensar o déficit da Europa pós-Crimeia, como para impulsionar o desenvolvimento da Sibéria Oriental e do Extremo Oriente da Rússia.[13]

Em última análise, entretanto, o interesse russo nos BRICS é geopolítico. Embora o Kremlin espere um aumento do comércio e investimento “Sul-Sul” [14], esta é uma questão de importância secundária. Enquanto as economias passam por ciclos de prosperidade e recessão, uma ordem pós-americana global é para o Kremlin um projeto atemporal, no qual os BRICS são centrais.

Uma instituição entre muitas

Em Pequim, por outro lado, o BRICS é classificado como uma prioridade secundária. Isso se deve, em parte, a preocupações mais urgentes: reforçar o governo do Partido Comunista; as exigências da modernização econômica; a relação global da China com os Estados Unidos; e desenvolvimentos estratégicos na Ásia Oriental. Historicamente, também, a falta comparativa de interesse de Pequim nos BRICS deve muito à sua forte preferência pela diplomacia bilateral.

Dito isto, ao longo da última década, o governo chinês mostrou uma maior disposição para o multilateralismo, reconhecendo que isso pode complementar e auxiliar seus objetivos bilaterais.[15] Além de se envolver mais ativamente nos órgãos da ONU, sobretudo no Conselho de Segurança, A China é um líder na Organização de Cooperação de Xangai (SCO), no Grupo de Cooperação Econômica Ásia-Pacífico (APEC) e na Cúpula da Ásia Oriental (EAS). Suas motivações variam dependendo da instituição, mas um denominador comum é o desejo de retratar a China como um bom cidadão regional e global.

Visto neste contexto, os BRICS são apenas um entre um conjunto cada vez maior de instituições internacionais nas quais a China participa. Além disso, seu valor para Pequim é inferior ao de muitas outras – o Conselho de Segurança da ONU, o Fundo Monetário Internacional (FMI), o Banco Mundial, o G-20, o APEC e o EAS. Ao contrário da Rússia, a China não vê nenhuma necessidade particular de se promover como influente a nível mundial, porque isso se tornou evidente por si mesmo. O problema para Pequim é o contrário: ele deseja moderar as expectativas sobre a capacidade da China de contribuir e contrapor a visão generalizada no Ocidente de que ela é um “free rider” de bens públicos internacionais.

Se os BRICS não são centrais para a diplomacia chinesa, por que então o presidente Xi Jinping dedicou mais atenção a eles desde que assumiu o poder em 2012? Há três explicações principais. Uma delas é que ele deseja manter Moscou feliz. Xi reconhece o significado que Putin atribui aos BRICS, especialmente à luz da forte deterioração das relações russo-ocidentais. Embora o verdadeiro negócio da parceria sino-russa seja feito bilateralmente, é importante apoiá-lo através de mecanismos multilaterais, como os BRICS e a SCO. Uma notável diferença entre as abordagens chinesas e ocidentais em relação à Rússia no período pós-soviético foi a disposição de Pequim para adular as sensibilidades russas. Falar sobre os BRICS é louvar as realizações pessoais de Putin, declarar a Rússia um grande poder e descrever o estado das relações bilaterais – sua “abrangente parceria estratégica de coordenação” [16] – como a melhor da história dos dois países.

Mas o interesse chinês nos BRICS não é simplesmente um exercício de relações públicas. Enquanto Pequim deseja manter Putin ao lado, também está interessado em sinalizar aos Estados Unidos e à Europa que eles precisam ser mais receptivos aos interesses chineses. A demora em dar à China uma participação acionária no FMI e no Banco Mundial proporcional ao tamanho de sua economia tem sido uma irritação particular.[17] Mais geralmente, Pequim está pressionando por uma maior participação na governança global, mesmo enquanto supõe que os Estados Unidos continuem a ser o líder da comunidade internacional. Aumentar o envolvimento da China nos BRICS, juntamente com a criação do Asian Infrastructure Investment Bank (AIIB), atua como alavanca.[18] Transmite a mensagem de que, se o Ocidente e suas instituições não concederem à China a influência que merece, ela buscará outros mecanismos multilaterais para conseguir o que quer.[19]

O interesse chinês pelos BRICS também é motivado pelo ressurgimento de uma agenda de desenvolvimento regional. Embora o principal motor seja o projeto “One Belt, One Road” (OBOR), incluindo o “Cinturão Econômico da Rota da Seda” (SREB) e o AIIB[20], os BRICS podem ainda desempenhar um papel útil. O NDB poderia ajudar a financiar projetos de infra-estrutura na Eurásia[21], não obstante sua base de financiamento modesta (ver abaixo). E há também uma dimensão política vital. Pequim vê a participação ativa nos BRICS como um meio de assegurar a cooperação – ou pelo menos aquiescência – de outros em seus planos. Isto não é apenas intrinsecamente desejável, mas também realiza objetivos específicos, como a consolidação da segurança em sua instável vizinhança na Ásia Central.[22]

Rússia, China e a Nova Ordem Mundial

As diferenças nas atitudes russas e chinesas em relação à estrutura dos BRICS surgem principalmente de suas percepções contrastantes da ordem internacional liderada pelos EUA. Putin, juntamente com grande parte da elite política russa, a considera extremamente negativa. De acordo com a narrativa do Kremlin sobre a era pós-Guerra Fria, os Estados Unidos estão decididos a empobrecer a Rússia internamente, humilhá-la no exterior e explorar suas fraquezas para ganho geopolítico e econômico. O atual sistema internacional reflete essas iniquidades, privando a Rússia e outras potências não-ocidentais de sua legítima posição e status.[23]

Consequentemente, para Moscou, os BRICS representam o fundamento de uma nova ordem mundial, na qual os Estados Unidos já não mais dominam, onde a governança global se concentra em um Concerto de Grandes Poderes revisto e o internacionalismo liberal ocidental dá lugar à reafirmação de normas e prerrogativas soberanas. Em outras palavras, os BRICS são um instrumento fundamental pelo qual a Rússia espera derrubar a ordem existente.

As opiniões chinesas são consideravelmente mais otimistas. Ao longo das últimas três décadas, a China lucrou muito com a liderança global dos EUA, as instituições de Bretton Woods e a liberalização do comércio. No processo, transformou-se de um remanso regional na superpotência seguinte. Compreensivelmente, então, a liderança do Partido Comunista não quer destruir o sistema internacional, mas sim “melhorá-lo” para melhor servir aos interesses da China e refletir seu crescente status.

Pequim concorda com Moscou na medida em que deseja mitigar o domínio dos Estados Unidos e desafiar a legitimidade do universalismo liberal ocidental. Mas não está interessado em estabelecer uma ordem mundial nas linhas previstas por Moscou. Isto ocorre em parte porque ela reconhece que a liderança global é uma tarefa ingrata, provocando inveja, suspeita e ansiedade em outros. Também é duvidoso se a China está pronta para assumir tal fardo, devido aos desafios internos, à falta de experiência global e ao atraso em muitos aspectos. A visita ocasional de um navio ao Mediterrâneo ou as operações de manutenção da paz em nome das Nações Unidas não alteram o fato de que as ambições globais de Pequim são, pelo menos até o momento, relativamente modestas.

Mais problemático ainda, Moscou e Pequim divergem fundamentalmente sobre qual rosto uma eventual “nova ordem mundial” teria. Enquanto Putin prevê uma ordem tripolar baseada na interação entre os Estados Unidos, China e Rússia, os chineses veem os americanos como sua única contraparte global verdadeira.[24] Sua visão de mundo é essencialmente bipolar, embora com elementos flutuantes que fazem o ambiente global mais complexo e fluido do que durante a Guerra Fria. A sequência lógica de tal pensamento é que a Rússia pode ser um parceiro para a China, mas nunca verdadeiramente um parceiro “igual”, tanto mais dado o seu relativo declínio.[25] Da mesma forma, pode ser apenas um de muitos parceiros, não “o” parceiro.

Gerenciando as contradições

A força do formato BRICS reside no fato de que ele é suficientemente espaçoso para permitir que ambos os lados falem sobre suas semelhanças – o desejo de restringir o poder “hegemônico” dos EUA e mudar as regras da governança global – enquanto minimizam ou ignoram suas diferenças. A fraqueza está em que tal embromação não é propícia para a tomada de decisão concreta. A unidade pública dos BRICS foi até agora preservada porque seus membros limitaram-se a declarações de princípio, assumindo poucos compromissos específicos. Este não é um curso sustentável se os BRICS evoluírem para um organismo multilateral eficaz, e muito menos uma base alternativa para a governança global.

Os países membros enfrentam, portanto, uma escolha difícil: ou correm o risco de discordâncias potencialmente sérias na busca de relevância política e influência, ou continuarão indo mais ou menos como estão – mantendo a solidariedade para consigo mesmos, estabelecendo várias estruturas organizacionais e proclamando iniciativas “ousadas”. Em suma, os BRICS estão preparados para jogar?

Uma complicação adicional é que os riscos são diferentes para Rússia e China. Para o Kremlin, o principal perigo de tal aposta é que poderia minar sua narrativa sobre um consenso das potências não-ocidentais e a emergência inevitável de uma ordem multipolar. Se ela empurrar com muita força as questões em que há divergências substantivas entre os BRICS – como a governança da Internet, o apoio à Rússia em relação às suas intervenções militares na Ucrânia e na Síria – poderia ficar isolada. Longe de ser capaz de usar os BRICS como alavanca contra os Estados Unidos e a Europa, Moscou poderia inconscientemente impulsionar a confiança transatlântica.

Em contraste, a prioridade para a liderança chinesa é evitar o confronto com o Ocidente. Enquanto Putin não se importa em perturbar os Estados Unidos, Pequim está empenhado em assegurar que suas próprias relações com Washington permaneçam amplamente cooperativas.[26] As divergências políticas, por mais sérias que sejam, são uma coisa, mas uma ruptura como a atual crise de relações entre a Rússia e o Ocidente é outra bem diferente. É, portanto, uma questão de alguma importância que o grupo BRICS não se torne (ou seja percebido) uma coalizão anti-EUA e anti-Ocidente. Em termos de política prática, isso significa enfatizar questões de desenvolvimento acima das questões de geopolítica – não só porque isso é menos provocativo, mas também porque combina mais com as prioridades regionais da China na Eurásia.

Desenvolvimento Versus Geopolítica

Embora a Rússia e a China tenham interesse comum no desenvolvimento regional, um exame mais aprofundado também revela diferenças significativas. Como a segunda maior economia do mundo, a China é o banqueiro dos BRICS em tudo menos no nome.[27] Sem a liderança econômica chinesa e as garantias financeiras, os BRICS não teriam nenhuma agenda de desenvolvimento a professar. Também não haveria instituições financeiras; o recente estabelecimento do NDB foi possível precisamente porque Pequim tem subscrito as operações do banco, bem como a CRA. Isso reflete uma verdade maior e implicitamente reconhecida – que sem a China os BRICS não carregam nenhum peso (apesar da desaceleração do crescimento chinês). Como poder indispensável, ela decide que áreas priorizar, quanto esforço investir em empreendimentos particulares, e o tom de pronunciamentos públicos.

A Rússia, em comparação, é suplicante na agenda de desenvolvimento do BRICS. Embora Putin tenha falado sobre seu papel como doador de ajuda internacional, sua prioridade é atrair financiamentos em larga escala para projetos de infra-estrutura nacionais, particularmente envolvendo a Sibéria Oriental e o Extremo Oriente da Rússia.[28] Isso é consistente com a “volta para o Oriente” de Moscou, que se tornou muito mais atual desde as sanções ocidentais e o declínio acentuado no investimento ocidental e transferências de tecnologia.[29] Embora o otimismo inicial de que a China entraria na brecha desde então tenha sido temperado, Moscou mantém a esperança de que Pequim canalizará algum financiamento através do AIIB, NDB , e o Fundo da Rota da Seda.[30]

Este cálculo não é necessariamente mal fundamentado; O Cinturão Econômico da Rota da Seda tornou-se uma prioridade maior com Xi, e há indicações de que isso se traduzirá em projetos tangíveis. Também não importa que a China seja o doador e a Rússia o donatário na cooperação para o desenvolvimento. Afinal, tal assimetria – ou complementaridade – caracterizou a relação de investimento da Rússia com o Ocidente há mais de 20 anos. Até os eventos na Ucrânia, esta provou ser surpreendentemente resiliente, sobrevivendo a várias crises financeiras e recessões políticas. Dada a relativa saúde da “parceria estratégica” sino-russa, Moscou e Pequim devem ser capazes de fazer o mesmo, seja bilateralmente ou sob a rúbrica dos BRICS. A China pode não ser tecnologicamente tão desenvolvida quanto os Estados Unidos e os principais países europeus (Alemanha, França), mas ainda possui uma expertise séria em áreas-chave da demanda russa, como a infra-estrutura.

Infelizmente, as questões econômicas não estão tão bem separadas de suas implicações geopolíticas. Embora seu relacionamento esteja mais próximo do que nunca, Moscou se sente desconfortável com o crescente desequilíbrio de influência entre os dois países, mesmo que esteja relutante em dizê-lo publicamente. Isso não é uma simples questão de sinofobia – um medo visceral de “invasão” – mas sim de apreensão sobre a extensão da dependência econômica e estratégica da Rússia em relação à China. O Kremlin enfrenta assim um dilema. Por um lado, considera que a estreita parceria com Pequim é essencial para a formação de uma ordem pós-americana, a legitimação da Rússia como ator de posição global e para mitigar os efeitos das sanções ocidentais. Por outro lado, preocupa-se que confiar tão fortemente nos chineses permitirá a Pequim ditar os termos de sua cooperação econômica e acelerar a expansão da influência chinesa não apenas na Ásia Central, mas em todo o espaço pós-soviético.[31]

Em teoria, os BRICS poderiam fornecer um quadro útil dentro do qual Moscou e Pequim podem mediar essas contradições, um pouco parecidas com a SCO em relação à Ásia Central. Os dois lados já concordaram que, longe de serem incompatíveis, o projeto da União eurasiana de Putin e o “One Belt, One Road” de Pequim são programas complementares de desenvolvimento.[32] Mas será difícil perceber tais sentimentos generosos na prática. Tendo passado tantas décadas se preocupando com a “expansão” chinesa de uma forma ou de outra, é improvável que a elite russa suprima suas ansiedades geopolíticas tão facilmente.[33] De fato, a intensa diplomacia de Xi desde 2012 pode ter o efeito oposto. É evidente que ele considera a China eventualmente como um ator global, o que sugere que a base anterior de acomodação na primazia econômica Eurasia-chinesa, equilibrada pela liderança geopolítica russa, estará sob crescente pressão.

Conquistas, que Conquistas?

Dado que os BRICS existem como entidade formal apenas desde 2009 [34], não é realista esperar resultados de destaque nesta fase. Na verdade, poder-se-ia argumentar que os BRICS já se desenvolveram mais rapidamente do que organismos como a ASEAN (Associação das Nações do Sudeste Asiático) e o SCO.[35] Essas organizações, em especial nas suas fases iniciais, tratam de declarações de princípios gerais, estruturas, e evitam as questões em que há probabilidade de haver desacordos. A unidade pública é a prioridade, não momentos de ruptura.

Nem uma Fundação para a Governança Global…

No entanto, é útil fazer um balanço examinando algumas das alegações feitas pelos apoiadores e críticos dos BRICS. O mais importante é a noção de que os BRICS formam a base de uma nova ordem multipolar. Assim, Putin aproveitou a ocasião das cúpulas geminais BRICS e SCO na UFA em junho de 2015 para proclamar o surgimento de um consenso estratégico e normativo pós-ocidental.[36]

Isso é uma ilusão. Mesmo quando se tem em conta a brevidade da existência dos BRICS, é evidente que não há nenhuma unidade dentro do grupo para montar um desafio ao Ocidente ou instituições como o FMI e o Banco Mundial. A ideia dos BRICS como uma ordem mundial alternativa está tão divorciada da realidade que nenhum de seus membros, à exceção da Rússia, deposita qualquer esperança nisso. A solidariedade pública exibida na UFA não conseguiu esconder a falta de substância para a agenda BRICS.[37] Não houve avanços na política e a impressão predominante foi de uma ação coreografada. Reveladoramente, até mesmo os comentaristas russos enfatizaram que os BRICS eram menos que uma organização, um processo, e um “processo muito gradual”.[38]

A posição formal de Pequim é que os BRICS e suas ramificações podem complementar, mas não suplantar, as estruturas internacionais existentes.[39] Mais significativamente, as ações chinesas indicam que seu interesse nos BRICS é limitado e instrumental. Em vez disso, a diplomacia multilateral de Pequim deu prioridade a duas outras direções: aumentar sua influência nas organizações dominadas pelo Ocidente; e criar seus próprios mecanismos. Com isso, está investindo recursos muito maiores no AIIB e no OBOR do que no New Development Bank.[40] Na verdade, a prometida contribuição da China para o NDB de US$ 10 bilhões é menor do que seus empréstimos e investimentos bilaterais desembolsados para alguns países, por exemplo o Cazaquistão.[41]

Não há sinal de que Pequim deslocará o foco principal de sua atividade multilateral nos BRICS, muito menos de modo a vê-lo como um modelo de governança global. Uma coisa é estar insatisfeito com o funcionamento das instituições de Bretton Woods, outra muito diferente é acreditar que os BRICS e suas sub-estruturas podem preencher o vácuo. O fato de Xi ter optado por organizações “made in China”, como a AIIB, sugere que ele tem pouca fé na eficácia dos BRICS.[42]

Os chineses também resistiram aos esforços de Moscou para conduzir o grupo em uma direção conscientemente anti-americana. Não só não querem provocar um confronto estratégico com Washington, como observado anteriormente, mas também estão ansiosos para manter o controle sobre sua própria agenda de política externa. Isso significa assegurar que os BRICS não assumam uma identidade geopolítica e, em vez disso, canalizem suas atividades para a área um pouco menos contenciosa – e mais útil – do desenvolvimento internacional. Nesse esforço, é apoiado pelos outros BRICS.[43] A posição de Nova Delhi é ainda mais inequívoca. Considerando que Pequim valoriza uma relação funcional com os Estados Unidos, os indianos veem este último como seu principal parceiro estratégico, vital no enfrentamento de suas preocupações de segurança e geopolíticas em relação à China.[44] O pensamento, então, de que eles teriam uma visão dos BRICS dirigidos contra o Ocidente é absurdo.

… nem um motor de desenvolvimento econômico

A segunda grande reivindicação feita sobre a estrutura BRICS é que ela promete um novo tipo de ajuda ao desenvolvimento, livre das condicionalidades políticas intrusivas que caracterizam os programas do FMI e do Banco Mundial. Os defensores desse ponto de vista apontam para a formação do NDB e do CRA como evidência convincente de progresso.[45]

Ainda em seus primeiros dias, o NDB e o CRA podem ganhar impulso nos próximos anos. Mas até agora vimos apenas promessas, não resultados. O total dos fundos previstos – US$ 50 bilhões e US$ 100 bilhões, respectivamente – é pequeno em comparação com as somas que a China sozinha espera investir em vários projetos da Rota da Seda através do OBOR.[46] E isso levanta questões sobre as operações futuras do NDB. Para onde vai o dinheiro? Como será desembolsado e em que condições? Isso não é um problema, mas toca no coração da questão de saber se o BRICS será capaz de funcionar como uma agência de desenvolvimento “de novo tipo”. O perigo é que ele possa cair em um tokenismo – alocando pequenas quantias de dinheiro para alguns projetos menores aqui e ali – enquanto no mundo real os programas de infra-estrutura de grande escala são financiados por outros órgãos, do Banco Mundial ao Banco Asiático de Desenvolvimento (ADB) e o AIB.[47]

Para que o NDB e o CRA funcionem corretamente, é necessário um aumento dramático nos níveis de financiamento; pouco gerará muito pouco. Os membros dos BRICS também precisarão decidir onde estão suas prioridades de desenvolvimento. Eles se concentram em projetos que os beneficiam diretamente ou atuam de forma mais ampla e altruísta como facilitadores de bens públicos internacionais (IPGs)? A primeira opção é obviamente incompatível com a visão dos BRICS como um credor alternativo, em vez das instituições de Bretton Woods. Mas a outra opção é praticamente impossível sem os fundos para apoiá-la. Nesse caso, a vantagem comparativa dos BRICS de oferecer uma assistência (alegadamente) desamarrada seria irrelevante. Os candidatos seriam forçados a dirigir-se ao FMI e ao Banco Mundial como antes, ou lidar com doadores individuais, como a China.

Isto levanta outra questão. Desde o crash financeiro global, a China aumentou seus empréstimos internacionais e ajudas de desenvolvimento a muitas partes do mundo, incluindo Eurásia. Dadas as suas vastas reservas de divisas[48] e o êxito na projeção de um soft power, por que ela aceitaria voluntariamente os constrangimentos da ação multilateral? Pequim talvez desejasse fazer um elogio a fim de divulgar suas credenciais de cidadania internacional (ver acima) e compartilhar o fardo financeiro, mas precisaria haver razões mais persuasivas para ela mudar de uma abordagem que funcionou muito bem até agora para uma cujo valor não está provado e cuja premissa é suspeita.[49]

A Lógica da Acomodação Estratégica

Paradoxalmente, a principal conquista dos BRICS tem sido bilateral – como mecanismo de acomodação sino-russa. Embora os dois lados tenham prioridades contrastantes (e capacidades) no contexto do BRICS, eles têm contido essas diferenças, em grande parte por fingir concordar com a maioria das coisas. Há certo desapontamento em Moscou com o apoio tépido de Pequim sobre a Ucrânia e a Síria e os níveis medíocres do investimento chinês na economia russa.[50] No entanto, esses retrocessos são menos importantes para o Kremlin do que a fachada de unidade estratégica. A diplomacia BRICS é vista como reforçando a mensagem da convergência sino-russa, em meio à narrativa mais ampla da ascensão do não-Ocidente.

Que muito dessa imagem seja falso não é especialmente importante para Moscou. O que importa é que os estrangeiros devem dar crédito ao teatro. A este respeito, a Rússia tem sido surpreendentemente bem sucedida. O tropo (metáfora) de um eixo autoritário sino-russo continua a ser popular nos Estados Unidos, levando a apelos para que o Ocidente pegue leve com Putin para enfrentar a verdadeira “ameaça” – China.[51] Para o Kremlin, persuadir os outros a acreditar na intimidade das relações sino-russas melhora as perspectivas de enfraquecimento e, eventualmente, remoção das sanções ocidentais sobre a Ucrânia. Enquanto isso, Pequim está preparada para fazer as moções, porque precisa da cooperação ativa de Moscou e prefere evitar a possibilidade de uma Rússia disruptiva.

Olhando adiante

Assim como os defensores dos BRICS costumam exagerar suas realizações, os críticos às vezes são culpados de ilusões ao prever sua morte precoce. Os BRICS podem não ser muito, mas estranhamente isso melhora suas chances de sobrevivência. Por ser um quadro solto, não prescritivo e não vinculativo, os membros podem fazer dele o que quiserem. Assim, Moscou pode promover a ideia dos BRICS como a base de uma nova ordem mundial, enquanto Pequim pode usá-la para dissipar as sensibilidades russas sobre o poder chinês, pressionar o Ocidente para ser mais flexível e ajudar seus objetivos de desenvolvimento regional. Se os resultados positivos permanecem abaixo do esperado, então as consequências negativas também parecem insignificantes. As lideranças políticas ocidentais podem ter pouco tempo para construir os BRICS, mas poucos o consideram uma ameaça: compare, por exemplo, a despreocupação de Washington com o NDB, por um lado, e suas tentativas de bloquear o AIIB, de outro. Em geral, as expectativas dos BRICS são tão baixas que não há nenhuma pressão para que ele se desenvolva rapidamente. Por isso ele pode crescer gradualmente e consensualmente.

A evolução futura dos BRICS pode ter algumas semelhanças com o desenvolvimento da ASEAN durante os anos 90, quando estabeleceu várias sub-estruturas e expandiu a sua filiação. Com o tempo, poderíamos ver o surgimento de um secretariado dos BRICS, de um parlamento BRICS, de universidades BRICS e assim por diante.[52] Muitos desses organismos podem se tornar simbólicos, mas ainda assim ajudar a sustentar algum impulso institucional. Em um nível mais substantivo, o NDB e o CRA poderiam receber um aumento de financiamento – não tão grande para levantar esses organismos ao nível do AIIB ou do ADB, mas talvez suficiente para permitir que eles ofereçam apoio útil, mas modesto, a projetos selecionados.

Apesar das recentes recusas [53], seria surpreendente que os BRICS, ao longo do tempo, não expandissem sua composição para incluir representantes de outras partes do mundo: América Latina de língua espanhola (Argentina, México), África do Norte (Egito), África Ocidental (Nigéria), Oriente Médio (Turquia, Irã) e Sudeste Asiático (Indonésia, Vietnã).[54] Moscou pode estar preocupado de que tal expansão diluísse a exclusividade dos BRICS e tornasse a tomada de decisões ainda mais difícil do que já é. No entanto, uma adesão maior teria duas vantagens importantes para o Kremlin: promoveria a ideia de um consenso não-ocidental mais amplo; e isso diluiria o domínio da China dentro dos BRICS. Quanto a Pequim, é pouco provável que se oponha vigorosamente a uma adesão alargada, dada a importância secundária dos BRICS na política externa chinesa. Continuaria a priorizar as principais relações bilaterais; promover organizações multilaterais sob seu controle, como o AIIB; e prestar homenagem formal à multipolaridade.

O futuro dos BRICS, então, é fluido. Há oportunidades para o desenvolvimento institucional e de políticas, e a construção do BRICS deverá continuar de alguma forma nos próximos 15 a 20 anos. Inversamente, é improvável que os BRICS surjam como um bloco de poder coeso nos assuntos mundiais. Com exceção da Rússia, nenhum de seus membros tem interesse em tal resultado para os próximos tempos, dada a crescente assimetria da parceria sino-russa, as tensões geopolíticas entre Pequim e Nova Delhi e a marginalização estratégica do Brasil e da África do Sul.

Lições para os criadores de políticas ocidentais

A lição mais importante para os formuladores de políticas ocidentais ao lidar com os BRICS é manter um senso de proporção. Os países BRICS individuais podem às vezes representar uma ameaça aos interesses ocidentais, mas os BRICS coletivamente não. Mesmo um grupo tão pequeno luta para funcionar com base no consenso, e as diferenças consideráveis entre seus membros garantem que sua capacidade de ação coordenada seja muito limitada. É importante, portanto, manter a calma quando as declarações do BRICS criticam a política ocidental, vão contra as injustiças do sistema internacional ou falam em termos elevados sobre uma ordem multipolar emergente.

Igualmente, os governos ocidentais devem entender que a estrutura BRICS está aqui para ficar, e pode até crescer. Há pouco a ser ganho tratando-a com desprezo, mesmo quando suas fortunas estão em um baixo refluxo, como hoje. Pelo contrário, seria sensato desenvolver canais de comunicação e até mesmo arranjos de diálogo. O argumento de que isso pode de alguma forma fortalecer os BRICS não é plausível; as fortunas do grupo não dependem de se os países ocidentais têm ou não o estatuto de parceiro/observador dialogável. E enquanto tal envolvimento não pode levar a resultados impressionantes, o Ocidente tem pouco a perder se aproximando.

Mas talvez a lição mais importante para os tomadores de decisão ocidentais seja bilateral e não multilateral: distinguir entre a cooperação sino-russa e a convergência sino-russa no contexto dos BRICS e em outros lugares. Uma das realizações mais notáveis de política externa de Pequim tem sido a de promover interesses chineses na Eurásia, muitas vezes às custas da Rússia, sob o disfarce de diplomacia “ganha-ganha”. Pequim fala de posições “quase idênticas” dos dois países sobre questões internacionais e de aspirações compartilhadas por um mundo mais eqüitativo. No entanto, o tempo todo está perseguindo sua agenda nacional com um sentido e propósitos muito claros. Como observado anteriormente, os dois países vêem o mundo, e seus respectivos lugares nele, de forma muito diferente. Eles cooperam porque isso serve a seus interesses específicos, não por causa de uma tendência mais profunda. É imperativo que o Ocidente entender essa realidade e a verdadeira natureza de sua interação com os BRICS.

Notas

[1] J. O’Neill, “Building better global economic BRICs”, Goldman Sachs Global Economics Paper, No.66, 30 November 2001.

[2] K. Mahbubani, “The New Asian Hemisphere: the Irresistible Shift of Global Power to the East”, Public Affairs, New York, 2008.

[3] A falta de sinergia entre os BRICS se reflete em seus modestos laços econômicos – exceto quando se trata da China. Entre os parceiros comerciais da Rússia em 2014, a China ficou em segundo lugar (11,3% do total) e a Índia em décimo (1,2%). No caso da China, apenas a Rússia (nona com 2,2 por cento) e o Brasil (décimo com 2 por cento) estavam no top10. A China foi o segundo parceiro comercial da Índia (9,2%), do Brasil (17,1%) e da África do Sul (12,8%). Os outros BRICS não figuram entre os dez maiores parceiros destes três últimos países, com exceção da Índia no comércio externo da África do Sul (quinto com 4,4%). Em comparação, a UE é o principal parceiro comercial de cada um dos países BRICS. Ver: <http://trade.ec.europa.eu/doclib/docs/2006/september/tradoc_113440.pdf>, <http://trade.ec.europa.eu/doclib/docs/2006/september/tradoc_113366.pdf>, <http://trade.ec.europa.eu/doclib/docs/2006/september/tradoc_113390.pdf>, <http://trade.ec.europa.eu/doclib/docs/2006/september/tradoc_113359.pdf>, <http://trade.ec.europa.eu/doclib/docs/2006/september/tradoc_113447.pdf>.

[4] J.-P. Lehmann, “The Rapid Rise and Fall of the BRICS: Meanderings in Global Fantasyland”, Forbes, 11 October 2015.

[5] “Putin Says BRICS Should Focus on Key World Issues”, Sputnik, 22 March 2013.

[6] “Ufa Declaration of the VII BRICS Summit”, 9 July 2015.

[7] V. Putin, Press Conference Following the BRICS and SCO Summits, 10 July 2015.

[8] Despite its physical location in East Asia, Japan has long been part of the political and economic West.

[9] Bobo Lo, Russia and the New World Disorder, Brookings and Chatham House, Washington DC, 2015, p.79.

[10] M. Degaut, “Do the BRICS Still Matter?”, Center for Strategic and International Studies report, October 2015, p.8. Ver também: “Why is South Africa Included in the BRICS”, The Economist, 29 March 2013.

[11] O PIB da Russia caiu 7.9% em 2009.

[12] Concept of participation of the Russian Federation in the BRICS, 2013.

[13] A. Movchan, “Lozhnaya nadezhda. Pochemu BRIKS ne budet rabotat” [Falsa esperança. Por que os BRICS não vão dar certo], Slon.ru, 10 July 2015.

[14] Putin Press Conference After the BRICS and SCO Summits.

[15] Remarks by Chinese scholars at the Stockholm China Forum, October 2014.

[16]Xi Jinping Holds Talks with President Vladimir Putin of Russia”, Ministry of Foreign Affairs of the People’s Republic of China, 5 August 2015.

[17] Em dezembro de 2015, após um atraso de vários anos, o Senado dos Estados Unidos finalmente aprovou a elevação da participação votante da China no FMI para 6,07%. Anteriormente, esta taxa tinha sido de 3,81%, não só inferior à dos Estados Unidos (16,74&), mas também do Japão (6,23), da Alemanha (5,81) e do Reino Unido e da França (4,29%). “IMF reforms clear last hurdle with US adoption”, BBC News, 19 December 2015. No Banco Mundial o desequilíbrio tem sido menos pronunciado. A porcentagem de voto da China (4.78%) é muito inferior à dos Estados Unidos (15,96) e do Japão (7,40), mas superior às da Alemanha (4,33), e França e Reino Unido (4,05) – ver aqui.

[18] A ideia do AIIB surgiu em Outubro de 2013 como uma instituição complementar, mas também potencialmente rival, ao Banco Asiático de Desenvolvimento (ADB). Os esforços subseqüentes dos EUA para impedir o AIIB, inclusive pressionando os aliados a não se unirem, vão e vem, e em junho de 2015 57 países assinaram o Acordo formal em Pequim.

[19] Mohammed el-Erian, “Don’t Rule Out the BRICS”, Bloomberg View, 17 November 2015.

[20] OBOR é a tentativa mais ambiciosa de Pequim em uma estratégia econômica para a Eurásia. Compreende duas vertentes principais: o SREB, que procura facilitar o comércio terrestre em todo o continente e a “Rota da Seda Marítima do século XXI”, que se concentra na expansão dos laços com o Sudeste e Sul da Ásia. A noção geral de “Nova Estrada da Seda” existe há muitos anos, mas recebeu um impulso real na visita de Xi à Ásia Central em setembro de 2013. Para mais informações, ver F. Godement, “‘One Belt, One Road’: China’s Great Leap Outward”, European Council on Foreign Relations, June 2015.

[21] F. Shaolei, “Implications of the Ufa BRICS and SCO Summits”, Valdai website, 20 July 2015.

[22] A. Cooley, “New Silk Route of Classic Developmental Cul-De-Sac? The Prospects and Challenges of China’s OBOR Initiative”, PONARS Eurasia Policy Memo, No. 372, July 2015.

[23] D. Trenin, “Russia’s break-out from the post-Cold war system”, Carnegie Moscow Center, December 2014.

[24] Importante, esta visão é comum mesmo entre os críticos vocais da política externa dos EUA, como o estudioso Yan Xuetong —“Why a Bipolar World is More Likely than a Unipolar or Multipolar One”, The World Post, 22 June 2015.

[25] “…atualmente, a Rússia está caindo a uma velocidade muito rápida, e será um processo longo com muitas dificuldades para que ela volte a subir”, Xing Guangcheng, “The Ukraine Crisis and Russia’s Choices in 2015”, Russian Analytical Digest, No. 168, 11 June 2015, p.7.

[26] Fu Ying, “How China Sees Russia”, Foreign Affairs, January/February 2016, pp.103-04

[27] V. Shikin, “Remnants of Bretton Woods or a New Brick in its Foundation?”, Russian International Affairs Council (RIAC), 5 August 2015.

[28] V. Putin, “APEC: para uma cooperação aberta e igualitária no interesse do desenvolvimento”, 17 de novembro de 2015. Em 2013, a China desembolsou US$ 7,1 bilhões na assistência externa ao desenvolvimento (ODA) – ficando em sexto lugar mundial depois do Reino Unido, Estados Unidos, Alemanha, França e Japão (ver Ph. Brant, “China’s Foreign Aid: New Facts and Figures”, The Interpreter, 8 July 2014. Em comparação, a ODA da Rússia em 2013 foi de USD 740 milhões. Embora isso representasse um aumento de 48% em relação ao ano anterior, ainda representava apenas 0,03% da Renda Nacional Bruta (RNB) – ver aqui.

[29] Bobo Lo, “Russia’s Eastern Direction: Distinguishing the Real From the Virtual”, Russie/NEI Reports No. 17, January 2014.

[30] A. Gabuev, “Russia has a China problem, too”, The Diplomat, 4 September 2015. Ver também: “Sino- Russian Trade After a Year of Sanctions”, Carnegie Moscow Center, 11 September 2015. E: “China’s Silk Road Challenge”, Carnegie Moscow Center, 12 November 2015.

[31] Além de visitar Moscou por ocasião do 70º aniversário do Dia da Vitória, Xi também viu Nazarbaev em Astana e Lukashenko em Minsk.

[32] “[T]hese Two Projects Are Compatible and Not Contradictory”, Putin Press Conference Following the BRICS and SCO Summits, 10 July 2015. <http://en.kremlin.ru/events/president/news/49909>.

[33] Como disse Alexander Gabuev, “a síndrome imperial da classe dominante da Rússia, particularmente na questão de segurança, pode impedir Moscou de abraçar completamente uma estratégia pragmática de acomodar a crescente influência da China no que costumava ser exclusivamente o quintal da Rússia”. “Eurasian Silk Road Union: Towards a Russia-China Consensus?”, The Diplomat, 5 June 2015. Ver também: K. Kirisci and Ph. Le Corre, “The Great Game That Never Ends: China and Russia Fight Over Kazakhstan”, Brookings, 18 December 2015.

[34] A primeira cúpula formal teve lugar em Yekaterinburg, em Junho de 2009.

[35] ASEAN foi fundada em 1967, e o SCO em 2001.

[36]Os países BRICS… são Estados poderosos com uma perspectiva estratégica de desenvolvimento. Eles são líderes – os futuros líderes do mundo e da economia global”, Putin Press Conference, 10 de julho de 2015. O observador atento pode especular que outra razão para a confluência das Cúpulas BRICS e SCO (como na ocasião anterior, a Rússia recebeu os BRICS em 2009) é que, independentemente, cada uma delas tinha alguma falta de substância política.

[37] A. Borik, “What the Russian media thinks about the BRICS and SCO summits”, Russia Direct, 13 July 2015.

[38] F. Lukyanov, P. Koshkin, “The BRICS may be non-Western but they are not anti- Western”, Russia in Global Affairs, 11 July 2015.

[39] Esta posição encontra-se refletida na Declaração Ufa da VII Cúpula do BRICS: “A cooperação Sul-Sul não é um substituto, mas sim um complemento da cooperação Norte-Sul, que continua a ser o principal canal de cooperação internacional para o desenvolvimento” p.40, <http://en.brics2015.ru/load/381158>.

[40] De acordo com uma estimativa, os chineses investirão até US$ 300 bilhões no financiamento de vários projetos de infra-estrutura no âmbito do OBOR. Já se comprometeram a investir 100 bilhões de dólares no âmbito de vários regimes multilaterais: 50 bilhões de dólares para o AIIB, 40 bilhões de dólares para o Fundo da Silk Road (parte do SREB) e 10 bilhões de dólares para o NDB. Veja: Godement e outros, “One Belt, One Road”’, p.1, 3. Ver também: Movchan, “Lozhnaya nadezhda. Pochemu BRIKS ne budet rabotat” [Falsa esperança. Por que os BRICS não vão funcionar], Slon.ru, 10 July 2015.

[41] A partir de 2015, o nível de investimento chinês no Cazaquistão foi de USD 17 bilhões. Ver: “Kazakhstan, China: Close Neighbours That Build Mutually Beneficial Ties”, Astana Times, 5 May 2015. Ver também: Sh. Tiezzi, “China, Kazakhstan sign USD 23 billion in Deals”, The Diplomat, 28 March 2015.

[42] O Kremlin espera que a Rússia colha alguns dos benefícios dos planos ambiciosos da China, mas isso é duvidoso. O Cinturão Econômico da Rota da Seda supera em grande parte a Rússia, passando pela Ásia Central, Ásia Ocidental, Turquia e só então prevendo um desvio para a Rússia ocidental. A Rússia é, na melhor das hipóteses, uma filial. Crucialmente, também, é improvável que os investimentos chineses fluam para as regiões da Federação Russa que mais precisam – o Extremo Oriente russo e a Sibéria Oriental.

[43] S. Tharoor, “Taking the BRICS Seriously”, Project Syndicate, 19 June 2015. Ver também “Brics Nations’ Differences on Display as Club States Summit”, Financial Times, 8 July 2015.

[44] V. Sakhuja, “Ufa Summits. Understanding the Strategic Footprint”, Valdai website, 17 July 2015.

[45] F. Mielniczuk, “The BRICS’ Economic Institutions and International Politics”, E- International Relations, 18 August 2014.

[46] A China já comprometeu 40 bilhões de dólares através do seu Fundo da Rota da Seda e mais 50 bilhões de dólares para a AIIB, em comparação com apenas 10 bilhões de dólares na NDB.

[47] Ver os comentários do economista indiano Rajrishi Singhal, em A. Katz, “BRICS Prospects Brighten, NDB Takes Shape”, Russia & India Report, 19 October 2015.

[48] A partir de novembro de 2015, esses valores somaram US $ 3,43 trilhões.

[49] 85% da ajuda externa da China se dá por canais bilaterais. Ver: Brant, “China’s Foreign Aid…”, Op. cit. [28].

[50] O investimento direto chinês se contraiu em 20% nos primeiros sete meses de 2015. Ver A. Gabuev, “Sino-Russian Trade After a Year of Sanctions”, Carnegie Moscow Center, 11 September 2015.

[51] D. Simes, “How Obama is Driving Russia and China Together”, The National Interest, 24 June 2014.

[52] Algumas dessas idéias estão prefiguradas na declaração da Cúpula da UFA.

[53]BRICS Has No Plans to Add New Members at Present”, Sputnik, 9 July 2015.

[54] Isto estaria mais ou menos de acordo com o conceito da Goldman Sachs do N-11, as “Próximos Onze” economias emergentes não-ocidentais. Ver: J. O’Neill, D. Wilson, R. Purushothaman and A. Stupnytska, “How Solid Are the BRICS?”, Goldman Sachs Global Economics Paper No.134, 1 December 2005.

[55] No caso do confronto armado sino-americano, é muito mais provável que Pequim se inclinasse para Moscou e não para os BRICS.

Traduzido por Pablo Polese. Publicado em Março de 2016 no nº92 da Russie Nei Visions – IFRI (Institut français des relations internationales). O original encontra-se aqui e a versão inglesa aqui.

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