Uma breve biografia do marinheiro revolucionário que foi do bolchevismo ao anarquismo. Por Nick Heath
Do bolchevismo ao makhnovismo
Zhivoder nasceu numa família camponesa na província de Poltava por volta de 1883. No período de 1904-5, foi membro do Partido Operário Social-Democrata Russo (Bolchevique) e participou da Revolução de 1905-7. Em 1910, ele trabalhava na organização dos bolcheviques na clandestinidade em São Petesburgo. Durante a Primeira Guerra, foi marinheiro da Frota Báltica. Participou da Guerra Civil como membro da equipe e chefe do departamento de abastecimento do Exército Vermelho no front de Tsaritsyn[1] em 1918. Foi comandante do setor militar de Katerynoslav[2] e da Brigada Lênin do 14º Batalhão. Nessa época, suas tropas salvaram uma vila de judeus após um brutal pogrom dos soldados de Grigoriev[3].
Ficou desiludido com as posições e ideias do bolchevismo no final de 1919, conta Trótski, que o conhecera. No capítulo 36 de Minha vida, sua autobiografia, Trótski fala dele com desesperança: ”Quanto ao front soviético do sul, os comandantes de Tsaritsyn não eram muito melhores que os Brancos. Suas relações com a central de Moscou limitavam-se a constantes pedidos de abastecimento. Todos nós estávamos com poucos mantimentos. Toda produção das fábricas era imediatamente enviada aos exércitos. Nenhum deles consumiu tantas armas e munições quanto o de Tsaritsyn. Na primeira negativa, eles lamentaram a traição dos ‘especialistas’ de Moscou”. Trótski continua e diz que o Representante Especial do Exército de Tsaritsyn residente em Moscou era o marinheiro Zhivoder e que, quando impuseram uma disciplina mais rígida, ele “foi aos bandidos”. (Tirando o fato de dois desses comandantes serem Stálin e Voroshílov, e que esse tenha sido o famoso incidente do primeiro enfrentamento entre Trótski e Stálin, em outubro-novembro de 1918, vale notar a maliciosa comparação com os Brancos e o usual assassinato de reputação, tão característico de Trótski.)
Zhivoder de fato “foi aos bandidos”. Ele organizou unidades militares em Kobelyaki na província de Poltava durante a primavera de 1920 e, em julho, tinha 600 combatentes. Nessa época, ele se reivindicava um anarco-comunista. Juntou-se às fileiras dos makhnovistas e foi nomeado comandante do 3º Regimento Makhnovista, somando 1800 combatentes. Envolveu-se na guerrilha contra os Vermelhos. Foi morto em combate na estação ferroviária no distrito de Kuteinyokove em 23 de setembro de 1920. De acordo com Trótski, “Ele parece ter sido capturado e executado”.
Notas da tradução
[1] Situada na região deserta do Cáucaso russo, Tsaritsyn foi rebatizada de seu nome czarista para Stalingrado em 1925. Atualmente, chama-se Volgogrado.
[2] Desde 1926, Katerynoslav passou a se chamar Dnipro, e é hoje a quarta maior cidade da Ucrânia.
[3] Oficial cossaco durante o czarismo, Nikifor Grigoriev apoiou o governo revolucionário em 1917. Com suas tropas camponesas, genericamente referidas como “verdes”, combateu alinhado a nacionalistas ucranianos como Simon Petliura e depois nas fileiras do Exército Vermelho durante a tomada de Odessa. Acusado de saquear a cidade, rompeu com os bolcheviques e procurou abrigo no território makhnovista, onde foi julgado e sentenciado à morte – antissemita, Grigoriev foi responsável por um série de pogroms contra judeus ao longo da guerra civil.
Traduzido e revisado pelo Passa Palavra a partir do original disponível aqui. Este artigo faz parte do esforço coletivo de traduções do centenário da Revolução Russa mobilizado pelo Passa Palavra. Veja aqui a lista de textos e o chamado para participação.