Benjamin Goldberg, o anarquista plataformista que se tornou pilar do regime stalinista na Polônia. Por Nick Heath
Maxime Ranko será lembrado por sua defesa resoluta do anarquismo organizado nas páginas de Le Libertaire, jornal anarquista francês. Somado a isso, ele levou Volin a reprimendar sua tradução da “Plataforma Organizacional dos Comunistas Libertários”, dizendo-lhe que havia traduzido certos termos de forma enviesada, dando-lhes uma conotação desnecessariamente autoritária. Jerzy Borejsza será lembrando por sua defesa resoluta da verdade “oficial” da ortodoxia stalinista segundo a qual o massacre de oficiais poloneses em Katyn[1] teria sido obra de Hitler, não de Stálin. No entanto, as duas pessoas eram uma só e a mesma. O anarquista Ranko foi reinventado como um defensor da União Soviética.
Benjamin Goldberg [seu verdadeiro nome] nasceu em 14 de julho de 1905 em Kosowie Poleskim, na Polônia, filho do jornalista Abraham Goldberg e Anna Rozanska, de uma família rica, escultora e mulher emancipada, uma das primeiras a ter carteira de motorista no país. Ele era um dos três filhos. O nome Borejsza fora adotado pela família para escapar do recrutamento pelo exército czarista, e mais tarde usado por parentes como pseudônimo em aventuras literárias. Em 1909, Abraham e Anna se separaram e Benjamin e sua irmã passaram a viver com seu pai. Em 1914, Benjamin foi à escola judaica e em 1918 juntou-se ao Hashomer Hatzair (Jovens Escoteiros) antes de aderir ao Escoteiros Livres, uma associação de escoteiros de esquerda, em 1924. Tornou-se seu secretário durante o 3º Congresso, em agosto daquele ano. À essa época, a organização mudou de nome para Associação dos Pioneiros, e Goldberg estava envolvido na edição de seu jornal, o Pioneiro. O Congresso foi invadido pela polícia e ele foi preso. Aparentemente, seu irmão mais novo Jozef[2] fracassou em completar seus estudos e em 1924 fugiu para a Alemanha. Mas foi preso na fronteira com uma mala cheia de jornais anarco-comunistas ilegais, e teve de cumprir seis meses na prisão. Benjamin havia inicialmente simpatizado com a esquerda radical do sionismo, mas durante o colegial acabou se aproximando dos ideais anarco-comunistas.
Após a prisão, o pai de Benjamin enviou-o à França, sob o pretexto de que sua saúde precisava de cuidados. Mas a verdade é que Benjamin estava começando a se interessar pelas ideias anarquistas e seu pai queria cortar essas influências. Ocorreu o inverso. Benjamin estudou engenharia civil em Toulouse e entrou em contato com os anarquistas de lá. Era também muito fácil visitar a Espanha a partir de Toulouse, e ele viajou várias vezes, conhecendo Buenaventura Durruti[3], entre outros.
Benjamin mudou-se para Paris, onde cursou estudos hispânicos na Sorbonne e tornou-se uma figura de destaque no movimento anarquista local. Em 1925, trabalhou para o Burô Anarquista Internacional (trata-se provavelmente da CIDA, Comitê Internacional de Defesa Anarquista, animado por Severin Ferandel) sob o pseudônimo de Maxime Ranko. Estava em contato com a Federação Anarquista Polonesa (FAP) e desde 1923 organizava a publicação de seus materiais e panfletos em Paris. A partir de março de 1925, editou para eles um jornal chamado Najmita, que era contrabandeado na Polônia. Por isso, a partir de junho de 1925 as autoridades polonesas passaram a ameaçar aqueles que o distribuíssem com seis anos de prisão, já que o jornal defendia, entre outras coisas, a violência contra o Estado polonês.
Ranko escreveu para a Dielo Truda (“Causa Operária”), revista fundada por [Néstor] Makhnó[4] e [Petr] Arshínov[5]. No 10º aniversário da Revolução Russa, publicou nela um artigo defendendo que os anarquistas precisavam ser tão eficientes quanto os bolcheviques… Ranko protestou contra o “anarcossexualismo” dos anarquistas individualistas, condenou o “balaio de gatos” que era o anarquismo desorganizado na União Anarquista[6] e nas páginas do jornal francês Le Libertaire[7]. Foi um dos autores da “Plataforma Organizacional dos Comunistas Libertários” em 1926, embora aparentemente não tenha assinado-a com seu nome verdadeiro.
Pouco tempo depois, em novembro de 1926, Aniela Wolberg mudou-se para Paris e começou uma relação com Ranko. Ambos participaram do encontro internacional de 20 de março de 1927 para discutir a Plataforma e a organização internacional que ocorreu no cinema de Hay les Roses, onde também estiveram presentes [Isaak Gurfinkiel, vulgo Jan] Walecki[8], [Severin] Férandel[9], [Giuseppe] Bifolchi[10], [Luigi] Fabbri[11], Chen (cujo verdadeiro nome é Wu Ke Kang)[12], Arshinov e Makhno.
Ranko participara do encontro internacional anterior em Paris no dia 12 de fevereiro. Com Makhno, ele era o mais entusiástico pela criação imediata de um Burô Internacional, ainda que a maior parte dos participantes não estivessem animados. De toda forma, ele, Makhno e Chen defenderam uma comissão executiva para montar uma Internacional. O encontro em Hay les Roses foi destruído por uma batida policial, e todos foram presos. Mesmo assim, a comissão executiva deu como fato consumado que todos haviam concordado quanto à criação de uma internacional comunista libertária, o que acabou afastando muitos de seus participantes, especialmente os italianos, que se dissociaram dela.
Em 1927, Ranko/Golberg voltou à Polônia, provavelmente em decorrência das dificuldades enfrentadas após a prisão. Ele foi convocado para o Exército Polonês. Entrou no Partido Comunista Polonês (PCP) em 1929, e envolveu-se intensamente em atividades de propaganda e agitação, pelas quais foi condenado a várias penas entre 1933-35. Com o início da guerra em 1939, ele fugiu para a União Soviética. Lá, foi diretor do Ossolineum, o Instituto Nacional da Polônia para pesquisa histórica e literária em Lvov. Tornou-se um apoiador público da URSS. Entre 1942-43, serviu como voluntário no Exército Vermelho. Foi então transferido, à revelia, para trabalhar em Moscou, onde foi um dos organizadores da União de Patriotas Poloneses, uma organização criada por Stálin para preparar a tomada da Polônia pelos comunistas. A partir de 1944, passou a ser membro do Partido dos Trabalhadores da Polônia (o Partido Comunista recém-refundado), que logo voltaria a ser o Partido Comunista.
Foi o principal arquiteto do controle da cultura polonesa pela União Soviética, inclusive no campo da censura, apesar de, no longo prazo, sua atitude favorável aos intelectuais poloneses ter rendido sua desaprovação pela linha dura stalinista, que o via como independente demais, insuficientemente radical, e muito difícil de influenciar.
Após uma misteriosa batida de carro em 1949, ele ficou debilitado. Somado a várias doenças, incluindo câncer de estômago, isso o colocou completamente fora de circulação, mesmo ainda sendo relativamente jovem. Morreu em 1952 e foi enterrado em Varsóvia.
Referências
Skirda, A. Facing the enemy.
Sonn, Richard David. Sex, Violence, and the Avant-Garde: Anarchism in Interwar France.
<http://pl.wikipedia.org/wiki/Jerzy_Borejsza>
<http://militants-anarchistes.info/spip.php?article6332&lang=fr>
Notas da tradução
[1] O massacre de Katyn (em polonês: zbrodnia katyńska, “o crime de Katyń”; em russo: Катынский расстрел / Katynskij rasstrel, “fuzilamento de Katyn”) foi uma série de execuções em massa de cidadãos poloneses levada a cabo pelo Comissariado do Povo para Assuntos Internos da União Soviética (Народный комиссариат внутренних дел / Narodnyi Komissariat Vnutrennikh Del, ou abreviadamente, НКВД / NKVD) em abril e maio de 1940. Apesar de os fuzilamentos terem ocorrido em vários locais diferentes, o massacre leva o nome da floresta de Katyn, onde foram descobertas pela primeira vez algumas das valas comuns. O massacre foi incitado pela proposta do chefe do NKVD, Lavrentiy Beria, de executar todos os oficiais poloneses capturados, proposta esta datada de 5 de março de 1940 e aprovada pelo Politburo do Partido Comunista da União Soviética, inclusive pelo seu líder, Josef Stálin. O número de vítimas é estimado em cerca de 22 mil, executadas na floresta de Katyn, nas prisões de Kalinin e Kharkiv e noutros lugares. Do total de mortos, cerca de 8 mil eram oficiais aprisionados durante a invasão soviética da Polônia, em 1939, outros 6 mil eram oficiais de polícia, e os demais eram membros da intelectualidade polonesa que os soviéticos consideravam como “agentes da inteligência, policiais, terratenentes, sabotadores, donos de fábrica, advogados, funcionários públicos e padres”. O governo da Alemanha nazista anunciou a descoberta de valas comuns na floresta de Katyn em 1943. Quando o governo polonês no exílio, sediado em Londres, solicitou uma investigação pelo Comitê Internacional da Cruz Vermelha, Stálin imediatamente rompeu relações diplomáticas com ele. A URSS alegou que as vítimas haviam sido assassinadas pelos nazistas em 1941 e continuou a negar qualquer responsabilidade pelos massacres até 1990, quando reconheceu oficialmente e condenou os assassinatos cometidos pelo NKVD, assim como seu subsequente ocultamento pelo governo soviético.
[2] Josef Goldberg, posteriormente conhecido como Józef Różański (13 jul. 1907 – 21 ago. 1981), deu voltas ainda mais bruscas que seu irmão Benjamin/Jerzy. Filiou-se mais tarde ao Partido Comunista da Polônia e, após a incorporação do país pela URSS durante a Segunda Guerra Mundial, passou a integrar o NKVD. Como membro do aparato repressivo, adotou o nome de Różański e passou a atuar como interrogador, tendo torturado dezenas de opositores políticos, tanto militantes anticomunistas (dentre os quais, os Soldados malditos, guerrilha nacionalista de resistência à ocupação soviética) quanto comunistas dissidentes. Tornou-se coronel do exército soviético e Ministro de Segurança Pública da Polônia. Com o fim do período stalinista, em 1955 foi condenado à cinco anos de prisão pelo envolvimento nas torturas e assassinatos; teve o caso reaberto e, em 1957, sua pena passou à quinze anos. Terminou liberado em 1964 e morreu de câncer em 1981.
[3] José Buenaventura Durruti Dumange, mais conhecido como Buenaventura Durruti (14 jul. 1896 – 20 nov. 1936), foi um militante anarquista envolvido com a Confederação Nacional do Trabalho (CNT), com a Federação Anarquista Ibérica (FAI) e com outras organizações anarquistas durante o período anterior à guerra civil espanhola e durante a própria guerra civil. Durruti desempenhou papel muito influente durante a revolução espanhola e é lembrado como heroi pelo movimento anarquista.
[4] Néstor Ivânovich Makhnó (em ucraniano: Нестор Іванович Махно; 7 nov. 1888 – 6 jul. 1934) foi um revolucionário anarquista ucraniano e comandante de um exército anarquista independente na Ucrânia durante a guerra civil russa de 1917-1922. Enquanto comandante do Exército Revolucionário Insurgente, frequentemente citado como maknovshchina, Makhnó liderou uma campanha de guerrilha durante a guerra civil contra todas as facções que buscavam impor qualquer autoridade externa sobre a Ucrânia meridional, dando combate, sucessivamente, aos nacionalistas ucranianos, à ocupação alemã e austro-húngara, ao hetmanado (em ucraniano: Гетьманат), ao exército branco russo, ao exército vermelho russo e a outras forças menores lideradas por otamãs (em ucraniano: Отаман) ucranianos. Makhnó e seu movimento tentaram repetidamente reorganizar a vida na região de Huliáipole de acordo com princípios anarquistas; no entanto, as rupturas causadas pela guerra civil impediram qualquer experimento social duradouro. Apesar de Makhnó ter considerado os bolcheviques como uma ameaça ao desenvolvimento de um território livre anarquista dentro da Ucrânia, por duas vezes ele formou alianças militares com eles para derrotar o exército branco. Nos momentos posteriores da derrota do exército branco na região, em novembro de 1920, os bolcheviques iniciaram uma campanha militar contra Makhnó, que escapou através da fronteira romena em agosto de 1921. Depois de uma série de prisões e fugas, Makhnó finalmente se estabeleceu em Paris com sua esposa Halyna e sua filha Yelena. No exílio, Makhnó escreveu suas memórias em três volume, e morreu aos 45 anos de problemas relacionados à tuberculose.
[5] Petr Andrêievich Arshínov (em russo: Пётр Андре́евич Арши́нов; 1886–1937) foi um metalúrgico de Katerynoslav que filiou-se ao partido bolchevique em 1904 e começou a editar o jornal Molot (em russo: Mолот, “martelo”), passando para o anarquismo em 1906. Em 7 de março de 1907 matou o chefe das oficinas ferroviárias de Alexandrovska; preso em 9 de março de 1907, foi condenado à morte por um tribunal militar, mas fugiu com outros prisioneiros em 22 de abril durante a missa pascoal, refugiando-se na França. Retornou à Rússia em 1909 e foi pego contrabandeando armas da Áustria; foi condenado a 20 anos de prisão em Moscou, onde conheceu Néstor Makhnó. Ambos foram libertados nos primeiros dias da revolução russa, e em 1919 Arshínov uniu-se a Makhnó e envolveu-se no trabalho cultural e educativo na área controlada pelo exército revolucionário insurgente da Ucrânia. Foi também líder da confederação anarquista ucraniana Nabat (Набат, “rebate” ou “toque de alarme”) e editou o jornal Voz Anarquista (Голос Анархиста, Golos Anarkhista). Emigrou da Ucrânia em 1921, a tempo de participar do grupo Dielo Truda (em russo: Дело Труда, “Causa Operária”) com Makhnó. Ele foi um dos autores da Plataforma Organizativa da União Geral dos Anarquistas. Durante sua estadia em Berlim editou o jornal Anarkhicheskii vestni (em russo: Анархический вестник, “Arauto anarquista”). Filiou-se ao Partido Comunista da União Soviética depois de retornar à URSS em 1930, mas Arshínov era um alvo óbvio para as Grandes Purgas e, subsequentemente, desapareceu, provavelmente executado, por volta de 1937.
[6] Criada no final de 1920 na França como movimento fortemente hostil aos bolcheviques. Mudou de nome para União Anarquista Comunista em 1926 e para União Anarquista Comunista Revolucionária em 1927. Em 1934, para combater o fascismo, algumas organizações anarquistas se reuniram em Paris e decidiram retomar o nome original da organização. Em 1934, uma cisão de membros da União Anarquista criou uma Federação Comunista Libertária. A União Anarquista foi extinta em 1939.
[7] Le Libertaire foi o título empregue por diferentes jornais, vinculados a diferentes grupos anarquistas, nos seguintes períodos: 1858-1861, sob responsabilidade de exilados franceses em Nova Iorque liderados por Joseph Déjacque; em 1892, em Argel, sob responsabilidade do anarquista francês Jean Faure; 1893-1894, em Bruxelas, sob responsabilidade de Henri Willems (administração) e Charles Herkelboeck (impressão); 1895-1914, na França, sob responsabilidade de Sébastien Faure, com circulação interrompida pelo advento da Primeira Guerra Mundial em 1914, retomada brevemente em 1917 e reiniciada, desta vez de modo ininterrupto, entre 1919 e 1939; 1944-1956, sob responsabilidade da Federação Anarquista francesa, que encerrou sua publicação num contexto de grande polêmica interna e cisões.
[8] Isaak Gurfinkiel, conhecido como Jean Walecki, nasceu em Varsóvia em 15 de maio de 1905. Mudou-se para Paris em 1923, sendo ativo entre os emigrados anarquistas poloneses e na redação da revista Dielo Truda (em russo: Дело Труда, “Causa Operária”). Trabalhou como tipógrafo num jornal de língua russa enquanto estudava Letras. Na reunião no cinema Les Roses onde foi redigida a proposta inicial da Plataforma Organizativa da União Geral dos Anarquistas, foi, notadamente, o intérprete de Néstor Makhnó. Não foi possível localizar qualquer outra informação a seu respeito.
[9] Séverin Férandel (1896-1978) nasceu em Autrecourt, na França, e começou a militar ainda muito jovem na região de Alés (Gard), onde participou de conferências do mineiro Emile Soustelle em meio aos trabalhadores espanhois dos centros de mineração. No início dos anos 1920 colaborou no jornal Le Fouet (“O Chicote”), de Montpellier, fundado por Vaillant e que parou de circular depois da prisão de seus principais colaboradores na sequência de uma manifestação contra a guerra em Béziers. Militante sério, bom orador, fluente em francês, inglês, alemão e espanhol, foi intérprete numa agência de viagens antes de vir a Paris em 1922, onde seguiu o curso da Escola de Propagandistas dirigida por A. Colomer sob o controle da União Anarquista. Participou das equipes editoriais de várias publicações como a trilíngue La Revue Internationale Anarchiste (“A Revista Internacional Anarquista”,1922-1925), o Bolletino del Comitato Internazionale di Difesa Anarchica (“Boletim do Comitê Internacional de Defesa Anarquista”, 1927), La Lotta Umana (“A Luta Humana”, 1927-1929) e Primo Maggio (“Primeiro de Maio”, 1928), e de livrarias como a Librairie Sociale Internationale (1926-1927). Na cisão da União Anarquista Comunista (UAC) em 1926, Férandel permaneceu na UAC, sendo um defensor ardente desta nova organização e de sua sucessora, a União Anarquista Comunista Revolucionária (UACR). Férandel também foi tesoureiro do Comitê Internacional de Defesa Anarquista (CIDA) constituído em 1926 em favor dos anarquistas espanhois Ascaso, Durruti e Jover, aprisionados na França por “conspiração contra o rei da Espanha” e cuja extradição a Argentina solicitava. Mais de 200 militantes anarquistas espanhois refugiados na França eram à época objeto de ameaça de expulsão pelas mesmas razões; o CIDA participou também de maneira bastante ativa da campanha em favor de Sacco e Vanzetti, e publicou a brochura Comme au temps des Tsars : l’exil et la prison, parfois la mort contre les meilleurs révolutionnaires(“Como no tempo dos czares: exílio, prisão e morte contra os militantes revolucionários”), de 46 páginas, consagrada à repressão na URSS e que continha não somente uma lista dos campos de prisioneiros como também casos particulares de 37 militantes deportados na União Soviética. Partiu para o México em 1929, onde aderiu ao sindicato dos sapateiros e de onde, à distância, colaborou com os anarquistas durante a guerra civil espanhola e com a resistência francesa. Apesar de já haver abandonado as atividades militantes depois de 1945, manteve correspondência com muitos de seus antigos companheiros; casado com uma mexicana desde 1931 e com dois filhos (além da primeira, Gisèle Ferandel, nascida em 1918), permaneceu no México até sua morte, em 1978.
[10] Giuseppe Bifolchi Viola (1895-1978), anarquista italiano, refugiou-se na França nos anos 1920, filiando-se desde cedo à União Anarquista (UA). Trabalhou como operário da construção civil, participou das equipes editoriais de várias publicações anarquistas como Le Libertaire (“O Libertário”, 1923-1925), L’Agitazione (“A Agitação”, 1924) e La Revue Internationale Anarchiste (“A Revista Internacional Anarquista”, 1924-1925), e integrou o Comitê Internacional de Defesa Anarquista (CIDA). Expulso da França em 1927, estabeleceu-se na Bélgica, onde, entre 1929 e 1931, foi diretor da revista mensal anarquista Bandiera Nera (“Bandeira Negra”, 1929-1931) e continuou representando a Itália no CIDA. Integrou a seção italiana da coluna Ascaso durante a guerra civil espanhola, na qual participou da conquista do monte Pelato; já na coluna Rosselli, foi encarregado dos assuntos militares, enquanto Carlo Rosselli cuidava dos assuntos políticos. Em maio de 1937 integrou a seção italiana do Comitê de Defesa da CNT, e, com o fim da guerra civil espanhola, viveu seguidas expulsões da França e da Espanha até ser extraditado para a Itália, em 1940. Aparentemente, perdeu-se seu rastro, até que chegaram notícias, já nos anos 1970, de estar vivendo nos Estados Unidos; terminou seus dias na Itália, em Avezzano, em 1978.
[11] Luigi Fabbri (1877–1935) foi um anarquista italiano, escritor, agitador e propagandista acusado de derrotismo durante a Primeira Guerra Mundial. Nascido em Fabriano (Ancon), Fabbri foi preso pela primeira vez por atividades anarquistas aos 16 anos, e intercalou em sua vida longos períodos de prisão com outros de liberdade. Foi por muito tempo um contribuinte prolífico para a imprensa anarquista europeia e, mais tarde, para a latinoamericana, incluindo neste trabalho a coedição, com Errico Malatesta, do jornal L’Agitazione (“A Agitação”). Ajudou também a editar o jornal Università Popolare (“Universidade Popular”) em Milão. Fabbri foi delegado ao Congresso Anarquista Internacional de Milão em 1907. Morreu em Montevidéu, Uruguai, em 1935.
[12] Wu Zhigang, ou Wu Ke Kang (吴志刚), também conhecido como Wu Yang Hao (吴楊浩) ou Jun Yi (均一), foi um membro do círculo anarquista chinês em Paris. Pouco se sabe dele além de que estudava ciências econômicas na Sorbonne nos anos 1920, que era um tradutor das obras de Emma Goldman para o francês e para o chinês, e que ensinou na escola secundária de Laoda em 1928.
Traduzida do original no Libcom pelo Passa Palavra, esta biografia integra o esforço de traduções de 100 anos da Revolução Russa (confira aqui o chamado e a lista completa de obras).