Por Carolina Catini e Renan Oliveira

Fomos conversar com trabalhadores e trabalhadoras, moradoras do extremo sul de São Paulo, depois de sair o resultado eleitoral para a presidência da república e governador. Este último mal foi lembrado nas conversas, enquanto que as comemorações durante a apuração fizeram o nome do novo presidente ecoar fervorosamente dos botecos e ruas, acompanhado por fogos de artifício. A euforia antecipou nossos planos e registramos o primeiro depoimento ainda na noite de domingo de 28 de outubro. Todos as outras conversas foram feitas no dia seguinte ao segundo turno em alguns bairros do Grajaú.

Uma síntese das longas conversas pode ser vista na edição amadora de um vídeo feito sem captação de áudio nas imediações da barulhenta avenida Belmira Marin. O que nos importa é ter mais elementos para compreender o nosso tempo.

Um alerta: não se trata de uma investigação e ninguém serviu como como fonte para um objeto de estudo. Moradores e moradoras falaram com base em sua história, medo, angústia, desemprego, ódio. Assim, não há metodologia, nem estatísticas, nem análises. Apenas perguntamos o que esperam dos próximos tempos, o que acharam das eleições. Os resultados só podem ser coletivos, fruto da reflexão e da construção de alternativas práticas.

Passados seis meses de posse do governo Bolsonaro os autores do vídeo voltaram a conversar com trabalhadores e trabalhadoras do Grajaú. Veja aqui o segundo vídeo, “Apesar do fim”.

2 COMENTÁRIOS

  1. ainda que a maioria das inovações culturais e mercadológicas cheguem antes no Brasil que na Argentina, reparo aqui no detalhe da história uma pequena reversão de sentido.
    Na Argentina em 2015 uma enorme parte da população eleitora votou pela “mudança” (Cambiemos é o nome da plataforma macrista). Hoje boa parte destas pessoas considera Macri um imbecil, fato é que muita pouca gente algum dia o considerou genial. O fator rejeição à esquerda deve ser entendido em sua particularidade, em paralelo à radicalização à direita. Os bolsonaristas são barulhentos, exaltados – “meu nome é Eneias” – é possível que superestimemos o coro, pessoal pode ir parando de cantar aos poucos e vai sobrando só os fanáticos. Tomara…

  2. Achei super importante a iniciativa de realização desse vídeo pois creio que se permanecermos produzindo uma representação do bolsonarismo que passe apenas por manipulação política via fake news e PIGS, interesses dos grandes capitais e seus processos de centralização (na compra dos ativos nacionais), diante das quais a população trabalhadora moradora das quebradas de São Paulo seja compreendida como puro objeto dos interesses das chamadas classes dominantes, seremos incapazes de perceber os agenciamentos contraditórios que essa população tem movido diante do recrudescimento de suas condições de vida impostas pelo colapso da sociedade do trabalho que se escancarou e só não olha quem não quer. Em outras palavras, não compreenderemos a adesão popular ao bolsonarismo sem entender o que se tornou a classe trabalhadora num contexto de crise da sua forma de inserção no capitalismo. E é precisamente por conta dessa novidade histórica que devemos ter cautela em qualificar o que estamos testemunhando como fascismo. E esse vídeo é uma ótima oportunidade para começarmos a tatear isso. Valeu Carol e Renan!

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