Por Alfredo Lima
Era de se esperar o resultado desse dia 28 de outubro. Não foi por falta de aviso. O neobonapartismo que representa a figura do nosso futuro presidente Jair Bolsonaro representa, por mais difícil que seja de admitir, a contradição inerente da democracia tal como a conhecemos. Se ele representa o fascismo, é um debate; se os seus eleitores são proto-fascistas, já é outro. Trataremos deste segundo.
Tal como procederam alguns regimes fascistas, tivemos:
1) Histórico de crises econômicas, sobretudo gestões que não deram conta de reformar as políticas de estado burguês que atendessem demandas econômicas da população, por mais histérica que esta estivesse. A Alemanha nazista, por exemplo, colecionava despesas após os tratados posteriores à primeira guerra mundial, que abalaram fortemente a economia.
2) Culto ao pragmatismo: política, sabemos, não é coisa fácil; tirando os cabos eleitorais dogmáticos, com dificuldade você encontra alguém que esteja contente com o cenário político.
O fascismo promete soluções pragmáticas para problemas complexos. Não confundir com soluções, a população sabe que não tem solução, mas já que “essa corrupção toda ai não vai acabar”, minimamente esse messias pode resolver algumas coisas simples que lhe cabem. Os capitalistas roubam de mim todo dia, mas pivete roubando com arma na cabeça aí já é esculacho!
3) Patriotismo: falamos de um tipo discursivo, no campo das ideias. Aí cabe o debate se Bolsonaro representa ou não o fascismo, já que o argumento de muitos é que o fato do mesmo ter saudado a bandeira dos EUA e ter políticas entreguistas descaracteriza seu nacionalismo para no mínimo, um ultraliberalismo. Talvez se este argumento for o mais correto podemos assimilá-lo a um neobonapartismo à brasileira, que conta com o apoio de um setor específico da burguesia dominante. Mas como não estamos centrando esse texto no Bolsonaro, mas sim em seus eleitores, cabe reconhecer como tem crescido o descontamento de populares com as políticas de aproximação com governos ditos “comunistas” como Cuba e Venezuela. Esse longo debate se estes países são ou não comunistas não nos interessará imediatamente, mas interessa sim entendermos como foi construído um discurso de que os gestores do governo petista prometeram auxílio aos países vizinhos quando este nem conseguia andar naturalmente com as próprias pernas. Riqueza nós temos, isso sem dúvida, o que não temos é partilhamento dos bens que produzimos enquanto classe. Podemos então identificar como o brasileiro passou a demonizar esse latinoamericano que vinha para o Brasil roubar-lhe sua oportunidade de emprego, como mexicanos supostamente o fazem no país ianque.
Além dessas circunstâncias podemos citar um avanço do conservadorismo como alternativa revolucionária à social democracia dominante.
O PT com sua linda história de luta não soube conciliar seu papel na classe dominante com seu compromisso com a grande massa que o elegeu – os trabalhadores. Nesse cenário ressurgem os lobos em pele de cordeiro como o “Batman do Leblon” que, nas manifestações de 2013, ficou popular ao aparecer em protestos denunciando a presidente Dilma Rousseff ao lado do povão que estava desconte com tudo e todos. Essa grande massa precisava ser ouvida.
Desmascarado seu ente maligno, a esquerda burocrata, aliada de Cabral, Pezão e Paes, converteu-se em contra-revolução democrática assumindo seu papel de classe gestora nos sindicatos, dissolvendo greves. No parlamento, montando bancada partilhada com o agronegócio e parte do Centrão; e não menos importante, na segurança pública, reprimindo as manifestações populares com a lei antiterrorismo.
A esquerda se reinventou como um ente autônomo dissociado da sua raiz de ser, a imensa classe que a compunha. Daí greves de caminhoneiros autônomos serem reduzidas a locaute. A esquerda cai por terra para o endireitamento capitalista.
Com todos estes fatores expostos, é imprescindível para conclusão deste artigo apontar para uma perspectiva para além do voto crítico, para além da defesa míope desse modelo de democracia. O novo despertar da consciência de classe será o fator que empoderará o antigo público alvo do PT enquanto classe. Essa mesma classe há de despertar um novo modo de produção que perpasse esse modelo falecido de democracia. A crise da representatividade voltará a eleger e impugnar a representação do povo constantemente. Mas como nos diz Belchior, “eles venceram e o sinal está fechado pra nós que somos jovens”. O resultado desse dia 28/10 chegou e não foi por falta de aviso. Agora ele avisa: “levanta a cabeça, camarada, há muita resistência por aí”.