Por Passa Palavra
Na noite do dia 12 de janeiro, o camarada Cesare Battisti foi preso na Bolívia, onde aguardava resposta ao pedido de asilo que fez ao governo boliviano no dia 18 de dezembro, tentando escapar de uma perseguição política que atravessou gerações e que é apenas uma demonstração de tudo que pode ser voltado contra nós a qualquer momento, desde que estejamos dispostos a lutar por uma sociedade sem exploração e opressão política.
Battisti, que é apresentado pela imprensa capitalista como “terrorista” e “assassino”, nada mais fez que lutar, durante toda sua trajetória de militante político e escritor, contra os abusos e as injustiças daqueles que detêm o poder e o controle dos meios de produção. É por isso que aqueles que nada mais fazem que defender os interesses dos poderosos e daqueles que nos exploram o perseguem tão implacavelmente.
Não é de surpreender que a vitória de Jair Bolsonaro nas eleições deste ano colocasse Battisti numa situação complicada, nem de surpreender que o governo neofascista da Itália esteja ávido para colocar as mãos num companheiro que sempre lutou pela própria liberdade e pela liberdade de criticar e combater a opressão e a exploração. Mas a decisão do governo do presidente Evo Morales, que se autointitula “socialista”, de mandá-lo para os braços da extrema-direita italiana, com o aval da extrema-direita brasileira, não deixa de ser, de certa forma, surpreendente.
Isso nos mostra o quanto estamos, mais do que nunca, com cada vez menos aliados e mais inimigos. E que precisamos lutar, mais do que nunca, para nos reorganizar e combater o neofascismo em ascensão. Devemos ainda prestar toda solidariedade possível ao camarada Battisti e defendê-lo contra mais essa violação de direitos fundamentais e contra mais esse ataque contra a luta anticapitalista. Isso deve ser feito por meio de esclarecimentos, demonstrando o quanto a condenação de Battisti foi injusta e por que ele é vítima de uma perseguição política, e também pressionando aqueles que insistem em encarcerá-lo pela sua libertação. Defender Battisti é defender nosso direito de lutar.
Contem comigo. Contem conosco.
Tão revoltante quanto a postura do Evo Morales de negar asilo político ao Battisti, de ter negociado sua entrega quando esteve no Brasil para a posse do Bolsonaro (segundo disseram bolivianos críticos à essa decisão), é o silêncio de uma parcela enorme daqueles que se dizem de esquerda e a postura canalha de sites que vivem de bajular o PT e seus caciques, como o Brasil247, que teve a desfaçatez de comemorar o fato de Battisti ter seguido para a Itália sem passar pelo Brasil, o que teria representado uma “derrota a Bolsonaro”.
É evidente que o Bolsonaro e sua trupe estavam sedentos para exibir o camarada Battisti, mas não consigo ver motivo algum para se comemorar qualquer coisa relacionada à sua prisão e entrega à extrema direita italiana.
Eu? Sou proletário!
Questão de ordem…
“Mas a decisão do governo do presidente Evo Morales, que se autointitula “socialista”, de mandá-lo para os braços da extrema-direita italiana, com o aval da extrema-direita brasileira, não deixa de ser, de certa forma, surpreendente.
Isso nos mostra o quanto estamos, mais do que nunca, com cada vez menos aliados e mais inimigos.”
Evo Morales foi nosso aliado? E quais seriam os outros aliados a menos com que contávamos? Lula? Tarso Genro? Dilma Rousseff?
E Cesare Battisti, é nosso aliado? Por que?
Eu sou proletário!
Há uma imprecisão, para usar um eufemismo no artigo.
Daqui a alguns anos quem for utilizá-lo como fonte vai achar que foi o governo Jair Bolsonaro que decretou a extradição de Cesare Battisti do Brasil.
Como sabemos muito bem, pois são fatos do mês passado, foi a presidente Michel Temer (com os vassalos do STF – Fux declarou que liberou a extradição a pedido de Temer).
Se foi “surpreendente” Evo Morales entregar Cesare Battisti a um governo de extrema-direita passando por cima de resoluções internacionais e da sua próprio legislação (eu particularmente não cheguei a me surpreender), não foi nada surpreendente Michel Temer extraditar Cesare Battisti.
Sabido era que, com a derrubada de Dilma Roussef,f era líquido e certo que Cesare Battisti seria extraditado. Mesmo no governo Lula essa conquista já foi frágil pelo cabo de guerra que a direita fez através de Ministros do STF. Se até na França com a mudança de um governo de centro-esquerda para a direita Cesare virou moeda de troca, imagina no Brasil.
Qualquer militante que se preze sabe que a derrubada do governo do PT (e digo derrubada e impedimento, não derrota eleitoral), levaria à extradição de Cesare ser uma questão de tempo. Ele muito bem sabia, pois tentou provavelmente fugir anteriormente para a Bolívia. Se a sanha da direita para extraditar Cesare já era tanta em pleno governo Lula, que quase impediu que Cesare ficasse no país mesmo com o governo brasileiro querendo, imagine com o próprio presidente que deu refúgio político a ele tornado preso político…
Ser solidário com Cesare Battisti, assim como lutar contra a PEC 241, era lutar também contra o golpe em 2016. Essa dissociação entre uma coisa e outra que o Passa Palavra fez e faz, entre a institucionalidade e a vida concreta das pessoas, inclusive dos companheiros perseguidos, é possível que tenha resultado no lapso que comentei no início, de trocar Temer por Bolsonaro.
O antipetismo no Brasil decretou a extradição de Cesare Battisti.
Esqueçam Evo, hoje ele só pensa em se manter no poder.
Pra mim não pertence mais ao grupo de esquerda em que podemos confiar na Latinoamerica.
Proletário, o que significa “aliado” para você?! Battisti, a está altura, nada pode fazer por ninguém. Minto. Pode e tem feito. Foi um revolucionário proletário (assim como você, imagino), jamais atuou judicialmente como “arrependido”, nunca negou nem difamou as lutas proletárias de seu tempo e atuais, escreveu livros denunciando o neofascismo italiano, entre outras coisas, tudo isso sofrendo processos fraudulentos, prisões e perseguições durante 4 décadas. Desejo que você jamais passe por tudo isso, por ser um proletário em luta como você diz que é. Desejo ainda mais que, caso isto ocorra, nenhum proletário lhe vire as costas. Se você é proletário mesmo, deveria saber o significado da palavra SOLIDARIEDADE…
Obs: Aproveito para fazer um mea culpa em virtude do, como sempre, consistente e relevante comentário de Léo Vinícius. Critiquei muito o Lula, critiquei muito a Dilma, critiquei até o Haddad, veja você, então a culpa da extradição do Battisti é minha, eu confesso.
Leo Vinicius,
Eu acho que para você isto talvez seja irresistível, mas não precisa fazer de toda e qualquer ocasião uma oportunidade para defender a tese do “golpe de 2016” e para defender o projeto de poder dos burocratas petistas.
O momento agora é para prestar solidariedade ao camarada preso, independentemente do motivo que cada um escolhe para fazê-lo.
Como Leo Vinícius não diferencia o antipetismo dos anticapitalistas do antipetismo da direita, cheguei à conclusão de que – depois de anos participando de iniciativas em solidariedade a Battisti – faço parte dos que decretou a sua extradição e não o vice da Dilma.
Depois de desmascarada cabalmente pelo texto do Manolo, se tenta ressuscitar a ideologia do “golpe parlamentar-judiciário-midiático” até na questão de Battisti !!!
Ultrapassando essa lamentável página, talvez seja o caso de conectar iniciativas de solidariedade no Brasil com as da Europa.
Proletário Forever: Battisti não é aliado. É irmão de classe de qualquer proletário com consciência anticapitalista enquanto não fizer autocrítica de sua luta nos PAC, renegando-a em favor da democracia. Se ele morrer sem esse “arrependimento”, será um proletário para sempre.
“Diga-me com quem andas e dir-te-ei [que língua, a nossa!] quem és. Pois é: Judas andava com Cristo. Cristo andava com Judas.
Millôr Fernandes.”
Temer andava com Dilma. Dilma andava com Temer (Alencar… e Odebrecht, e Batistas, e etc, andavam com Lula. Lula andava com Alencar… e Odebrecht, e Batistas, e etc….).
Dilma sancionou a lei antiterror… Temer aplicou a lei antiterror…
Zé, interessante e profunda sua intervenção… “É irmão de classe de qualquer proletário com consciência anticapitalista enquanto não fizer autocrítica de sua luta nos PAC, renegando-a em favor da democracia. Se ele morrer sem esse “arrependimento”, será um proletário para sempre.” Mas, como conheço muito superficialmente a história de Battisti, faço uma outra pergunta, não em relação à sua figura em particular, mas em relação ao plano ideológico em que grande parte das informações o inserem: Se os fascismos nasceram a partir de elementos tanto da extrema direita, quanto da extrema esquerda, isso se não interpretei equivocadamente o João Bernardo, não poderíamos estar dando margem a esta conjunção de forças antagônicas num mesmo campo?
E, além disso, continuei sem saber quem são os “aliados” que estão nos abandonando… A bem da verdade mesmo, fico sem saber quem somos nós… Principalmente supondo, conforme se pode depreender do texto, que Evo Morales foi um dos “aliados” que perdemos… Enfim, quem somos nós?
Sou Proletário!
PS: Se possível, acho que seria interessante aprofundar um pouco mais a história, a militância teórica e prática de Cesare Battisti, no Brasil e no mundo, pois na internet são poucas as informações confiáveis neste sentido.
Existe um falso problema nesta discussão. O texto não está sugerindo que o Evo Morales e os ditos governantes “progressistas” ou “de esquerda” da América Latina são aliados na luta anticapitalista. Mas é inegável que o companheiro Battisti contou com o mínimo de apoio e o amparo do PT e dos governos petistas: o contrário teria sido romper com um conjunto de princípios fundamentais que dão sustentação a qualquer pretensão de se definir e se apresentar como “progressista”, “de esquerda” etc. Havia uma disposição do PT e dos governos petistas no sentido de reconhecer a perseguição a Battisti enquanto perseguição política e para, em nome das garantias individuais previstas no Estado democrático de direito, acolhê-lo e proteger seu direito à liberdade. Ora, em se tratando de um partido que surgiu no contexto de luta pela redemocratização no Brasil não poderia ser de outra forma. Nesse sentido, e isso é algo que não tem absolutamente nada a ver com ter aliados na luta anticapitalista, eles eram sim aliados. E não era pouco razoável nem injustificável pensar que o governo boliviano agiria no mesmo sentido.
Vejam esta notícia, é disto que estamos falando. Aquilo que antes era feito às escuras, no âmbito da operação Condor, agora virou diplomacia aberta…
https://g1-globo-com.cdn.ampproject.org/v/s/g1.globo.com/google/amp/politica/noticia/2019/01/16/brasil-e-argentina-revisarao-tratado-para-acelerar-extradicao-diz-moro.ghtml?amp_js_v=a2&_gsa=1#referrer=https%3A%2F%2Fwww.google.com&_tf=Fonte%3A%20%251%24s&share=https%3A%2F%2Fg1.globo.com%2Fpolitica%2Fnoticia%2F2019%2F01%2F16%2Fbrasil-e-argentina-revisarao-tratado-para-acelerar-extradicao-diz-moro.ghtml
Fagner Henrique,
É óbvio que o momento é de prestar solidariedade a Cesare Battisti.
Assim como por volta de 2016 era momento de prestar solidariedade na prática, em vez de ficar diletando sobre “não está acontecendo nada demais”.
A razão existe para saber quais ações levam aos fins que queremos. E em termos de ações intelectuais, também significa os conceitos que utilizamos para descrever a realidade. Conceitos e modelos servem para se alcançar objetivos, não são meras descrições, mas são formas de agir sobre a realidade.
Zé,
Sinceramente, quem não compreendeu ainda o que é o antipetismo, nunca compreenderá. Quando alguém da esquerda se autodenomina “antipetista” (e atua politicamente como tal), me parece a mesma falsa consciência do proletário que se acha burguês, tão comum na classe média. Falsa consciência que faz agir contra seus próprios interesses, agindo a favor da classe antagônica. Assim tem uma esquerda que acha que não é “petista” como tem uma classe média que não se acha proletária, enquanto as classes capitalistas veem todos globalmente como proletários e, no nosso caso, como “petistas”.
Mas a falsa consciência tem sua função psicológica e dificilmente a razão opera alguma mudança nessas situações.
Interessante a matéria indicada por Irado, onde consta: “O tratado de extradição do Brasil com a Argentina foi assinado em 1961 em Buenos Aires e promulgado em julho 1968”.
Foi assinada, observe-se bem, em 1961 por “Francisco Clementino de San Tiago Dantas” (conforme http://www.justica.gov.br/sua-protecao/cooperacao-internacional/extradicao/arquivos/argentina-extradicao.pdf). Segundo consta na Wikipédia: “Integralista na juventude, San Tiago se tornou um dos líderes da esquerda moderada, chamada de esquerda positiva, nos anos 50 e 60 (…)” e “(…) nomeado embaixador do Brasil nas Organização das Nações Unidas em 1961 pelo então presidente da República Jânio Quadros, todavia não chegou a assumir o cargo pois o presidente renunciou três dias após a nomeação. Entretanto, tornou-se ministro das Relações Exteriores durante o período “parlamentarista” do governo João Goulart, quando o Brasil reatou suas relações diplomáticas com a União Soviética. Com a renúncia do gabinete Tancredo Neves, foi designado presidente do Conselho dos Ministros mas seu nome foi rejeitado pelo Parlamento. Em 1963, com a volta do regime presidencialista, San Tiago Dantas foi indicado por Goulart para a pasta da Fazenda.” (https://pt.wikipedia.org/wiki/San_Tiago_Dantas).
A referida lei de extradição teve origem em 1961, enquanto a lei antiterror foi de 2016…. Em política, o Condor voa, sob a escuridão ou em plena luz do dia, da direita para a esquerda, ou da esquerda para a direita… ontem e hoje…
Sou proletário!
Me disseram uma vez que o misticismo funciona usando analogias porque não consegue entender relações de causa e consequẽncia nem consegue entender diferenças quantitativas ou qualitativas. A analogia entre o apoio a Battisti e o apoio (incondicional?) aos governos do PT, ou à luta contra sua derrubada em 2016, mostra o que acontece quando o misticismo impregna a esquerda.
Leo Vinicius,
A julgar pelo que você escreveu no seu último comentário imagino que você não tenha acompanhado o que se passou no âmbito das lutas sociais no Brasil nas duas últimas décadas, afinal surgiram de lá para cá tantas e mais tantas expressões de esquerda não subordinadas ao PT ou ao modelo petista. Espero eu que continuem surgindo.
Quando comecei a militar num certo movimento social urbano no início desta década que já termina, que foi minha primeira experiência de luta, eu e meus companheiros e companheiras não nos definíamos como e nem éramos de fato petistas, muitos de nós não tinham passado pelo PT nem pelos seus satélites e não atuávamos tendo o PT como modelo. E penso mesmo que muitos de nós provavelmente se definissem àquela altura como antipetistas (será que estávamos “fazendo o jogo” da direita e da extrema-direita e preparando o terreno para o “golpe de 2016”, para o Bolsonaro e tudo mais?). Decerto éramos todos vítimas desse mal da falsa consciência de que você fala. Felizmente penso não ser esse o caso. Isso tudo é muito curioso, porque fazer oposição de esquerda ao PT ou buscar criar alternativas à esquerda do PT talvez fosse para nós uma das verdadeiras expressões de uma consciência de classe autêntica.
Mas, enfim… Sei que você trabalha a partir de uma perspectiva de análise diferente, mas eu pessoalmente prefiro pensar que existiu um passado, existe um presente e poderá existir um futuro à esquerda para além do PT.
Vivenciar a condição operária e/ou se dedicar a estudá-la em profundidade demonstram que os laços de solidariedade construídos no cotidiano fabril e extra fábrica são fundamentais no processo de formação de uma identidade de classe, ou seja, para que pessoas que vivenciam condições comuns de exploração e opressão identifiquem seus interesses em comum e em oposição aos interesses daqueles que as exploram e oprimem.
As formas como esses laços de solidariedade são construídos e se materializam são variados, como por exemplo, quando o trabalhador vê o companheiro sabotando uma máquina e silencia; quando o trabalhador dá cobertura e coopera para que outro simule uma doença e consiga um atestado médico que o permita uma folga do trabalho mesmo que por apenas um dia; quando se organiza uma rifa para auxiliar aquele que passa por necessidades materiais; quando trabalhadores se reúnem num mutirão para realizarem num curto espaço de tempo a capina, o plantio, para bater laje etc.; quando um pequeno grupo se organiza para reivindicar a substituição de um chefe excessivamente autoritário ou quando lhe aplicam uma reprimenda física fora do espaço de trabalho; quando grupos são organizados por fora dos sindicatos para reivindicar melhorias das condições de trabalho, pagamento em atraso, aumento salarial e assim por diante.
As vivências das mesmas condições de exploração e de opressão e as múltiplas estratégias que aqueles que vivem do próprio trabalho desenvolvem para resistir são, portanto, determinantes para a construção de fortes laços de solidariedade que podem resultar em lutas coletivas baseadas em formas inovadoras de organização social e com grande potencial transformador.
Obviamente, nem tudo é camaradagem e solidariedade no meio operário. Sempre há o delator em busca de uma promoção; o funcionário que ora pela saúde do patrão para não lhe faltar emprego; o operário sempre disposto a fazer horas e serviços extras, não apenas para aumentar o parco salário, mas para agradar a chefia; o fura greve que pula o muro para fugir do piquete e poder trabalhar etc. Não raro, o delator e o puxa saco passam a ser vistos com outros olhos, são colocados de lado, tornam-se alvo de piadas… Tampouco, são incomuns os casos em que quebra-se a cara do fura greve para ensinar-lhe a respeitar os laços de solidariedade do grupo e assim por diante.
Por que escrever o que acabei de escrever? Pelo simples motivo de me causar grande estranhamento ver alguém que deduzo ser um militante de esquerda questionar, relativizar ou ironizar os motivos que nos levam a nos solidarizarmos com o camarada Battisti. Estamos falando de um sobrevivente de uma geração que nos anos 1960 e 1970 lutou contra os burgueses, contra os gestores, contra as burocracias sindicais e partidárias, nos países de capitalismo privado e de capitalismo de Estado, e que ousou tentar construir uma sociedade estruturada em relações sociais de tipo novo. Não por acaso ele foi perseguido ao longo de quatro décadas. Seu erro? Ouso dizer que foi confiar na democracia e não ter se tornado há tempos um “Zé da Silva”. Mas ele deve ter tido seus motivos para isso.
Para mim, um anticapitalista deveria sentir-se na obrigação de solidarizar-se prontamente com esse e com qualquer outro camarada anticapitalista, mas como afirmei antes, nem tudo é camaradagem e solidariedade no meio operário, nem todo proletário adere às lutas ao lado de seus companheiros. O que dizer então das “esquerdas? Nem todos os que se autointitulam “de esquerda” colocam em causa os fundamentos da sociedade capitalista. Muito pelo contrário, boa parte da esquerda se acomodou, ajudou a perseguir, perseguiu e persegue os revolucionários. Ao mesmo tempo, outros tantos se dedicaram a efetivar os seus projetos partidários, quando não pessoais, de poder e quando foram bem sucedidos, fizeram e fazem tudo o que foi necessário para se manterem no poder.
“Revolução bolivariana”? Aliados? Em algum país latino americano governado pelos tais progressistas a gestão dos processos de trabalho passou a ser exercida diretamente pelos próprios trabalhadores? Relações sociais de tipo novo foram construídas?
A ação do Morales me causa revolta, mas não chega a surpreender. Muitos destacam que o Lula negou a extradição de Battisti e lhe concedeu refúgio. É um fato. Porém, é bom lembrar que antes disso, o manteve na prisão por 13 meses, ao protelar até o último dia do seu mandato a decisão.
Por fim, recomendo a leitura do seguinte texto do camarada João Bernardo: https://www.ifch.unicamp.br/ojs/index.php/rhs/article/download/285/258
Resumindo, para Leo Vinicius não existe esquerda fora do PT, nem contra o PT. Ser contra o PT é ser de direita. Fico pensando na versão tragédia dessa história, durante a centenária Revolução Alemã, onde surgiu uma esquerda comunista, portanto anti-socialdemocrata e antibolchevique. Pelos requintados (requentados?) manuais de ciência política de LV eram todos de direita: Pannekoek, Gorter, Ruhle, Roland-Holst, etc. De esquerda mesmo era Friedrich Ebert. A verdadeira consciência de classe é a consciência petista-socialdemocrata de LV. Só resta dizer, de qual classe….
Só gostaria de voltar ao tema central – a solidariedade a Battisti. LV poderia tentar arregimentar cabeças e lutar contra o antipetismo em blogs bolsonaristas e nos deixar seguir em paz com o que importa. Que tal?
pois é Irado. Na Itália dos anos ’60 e ’70 também não havia nada na esquerda fora do PCI. Na realidade eram apenas ladrõezinhos e arruaceiros, jovens sem consciência que faziam o jogo da direita, quando não diretamente agentes encobertos da direita sabotando o Compromisso Histórico. Neofascistas e Cesare Battisti, a direita inteira unida contra a esquerda possível.
buscando materiais sobre o caso, achei essa entrevista de 2011 que me pareceu bem completa, tanto sobre o caso como de comentários do camarada sobre a história da qual ele fez parte.
https://www.conjur.com.br/20anos/2017-ago-15/cesare-battisti-ex-militante-italiano-meu-processo-de-extradicao
“ConJur — Qual foi sua participação na luta armada?
Battisti — Eu organizava lutas em toda zona sul de Milão. Organizei o que chamávamos de expropriação proletária, que eram assaltos, para financiar a luta. Defendíamos o direito à moradia, redução dos valores de aluguel, eletricidade, telefone… Ocupávamos prédios vazios para garantir lugar para famílias que não tinham onde morar. Fizemos manifestações para a reforma da saúde, reforma universitária, em defesa do feminismo, do direito ao aborto. Nestes atos, havia enfrentamentos. Combatíamos o trabalho no mercado negro, que fazia as pessoas trabalharem sem carteira ou qualquer direito. Havia muita gente explorada, muitos acidentes de trabalho com mortes, inclusive. Nesta época, fábricas da Itália, mesmo as grandes, amontoavam trabalhadores em porões, no subsolo da periferia, sem qualquer condição decente de trabalho. Então, o que nós fazíamos? Ocupávamos esses lugares, tirávamos todos os trabalhadores de lá e queimávamos a fábrica. Mas uma coisa é certa: nunca matei ninguém!”
César Batista,
O misticismo começa na falta de interpretação de texto.
Ninguém falou em apoio incondicional a governo do PT e nem sequer em apoio a governos do PT.
O que se falou foi sobre uma esquerda que prefere anunciar ao mundo que nada muda com um governo derrubado pela direita, em vez de enxergar as consequencias disso para seus companheiros e para si própria e portanto lutar e denunciar isso.
Batista, para você ter distorcido tanto o que foi dito é porque lhe falta argumento.
Em todo caso, esse artigo do passa palavra explicitou a situação, ao esconder que temer foi quem decretou a extradição de Cesare Battisti. mas como não se pode afirmar que a situação mudou principalmente com a chegada de Temer ao poder, com a derrubada da Dilma e impedimento do PT (consequencia de um avanço da direita), resta dizer que a eleição de Bolsonaro que mudou a situação. Por aí se vê como que para manter a coerência se teve que ser incoerente com os fatos.
Leo Vinicius,
Já que você quer falar sobre fatos, vamos então discutir os fatos: 1) O ministro Luiz Fux determinou a prisão do Battisti para fins de extradição no dia 13 de dezembro de 2018, 47 dias depois do segundo turno das eleições presidenciais, que ocorreu no dia 28 de outubro de 2018 (https://politica.estadao.com.br/blogs/fausto-macedo/fux-manda-prender-battisti-e-abre-caminho-para-extradicao/); 2) O presidente Temer assinou o decreto autorizando a extradição no dia 14 de dezembro de 2018, 1 dia depois da decisão de Fux e 48 dias depois do segundo turno (https://noticias.uol.com.br/politica/ultimas-noticias/2018/12/14/temer-extradicao-battisti.htm); 3) O Bolsonaro iniciou articulações com o embaixador italiano para a extradição do Battisti, recebendo-o em sua casa, no dia 05 de novembro de 2018, 9 dias depois de ser eleito presidente no segundo turno (https://www.terra.com.br/noticias/brasil/politica/bolsonaro-ja-articula-extradicao-de-battisti,68312736b1bdc196be5168e676edef39pimbix0x.html). Nesse sentido, Bolsonaro cumpria promessa reiterada durante as eleições (https://www.terra.com.br/noticias/brasil/politica/bolsonaro-ja-articula-extradicao-de-battisti,68312736b1bdc196be5168e676edef39pimbix0x.html), como no dia 16 de outubro de 2018.
Fico me perguntando: se foi a chegada de Temer ao poder que mudou a situação, por que é que o embaixador italiano foi tratar com Bolsonaro 9 dias depois do segundo turno, 39 dias antes da decisão de Fux e 40 dias antes da decisão de Temer? Poderia ter tratado com Temer muito antes, afinal Temer já estava no poder desde o dia 31 de agosto de 2016, 797 dias antes de o embaixador iniciar negociações com o presidente eleito. Ou será que Temer também se reuniu com o embaixador para discutir o assunto antes de dezembro de 2018, mas não quis comprar essa briga? Esse parece ser o caso, porque uma notícia do dia 23 de outubro de 2017, 417 dias antes de Fux e 418 dias antes de Temer decidirem definitivamente a respeito, diz que Temer vinha sendo pressionado para extraditar Battisti, mas encontrava-se vacilante por temer um atrito com o STF caso decidisse o caso sem que a corte se pronunciasse primeiro (https://politica.estadao.com.br/blogs/fausto-macedo/agu-defende-direito-de-temer-rever-decisao-de-lula-sobre-battisti/). E dois pareceres foram enviados ao STF por volta de 17 de fevereiro de 2018, aproximadamente 300 dias antes da decisão final de Fux e Temer, um da AGU e outro do governo italiano, ambos favoráveis à extradição (https://politica.estadao.com.br/noticias/geral,italia-e-agu-defendem-possibilidade-de-temer-rever-pedido-de-extradicao-de-battisti,70002193193).
Isso tudo é muito interessante, porque só bastaram 47 dias após o segundo turno para uma decisão final de Fux e 48 dias para uma decisão final de Temer. Em contrapartida, Temer e Fux estavam há muito tempo sendo pressionados para decidir favoravelmente pela extradição. Por que a decisão veio apenas depois de Bolsonaro poder ostentar o status de presidente eleito e iniciar negociações com o embaixador da Itália? E tudo fica ainda mais interessante quando um ex-ministro da justiça, isto é, o ex-ministro Tarso Genro, pronunciou-se no dia 14 de dezembro de 2018 na seguinte perspectiva: “Acho que isso aí foi um acordo entre dois governos de extrema direita [o italiano e o governo eleito], um acordo político. Não é uma decisão jurídica. O Temer está sendo apenas um instrumento servil dessa posição (de Bolsonaro) que, na minha opinião, não é fundamentável juridicamente” (https://politica.estadao.com.br/noticias/geral,temer-e-instrumento-servil-de-posicao-de-bolsonaro-ao-extraditar-battisti-diz-tarso-genro,70002646839). Enfim, será que foi realmente a chegada de Temer ao poder que fez mudar a situação de Battisti?
Obrigado, Fagner Enrique. Estava pegando estas notícias agora. Isso para mim terminou o debate. Os místicos podem ir pra outro lugar.
Leo, tá feio demais, você tá mais petista loko que o Tarso Genro! As eleições acabaram, vamos voltar pro chão das lutas, por favor.
Fagner, sou seu fã.
Proletário again,
na questão do Battisti, se existe uma conjunção de forças antagônicas em um mesmo campo, certamente ocorre no campo de seus inimigos e não no daqueles que com ele se solidarizam. Basta ver como indivíduos, periódicos e correntes políticas tão distintas se unificaram na posição contrária a que ele levasse uma vida normal aqui no Brasil.
Na questão dos “aliados” que pretensamente a luta anticapitalista teria perdido, penso que o Passa Palavra, ao se expressar desta forma, estava se atendo a uma imagem de esquerda que figuras como Morales e Linera gostam de cultivar para consumo externo. Evidentemente que esta imagem não resiste a um acompanhamento mais detido da trajetória de todo o “socialismo do sec. XXI”. Estive na Venezuela em 2006 (13 anos atrás!!!) e recolhi relatos escritos de como anticapitalistas e lutadores sociais de todas as cores habitavam as prisões do chavismo. No caso de Morales basta lembrar, no inicio de seu governo, do episódio em que seu partido (MAS) – apoiado na estrutura do Estado boliviano – encurralou fisicamente mineiros (com suas famílias) em greve pela defesa de seus empregos contra medidas que favoreciam a terceirização da mina em que trabalhavam.
Leo Vinícius,
Fiquei com a impressão de que agora você tenta abrir um novo espaço para a sobrevivência de suas atuais posições/concepções: o plano epistemológico. Sim, porque essa sua guinada dos últimos anos ficou insustentável, seja no plano da teoria (expressão de uma prática) graças ao texto do Manolo que a revelou como uma ideologia (operação de ocultamento), seja no plano dos fatos graças ao comentário acima de Fagner Enrique.
Por respeito a posições que outrora você defendeu, vou, respeitosamente, tecer breves considerações.
Onde você enxerga que alguém de esquerda se denominar e atuar politicamente como antipetista, sem aspas, é possuir uma falsa consciência que o faz agir contra seus próprios interesses e a favor da classe antagônica, eu enxergo uma consciência autêntica que sabe perfeitamente que não existe saída para o proletariado se ele ficar atrelado a disputas das classes exploradoras. Não significa indiferença, apenas a recusa ativa em aderir a um pretenso “mal menor”. Até porque todos sabemos que tudo que está ruim sempre pode piorar.
Daí meu esforço de vários anos para que saiamos dessa fragmentação e articulemos o que eu, aqui no PP, várias vezes já denominei “terceiro campo”: um campo sem a menor ilusão com partidos legais, sindicatos, eleições e Estado.
Divirjo de você que as classes capitalistas veem globalmente as minorias proletárias com consciência comunista como petistas. Pelo contrário, é justamente pq elas sabem que são forças antagônicas que fazem todo o esforço para reduzir os primeiros a integrantes/simpatizantes de um partido anticomunista até os ossos como o PT.
Por fim, concordo que falsas consciências possuem funções psicológicas mas não faço a conexão que você faz de que “dificilmente” argumentos racionais consigam “operar alguma mudança nessas situações”. Nem toda falsa consciência é sinônimo de fanatismo, irracionalismo ou identitarismo como, nesse caso, você gosta de dizer. Pensar isso seria atribuir aos ideólogos (elaboradores de ideologias) uma ausência de racionalidade que, a ser verdade, tornaria impossível legitimar o que quer que fosse. Quem elaborou a ideologia do golpe parlamentar-judiciário-midiático de 2016 a elaborou de forma extremamente racional, pois estavam a legitimar interesses materiais muito concretos: o interesse dos gestores petistas.
Sr. Passa Palavra,
Acredito que seria importante “passar a palavra”, ou pelo menos “passar algumas palavras” sobre a confissão de Cesari Battisti realizada no último dia 25 de março. Teria ele feito a confissão sob alguma forma de tortura, seja ela física ou psicológica? Se de fato ele cometeu ou participou dos atentados, passa-se a palavra para este ato como “assassinato” ou “ato revolucionário” ou qual seria a outra palavra a se passar?
Sedento de sua palavra, Sr. Passa Palavra, fico no aguardo.
Att.
Proletário Confesso.
PS: Confesso que confessei minha proletariedade diante da tortura física e psicológica diária do tripalium… do verdadeiro tripalium… que me obriga, faça sol ou faça chuva, frio ou calor, na alegria ou na tristeza, até que a morte da minha vida me separe (ah…! e que bom seria se fosse só a seperação e não a aniquilação, a extinção, o fim eterno…), a tomar ônibus lotado, a levar marmita para o almoço, ter minhas necessidades fisilógicas determinadas e autorizadas por um estranho, a não poder faltar ao trabalho mesmo quando doente, a ter que pagar por tudo para trabalhar: casa, comida, roupa, remédios, educação, etc… confesso mediante à condenação “metro, boulot, dodo”…. “forçado a vender voluntariamente minha força de trabalho”, que já antes mesmo de eu nascer, “já pertencia ao conjunto dos capitalista”…
Ass. Proletário Confesso
“Uma geração inteira foi mordida pela tarântula da necessidade de justiça. Me acontece a vezes de ser convidado por alguns grupos de jovens que me perguntam sobre a época na qual tínhamos a mesma idade deles. Falo de um comunismo cotidiano, defendido nas lutas com chutes e fogo, conto a vida de um dia porque tal era a unidade de medida de nossa maneira de entender a palavra comunismo: não nas pátrias estrangeiras que exerciam o poder em seu nome, não no futuro ao qual podíamos chegar, senão no caminhar de nossos dias, no qual o orgulho era o de ser melhores, não tanto com respeito ao poder constituído ou de nossos pais, mas sim melhores que nós mesmos, do que tínhamos sido no dia anterior, mais generosos, decididos, expertos. Nosso comunismo não apontava a tomar as rédeas de qualquer diligência, não esperava partir de uma tomada do poder, ele ocorria e se consumia na onda de novas reivindicações conseguidas pela necessidade e com um método de choque frontal. Nos dedicamos pouco e mal à hipótese de um poder que nos pertenceria, prestamos mais atenção à necessidade de uma força própria, nossa, que nos parecia útil e justa, enquanto suspeitávamos do poder forte. Eu sei que realizei, naquele momento, o comunismo que podia. E sobre a pergunta de se éramos violentos: digo que sim. Não justifico o tempo e o lugar, o sangue já derramado e as injustiças. Respondo que sim: que é papel deles, estes jovens, buscar por nós os documentos justificantes, se quiserem.”
[retirado de Intervento]
Prestam solidariedade a um assassino confesso.. parabéns para vocês
Há já cinco anos, o colectivo publicou este artigo em prol da solidariedade para com Battisti. Passaram-se cinco anos, e hoje vos pergunto: que sabe-se agora sobre Battisti?
Tudo isto regressou à minha mente após a leitura desta notícia do Expresso (https://expresso.pt/internacional/2024-08-30-ex-membro-das-brigadas-vermelhas-detido-na-argentina-apos-40-anos-em-fuga-1463b2dc ) e da BBC News (https://www.bbc.com/news/articles/cd6yzw30gl1o). Eis que mais um militante da extrema-esquerda cai nas malhas da justiça, após longa fuga. A memória do Estado e de seus tentáculos permanece atilada.
Assim como no caso de Battisti, foi necessária a mudança de governo para reavivar as buscas. Javier Milei justificou seus feitos, afirmando que Bertulazzi comprometeu os «valores democráticos». Se uma tal esquerda, que com tanto ardor abraça a social-democracia, tivesse real interesse pela luta, porventura conheceria uma definição mais rigorosa de democracia. E, como já era esperado, Giorgia Meloni (prova viva da eficácia do feminismo em nossos dias) regozijou-se com a captura de Bertulazzi, embora a data de sua extradição permaneça incerta.
As últimas linhas deste artigo são elucidativas: «mais do que nunca, devemos nos reorganizar e combater o neofascismo em ascensão. Devemos ainda prestar toda solidariedade possível ao camarada Battisti e defendê-lo contra mais esta violação de direitos fundamentais e contra mais este ataque à luta anticapitalista». Contudo, ainda restam algumas questões.
A primeira é: como definimos a solidariedade? E a segunda: com quem devemos nos solidarizar? Creio ser amplamente sabido que as Brigate Rosse diferiam dos Proletari Armati per il Comunismo. Mas parece-me evidente que a questão invocada aqui é outra. E ainda: devemos relegar à margem todos os mais activos e combativos, taxando-os de anarquistas e bolchevistas deixando-os à míngua? E, num contexto não-revolucionário, será correcto limitarmo-nos a escrever e analisar sobre as lutas sem nelas intervir? Falou-se em reorganizar-se e combater o neofascismo em ascensão. Mas o que de facto está sendo feito em direcção a isto? Estas são apenas algumas das muitas questões que ainda aguardam resposta.
Saudações