Em mais uma manhã naquela casa em país estrangeiro, estava fazendo seu café em um coador de pano, uma das formas de reviver um pouco o sabor e o aroma existentes nas cozinhas de seu país de origem. Dentre os vários moradores da casa, de vários locais do mundo, um venezuelano o interpelou: Antigamente, em Venezuela, também fazíamos café desse modo. Foi questionado: E como hoje fazem o café por lá? Em Venezuela não há mais café para ser feito, respondeu com um olhar de melancolia, que o acompanhou durante a conversa naquele desjejum. O mesmo café, duas memórias distintas. Passa Palavra
A melancolia matinal, me fez pensar…
E se o café fosse o preço de um processo revolucionário? Me parece que na União Soviética, aqueronta movebu, tiveram de passar pelo inferno da fome para edificar um governo proletário (quer sejamos favoráveis ou não aos bolcheviques). Não seria, nesse contexto, a comida e alimentação, assim como a resistência a escassez dela, um dos palcos da luta de classes?
Na Venezuela eles não estão nem perto de fazer soviets, mesmo assim, Trump e Bolsonaro estão a beira fritá-los em seu próprio petróleo.
Tristes trópicos. Tristes, muito triste, trópicos., the Winter is Comming…
Há oito anos escrevi para este site um artigo intitulado «Socialismo da abundância, socialismo da miséria» http://passapalavra.info/2011/03/37649/ Por duas vezes, no final dos comentários a esse artigo, tive oportunidade de dizer o que pensava acerca da situação na Venezuela, onde não existia socialismo, mas só miséria. E isto foi há oito anos.
Ora, continua a fazer-se ouvir uma certa extrema-esquerda apegada à miséria e capaz de elogiar a miséria, talvez porque pressinta que, se alguma vez governar, é só isso — a miséria — que conseguirá trazer. No caso de Marcelo de Marchi Mazzoni o despudor é de tal ordem que afirma que os soviéticos «tiveram de passar pelo inferno da fome para edificar um governo proletário», quando o que sucedeu foi que, graças a uma fome incutida a partir de cima, se consolidou o governo de uma burocracia capitalista de Estado, cujas raízes estavam lançadas desde 1918.
E como as teses terceiro-mundistas de ontem foram reforçadas pelos identitarismos de hoje, não faltam os argumentos geopolíticos. É certo que Guaidó recebeu o apoio de Trump e de Bolsonaro, mas também o de muitos outros governos que teria sido necessário considerar. E Maduro conta com o apoio activo e sonante de Putin, que é hoje, no âmbito mundial, o principal articulador da convergência entre, por um lado, a extrema-direita e o fascismo e, por outro, o que resta da esquerda nacionalista. Quem frita os venezuelanos no seu próprio petróleo são os governos russo e chinês, aos quais Maduro paga directamente em petróleo as dívidas do chavismo. Maduro conta ainda com o apoio de Erdogan e dos mullahs iranianos. Serão eles também «o preço de um processo revolucionário»? Ah, e já me esquecia. Um dos raros governos da União Europeia que não retirou o reconhecimento a Maduro foi o italiano, porque a isso se opôs um dos dois partidos que o constitui, o neofascista Movimento 5 Estrelas. Aliás, foi precisamente a este governo italiano que Cesare Battisti foi entregue por Evo Morales, outro convicto apoiante de Maduro. O socialismo da miséria encontra-se em excelente companhia.
Boa tarde, João Bernardo
Não se trata, caríssimo, de um elogio à miséria, nem sequer falei que a Venezuela é socialista (“eles não estão nem perto de fazer soviets”). Mas, pontuei algo, despudoradamente, pois estamos falando do inferno do presente. Coloquei, ainda, como ponto a ser verificado, ao deixar claro que: “Me parece que na União Soviética…”, vale ressaltar que sua leitura, sobre o processo revolucionário da URSS, é minoritária, mas mesmo assim, a considero válida e cheia de argumentos sólidos. Enfim, estou fora disso daí você quer me taxar pura e simplesmente.
Agora, pergunto, caro João, se é o Maduro (& cia.) que está a fritar os venezuelanos, deveríamos não nos mobilizarmos contra a guerra? Só para nos mantermos puros e afastados das disputas geopolíticas atuais? A pureza é o preço da guerra? O caso da Líbia, caro João, parece mostrar o contrário. As incursões da OTAN, pela liberdade contra Gaddaf, jogaram o país de volta à idade da pedra, por este, entre outros motivos, as consequências de um conflito na América Latina são incomensuráveis. Se o preço for me sujar, despudoradamente, serei contra a guerra pura e simplesmente.
Portanto, minha preocupação central, não é Maduro, mas a paz entre os povos e a luta de classes.
Abraços, gosto muito do seu trabalho.
A grande armadilha, que tem sido a de todas as derrotas da classe trabalhadora desde os meados do século dezanove, consiste em considerar que no terreno concreto da luta de classes há só dois campos, e que, portanto, se aqueles malandros ocupam um lado, não nos resta outra solução senão a de nos aliarmos aos malandros do outro lado. É assim que umas formas de capitalismo têm substituído outras, que umas opressões têm substituído outras. Mas nem sempre.
Nem sempre, porque, por exemplo, na guerra civil na Rússia não se bateram apenas os vermelhos e os brancos, mas ainda aqueles a quem os bolchevistas chamavam de «verdes», que tiveram na guerrilha de Makhno o caso mais conhecido, mas que mobilizaram muitos outros milhares de pessoas. Foram derrotados duplamente, não só pelas armas, mas pelo deliberado silêncio dos historiadores.
Este silêncio é o grande problema para quem não viveu os acontecimentos e só pode estudá-los pelos livros. Quanta página obscura é necessário consultar, até deslindarmos os traços de um terceiro campo, onde se impunha ou pelo menos se esboçava uma autonomia dos trabalhadores, tentando singrar por meios próprios e contra ambos os campos hegemonizados por facções das elites dominantes. Este trabalho paciente foi feito por alguns para a revolução chinesa e, mais próxima de nós, para a revolução cultural chinesa. Deveria ter sido feito também para as lutas de libertação em África, se o movimento negro não estivesse muitíssimo mais interessado em absolver as elites africanas dominantes, já que são essas elites que eles mesmos pretendem integrar. Mário Pinto de Andrade apontou o caminho em 1975 em Angola, indicando que na guerra civil entre o MPLA e a Unita eram os chamados «bandidos» quem incorporava uma revolução social, e talvez por isso ele foi tão convenientemente esquecido. Tão esquecido como estão a ser hoje as comissões de trabalhadores que no Portugal de 1975 mantiveram a autonomia dos interesses dos trabalhadores perante o confronto entre os vários interesses capitalistas e capitalistas de Estado. E agora mesmo, na Venezuela, não publicou o Passa Palavra uma entrevista http://passapalavra.info/2019/02/125269/ — infelizmente não tão lida como merece — mostrando que a luta política e social naquele país não se resume a Maduro e Guaidò?
E a Líbia e a Síria e o Iraque? Acabei há poucos dias de ler um livro que explica, em trezentas páginas de texto muito bem documentadas, o que eu tentei aqui esboçar numa dúzia de linhas apressadas: Rohini HENSMAN, Indefensible. Democracy, Counterrevolution, and the Rhetoric of Anti-Imperialism, Chicago: Haymarket, 2018. É uma leitura indispensável, pelo menos para quem souber ler inglês.
Caro João Bernardo!
Obrigado por escrever sobre esse silêncio dos historiadores. Fiquei pensando sobre esse silêncio faz algum tempo, principalmente depois que li recentemente o livro do historiador francês Jean-Jacques Marie: História da Guerra Civil na Rússia, publicado aqui no Brasil pela editora Contexto. E mostrou-me, justamente esse exército dos “Verdes”, uma história que não conhecia e nunca tinha lido. E veio a cabeça esse apontamento que o senhor escreveu: o silêncio dos historiadores.
Obrigado pela indicação do livro sobre a Líbia e a Síria! Vou pesquisar na internet se consigo encontrá-lo em PDF.
Por favor, desculpa o abuso de sua paciência… Mas fiquei curioso com o que o senhor escreveu: “Este trabalho paciente foi feito por alguns para a revolução chinesa e, mais próxima de nós, para a revolução cultural chinesa”. O senhor poderia indicar os autores que fizeram esse trabalho?
Obrigado e desculpa o abuso
Caro Pedro Irio,
Abordei a questão da China e da revolução cultural num livro escrito em 1973 e publicado, com modificações de estilo, no começo de 1975, intitulado Para uma Teoria do Modo de Produção Comunista, no capítulo das págs. 231-282. Pode encontrar o livro, já confortavelmente aberto no início do capítulo, aqui: https://archive.org/details/jb-putdmdpc/page/n207 . No final existe uma bibliografia. Ainda sobre a mesma questão escrevi em 1976 um pequeno ensaio, que se encontra na internet na edição espanhola, Lucha de Clases en China (1949-1976), Bilbao: Zero, 1977: https://mega.nz/#F!vOpwmQiJ!nJFgpdsE-0mCF0yOOQYqCA!3fIFnK5T .
Abordei de passagem a questão dos «verdes» em Labirintos do Fascismo, 3ª versão, 2018, nas págs. 625-626. Mas o problema deve ser entendido num contexto mais amplo, que tratei nas págs. 620-628, com abundante bibliografia. Pode ver aqui, já aberto: https://archive.org/stream/jb-ldf-nedoedr/BERNARDO%2C%20Jo%C3%A3o.%20Labirintos%20do%20fascismo.%203%C2%AA%20edi%C3%A7%C3%A3o#page/n619/mode/2up A questão dos «verdes» teve também um lugar de destaque naquele que é talvez o mais célebre romance sobre a revolução russa, Doutor Zhivago, de Boris Pasternak. Refiro-me ao livro, claro, não ao filme nem à música. Uma antecipação genial deste conjunto de problemas encontra-se no poema Os Doze, de Aleksandr Blok, a obra-prima literária da revolução russa, que nos permite entendê-la melhor do que a maior parte da bibliografia que geralmente se cita sobre o assunto.
Caro João Bernardo,
Obrigado pela atenção e carinho da disponibilidade.
Um forte abraço!
Já que a melancolia é grande e tivemos de fazer várias garrafas de café, enquanto Mourão está na Colômbia decidindo os rumos do continente.
Gostaria de ser um pouco nostálgico e relembrar este debate que ocorreu nos comentários do artigo “Bolsonaro: o início da revolta dentro da ordem” http://passapalavra.info/2018/08/122012/.
Debatíamos lá as possibilidades do que hoje é inevitável:
” Uma outa possibilidade que se avizinha, caso ele seja eleito, é que ele seguirá o exemplo da ditadura Argentina(guerra das malvinas), mobilizar a população à unidade nacional através da guerra. Contra quem? Por causas humanitárias e pela liberdade poderá se concretizar uma guerra contra a Venezul. “Essas eleições marcam um momento chave” para toda a américa latina. Aos que acham que isso é delírio, vejam as declarações vindas da Colômbia da “necessidade de uma intervenção militar”. (20/09/2018)”
Estamos hoje a beira do conflito e, por incrível que pareça, a única força em jogo que pode, de imediato, impedir a guerra, são os generais não bolsonaristas.
Que tristeza.
João Bernardo, não debaterei o ponto levantado, sobre a ação do terceiro ou quarto campo nos conflitos e o silêncio dos historiadores, há um problema central nisso que não tenho como mobilizar elementos necessários para tratar aqui.
Caro Marcelo de Marchi Mazzoni,
a melancolia matinal te fez pensar e formular a seguinte indagação: “E se o café fosse o preço de um processo revolucionário?”, a qual me causou calafrios.
A meu ver, suas demais colocações, bem como a resposta que formulou ao João Bernardo são incapazes de mitigar a gravidade contida nessa formulação.
Será que o fato de os tais governos ditos progressistas estarem sendo substituídos por governos de direita e de extrema direita, alguns com características proto fascistas, é motivo suficiente para anticapitalistas se agarrarem com afinco a um ditador bufão que está literalmente fazendo a população definhar, a mortalidade infantil aumentar e a cúpula do exército enriquecer por meio, por exemplo, do controle do mercado negro de alimentos?
E não adianta floreios, colocar a escassez de alimentos e a ideia de um processo revolucionário na mesma indagação demonstra que se vislumbra naquela tragédia algo que alguns (ou muitos), infelizmente, insistem chamar de socialismo, para o desespero daqueles que realmente são anticapitalistas.
Acompanho o Passa Palavra desde o seu início, apesar de ter ficado um tempo afastado das leituras, e tem me causado grande preocupação certas posições de membros do coletivo e de seus leitores nos últimos tempos.
Se o que a extrema esquerda tem a oferecer são: exaltação de líderes negros opressores e exploradores; defesa do governo cubano e da forma como utiliza os médicos formados no país para obter divisas; defesa do Maduro como bastião da “resistência anti-imperialista”; classificar o Evo Morales como aliado; reflexões ambíguas a respeito de astrologia; e assim por diante, não estamos próximos à chegada do inverno, mas já estamos totalmente dominados pela escuridão e alguns parecem depositar todas suas esperanças na chegada de um salvador (um Jon Snow?) e não mais nos trabalhadores.
E antes que eu me esqueça, nunca me pareceu salutar avaliar a relevância de uma tese em função de ela ser majoritária ou minoritária.
A acusação que Vinicius Rezende faz ao Passa Palavra é completamente descabida!
Se há um grupo que apanhou por conta de sua posição crítica à situação atual da esquerda são as pessoas que mantém esse site.
O Passa Palavra deve ter sido o único site da esquerda brasileira (infelizmente não produz mais reflexões sobre Portugal) a apresentar uma crítica ao programa Mais Médicos e à forma como Cuba faz dinheiro com ele (http://passapalavra.info/2018/11/123996/), isso quando todo o campo partiu em defensa do programa. Não vou falar a respeito das críticas aos identitarismos que garantiu ao site a pecha de “o mais inconveniente e antipático entre todos”, deixando-o isolado. O Passa Palavra deve ter sido um dos primeiros — entre os poucos — a publicar textos críticos a Evo Morales, em especial quando ele entregou Cesare Battisti à Itália (http://passapalavra.info/2019/01/124863/). E, sobre a astrologia (talvez se refira a este texto: http://passapalavra.info/2019/02/125317/), se a posição é ambígua ou não deve ser feito o debate, mas o texto apresenta uma crítica. Enfim, a lista de críticas de Vinícius Rezende é tão certeira ao inverso que só posso pensar que foi um erro de digitação.
LL note que a “acusação” que fiz não se dirigiu ao Passa Palavra como um todo e tampouco a todos os seus membros e leitores. Eu escrevi deliberadamente “certas posições” e mencionei algumas que me vieram à mente, as quais podem ser rapidamente comprovadas por meio de uma breve pesquisa.
Se sou um leitor do site desde o seu início e se continuo a consultá-lo diariamente, obviamente, é porque ainda julgo a maior parte do que ele publica relevante.
Bom dia e bom café, Vinicius de Rezende,
Se a indagação te dá arrepios, a mim também, me arrepiei quando pensei e foi assim por um momento, ó meus irmãos, como se um grande pássaro tivesse entrado voando no café-bar, e eu senti todos os malenques pelinhos do meu plote ficarem esticados até a ponta e os arrepios fervilhando devagarinho como lagartixas malenques e depois descendo. Como se pode o pensar a barbárie, através de argumentos racionais? Por isso o tom de indagação, há certas coisas que não têm força e coragem para sair como afirmação. Deste modo, despudoradamente, dei ao ar dá graça, o pensamento desgraçado: “Será que o inferno é o caminho do paraíso?”. Usei meus parcos conhecimentos históricos para dar mais sentido a questão, não para afirmar a indagação.
Enquanto isso, a Venezuela, sem quarto ou terceiro campo que realmente possa resolver a questão, poderá queimar levando a América Latina inteira.
Você questionou a defesa a Maduro e o fato de que eu teria “desqualificado” a leitura de João Bernardo ao dizer que ela é “minoritária”.
“é motivo suficiente para anticapitalistas se agarrarem com afinco a um ditador bufão que está literalmente fazendo a população definhar, a mortalidade infantil aumentar e a cúpula do exército enriquecer por meio, por exemplo, do controle do mercado negro de alimentos?”
A única resposta que posso te dar, Vinicius, é a seguinte: defendo a paz, pois sei que a guerra será uma tragédia maior do que “se agarrar com afinco a um ditador bufão”, tragédia externa e interna. Bostonaro, estou entendendo assim, se valerá do estado de beligerância para fechar o parlamento, adiar eleições e nos lançar numa ditadura bélica constitucional, com o direito a vida e a morte de cada cidadão salvaguardados pela lei. Teremos, assim, a multiplicação dos ditadores bufões. Então, a luta pela paz é uma luta de sobrevivência, para mim.
“E antes que eu me esqueça, nunca me pareceu salutar avaliar a relevância de uma tese em função de ela ser majoritária ou minoritária.”
Sobre isso, afinal, coloquei uma indagação e João Bernardo deu a resposta conforme à leitura. Só quis dizer isso, que a leitura dele é uma das possíveis, “sólida e com argumentos válidos”, como disse acima. Mas, deveria ter completado, pois não tenho certeza sobre a questão: “sua leitura é válida, talquei, mas há outras, com maior tradição e uma longa gama de pesquisadores”.
abraços,
ps: há um ditado alemão que diz: o bom café tem de ser negro como a noite, doce como amor e quente como o inferno.
Caro Vinícius Rezende, por gentileza, vc poderia postar aqui as fontes que afirmam que o exército Venezuelano enriquece com o mercado negro de alimentos? Peço pq temos muito pouco material para fazer uma boa análise sobre a Venezuela.
RSA,
minha colocação se baseou em leituras diversas ao longo dos últimos anos (principalmente de jornais) e em trocas de mensagens com amigos a respeito do tema.
É amplamente difundido que os militares controlam setores estratégicos da economia venezuelana, inclusive a distribuição de alimentos. Generais foram designados para controlar a distribuição de alimentos pelo Maduro como uma tentativa de conter o mercado paralelo o que obviamente não surtiu efeito. Ao contrário, os militares passaram a controlar e a lucrar com tal atividade.
Listo abaixo notícias variadas publicadas em diferentes veículos de comunicação a respeito do tema do mercado paralelo e também sobre a população estar literalmente definhando:
https://brasil.elpais.com/brasil/2016/09/10/internacional/1473535994_197244.html
https://www.economist.com/finance-and-economics/2017/04/06/how-chavez-and-maduro-have-impoverished-venezuela
https://oglobo.globo.com/mundo/venezuela-tem-escambo-mercado-negro-para-driblar-escassez-21180541
https://apnews.com/64794f2594de47328b910dc29dd7c996
https://folhapolitica.jusbrasil.com.br/noticias/417315561/exercito-venezuelano-controla-venda-de-alimentos-no-mercado-negro
https://noticias.uol.com.br/internacional/ultimas-noticias/2018/07/02/exercito-venezuelano-lucra-com-agua-enquanto-populacao-convive-com-a-seca.htm
https://www.economist.com/graphic-detail/2019/01/25/why-have-venezuelans-turned-against-nicolas-maduro
É engraçado como tentam atribuir posições ao passa palavra que nunca tiveram. quando leio comentarios iguais aos do Vinicius, só consigo pensar que: ou ele quer que o PP se adeque a suas posições (assim séria mais comodo) ou ele claramente não compreendeu os textos que se referiu.
ps. acho que pode ser as duas opções.
João Bernardo disse algo bastante interessante (“consolidou o governo de uma burocracia capitalista de Estado, cujas raízes estavam lançadas desde 1918”) e isso é facilmente verificado.
o Coletivo Solidary publicou um excelente texto sobre os primeiros anos da revolução e mostra com riqueza de detalhes a consolidação da burocracia russa de 1917 a 1921. felizmente o PP traduziu e publicou aqui há um tempo atrás.
http://passapalavra.info/2018/09/121406/
Os comentários trazem diferentes cenários, mas todos eles possuem um personagem comum, que nos acena ao fundo: a figura da irrelevância.
Ora, o problema da extrema-esquerda venezuelana é justamente sua irrelevância, apatia, debilidade, fraqueza. Esmagada entre o imperialismo de Trump e um governo burocrata-nacionalista apoiado pelo imperialismo russo. Qual o pior? Devemos proceder a este tipo de contabilidade para apoiar qualquer dos lados? Devemos, em função da escandalosa derrota que se aproxima, calar o que pensamos, abdicar de nosso trabalho de agitação e, necessariamente, oferecer suporte a um lado?
Alguns questionamentos aos colegas.
Coffee or not coffee… This is the question.
Segundo Robert Kurz, a classe revolucionária não seria mais o proletariado. Não sei se isto é certo, mas faz sentido.
O religioso não está apenas nas religiões, assim como a utopia não está apenas nos “utópicos”… Senão, qual seria a utopia de Karl Mannheim?
O proletariado é eterno enquanto dura… E pode durar mesmo depois que acabar….pois não é, ou foi… o caso do campesinato? Embora a topeira continue a cavar, sua “cavadura” é tão rasa e efêmera, que o concreto (o concreto) a encobre num piscar de olhos.
Enfim, se todo modo de produção é causa e efeito do modo de produção que o sucede, e se a história tem testemunhado uma sucessão ininterrupta de classes opressoras se impondo às classes oprimidas, o que indica (o concreto) que a história seria agora diferente? Não seria, no estágio atual do desenvolvimento das forças produtivas, uma questão de fé vislumbrar o oprimido superando e suprimindo o opressor?
e na esteira do comentário acima, ex-trotskistas se tornaram gestores do capital e jornalistas conservadores, operários grevistas se tornam nacionalistas raivosos, jovens se entusiasmam com as novas possibilidades de negócios divertidos, etc.
A população da Venezuela está sofrendo, desabastecida, sem os itens mais básicos para a sobrevivência e sem sua liberdade (sem a ”liberdade” que o capitalismo da nos países onde é mais desenvolvido). Com certeza é um jogo geopolítico mas não vejo como pode ser possível uma esquerda que parta em defesa do Maduro.. porque ainda que ele quisesse fingir-se de ”anti hegemônico” e blablabla, a que custo? Sem nenhum apoio popular..?
E então temos esse maravilhoso artigo
http://passapalavra.info/2011/03/37649/
Me faz pensar sobre pelo que estamos (quem estamos? essa classe trabalhadora dividida, esparsa..?) lutando… nós anticapitalistas queremos o quê? Um capitalismo bem desenvolvido?
Enquanto (ainda) tomo meu café (até quando?), penso na toupeira. Na velha e na nova…
Meios de produção: o ferro, o gás, plutônio. O forno, o torno, a forma. O rádio, a tv, a internet. A parabólica, o satélite, a fibra ótica. O homem, a mulher, os LGBTQQICAPF2K+. A ideia, o sentimento, a relação. A fauna, a flora, o espaço-tempo…
Meios de produção: a quem pertencem? Quem os controla, os planeja, os gerem? A quem protegem, favorecem, enriquecem?
E as toupeiras, as velhas e as novas, podem cavucar anônimas em solo alheio? Será que a cada palmo de terra revirada não corresponderia a uma braçada de concreto (o concreto) de seu antagonista? E imaginando que o concreto (o concreto) e tudo aquilo que sobre ele se assenta possa ser considerado como o símbolo da abundância, qual seria a abundância possível pela e a partir da toupeira?