Por Douglas Rodrigues Barros
Teclou, ninguém visualizou, e perdeu o interesse. Guardou no bolso, o celular. Ali não havia ninguém, embora o vagão tivesse gente. Ali havia somente o suor, chão sujo e suor, corpos cansados e suor, e se curvou, naquela solidão, fechou-se em si. Fechou-se e se pôs a chorar. Era isso que tinha para fazer?
Chorava e todo o trem estava ao seu redor, uma arena solitária, com o barulho dos trilhos que soava muito distante, no lado de fora.
Mas ouviu que alguém perguntava.
“O que foi, amigo?”
Ergueu a cabeça envergonhado.
“Está chorando?”, disse o velho embriagado.
Ramon o viu pobre e sem futuro, com roupas gastas, sapatos furados, e continuou a chorar silencioso.
“Posso perguntar pra você”, disse-lhe o velho, “por que está chorando?”.
“Não sei”, Ramon respondeu.
“Não sabe por que chora?”
“Gostaria de saber, mas não sei!”
“Aconteceu alguma coisa com você? Perdeu emprego? A namorada te deixou?”
“Nada.”
“Não aconteceu nada ontem?”
“Não aconteceu nada ontem!”
O velho aproveitou e se aproximou de Ramon: “Você deve ter recebido alguma notícia.”
“Isso sim.”
“Aquela que foi morta?”
“Aquela que foi morta!”
“E chora”, disse o bêbado, “por ela?”
Ramon ergueu a cabeça encabulado.
Olhou o bêbado e viu que seus olhos eram negros como a pele, viu-os serenos no rosto ébrio. Tinha um significado para que seus olhos fossem negros como a noite? Era como se dissesse tudo. Um significado.
“Talvez”, respondeu.
Mas teve de dobrar-se mais uma vez às suas amarguras.
“Não precisa”, o bêbado disse, “chorar por ela.”
“Não?”, disse Ramon.
“Não precisa chorar por nenhuma das merdas que acontecem nesses tempos.”
“Não preciso?”
“Se choramos, aceitamos. Não precisa aceitar.”
“Companheiros são mortos, e não posso chorar?”
“Se você chorar, você perde eles. Não podemos perder eles.”
“E se eu não choro, eu faço o quê?”
“Ah!”, respondeu o bêbado. “Aprenda com a morte deles.”
“Aprender o quê?”, disse Ramon. “O que a morte deles ensina?”
“Ué!”, disse o bêbado, “a morte dela ensina algo a mais sobre o motivo pelo qual ela morreu!”
Uma pergunta ao autor, em primeiro lugar, é tocante essa crônica. Mas, não é dura demais a contenção das lágrimas?
Deves perguntar ao bêbado! Agora, sem brincadeiras, acho que é duro mesmo…