Por Passa Palavra
Depois da divulgação da denúncia de descontos ilegais nos seus salários os trabalhadores terceirizados da bilheteria do Metrô de São Paulo anunciaram uma mobilização independente do sindicato para lutar por seus direitos. Apesar de não terem conseguido fechar todas as bilheterias os trabalhadores estão usando várias táticas para tentarem paralisar o atendimento. Hoje na bilheteria da Consolação, por exemplo, a mobilização logrou fechar 3 de 4 guichês por um tempo causando prejuízo na velocidade dos atendimentos. Ontem, na bilheteria de Chácara Klabin, a bilheteria ficou fechada por uma hora e foi necessário liberar a catraca para todos que alegassem que não tinham como embarcar por causa da bilheteria. Estão ocorrendo interrupções e retornos ao trabalho em diversas bilheterias, de acordo com oportunidades, a força do momento e também as represálias da empresa contra seus trabalhadores como assédio moral e algumas suspensões.
Não foi apenas com os chefes que a movimentação teve que se deparar. Antes de começarem as ações mais incisivas, algumas comissões de bilheterias em várias linhas do Metrô foram se reunir com o sindicato da sua categoria para conseguir informações e algum respaldo para sua luta. A reunião aconteceu após um acordo feito diretamente entre as comissões de linhas e a empresa de que haveria paralisação parcial no dia 6 e 7 de março e que até o dia 12 haveria resposta da empresa. A orientação do sindicato que circula nas redes dos empregados ilustra bem a sua posição diante do movimento:
- DIFERENÇA ENTRE A GREVE E A PARALIZAÇÃO. A GREVE SÓ É BENÉFICA AOS FUNCIONÁRIOS PÚBLICOS, POIS OS MESMOS POSSUEM ESTABILIDADE EM SEUS CARGOS. PARA NÓS O MAIS SEGURO MESMO FOI A PARALIZAÇÃO PARCIAL AOS OLHOS DO SINDICATO, QUE NOS INFORMOU SER DE NOSSO DIREITO, CONTUDO MANTENDO A PACIFICAÇÃO E O CUIDADO DIANTE DO METRÔ PRA NÃO HAVER CONFLITOS DE INTERESSES. (…) NOS FOI SUGERIDO QUE ESPERASSEMOS UM PRAZO E QUE NESSE MEIO TEMPO TENTASSEMOS EVITAR A GREVE QUE COMO FOI DITA NÃO É LEGALMENTE ACEITA E SIM A PARALIZAÇÃO.
A afirmação de que os funcionários terceirizados não tem direito a greve não é verdadeira. Não existe nenhuma lei ou regra que proíba terceirizados de fazerem greve e bilheteiros terceirizados em Recife já o fizeram, inclusive, liberando as catracas. O que garante o ‘direito’ real de fazer o movimento é a capacidade de organização e a solidariedade que os trabalhadores consegue mobilizar.
O acordo de que houvesse somente paralisação parcial nos dias 6 e 7 provocou muita discussão entre os trabalhadores. Essa divergência apareceu nas diferentes ações que foram realizadas nas bilheterias: algumas pararam totalmente por algum tempo e outras parcialmente.
Com suas dificuldades os bilheteiros do metrô estão aprendendo a lutar, arrancar acordos e denunciar a exploração com a sua própria força e criatividade. Nesse momento é crucial a solidariedade de todos os trabalhadores do metrô, sejam terceirizados e efetivos, sejam a favor da greve total ou parcial – e de todos os trabalhadores que puderem se mobilizar. A luta dos bilheteiros é a luta de todos os trabalhadores contra a exploração sem limites.
“A greve é na outra linha, aqui a gente tá sem sistema mesmo. O problema é que alguns funcionários abrem mesmo sem sistema, aí ferra com o resto”, me explicou um atendente num guichê que passei hoje. Pelo que saquei, a galera tá explorando o limite ambíguo entre a precariedade do sistema que já é normalmente disfuncional, a enrolação pra “fazer o sistema voltar” que os trabalhadores já praticam no seu dia-a-dia pra aliviar o peso do trampo, e a “paralisação parcial” de fato.
Lembrei de um relato de um pessoal que trabalhava no McDonalds e fez algo parecido há uns anos:
“O ponto alto do nosso esforço organizativo foi em 16 de outubro de 2002. Algo do que aconteceu nesse dia está documentado em http://www.reocities.com/globaldayofaction.htm. Alguns dos relatos que recebemos se revelaram imprecisos, mas por quatro anos isso não pareceu tão importante. Foi massivo, foi bem maior do que esperávamos e eu, pelo menos, me deixei levar totalmente. Eu realmente não pensava que qualquer coisa ia acontecer, mas quando olhei o e-mail aquela manhã, havia todos aqueles relatos vindo da Austrália. Foi uma época muito excitante. Além do que, era realmente sabotagem ativa, vários problemas técnicos e exemplos normais de incompetência foram atribuídos à mão invisível da resistência! Outros acontecimentos foram, digamos, menos bem-sucedidos. E claro, 16 de outubro foi um sucesso apenas simbólico.” (http://passapalavra.info/2012/11/66716/)