Por Passa Palavra

Desde 2018 os técnicos, professores e estudantes da Universidade Estadual de Goiás (UEG) têm se deparado com uma série de cortes por conta da política de austeridade do governo do estado. Os cortes começaram, como de costume, com os terceirizados, suspendendo o serviço de motoristas usado para buscar e levar palestrantes e outras atividades cotidianas dos campi, e também as impressoras foram recolhidas, inviabilizando a impressão de qualquer atividade. Tanto professores quanto técnicos ainda não receberam o salário do mês de dezembro, e começaram o ano com a suspensão das licenças e da progressão de carreira. Em relação aos estudantes o quadro também é grave, nenhuma bolsa estudantil foi paga nos últimos quatro meses, também foi cancelado o seguro de vida obrigatório dos estagiários. A coordenação de ensino da reitoria mandou um comunicado sugerindo que os alunos peçam o seguro às empresas onde estagiam, e, se não for possível, que façam um rateio para pagar o seguro. O governo do estado aproveitou a troca de gestão para impor condições mais duras aos que trabalham e estudam na UEG, colocando a responsabilidade pela crise no governo anterior. E existe no horizonte a ameaça de um redesenho da universidade, com fechamento de cursos e de campi inteiros.

A UEG tem 40 campi espalhados pelo estado, o que dificulta a mobilização conjunta, e ainda tem como entrave o fato de quase 50% dos professores e técnicos têm contratos temporários, deixando as pessoas receosas, ainda mais nas cidades do interior onde as perseguições e os jogos políticos locais interferem diretamente na vida dos professores. Historicamente o campus Anápolis, juntamente com o de Goiânia (Eseffego), são os mais mobilizados, o que coloca as pessoas de outros campi em uma perspectiva de esperar que a mobilização comece lá para que possa ter força. É desses campi que vem uma certa tradição de mobilização autônoma dos professores que conseguiram ao longo dos anos puxar mobilizações e fazer algumas greves vitoriosas. Essa mobilização de professores sempre se dá à revelia do sindicato fantasma, que é a próximo à reitoria e do qual não se tem notícias desde 2009.

A mobilização este ano tem se dado de maneira diferente em relação aos anteriores, as primeiras ações e atuações estão se dando em campi do interior, especialmente no de Uruaçu. Desde o início de 2019 há uma assembleia por semana, e paralisação regular das atividades. Já na primeira semana de aulas ocorreram paralisações para que todos pudessem participar de uma reunião geral em Goiânia.

Diferente do costumeiro nos bancos escolares, a mobilização na UEG resolveu romper a distinção entre os setores dos trabalhadores da universidade, pois as assembleias são de estudantes, técnicos e professores, sem divisão de categoria. Toda a mobilização tem sido feita de forma conjunta entre professores, técnicos e estudantes, sem que haja separação por categorias e com uma grande adesão dos alunos de Pedagogia e História; uma das atividades de mobilização que tem sido feita é a panfletagem em escolas públicas de ensino básico, uma vez que os professores da rede estadual também estão sem receber.

O grupo mais ativo de pessoas mobilizadas tem se organizado em torno do UEG em Movimento, que convocou reuniões e assembleias unificadas. Em uma dessas assembleias foi marcado um indicativo de greve para a semana após o carnaval. Em quatro campi a greve já está deflagrada, três do interior e um de Goiânia. A adesão do campus de Goiânia – um dos maiores – aconteceu no último sábado, com 264 votos favoráveis e nenhum contrário. Nas palavras dos professores do campus “foi a mobilização do interior que nos acordou, mas agora que começamos vamos com tudo”.  A mobilização foi iniciada nos campi do interior (Uruaçu, Itumbiara e Itapuranga) e agora, com a adesão do Eseffego, espera-se que a mobilização se expanda para mais unidades.

A carta de reivindicações, produzida pelo UEG em Movimento, é unificada e foi protocolada na reitoria e no palácio do governo. Essa forma radical de fazer a política já provocou reações da reitoria, que alega que a mobilização é ilegal, pois os estudantes não são trabalhadores e não poderiam fazer greve. Trata-se de uma tentativa de intimidar o movimento, que continua a ganhar força com assembleias unificadas lotadas, como a que aconteceu no dia de hoje, e com o ato marcado para às 17h.

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