Por Longmenzhen
Desde 2012 é publicada a revista Relatos da Fábrica com reportagens sobre as condições e a luta dos trabalhadores no Delta do Rio das Pérolas (Zhujiang). O site Gong Chao selecionou e traduziu (para o INGLÊS e para o ESPANHOL) alguns desses relatos e agora o Passa Palavra apresenta-os em português. Todos os relatos poderão ser lidos CLICANDO AQUI.
(Relatos da Fábrica # 1, Janeiro de 2012)
“Longmenzhen (龙门阵)” significa “conversar”, “contar histórias”, assim “Gongchang Longmenzhen (工厂龙门阵)”, o nome desta revista se traduz como falar sobre o que acontece na fábrica. Ocorre às vezes que as pessoas que nunca trabalharam em uma fábrica se equivocam e falam sobre ela usando estereótipos. Os que têm experiência e conhecem a vida na fábrica frequentemente pensam “não há nada do que se falar”. Embora seja um tema frequente de conversa entre amigos, familiares e outros trabalhadores, parece algo trivial e desimportante, que não merece ser discutido publicamente, algo que se conversa em privado e logo é esquecido.
Porém é precisamente esse sucesso corriqueiro e essa mescla de sentimentos que compõem o cotidiano vivo dos trabalhadores, é isso que dá forma à sua consciência, e o que dispara e influencia suas ações. Avançando mais: o futuro da sociedade está oculto dentro dessas realidades. Apenas quando os trabalhadores compreenderem a totalidade real dessas circunstâncias poderão encontrar uma base para saída coletiva da situação atual. O primeiro passo é estudar, registrar e analisar — de forma cuidadosa e exaustiva — a situação da classe trabalhadora, para isso obter material em primeira mão. Atualmente, os trabalhadores das fábricas são os principais criadores da riqueza na sociedade. Mas, como os patrões têm o poder dentro do sistema industrial, o que o desenvolvimento social concede aos operários é a pobreza e a privação de direitos (embora muitos trabalhadores do campo tenham melhorado a situação econômica de suas famílias com trabalho duro e austeridade). Os preços das commodities aumentam mais a cada ano [o texto é de 2012], mas muitos trabalhadores somente ganham o suficiente ou menos para sobreviver. Desde a crise de 2008 até agora, o fosso entre ricos e pobres somente tem aumentado.
Entretanto, nesses recentes anos é fácil notar uma transformação da consciência dos trabalhadores: parecem estar desenvolvendo uma consciência mais profunda sobre sua difícil situação e suas demandas, com mais frequência recorrem a ações que criam mais pressão sobre o capital. O impulso por controlar aos trabalhadores e opor-se a melhorar-se suas condições (até introduzindo-as na legislação) é mostra de um nível extremo de preocupação entre os capitalistas. A gerência de cada fábrica fala com regularidade sobre greves e operações tartaruga, enquanto advogados e especialistas em relações de trabalho organizam treinamentos sobre o tema… Por outro lado, os trabalhadores geralmente não têm circunstâncias vantajosas e autoconscientes para combater seus gestores. Certamente, os trabalhadores também aprendem com as dificuldades — organizando um relato da sua experiência e comunicando-se com os demais. Em geral, eles requerem uma maior atenção daqueles que desejam coletar e celebrar essas lutas com o objetivo de espalhá-las para outros trabalhadores.
Os objetivos centrais dessa publicação são desenvolver uma compreensão profunda sobre a situação real da fábrica e dos trabalhadores, analisando as lições conseguidas nas lutas passadas e presentes e junto a isso difundir informação. Nós acreditamos que o poder da classe trabalhadora, é muito maior do que o de classe proprietária. Mas, também está claro que estamos apenas no início dessa estrada.