Peeling red paint on wood

Por Um trabalhador

Estava jantando, tinha revezado o pessoal, quando chegaram os caras batendo na porta do refeitório e gritando: “‘É greve! É greve! Bora peãozada!’”. Todo mundo saiu para a portaria e lá ficou!

Assim começa a greve de 2012 na Pirelli Campinas. Nas fábricas de Feira de Santana (BA) e de Santo André (SP) os operários também sinalizam para uma greve por reajuste salarial real e pela inserção do vale-refeição. Não! Esta greve não foi orquestrada pelos trabalhadores num movimento conjunto e uno nacionalmente, mas, invariavelmente, a marca dos pneus luxuosos da Ferrari e da Lamborghini padroniza seu modus operandi de exploração da classe operária, combina os baixos salários com altíssima produtividade. Um moedor de carne humana! Assim, o espontaneísmo surge de forma semelhante nas unidades da Pirelli ao redor do mundo.

As fábricas com suas máquinas paradas deixaram de produzir quase um milhão de peças/mercadoria! Isso em questão de dias de paralisação. Campinas foi a que menos tempo permaneceu parada, dois dias de luta espontânea dos trabalhadores. Após isso, a empresa conseguiu mapear, seja através de delações dos pelegos ou por infiltrações no movimento, e fazer as devidas demissões das cabeças de gado revoltadas. Já em Feira de Santana e Santo André a greve durou mais. Com mais experiência de organização e luta, os trabalhadores dessas duas fábricas permaneceram por 12 dias paralisados! Os pneus de trator, caminhão e ônibus que são feitos nessas duas fábricas não foram feitos no mês de junho de 2012.

No fim das contas, os devidos sindicatos negociaram com a empresa separadamente e, conforme a consciência e tamanho da luta travada, estabeleceram acordos com as chefias. Em Campinas, o que mudou de fato foi o tratamento dos chefes (gestores, supervisores, gerentes de setor e gerência de fábrica) para com os trabalhadores. As falas se dirigem de forma mais mansa, sem pressão explícita por produtividade, ainda que essas coisas ainda aconteçam de forma velada e implícita. Nas outras duas unidades o reajuste salarial aconteceu e houve um aumento no valor do PLR [Participação nos Lucros e Resultados], o vale-refeição reivindicado não foi conquistado.

O movimento sindical anda a passos curtos e bastante espaçados, principalmente nos locais que são organizados por diretorias pelegas rodeadas de negociatas e embargos.

Em 2015 e 2016 foram anos de trabalho clandestino e ainda espontâneo (já nem tanto) de companheiros que tentaram organizar oposições operárias nas fábricas de Gravataí (RS) e de Campinas. Os sindicatos dirigidos pelos mafiosos da Força Sindical são a principal fonte local de renda dessa organização quase criminosa antioperária. Os companheiros que tentaram organizar em Campinas foram descobertos por certa ingenuidade, ou melhor, por desconhecerem mais profundamente a atuação da Força em seus sindicatos. Já em Gravataí conseguiram com muito custo lançar a chapa de oposição, mesmo tendo sido impugnada desde o início da campanha até à última semana, depois de passar para a mão de advogados e da justiça formal burguesa. Os trabalhadores que conseguiram montar a chapa não tiveram 1/3 dos votos na fábrica, o que é completa e facilmente duvidoso, porque a fraude eleitoral acontece com chapa de oposição ou não.

Também no ano de 2015, a sede da Pirelli em Milão, na Itália, anunciou a venda de boa parte das patentes de caminhão e trator para o selo estatal da China, ChemChina. Portanto, as unidades Santo André e parte de Gravataí foram reorganizadas. As demissões em massa acontecem com a ferocidade de um burguês ameaçado. Sob o nome de “crise” e “estoque cheio”, demitiram mais de mil empregados nas fábricas da marca no Brasil. Dentre tantos em contrato temporário (que nas cláusulas do próprio sindicato dos borracheiros são os primeiros a ser mandados para a rua em tempos de crise), outros muitos foram na leva das férias coletivas anunciadas pela empresa.

Mais mobilizações dos trabalhadores aconteceram por conta das demissões. Sufocadas pelo sindicato, não levaram a nada. Os trabalhadores foram mandados embora com consentimento do acordo sindical.

Em 2016 a Pirelli anuncia o fechamento das fábricas vendidas para a estatal chinesa. Santo André e Gravataí começam a operar a reorganização das plantas. Finalmente, este ano, mais de 900 trabalhadores foram demitidos na fábrica de Gravataí, os pneus de moto que faziam lá também passaram a ser produzidos em Campinas. Mesmo movimento que outras multinacionais gigantescas (principalmente a Ford no Brasil) estão fazendo, concentrando a produção total em menos trabalhadores, concentrando a extração de mais-valia no lombo de cada vez menos trabalhadores. Os altos estoques que se mostram no chão dos pátios e armazéns lotados são reflexo disso.

Leia também o texto, do mesmo autor, Assédio moral e luta na Pirelli.

2 COMENTÁRIOS

  1. companheiro, você poderia se estender um pouco mais neste ponto?:
    “Os companheiros que tentaram organizar em Campinas foram descobertos por certa ingenuidade, ou melhor, por desconhecerem mais profundamente a atuação da Força em seus sindicatos.”

  2. Eu conheço o meio educacional e lá os sindicalistas são assim: sao unidos com as direções e se comportam como chefes dos professores. Geralmente, sindicalista está buscando também gestão ou ascensão via carreira política. Nisso, ajudam as direções a vigiar os professores e deduram tudo o que podem. Dentro da instituição escolar, o sindicalista faz um trabalho de espião, fiscal e repressor. São olhos da direção e deduram os trabalhadores. Vivem em conversas e reuniões com as direções entregando quem são os críticos, os rebeldes da escola.

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