Por Alfredo Lima

Na semana do dia 07/08/2019 publicamos nas redes sociais, baseados em relatos de trabalhadores, que a administração da UERJ (Universidade do Estado do Rio de Janeiro) expediu uma ordem que impedia os terceirizados da UERJ de adentrar os elevadores de serviço, os mesmos que eram utilizados pelos alunos, professores e técnicos. Tal ordem caía sobre os funcionários da limpeza e manutenção.

Um dia depois da denúncia fomos surpreendidos por uma viralização inesperada do caso. Funcionários terceirizados denunciaram o fato no instagram, sendo que os movimentos de esquerda da UERJ fizeram coro conosco e cobraram um escracho à reitoria. O Esquerda Diário, baseado na nossa denúncia, acusou inclusive a UERJ de reproduzir o racismo estrutural. Nos corredores, nas conversas, os trabalhadores não usavam os mesmos dialetos do movimento estudantil. Mas sabiam exatamente do que se tratava nessa segregação, ela lhes tirava a humanidade, tirava deles a possibilidade de serem sujeitos da universidade.

O movimento estudantil abraçou a pauta anti-segregação com unhas e dentes. Enxergamos momentaneamente que o desafio desse tipo de pauta diz respeito à índole dos gestores. Uma pauta “democrática” é facilmente retornável em uma universidade pública, mesmo em tempos de Bolsonaro, enquanto problemas como descontos salariais, demissões injustas e o não recebimento do adicional de insalubridade parecem ser problemas secundários.

Não demorou mais do que dois dias para o DCE (Diretório Central dos Estudantes) e a própria reitoria se posicionarem. A reitoria afirmou que nunca houve tal ordem, e que puniria os responsáveis. Para nós isso não soou como absurdo, mas uma constatação da vitória. Quando os trabalhadores usaram de sua voz para denunciar a ordem arbitrária deram o primeiro passo para uma organização entre trabalhadores – deixaram de ser invisíveis.

Quando um militante/movimento entra em conflito aberto contra todos os gestores, ele pode sofrer perseguição policial, judicial, pode ser preso ou coisa pior. Ou talvez não. Isso depende do nível de radicalidade de cada movimento em cada contexto determinado. A ditadura da empresa, porém, tem contra os funcionários a demissão como arma principal. A luta dos trabalhadores, dados pelos patrões como invisíveis, algumas vezes reside justamente nisso – manterem-se invisíveis, para não arriscarem o conflito individual. As denúncias sistemáticas podem se tornar uma forma de luta que esboça uma organização de trabalhadores e o constrangimento dos patrões.

A princípio nosso medo era que, além de ninguém se sensibilizar com a denúncia, o problema dos terceirizados desencadeasse o ciclo que sempre se repete – mais uma bandeira para o movimento estudantil não pautar solidariedade real, mas coerência militante. Membros das organizações estudantis nos procuraram para falar que o DCE não comprou a briga dos terceirizados, e que deveríamos escrever uma nota criticando o DCE. A verdade é que a luta de classes não se apoia em intenções e pautas máximas. Quando o DCE compartilha em suas redes que averiguou com a administração e que não havia exclusão no uso dos elevadores (ou seja, deixou de ocorrer) temos dois fatos: uma mentira; e uma vitória. Como o movimento se guia por resultados e não coerência, ficamos satisfeitos com a segunda.

As ilustrações reproduzem esculturas de George Segal.

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