Por Ralf Ruckus

Os artigos sobre os protestos em Hong Kong foram reunidos em um dossiê.

A economia de Hong Kong, já afetada pela guerra comerical entre a China e os EUA, sente o efeito do movimento de protestos. Nos meses recentes, os preços imobiliários caíram, as vendas no varejo caíram, bem como o número de turistas (levando a números menores de viajantes no aeroporto, queda na quantidade de reservas e nos preços dos hotéis, e mais), o volume de mercadorias transportadas da China caiu, o mercado de ações teve mau desempenho, e a agência de classificação Moody’s rebaixou Hong Kong, mencionando “o crescente risco de que os protestos em curso revelem uma erosão na força das instituições de Hong Kong […] e comprometa as bases de crédito por prejudicar sua atratividade como um centro financeiro e comercial”. Estações de metrô da MTR foram fechadas inúmeras vezes, inclusive todas as linhas no início de outubro, interrompendo a condução de muitos empregados, e vários shoppings e lojas tiveram de fechar durante ou após os enfrentamentos.

Em suma, o movimento rebelde em Hong Kong atrapalha o desenvolvimento da economia, e também põe em questão o status da cidade como um centro financeiro para as importações e exportações do capital chinês. O regime do PCC (Partido Comunista da China) continua tendo interesse em manter esse status, ao mesmo tempo em que se recusa a fazer qualquer reforma política ou garantir qualquer “autonomia” à cidade. Então, como ele espera contornar o confronto em Hong Kong?

Na verdade, há aqui algumas semelhanças com as lutas sociais na China continental. Primeiramente, há uma ausência de líderes formais, representantes, ou de organizações com as quais o regime possa conversar para “fazer um acordo”. Na China continental, qualquer liderança formal ou organização que não estiver nas mãos do PCC é reprimida. O regime só pode usar formas de repressão e concessão e torcer para que elas funcionem para apaziguar o descontentamento social. Em Hong Kong, o movimento decidiu não ter líderes ou uma organização formal por medo da repressão (como ocorreu durante e após o Movimento dos Guarda-Chuvas de 2014).

Esse é um dilema agora para o governo de Hong Kong e para o regime do PCC, porque sem negociar com um corpo legítimo de líderes das manifestações ou organizações e sem qualquer tipo de acordo, só sobram duas medidas unilaterais: repressão e/ou concessões econômicas.

A repressão tem sido a principal medida usada em Hong Kong — bem como na China — até agora, exceto pelo aceite do governo em retirar a Lei de Extradição (uma concessão menor se levarmos em conta o que está em jogo a essa altura).

Diante de lutas sociais na China continental, como as greves, o regime do PCC ofereceu como resposta concessões econômicas e uma possível melhoria das condições materiais de vida. Enquanto os militantes grevistas e os grupos de apoio às lutas de trabalhadores são estreitamente controlados, presos e punidos quando vistos como uma ameaça, o regime do PCC tem permitido, e mesmo orquestrado, um certo aumento nos salários e outras melhorias, por exemplo, para as centenas de milhões de trabalhadores — ao menos, até uns poucos anos atrás, antes de a desaceleração econômica limitar a disposição e a habilidade do regime de fazer concessões econômicas substanciais.

No que tange a Hong Kong, a mídia estatal chinesa tem, na verdade, começado a criticar o papel dos prósperos magnatas imobiliários de Hong Kong, e o governo de Hong Kong realmente discutiu uma mudança em suas políticas habitacionais.

Aluguéis — e o imenso abismo entre os salários e os custos de moradia na cidade — são uma das razões pelas quais tantas pessoas em Hong Kong estão insatisfeitas com sua situação e com o sistema político. Um ataque aos magnatas e seus negócios familiares, que controlam amplas parcelas da economia de Hong Kong, seria uma grande mudança, uma vez que esses magnatas colaboraram até agora com as forças políticas pró-Pequim na cidade e com a liderança do próprio PCC.

É importante notar que esse movimento de Hong Kong produz uma considerável pressão “de baixo” que pode levar a concessões econômicas. No entanto, mesmo que o regime do PCC tome passos decisivos e force o governo de Hong Kong a introduzir mais políticas sociais de moradia, provavelmente levaria anos para fornecer qualquer melhoria para a população da cidade.

Se tais concessões podem levar à submissão política (como gostaria o regime do PCC) é de qualquer forma algo duvidoso.

Traduzido para o português do site Naoqingchu pelo Passa Palavra.

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