Por Giovanni Alves

Meu debate sobre a utilização das tecnologias de Ensino A Distância (EAD) é com professores de escolas e Universidades Públicas e não com professores de escolas e universidades privadas (nestas empresas capitalistas, a função da tecnologia OBVIAMENTE é explorar). Quero deixar claro também que defendo a utilização das tecnologias de EAD para COMPLEMENTAR a prática pedagógica – não apenas do ensino, mas de formação de consciência crítica. OBVIAMENTE, não defendo trocarmos o “presencial” pelo “virtual”, mas incluir as tecnologias de EAD como mais uma ferramenta de ensino – ou melhor, de formação humana e consciência crítica – complementar às práticas presenciais de ensino. Hoje, mais do que nunca, torna-se necessário que alunos e professores da universidade pública se apropriem das novas tecnologias de informação e comunicação, não apenas para transmitir conteúdos pedagógicos, mas principalmente tornar a Universidade Pública espaço de disputa ideológica, ocupando um importante espaço na vida social (as plataformas virtuais invadem hoje a sociedade e precisamos torná-las não apenas plataformas de exploração da força de trabalho, mas meios de comunicação e informação com o nosso público). Na medida em que nos apropriamos das tecnologias de EAD, as Universidades Públicas devem – como obrigação do ente público e direito da cidadania – propiciar o acesso de qualidade à Internet a todos os alunos e professores.

Dito isso, reitero:

O capital desenvolveu no século XXI poderosas tecnologias de EAD, verdadeiras plataformas virtuais, que ele utiliza – no caso das empresas da educação como mercadoria – para precarizar a força de trabalho que ele explora. Trata-se da natureza do capital e de sua tecnologia (como capital fixo). Isto não é nenhuma novidade. É preciso combater a precarização do trabalho docente pelo capital, que deve ser entendido como sendo uma relação social de exploração. É importante salientar: o capital é uma relação social e não uma forma tecnológica de que o capital se apropria para explorar. Isso não se discute.

Entretanto, é curioso que alguns professores no Brasil – inclusive, ditos “marxistas” – confundem forma tecnológica com forma social, caindo no erro do “fetichismo da tecnologia”. Como se explica tal confusão teórica que – no caso – se expressa em práticas políticas tradicionalistas, acomodadas à luta de classe do século XIX e do século XX, e práticas pedagógicas anacrônicas? Caso tal confusão teórica não tivesse consequências pratico-politicas, eu não estaria perdendo meu tempo em criticá-las. Mas tem… e muitas, principalmente em época de pandemia do coronavírus. O debate sobre a apropriação (ou não) das tecnologias do EAD na Universidade Pública está atrasado e pode, inclusive ser fora de lugar. Mas é preciso fazê-lo.

O que defendo é a necessidade e importância da utilização pelos professores da Universidade Pública das tecnologias de EAD, rompendo com o exclusivismo do PRESENCIAL e incorporando, de outra forma, as ferramentas de EAD visando não apenas complementar a prática pedagógica em sala de aula presencial, mas, principalmente, propiciar a formação crítica (a apropriação crítica de tais ferramentas significa reformatá-las e colocá-las sob o controle público dos próprios sujeitos que operam tais ferramentas). As redes sociais e as plataformas virtuais se disseminam na sociedade a serviço da imbecilização social. É importante que a Universidade Pública brasileira – tão sitiada pelos governos neoliberais – ocupe os espaços virtuais por meio de atividades de ensino e extensão voltados para a educação pública e gratuita. Não podemos deixar nosso público às traças da ideologia dominante.

Deste modo, a Universidade Pública tem a obrigação de propiciar meios virtuais complementares para professores e alunos. Os professores precisam dominar tais ferramentas de formação, tal como, por exemplo, dominaram a caneta, a máquina de escrever e o computador pessoal. Tais práticas pedagógicas virtuais, utilizadas de forma complementar, devem estar sob o controle social dos trabalhadores (o que deve abrir uma nova frente de luta para além do capital, isto é, do modo de utilização capitalista das tecnologias de produção). Os alunos (e a sociedade) têm o direito de ter o acesso à Internet de qualidade, capaz de abrir um campo de disputa com o monopólio da informação e comunicação da Mídia privada. Hoje mesmo, ocorre uma intensa luta ideológica (uma forma da dita “guerra híbrida”) no ciberespaço. Vamos fugir dela? Vamos esperar que todos tenham acesso à Internet de qualidade para – só depois – incorporar as tecnologias de EAD como complemento à formação crítica?

Nós temos o dever de nos apropriarmos de tais meios tecnológicos virtuais para educar e formar consciências críticas e expandir (e complementar) o processo pedagógico com tais ferramentas de EAD – nossas aulas e eventos presenciais. É hora de fazer a disputa pelos meios de produção pedagógicos nas universidades e escolas públicas. Não podemos deixar o domínio das tecnologias de EAD apenas a cargo de técnicos e burocratas de plantão.

A questão: têm os professores capacidade política e intelectual para tal?

Como princípio, reitero que a tecnologia existe para ser apropriada de forma crítica (ou dialética), a serviço da formação humana e da luta de classes (luta ideológica) – e diria mais: para além do capital. É a necessidade urgente da luta social no século XXI. Finalizando, diria que nós, professores de Humanas das Universidades Públicas, no geral, fazemos parte de uma categoria profissional composta na sua maior parte por uma geração tradicionalista, acomodada não só às práticas pedagógicas anacrônicas, mas às práticas convencionais de luta política e sindical. No nosso campo profissional predomina o academicismo – mesmo que de recorte marxista – onde só falamos para o nosso próprio meio social, por sinal, reduzidíssimo numa sociedade como a brasileira. Enfim, diante das mudanças sociais e culturais das últimas décadas, nós temos demonstrado uma profunda dificuldade, ou mesmo incapacidade, de comunicar com nosso público (o que ocorre com a esquerda em geral); e pior, com a sociedade civil. Vamos admitir: há tempos estamos à deriva na luta ideológica.

Os “sindicalistas de espírito” dizem que devemos utilizar as tecnologias informacionais só para mobilizar, desprezando as potencialidades tecnológicas contidas nelas para ampliar o processo pedagógico e criar novos campos de formação humana. Tal visão estreita tem caracterizado a prática do sindicalismo docente das Universidades Públicas. Assim, nas épocas de pandemias (e greves) fecham as Universidades Públicas a título de combater a precarização do ensino público e gratuito, deixando – por outro lado – os alunos (o nosso público) às traças da ideologia dominante. Às vezes penso se tais camaradas não são, de fato, “parceiros” inconscientes do neoliberalismo na tarefa de neutralizar e tornar irrelevante a Universidade Pública no século XXI.

Mas como explicar tais atitudes vindas de professores e intelectuais supostamente esclarecidos, que afirmam que lutam pela Universidade Pública e contra a Precarização do Trabalho Docente?

Concluo dizendo que TALVEZ seja:

MEDO de que os “gestores” das Universidades Públicas possam utilizar a tecnologia de EAD para precarizar (ainda mais) o trabalho docente, tal como fazem as Universidades Privadas (empresas capitalistas). Às vezes o medo é real, mas nos submetermos a ele nos paralisa e facilita o assalto do predador.

ACOMODAMENTO com as práticas tradicionais de ensino, pesquisa e extensão, na medida em que se apropriar do novo exige dos sujeitos mais velhos desenvoltura mental e intelectual, que grande parte do professorado de esquerda mais ativa não tem. Dá trabalho sair da “zona de conforto”.

IGNORÂNCIA TEÓRICA em entender a dialética entre forma tecnológica e forma social, principalmente numa cultura de esquerda positivista, pouco dialética e pior: católica, onde a nova tecnologia desenvolvida pelo capital é a própria representação do Mal. Tal ignorância teórica produz na mente de tais professores o fetichismo da tecnologia, com repercussões na prática social e política.

COVARDIA em enfrentar e defender posições teóricas, políticas e sindicais avant la lettre e dificuldade em criar inovações nas estratégias de luta de classe, na medida em que propor novos desafios – para além do sindicalismo secular – pode representar isolamento político. Toda burocracia trabalha numa “zona de conforto”, defendida com rigor militante pelos débeis de espírito (o que fez Max Weber salientar que uma das tragédias da modernidade é o domínio dos “burocratas de espírito”).

Pergunto-me:

O que acontece quando se luta com medo, acomodamento, ignorância teórica e covardia?

Depois lamentamos que os partidos de esquerda sejam o que são; e o Brasil esteja como está; e a hegemonia cultural do capital vá a todo vapor – em tempos de pandemia global.

Giovanni Alves é professor de sociologia da UNESP – Campus de Marília e coordenador da RET (Rede de Estudos do Trabalho), com vários livros publicados na área de globalização, reestruturação produtiva e precarização do trabalho. Na pandemia do coronavírus lançou a plataforma virtual RET DEBATES (bit.ly/retdebates).

6 COMENTÁRIOS

  1. Temos visto na educação básica a pressão ostensiva pela utilização de “aulas remotas”, eufemismo criado para Educação à distância. Desde os processos que desencadearam a Reforma do Ensino Médio se observa que a tônica da mercantilização da educação básica passa, inegavelmente, pela sua abertura à processos de ensino à distância, não presenciais no ambiente escolar. O período de isolamento imposto pela pandemia significou um assédio imenso, pretextualizado pela missão conteudista de não abandonar nossos alunos à mercê dos acontecimentos, para a implementação desses mecanismos educacionais. Conteudista, ressalto, porque a forma como a educação a distância nas redes públicas de educação básica tem sido abruptamente imposta têm se ancorado num discurso que não compreende que educação não é só conteúdo, e que negligencia aspectos socializadores da escola, vividos em entremeios informais, que poderiam dimensionar que educação não é só “transferência de saber”. Eleger a Ead como saída, tal qual a perspectiva do MEC, neste momento de pandemia, não é algo involuntário mas, sim, algo que esconde uma escolha anterior e que, não apenas desconsidera a realidade socioeconômica dos alunos aprofundando abismos de uma desigualdade educacional, mas que parece selar uma “orientação” de uma reforma empresarial na educação básica. Não é de hoje que estudiosos da educação nos alertam ao conteudismo como ideologia capitalista na educação. Oder José dos Santos escreveu um volume interessantíssimo chamado Pedagogia dos Conflitos Sociais em que busca desnudar esses mecanismos. Neste período de pandemia, o não conteúdismo poderia, talvez, criar possibilidades para uma construção educacional nos ambientes familiares de redescoberta da oralidade, de práticas culinárias, de jogos e do universo lúdico, de uma maior interação e convívio em família, de cuidado mútuo – evidentemente que às famílias que tiveram o privilégio de poder estar em isolamento … mas os sistemas de ensino insistem na métrica conteudista. O que a princípio passava pela socialização de possibilidades de utilização dos recursos virtuais para visitas à museus de arte, sites com conteúdo interessante, para o acesso à músicas de qualidade, espetáculos de dança, de teatro, desafios lógicos, informações relevantes relacionadas à pandemia, ao vírus, etc, virou um verdadeiro “pandemônio” para disciplinar o trabalho docente: na rede em que trabalho impôs-se a criação de grupos de grupos de whatssap para cada turma, o cumprimento de horários de aula em grupos de whatssap, a vigilância constante nesses grupos por parte de gestores educacionais para verificar a participação dos professores em seus horários de aula (os mesmos do cotidiano escolar) e assim atestar frequência, tornou-se constantes as ameaças de lançamento de faltas ao trabalho em caso de não adesão, fez “necessário” a realização de planos de estudos emergenciais aos alunos, planos de aulas às gestões escolares, para cada turma, para cada quinzena, burocracias e mais burocracias, vigilâncias e punições, houve ainda a adesão a plataformas empresariais (googleclass, zoom, etc) e a disponibilização involuntária do profissional docente ao atendimento de alunos e gestores educacionais à qualquer momento, em todos os momentos, muitas vezes por dia, à qualquer hora do dia, sob a cobrança por demoras vindas de todos os lados caso a resposta não viesse praticamente de imediato. O que temos vivido na educação básica é um conjunto de processos que, além de aprofundar o processo de mercantilização em curso, reproduz as crescentes da exploração existente nos processos de trabalho. Apesar de querer fazer crer os envoltórios tecnológicos, a educação a distância não se operacionaliza sozinha. Qualquer pessoa que tenha trabalhado como tutor virtual em algum ambiente virtual de ensino sabe o quão precário é essa alternativa de trabalho. Geralmente, não há possibilidades reais de intervenção por parte dos trabalhadores nos processos educacionais que transcorrem nesse formato. Os conteúdos são dados a priori e a operacionalização de uma plataforma virtual é um verdadeiro ritual de sofrimento. Em outras redes, é de conhecimento que cursos de formação profissional são operados nessa mesma modalidade, significando um aumento de trabalho imenso as professoras e professores, sem qualquer ganho extra, numa condição salarial já extremamente defasada. Não bastasse, no dia de hoje (15/04) o Secretario de Educação da rede estadual em que atuo, em rede nacional, anuncio a parceria “inovadora” da Secretaria com a Fundação Lemman para o desenvolvimento e operacionalização de sistemas de Educação à distancia. É possível considerar que as tecnologias (técnicas mais avançadas adequadas a um determinado fim) ou que as técnicas (mesmo as não avançadas) são neutras? O fato é que, os computadores pessoais, são uma tecnologia impressionante pois junta em uma mesma máquina lazer e trabalho e não é custoso ver a incorporação do tempos de lazer e de ócio ao sistema produtivo acontecer via assimilação por essas tecnologias. Relatado tudo isso, em relação ao texto a que este comentário segue, e que se propõe em seu primeiro parágrafo à dialogar com os professores das escolas, me questiono se esse diálogo é efetivo. Parece antes de mais nada pensar uma realidade específica, a da universidade, apenas. Se contextualizarmos como a questão da educação à distância está posta para a educação como um todo, e não apenas para a universidade, talvez seja possível ver outras questões, e à elas gostaria de chamar atenção. Defender, neste momento, a educação a distância nas redes de ensino públicas não significaria confluir com um projeto mercantilizador, com consequências nefastas e condições estarrecedoras? Penso que muito da perspectiva existente no texto se ancora na visão de que o trabalho nas instituições especializadas de ensino é um trabalho improdutivo, que reserva relativo grau de autonomia. Mas será essa a realidade da educação hoje ou a educação se estabelece como uma condição geral de produção, sujeita a uma economia política que a insere produtivamente nos mecanismos de acumulação de capital? Ademais, é equivocado dizer que a submissão do tempo de trabalho a estes mecanismos significa uma maior precarização? Quais condições reais temos de disputa numa educação extremamente antidemocrática?

  2. Partindo da constatação de que deve haver consenso em torno da definição do capital como relação social e de que o EAD tem sido sistematicamente empregado para precarizar as condições e as relações de trabalho, bem como para reduzir custos com mão de obra, me chama a atenção a postura do autor ao definir como “ignorância teórica” possíveis interpretações distintas da sua.
    Me fez lembrar a defesa de Lenin do emprego dos princípios da administração científica do trabalho no processo que os bolcheviques definiam como “edificação do socialismo”: “[…] A República Soviética deve a todo custo adotar o que for valioso nas realizações da ciência e da tecnologia neste campo. A possibilidade de edificar o socialismo depende rigorosamente do nosso êxito em combinar o poder soviético e a organização soviética da administração com as realizações atualizadas do capitalismo. Devemos organizar na Rússia o estudo e ensino do sistema de Taylor e sistematicamente pô-lo à prova, adaptando-o aos nossos fins”. Cito a partir de Harry Braverman. “Trabalho e Capital Monopolista”.
    Talvez seja relevante destacar que dentro da tradição marxista há diferentes interpretações a respeito da tecnologia. Grosso modo, há aqueles que distinguem a tecnologia de seu emprego sob relações sociais capitalistas, considerando a ciência em si como neutra. E há aqueles que compreendem a tecnologia como artefato social que carrega na sua essência a condição de instrumento de exploração e dominação. Também de modo muito genérico, tais concepções resultaram em projetos políticos bastante distintos: aqueles centrados na defesa da socialização dos meios de produção e na utilização da tecnologia herdada do capitalismo; e aqueles que consideram a socialização dos meios de produção insuficiente para a formação de relações sociais de novo tipo, a partir das quais resultariam novas tecnologias.
    Enfim, tendo a nem sempre definir quem possui um arcabouço teórico-conceitual distinto do meu como sendo necessariamente um “ignorante”.

  3. É ignorância teórica assumir-se como marxista e atribuir à tecnologia, em si, a responsável pela precarização do trabalho. Ignorância porque nunca leu Marx ou se leu nunca entendeu. Que existem marxistas que fetichizam a tecnologia, isso é verdade. Mas Marx diria: “Não sou marxista”. Não conhecer a dialética da história em pleno século XXI é ignorância teórica, sim, vindo de supostos intelectuais de esquerda que fazem sem saber, o jogo da direita. O problema da URSS foi outra coisa e não a “utilização” do taylorismo por Lenin. É ignorância teórica sim, ligar uma coisa à outra. Voce pode até não ser marxista e nem ser de esquerda, mas isso não impede de voce ser um “ignorante” na teoria das Máquinas numa perspectiva dialética. O fetichismo da tecnologia é uma posição não apenas ignorante, mas anacronica em pleno século XXI. O debate marxista no século evoluiu suficientemente para considerar sim, ignorância teórica a fetichização da tecnologia. E isso tem a ver sim, com um desconhecimento do que é realmente o capital. De fato, atribuir tal postura de fetichização das tecnoligias de EAD como ignorância teórica, deve incomodar. Por que será?

  4. Fazendo um esforço de relativizar a postura prepotente do autor, que insiste em defender que uma interpretação distinta da sua é demonstração de “ignorância teórica”, ainda que inserida no que prefiro chamar de tradição marxista, e que vai além ao dizer que um marxista que pensa diferente dele ignora a tal ponto a teoria marxiana que acaba por fazer “sem saber o jogo da direita”, gostaria que o autor demonstrasse a esse leitor (que ignora os axiomas do materialismo histórico e dialético e, por conseguinte, acaba por se tornar massa de manobra da direita) em que parte do meu comentário eu afirmei que a “tecnologia, em si, [é] responsável pela precarização do trabalho”.
    O que eu afirmei foi que o EAD tem sido sistematicamente empregado para precarizar condições e relações de trabalho… Algo que o próprio autor afirmou no início do artigo, mas restringindo a reflexão às universidades privadas.
    O autor aparenta se considerar “o” leitor e interprete adequado da teoria marxiana, a ponto de sugerir compreender “o problema da URSS”, no singular.
    Caro Giovanni Alves, como deve ser do seu conhecimento, a “utilização” do taylorismo pelos bolcheviques refletiu um debate mais amplo que dizia respeito a posições antagônicas e inconciliáveis: a gestão coletiva x a gestão de um homem só. Talvez essa seja uma questão menor no tipo de interpretação que você faz da revolução russa. Te digo que não é uma questão menor no tipo de interpretação que eu faço e que tampouco foi uma questão menor durante o processo revolucionário.
    Além disso, meu caro, discordar de parte do teu ponto de vista não significa necessariamente desconsiderar a possibilidade de as tecnologias serem reapropriadas pelos sujeitos sociais em luta e serem empregadas com finalidades totalmente distintas daquelas que serviram originalmente para sua formulação.
    Portanto meu caro, se você faz parte daqueles marxistas dogmáticos não espere que todos leiam a tua cartilha como um conjunto de verdades inquestionáveis.

  5. Eu gostei bastante do texto. Tanto que o divulguei. Mas como não sou trabalhador da educação e nem aluno atualmente, não tenho opiniõ formada nesse debate sobre EAD.
    Mas gostei da posição do artigo de sacudir a esquerda dos seus lugares comuns.

    Porém muito me espanta que o autor em comentário acima fale do taylorismo como se fosse uma tecnologia neutra. Taylorismo só é concebível numa sociedade em que os seres humanos (os trabalhadores) são reduzidos a objetos. Trata-se de uma técnica ou conjunto de técnicas de controle e organização do trabalho, cujo fim, necessariamente, não leva em conta o desejo, a vontade e a própria humanidade desses trabalhadores.

    Portanto querer juntar taylorismo com conselhos operários não é uma questão menor: é um contradição total Um dos dois morre.

    Serei categórico: quem não compreende isso não compreendeu absolutamente nada, não sobre um autor, mas sobre as relações de produção capitalistas e sobre a realidade num chão de fábrica (ou em qualquer lugar de trabalho).

  6. Caro Giovanni.

    Eu tenho medo das tecnologias EaD. Mas não porque acho que seja um bicho de sete cabeças. É porque concordo que o pressuposto de a tecnologia ser um meio de produção a serviço de uma gestão vertical da educação. Quando pudermos falar do EaD como uma assistência ou complemento à atividade docente, e esta estiver em disputa pelo próprio arbítrio dos docentes eu acho que vamos ter condições de pautar a tecnologia à nosso favor. Mas somos incapazes de fechar os olhos para as relações sociais de produção vigentes. Isso porque estou deixando de lado o debate sobre o acesso a esse ensino, que é no mínimo uma utopia para o ensino público a curto prazo. A minha preocupação nesse debate é estarmos antecipando uma crítica. Quem é que diz que o EaD por si só é maléfico? Não tenho visto a esquerda, mesmo a que pauta os lugares comuns, reivindicando isso. No mais, parabéns pelo texto! É importante que esse debate esteja sendo feito, e que lugar melhor que o Passa Palavra?

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