Por Música na Práxis
Brasil, 16 de Julho de 2020 — 12 músicos brasileiros lançam manifesto e plataforma digital para discutir as relações de trabalho da categoria em tempos de crise além de oferecer conteúdo sobre a história da música.
Pretendendo reunir os músicos em torno das contradições de sua profissão, o manifesto Música na Práxis surge como resultado da colaboração de 12 trabalhadores músicos que experimentam e pesquisam a exploração e a precarização do trabalho musical no capitalismo contemporâneo. Os músicos assinantes do manifesto tocam diferentes instrumentos e estilos, possuem diferentes formações musicais e atividades políticas, são de 5 estados diferentes, Amazonas, Pará, São Paulo, Rio de Janeiro e Paraná, mas compartilham da mesma visão classista sobre a condição do músico na sociedade capitalista. Entre eles a pesquisadora carioca Luciana Requião e o cantor amazonense Everaldo Barbosa.
Em 2010, como fruto de sua investigação sobre a exploração dos músicos, Requião publicou o livro “Eis aí a Lapa…”: processos e relações de trabalho do músico nas casas de shows da Lapa. Mais recentemente, como monografia de conclusão de curso, o cantor Everaldo também realizou uma pesquisa sobre as condições de trabalho dos músicos em Manaus. Afastando-se da superficialidade do senso comum, estes trabalhos compartilham a preocupação com as condições de vida e trabalho dos músicos na atualidade. Padecendo de uma instável condição, os músicos vivem no cotidiano as mazelas da baixa remuneração, atrasos, calotes, falta de proteção social e diretos trabalhistas.
O manifesto será lançado dia 16 de Julho de 2020 na plataforma digital (www.musicanapraxis.com) onde serão disponibilizados textos dos colaboradores acerca das contradições e desafios dos músicos dentro de suas relações de trabalho. A plataforma inclui as redes sociais com conteúdos sobre história da música brasileira e latinoamericana. O site não é apenas uma boa oportunidade para reunir a categoria e divulgar pesquisas sobre relações de trabalho no campo da música, mas além disso propõe repensar a história da música e o debate público sobre música dentro do capitalismo.
“É uma forma de chamar atenção das necessidades sociais e políticas dos trabalhadores músicos e ampliar o entendimento da música no Brasil” diz Bernardo Mesquita, um dos músicos assinantes do manifesto que complementa “Em nossos tempos conturbados um manifesto como este não deveria causar estranheza já que vivemos a desindustrialização e uberização do trabalho cujo efeito colateral observa-se em fenômenos políticos inéditos como foi o caso do recente ato nacional de paralisação realizado pelos entregadores de aplicativos de comida”.
Fundamentado na perspectiva da luta de classes, o manifesto Música na Práxis pretende reunir os trabalhadores para pensar a condição do músico como trabalhador na sociedade capitalista. “E além da música, você trabalha com o que?” Essa pergunta, que certamente já foi ouvida por todo músico, é ao mesmo tempo incômoda e reveladora, pois mostra como no senso comum não se reconhece a música como uma atividade laboral. Essa visão geral é contraditória se considerarmos que a música está profundamente integrada à economia capitalista, sendo um dos campos mais lucrativos da indústria. A frase também revela a triste realidade das condições de trabalho oferecidas pelo mercado musical, no qual os músicos não conseguem atingir nem mesmo uma remuneração suficiente para reproduzir sua vida material, sendo obrigados a desempenhar outra atividade para complementar sua renda. Na realidade atual é comum encontrar músicos de imenso talento exercendo outras profissões. Em tempos de grave crise econômica as condições de vida e trabalho se deterioram fortemente. O músico é uma categoria dificilmente pensada como membro da classe trabalhadora e isso atrapalha muito na organização política da categoria.
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