Invisíveis entrevistam estagiário da CRE
Entrevistamos um estagiário da rede municipal de ensino do Rio de Janeiro que faz o atendimento de crianças especiais. São incontáveis as vezes em que a Prefeitura não foi transparente sobre o pagamento e atrasou a bolsa, às vezes deixando os estagiários três meses sem esse pagamento. Sexta-feira (17/07) acontecerá uma manifestação em frente à porta da Prefeitura para cobrarem seus direitos.
Invisíveis (I): E aí? Qual foi a principal questão que desencadeou esse ato?
Estagiário (E): O atraso no pagamento, sem dúvida. Sempre recebemos no quinto dia útil do mês. E depois desse atraso não nos deram uma resposta. Semana passada entramos em contato diversas vezes com a Talma — Secretária de Educação — e ela diz que está resolvendo isso desde quarta ou quinta-feira. Aí ficamos até o final de semana… Depois segunda… E hoje ainda não obtivemos uma resposta. Ontem tivemos a ajuda de um estagiário da equipe da Globo. Pediu para explicarmos o que estava acontecendo. Ele fez uma matéria pedindo uma resposta à Prefeitura.
Daí eles retornaram dizendo que não tinham o prazo das Cordenadorias de Educação — as CREs —, falaram que não adiantava ligar para essas coordenadorias nem para o departamento financeiro da Prefeitura, porque eles dariam a mesma informação. Ontem a Prefeitura repassou uma informação dizendo que o pagamento estava previsto para sexta-feira (17/07), demonstrando que existem informações contraditórias. Foi isso que desencadeou a chamada do ato. Tanto a falta de pagamento quanto a falta de informação sobre ele.
I: Vocês estão atendendo alunos especiais remotamente?
E: Eu estou, e a maioria também. Alguns não precisam, ou porque o responsável [da criança] não autorizou esse atendimento remoto ou aqueles que não têm condições de ser atendidos de forma remota, como, por exemplo, quando os alunos têm autismo grave. Agora, eles pagam 443 reais, que é a bolsa, e isso não inclui o custo dos dados móveis que temos de usar para fazer esse atendimento remoto. Muitas vezes temos mais de um aluno, é um desgaste muito grande. A bolsa muitas vezes supre mais as necessidades da faculdade mesmo.
I: Vocês recebem o Auxílio Emergencial do governo?
E: Vários sim, eu particularmente não. Alguns estagiários, além do estágio, tinham outra fonte de renda, como MEI [Microempreendedores Individuais]. Com isso, tiveram suas rendas prejudicadas. O Auxílio Emergencial supriu essa parte. Houve prejuízo, mas o Auxílio ajudou a complementar.
I: Quais são as dificuldades em se mobilizar para um ato em meio à pandemia da Covid-19?
E: O maior problema é a mobilidade, a distância do centro da cidade. Somos de muitos locais. Inclusive, para o pessoal da Zona Oeste, os ônibus são escassos. A opção mais viável é o trem, mas ele nem sempre nos deixa próximo do centro, temos de andar um pouco. Vamos de máscara e com um potinho de álcool em gel. Estamos orientando o pessoal a higienizar dentro do transporte, inclusive, porque não sabemos se eles higienizam. E vai ser obrigatório o uso de máscara durante o ato.