Por Passa Palavra

Nesses dois últimos meses a corrida em busca de uma vacina para o novo coronavírus tem sido uma prioridade para as autoridades sanitárias. No Rio de Janeiro, a Fiocruz está coordenando uma série de testes para uma vacina desenvolvida na Universidade de Oxford. Em São Paulo, o Instituto Butantã firmou uma parceria com um laboratório chinês que já está na terceira fase de experimentação de uma possível vacina. Ambas poderão ser produzidas no Brasil. São essas as esperanças que têm norteado as poucas autoridades que ainda apostam nas medidas de isolamento e distanciamento social.

Apesar desses esforços, Bolsonaro se mantém intransigente na defesa da solução miraculosa da cloroquina, medicamento sem comprovação de eficácia contra o coronavírus, apostando inclusive a própria vida no seu tratamento pessoal. Não só a cloroquina, mas também a ivermectina têm sido muito receitadas sem a devida preocupação científica. Esta última, um remédio contra diversos parasitas, está sendo receitada por muitos médicos para pacientes assintomáticos como medida de prevenção, isto é, antes mesmo de o paciente apresentar sintomas graves. Mas o que leva esses ditos profissionais a assinar tais receitas absurdas?

Existem médicos que estão cientes dos perigos aos quais os pacientes se submetem quando usam esses medicamentos sem comprovação, mas há um movimento forte dentro dos hospitais, por parte de gestores ou colegas de trabalho, intimidando-os a distribuírem essas falsas soluções. Assim acontece em Goiás, onde os Invisíveis têm denunciado essa atitude por parte de alguns médicos. Na proposta de manejo à doença, estão sendo receitadas cloroquina e/ou ivermectina para a primeira fase do tratamento.

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O peso atingido pela cloroquina nesses debates é um peso político. Recentemente, publicamos um Flagrante Delito em que uma pessoa dizia à outra para colocar açafrão na comida para prevenir-se contra o coronavírus. E em uma entrevista publicada neste site, uma pessoa que trabalha em enfermaria disse ter recomendado a uma paciente o uso de “mel e gengibre”, porque “o vírus não gosta”.

Essa aceitação de saídas “alternativas” se consolida entre profissionais que não se baseiam na ciência, mas em sua pura intuição. Tais saídas assemelham-se às cápsulas de hidroxicloroquina que o presidente aparece recomendando em vídeos. Se para os cientistas o vírus e as medidas de combate à pandemia devem ser despolitizados, para a ala ligada ao núcleo duro do bolsonarismo eles são um entrave que impede que o Brasil volte a produzir. Diante disso, parte da esquerda fala em “hipocrisia sanitária” e trabalhadores receitam “boas e velhas soluções” — mel com gengibre, açafrão… cloroquina…

1 COMENTÁRIO

  1. Se perceberam a babaquice que é falar em “hipocrisia sanitária”. Por que não chamar as coisas pelo que elas são? Em textos como esses aqui https://passapalavra.info/2020/07/133108/, aqui https://passapalavra.info/2020/05/131944/ e aqui https://passapalavra.info/2020/06/132281/
    Esses dizem como um crime sem nome, não é nomeado pois a gente muito bem o que eles significam e as lembranças que eles trazem: genocídio, “solução final”, abate… Soluções criadas por setores capitalistas que tem aproveitado a pandemia pra implementar políticas pra aproveitar extração de mais valia absoluta, mesmo que sejam anti-econômicas aos olhos da recuperação de produtividade. Essa é a promoção de 90 mil mortes enquanto poupa com políticas de recuperação financeira. Na saúde essa denúncia não é nova: https://noticias.uol.com.br/colunas/jamil-chade/2020/04/17/organizacoes-denunciam-na-onu-corte-de-orcamento-no-brasil-para-saude.htm

    Dado isso, por que os amiguinhos que falam em “hipocrisia sanitária” não devam ser chamado à responsabilidade que é invisibilizar a política de extermínio em curso no país? O discurso de “hipocrisia sanitária” aponta para “inevitáveis revoltas populares”, mas até onde? Qual o limite dessas diante da pressão bolsonarista apontando a mesma chave de pensamento? Onde isso constitui formação de solidariedade entre trabalhadores?

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