Por Anônimos

O artigo a seguir analisa os eventos ocorridos entre 12 de junho e 14 de julho de 2020 na ocupação de um Wendy’s em Atlanta, o local do assassinato de Rayshard Brooks, 27 anos, pela polícia local. No decorrer daquele mês, um estranho entremundo formou-se em torno das entranhas ardentes de um restaurante de fast food. Nele vimos um dos exemplos mais violentos de militância negra no país. O caráter emblemático da luta no Wendy’s permitiu aos autores experimentar algumas das mais poderosas intervenções — e algumas das mais perigosas limitações — da rebelião americana hoje. A seguir, os autores focam em três dimensões desse conflito: o efeito da liderança militante negra; fatalismo e paranóia como condições constitutivas do evento; e a função das armas e da força letal no desdobramento do conflito.

Para Rayshard Brooks, Natalie White e Secoriea Turner.

12 de junho. Era pouco antes da meia-noite de uma sexta-feira à noite, quando recebemos a notícia. Eu estava sentado na frente de uma casa com todos os outros em uma festa. A maioria de nós estávamos na merda, intoxicados por uma mistura de adrenalina de 17 dias seguidos de revoltas, um longo fornecimento de meses de álcool saqueado, MDMA [metilenodioximetanfetamina, ectasy], tudo o mais que você podia colocar em seu corpo para ajudá-lo a se livrar de seu velho semblante e assumir novas fisionomias num corpo comum da revolta. A atmosfera carnavalesca se esvazia instantaneamente.

Alguém sai da casa em desespero. “A polícia atirou em um homem no Wendy’s. B [um amigo próximo dela] viu a coisa toda. Ele estava no estacionamento filmando e está sendo levado como testemunha”. Uma onda de pânico entorpeceu o ambiente. Todos nós sabíamos o que aconteceu com a pessoa que filmou o assassinato de Alton Sterling, assim como aconteceu com a pessoa que filmou o assassinato de Eric Garner. Tínhamos que tirá-lo de lá rapidamente. Wendy’s?! Entre a University Avenue e a Pryor? O prédio ficava bem no fim da rua.

Acabamos decidindo ir para o local. Uma aglomeração pequena, mas furiosa diante de uma fileira policial. A maioria eram negros, o que refletia o bairro onde ocorreu o assassinato. Gritavam para a polícia e o delegado, também negro, que saía para acalmar as pessoas. Ninguém estava aceitando o discurso. Eles conversavam entre si sobre o que havia acontecido, não fizeram segredo das armas que estavam carregando, e bloquearam as ruas até tarde. Trocamos olhares com os camaradas na multidão e com os moradores. Era muito cedo para prever o que aconteceria, muito tarde da noite para esperar a formação de uma multidão.

A gente se esforça para pensar na rebelião de George Floyd como um único movimento, e até mesmo para fazer afirmações transregionais sobre seu conteúdo político. Só podemos falar dos eventos que se desenvolveram em diferentes lugares – falamos de Kenosha, de Portland, da Zona Autônoma de Capitol Hill (CHAZ), Minneapolis, Chicago, Nova Iorque, Los Angeles, Richmond, Atlanta, cada um com sua própria dinâmica. O que a rebelião deixou claro é que estamos vivendo a contínua e desigual fragmentação dos Estados Unidos da América como o conhecemos.

Passei os últimos 10 anos tentando imaginar como seria algo como a rebelião de George Floyd – debatendo o que a desencadearia, como as pessoas lutariam, que lojas saqueariam, como tudo seria coordenado. Nunca na minha mais fértil imaginação poderia ter concebido isto.

No dia em que o Wendy’s foi incendiado, a exótica polícia de paz foi encarregada de berrar por meio de megafones a uma multidão local que os ignorou e passou por eles sem a menor preocupação. Tentativas de organizar a multidão segundo linhas raciais – “pessoas brancas para a frente”, e assim por diante – foram quase totalmente ineficazes. Enquanto algumas pessoas eram convencidas a ficar na rodovia para imitar os efeitos do trânsito estrada abaixo, a maioria da multidão era capaz de colaborar e coordenar a balística e as armas através das linhas raciais. O mito do “agitador de fora” soou como uma piada maldosa nos ouvidos de todos por ali [1].

Nos primeiros dias de ocupação foi cada um por si. Todas as noites, jovens saíam para bloquear as estradas com lança-chamas, armas, espadas e veículos. Esses eventos tomaram conta dos cruzamentos adjacentes e, ao cair da noite, formavam-se caravanas para saquear as partes ricas da cidade. A ocupação de espaço não se limitava ao estacionamento. Era poroso e difuso, mais móvel do que fortificado.

Comparecemos ao Wendy’s quase todos os dias, desfrutando dos ares nitidamente ‘anti-políticos’ do espaço. Mas com o passar do tempo, ficamos inseguros quanto ao término da ocupação. Tínhamos estado ocupados construindo infra-estrutura e formando alianças com parte da equipe de segurança, mas não tínhamos tido muita conversa com ninguém sobre o que iria acontecer a seguir.

Wendy's: luta armada no fim do mundo

Avancemos duas semanas. Em 29 de junho, um camarada nos enviou uma mensagem sobre o texto da liderança do Wendy’s, endereçada “A quem possa interessar”. Os autores da mensagem chamaram a ocupação de “protesto privado” antes de dizer que “temos um plano detalhado, e não queremos que nossos desejos sejam confundidos com outros desejos da comunidade”. Esta foi a primeira vez que ouvimos falar de um “plano detalhado”. Eles continuaram: “Até agora, não infringimos nenhuma lei”. Eles “querem que os governantes da comunidade se sentem conosco” para organizar a construção de um Centro de Paz e de um monumento nacional, entre outras coisas. O restante da carta listava exigências para a abolição da polícia. Tivemos que rir da ideia de chamá-la de “protesto privado”, e especialmente da parte em que eles disseram que “não infringimos nenhuma lei”. Alguém tinha incendiado aquele prédio, e isso com certeza não era legal. Muita gente está enfrentando acusações por isso. A autoproclamada liderança claramente não tinha estado lá desde o início. Eles não tinham mais direito de propriedade sobre o espaço do que qualquer outra pessoa. Esta foi a primeira vez que ouvimos dizer que alguém queria transformar o Wendy’s em um “Centro de Paz”. Não estava claro para nós exatamente como isso deveria acontecer. Basta sentar-se no estacionamento o tempo suficiente com armas, e a cidade o dará a você? Somente quando a estratégia foi anunciada é que percebemos a total ausência de uma estratégia.

A liderança (militante) negra

O grupo que construiu uma ocupação fixa no Wendy’s não estava de forma alguma afiliado ao Black Lives Matter oficial ou a qualquer outro grupo ativista pré-existente, e por esta razão não podemos descrevê-lo como uma liderança política em um sentido tradicional. A situação da ocupação era notável quanto à ausência de esquerdistas ou ativistas, assim como de pessoas fazendo proselitismo, dando ordens através de megafones, assembleias gerais ou tentativas de “organizar” outros. Embora uma liderança ativista visível e tradicional não estivesse em lugar algum, o que emergiu em vez disso se encaixava mais na linha de uma liderança silenciosa e informal.

As funções no Wendy’s podem ser entendidas através de três categorias claramente definidas: um conselho de líderes; um elemento de liderança de gangues; e uma equipe de segurança composta em grande parte por homens mais jovens cujo papel era guardar a entrada do estacionamento do Wendy’s, fazer patrulhas noturnas para vigiar os sinais de batidas policiais e, de tempos em tempos, bloquear as estradas e controlar o tráfego. Em geral, a liderança apresentou muitos obstáculos para liberar todo o potencial da ocupação, tornando-a mais uma zona livre de policiais do que uma zona autônoma.

Constitutivamente os movimentos contemporâneos não têm líderes. Esta não é uma escolha moral – uma decisão de oposição a qualquer comando emitido de alto nível – mas uma condição de nossa época. Como o Coletivo We Still Outside escreveu recentemente, “O que eles chamam de ‘a liderança negra’ não existe”. Não quer dizer que ninguém tome iniciativas, nem que ninguém diga às pessoas o que fazer. Longe disso. O ponto, mais uma vez, é histórico. Nos anos 60, havia a NAACP [Associação Nacional para o Progresso de Pessoas de Cor], o SNCC [Comitê de Coordenação Não-Violenta do Estudante], o Movimento de Ação Revolucionária, os Panteras Negras, o Clima Subterrâneo, o SDS [Estudantes para uma Sociedade Democrática], o BLA [Exército de Libertação Negra] com suas figuras concomitantes – Martin Luther King Jr., Huey Newton, Assata Shakur. Quem são estas figuras hoje? Se há muitos mártires das lutas dos últimos anos, não há líderes. Mesmo que alguns elementos da organização formal Black Lives Matter tenham sobrevivido ao ciclo BLM anterior, eles desempenharam em grande parte um papel pacificador na atual revolta, advogaram por reformas, ou na melhor das hipóteses foram reduzidos a expressar apoio a ações mais combativas com as quais eles nada tiveram a ver. Black Lives Matter sobrevive não como uma organização, mas como um meme, ou seja, como um slogan, na melhor das hipóteses. Quando os líderes surgem, é improvável que tenham qualquer envolvimento impactante com a luta – hoje em dia, lideram as lutas apenas em um momento: em direção ao fim destas lutas.

A liderança do Wendy’s escolheu o objetivo de criar o Centro de Paz Rayshard Brooks, que se destinava a criar serviços de cuidado e cura para o povo negro. Este objetivo parecia apropriado para a situação e até potencialmente realizável, e, enquanto ideia, ganhou o apoio de muitos participantes da ocupação.

Mas a estratégia foi confusa na medida em que tentou combinar elementos de uma ocupação conflituosa e militante com o objetivo final de ter uma conversa com os políticos da cidade. Desta forma, o conflito sobre o desfecho da ocupação tem uma analogia insuspeita com o conflito sobre a Zona A Defender (ZAD). Seria melhor manter um espaço militante que se recusasse a negociar com a cidade, mas que acabaria sendo esmagado militarmente? Ou faria mais sentido envolver-se em negociações para obter vitórias mais permanentes que, embora potencialmente recuperáveis, poderiam, em última análise, ter fortalecido os envolvidos? (Sobre esta nota, é interessante que relatos recentes de Portland tentaram colocar em questão a mesma dicotomia de “política de pressão versus ação direta”).

O problema da liderança no Wendy’s ultrapassou as críticas tradicionais à liderança do movimento. Tais críticas tendem a focalizar os atores que tentam circunscrever os limites da ação a gestos em grande parte simbólicos, enquanto neutralizam ou denunciam quaisquer forças que tentem superar esta estrutura. No texto “Sobre a liderança negra e outros mitos brancos”, por exemplo, o problema particular atribuído à liderança negra é sua tentativa pacificadora de abafar a raiva negra não mediada em uma tentativa de apelar para o imaginário branco. Enquanto tal crítica capta o problema de líderes negros como o prefeito de Atlanta Keisha Lance Bottoms, esta narrativa não descreve eficazmente o que aconteceu no Wendy’s. Especificamente, enquanto os líderes de lá ditavam quais tipos de ação eram ou não legítimos, eles não pacificaram o movimento, nem fizeram qualquer tentativa de apresentar uma versão mais palatável da raiva negra que ganharia amplo apoio simbólico da sociedade civil branca. Ao invés disso, a liderança opaca acelerou uma postura militante em relação ao conflito a tal ponto que, como descreverei a seguir, contribuiu para a eventual decadência da ocupação. O problema da liderança combinada com a natureza armada da ocupação consolidou o poder de uma forma que determinou em demasia o resto da situação.

De uma perspectiva pragmática, o principal obstáculo apresentado por essas tentativas mais militantes de liderança é que nossos sistemas organizacionais eram incompatíveis, o que impedia a comunicação entre eles quase por completo. Era quase impossível para um grupo que operava com uma liderança próxima e um claro senso de constituição interna interagir e se envolver com enxames caóticos e sem liderança. A forma hierárquica de comando dos pseudolíderes na ocupação do Wendy não podia interagir com aqueles habituados a operar com base em princípios de autonomia. Com relação a seu próprio sistema organizacional, a liderança no Wendy’s tinha uma clara noção de quem era quem, e como resultado, era capaz de distribuir claramente tarefas e delinear uma estrutura de comando dentro de suas próprias fileiras. Mas este modelo de organização pertence a uma era já passada, na qual os participantes de um movimento poderiam buscar coerência forçando tudo a um alinhamento ou esperando que a ideologia ou identidade proporcionasse uma unidade pragmática.

Nas insurreições contemporâneas, esta estrutura hierárquica de comando e seu concomitante impulso para a unidade está sendo substituído por uma forma de inteligência coletiva imanente. Gestos e comunicação espalhados por uma sociedade cada vez mais fragmentada, sem consolidar nenhum corpo organizacional coeso ou identidade própria. Ações e táticas, compartilhadas no Telegram ou mídias sociais e dispersas para atender às necessidades de locais específicos, disseminadas de forma memetizada. Nossa tarefa organizacional, portanto, tem mais a ver com mediar as diferenças do que com superar a separação. Enfrentar o problema organizacional com uma compreensão da fragmentação como uma condição, ao invés de uma falha, será crucial para permitir que nossos movimentos floresçam – mais do que degradem-se – sob a marca da falta de liderança.

É dia 10 de junho, o clima é vibrante, estamos no meio de uma revolução. Estamos em um pátio ficando chapados novamente, 7 ou 8 de nós em plena atividade, prestes a descer para o Wendy’s para passar a noite. De repente, ouvimos tiros. Agora, aqui é Lakewood Heights, as pessoas disparam tiros todas as noites neste bairro. Mas eu nunca ouvi nada parecido em minha vida. No total, mais de 100 tiros foram disparados. Os tiros continuaram por cerca de 30 minutos. Recebemos a notícia de que alguém que conhecemos foi atingido por uma bala ricocheteada. Eles fizeram um torniquete em sua perna e sentaram-se ali calmamente, esperando para serem expulsos. Felizmente, eles conseguiram sair sem nenhum ferimento grave. Mais tarde ficamos sabendo que o tiroteio inicial veio de pessoas brancas que subiram e abriram fogo no Wendy’s.

Wendy's: luta armada no fim do mundo

O dia 10 de junho marca o primeiro dia em que não estávamos no Wendy’s. Respiramos no dia seguinte também, e nos organizamos para fazer um grande churrasco um dia depois. Parece que as pessoas realmente não sabem o que está acontecendo no Wendy’s, então tentamos abri-lo para a comunidade, e tentamos atrair algumas pessoas novas para o espaço. Precisamos do espaço para crescer. Precisamos de mais pessoas para vir com suas próprias iniciativas e ajudar a construir o espaço.

Fizemos um chamado para doações e recebemos muitos apoios financeiros. Preparamos um banquete exorbitante. Não estou falando de cachorros quentes, mas de vários tipos diferentes de carne e peixe, e de um pote gigante de pimentão. Passamos a melhor parte do dia na preparação. Levamos dois carros até o Wendy’s por volta das 13h. O primeiro carro entra tranquilamente com o churrasco na parte de trás. Eu estou no segundo carro, enrolamos e tentamos entrar no estacionamento, carro lotado de comida. Somos recebidos por um homem estranho segurando uma folha laminada de papel quando nos aproximamos da entrada. Abrimos a janela e ele diz: “Você já esteve no Peace Center antes?”. “Senhor, este é um Wendy’s”, eu não disse. Ao invés disso, “Estive aqui todos os dias e nunca o vi aqui, quem é você?” O homem se inflama, nos diz que precisamos encostar e ouvir seu discurso antes de entrar. Nós o ignoramos e fazemos sinal a algumas das pessoas que conhecíamos dias antes, e tentamos fazer com que nossos camaradas nos ajudassem. O homem fica impaciente e começa a gritar “Saiam daqui! Vão para o outro lado da via”. Neste ponto, as coisas realmente ficam tensas. De repente, nosso carro é cercado por pessoas armadas. A esta altura, obedecemos. O carro dá a volta, e ficamos presos pela janela enquanto dirigíamos o carro para o outro lado da rua. Bem, agora está um pouco estressante. Somos escoltados até o outro lado da rua, onde estacionamos. Nosso carro ainda está cercado. “Vocês têm bombas neste carro, IEDs”, alguém nos diz, “não, eu tenho estado aqui todos os dias, vocês nos viram aqui”. Viemos para cozinhar para vocês e o carro está cheio de comida“. Eles revistam o carro; eu escondo a faca que trouxe para cortar a comida sob meu assento da maneira mais discreta possível. De volta ao estacionamento do Wendy’s, as proposições estão em andamento. Nós fumávamos cigarros para passar o que parece ter sido uma eternidade. Nossos amigos ainda estão atrás do posto de controle armado. Tudo o que podíamos fazer era esperar. Finalmente, concluímos com eles que estávamos lá para fazer o churrasco acontecer. Um cara mais velho se aproxima de nós: “Eu sei que todos vocês estão aqui para fazer coisas boas por nós. Mas não façam mal a esta comunidade. Eu prometo a vocês, se vocês fizerem mal a esta comunidade, nós temos franco-atiradores apontados para vocês, há mais de 50 armas naquele estacionamento agora mesmo. Se você pisar na bola, não sairá vivo”. Asseguramos que não queremos fazer mal a eles e depois recebemos uma caravana armada do outro lado da estrada. Um dos membros da equipe de segurança nos diz: “É bom que você esteja aqui conosco. Todos os que não estão conosco vão morrer”.

Uma vez que alcançamos a beira oposta do estacionamento do Wendy’s, começamos a descarregar o veículo. Pouco depois, um desentendimento surge no estacionamento e, finalmente, alguém aparece e nos diz para sairmos antes que sejamos expulsos. Até o momento em que nos preparamos para sair e nos posicionamos no entorno da esquina, e havíamos trazido de longe bandejas de comida para o espaço.

O tiroteio de 10 de junho transformou o protesto irrestrito em uma ocupação definida e limitada, e as pessoas brancas foram temporariamente banidas do espaço. Fazia sentido para eles reforçar a segurança após um tiroteio, mas o resultado final disto foi um forte aumento da militarização do espaço combinado com uma suspeita de todos que não tinham estado lá antes. Com o passar do tempo, foi dito aos visitantes que poderiam vir observar o monumento a Rayshard, mas que depois de prestar seus respeitos, teriam que partir. No máximo, qualquer um que quisesse ficar mais tempo teria que se registrar com a equipe de segurança, informar quais tarefas queriam realizar, quanto tempo esperavam estar lá e sair depois de terem terminado o que vieram fazer. Em um caso notável, um jovem que se voluntariou para montar uma estratégia midiática para a ocupação foi permanentemente banido por cortar um buraco na cerca do estacionamento no lote vizinho, um gigantesco espaço aberto cheio de muitos materiais de barricada e muitos esconderijos, assim como uma saída escondida. Não era mais um espaço para curtir como tinha sido nos primeiros tempos, e certamente não era mais um lugar para experimentação.

Notas

[1] A história de Natalie White é mais sinistra do que tem sido relatado muitas vezes. Esquecem do depoimento de que ela era namorada de Rayshard, e o fato de que Rayshard também era casado. A história depois disso é bem conhecida, Natalie foi caçada depois que vídeos circularam na mídia social mostrando uma mulher branca supostamente incendiando o prédio. Mas o Departamento de Polícia de Atlanta só se moveu para prendê-la após o funeral, no qual ela não estava presente. Depois que a família passou por seu processo de luto em conjunto, o Estado então se movimentou para retirar a parceira ‘extramatrimonial’, isolando-a ainda mais da família negra de Rayshard. A maioria dos Black APD poderia assim tentar se alinhar com a família de Rayshard com base na identidade negra, enquanto tentava isolar Natalie White da família, numa tentativa de fazer com que a família se desidentificasse com a revolta que se desdobrou após a morte de Rayshard.

O artigo em questão foi publicado originalmente em novembro de 2020 e sua tradução, realizada pelo Passa Palavra, será publicado em três partes (Parte 2 e Parte 3). Sua versão em inglês pode ser lida aqui.

As fotos que ilustram o artigo são do evento esportivo “Rumble in the Jungle”, uma luta de boxe entre Muhammad Ali e George Foreman patrocinada pelo presidente do Zaire, Mobutu Sese Seko, em 1974.

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