Por Victor Silva
Empresas de operação logística da iFood estão pressionando os entregadores para que operem normalmente no dia da mobilização grevista na Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio de Janeiro.
Entregadores da operação logística da Carioca Delivery denunciam que o líder OL da sub-praça da Península usando a conta comercial da empresa, disse o seguinte:
“Entregador OL que aderir a essa suposta greve tem alta probabilidade de ser bloqueado. (…) A iFood chamou segurança para os pontos de greve, chamou viaturas a mais para o ponto de greve. Então a chance dessa greve dar em nada é grande. (…) Quem for impedido de fazer entrega por esses supostos grevistas não desligue o aplicativo nem desloque a entrega, entre em contato com a central ou comigo (líder OL) pra gente ver o que faz”.
Os entregadores mobilizados, que pediram para não ser identificados, consideraram o áudio uma tentativa de intimidação e pressão sobre os trabalhadores da modalidade de Operação Logística para que não participem da greve, nem colaborem passivamente. A orientação é de enfrentamento com o “breque” da categoria.
A Carioca Delivery não foi a única empresa operadora da iFood a se manifestar sobre a mobilização nos grupos de mensagens em que se discutem a escala e as “questões operacionais”. No grupo de Telegram da Sismotos, os operadores da região falaram que no dia 18 “vai rodar normal, qualquer coisa entre em contato com seus líderes”. Já a CR Express, empresa que também é operadora logística da iFood na região da Barra da Tijuca, anunciou uma promoção de R$30,00 para quem ficar online 90% dos dois turnos do domingo e “prioridade na escala da semana”. Normalmente o bônus para quem trabalha no domingo é de R$20,00 – mas o principal é a promessa de “prioridade” que foi entendida como uma ameaça pelos entregadores. “O que a gente entende é que quem não trabalhar domingo por conta da greve vai ficar com dificuldade de conseguir turno durante a semana e pode reduzir o rendimento”, disse um entregador que trabalha na modalidade de operador logístico e pediu para não ser identificado.
A iFood, perguntada sobre o áudio e especificamente sobre as ameaças de bloqueio e de envio de seguranças e policiais que supostamente iriam reprimir a greve, declarou que: “respeita, de forma incondicional, os direitos democráticos à manifestação e à livre expressão. A empresa reitera também seu compromisso de criar diversas iniciativas para melhorar a experiência dos entregadores, baseada em escuta ativa e constante e em transparência”. Procuradas, a Carioca Delivery, CR Express e Sismotos não quiseram se manifestar.
A iFood também se posicionou sobre os motivos da greve do dia 18 conforme elencados no panfleto de mobilização dos estabelecimentos.
Sobre a questão das modalidades e a desigualdade da distribuição de entregas, a “iFood ainda esclarece que as modalidades OL (Operador Logístico) e Nuvem são complementares” e que a distribuição das entregas “leva em consideração fatores como a disponibilidade e localização do entregador, bem como a distância entre o restaurante e o consumidor”. Os entregadores argumentam que desde 1 de julho, as entregas têm sido distribuídas quase com exclusividade para os entregadores da modalidade OL sub-praça.
A iFood disse ainda que “como parte do ecossistema do iFood, os OLs contribuem em diversos cenários, por exemplo, com entregas em localidades específicas e com alta concentração de pedidos. Nesse contexto, os OLs podem posicionar seus entregadores para atender a demanda”. Apesar de poderem ser “posicionados” por seus operadores empresariais, os entregadores OL não têm vínculo empregatício, nem direitos, nem nenhum tipo de garantia.
Sobre código de validação de entrega, a iFood diz que “já disponibiliza nacionalmente o recurso de código para validação de entrega. Essa funcionalidade certifica que o pedido foi entregue para o destinatário correto, prevenindo, por exemplo, extravios. Hoje já está disponível em 209 localidades no país, incluindo o Rio de Janeiro, e o projeto continua em fase de expansão. Só em 2021 já foram realizadas mais de 4,5 milhões de entregas utilizando o código de entrega”. Os entregadores dizem que querem o código para todas as confirmações e atualmente o código só é para algumas entregas.
Entregadores envolvidos na mobilização do dia 18 que pediram para não ser identificados responderam que a resposta da iFood “não atende absolutamente nada”. A mobilização segue marcada para acontecer às 10h no Barra Shopping com as mesmas pautas.