Por Emerson Martins

No último sábado um coletivo autointitulado “Revolução Periférica” realizou um ato simbólico e ateou fogo ao monumento de Júlio Guerra em homenagem ao bandeirante Manuel de Borba Gato. O grupo filmou a ação e publicou o vídeo no seu Instagram que, em menos de um dia, já tinha quase 400 mil visualizações. O ato faz referência explícita a manifestações semelhantes de derrubada de monumentos considerados racistas mundo afora e foi comemorado aqui no Brasil por grande parte da esquerda.

A estátua é motivo de controvérsia desde que foi inaugurada, em 1963. A especialista na obra de Júlio Guerra, Cristina Costa, conta que o artista, que nasceu em Santo Amaro antes de o município ser anexado e tornar-se bairro da capital paulista, fez o monumento como resposta à anexação: “Foi para refrear essa invasão paulistana que ele imaginou, talvez, um bandeirante nas portas da cidade (…) Jamais pensou em honrar um caçador de escravos”. Ela explica ainda que a obra foi erguida com recursos próprios e “uma técnica absolutamente pioneira de mosaico” de influência nitidamente popular. “O Borba Gato não é uma obra épica, mas popular — o único monumento de arte popular de São Paulo”. E conclui, rebatendo aqueles que defendem sua derrubada: “Se ele ofende o gosto das elites e as ideologias do momento, vamos ressignificá-lo, alterando seu nome. Vamos chamá-lo de Caipira de Santo Amaro que é o que ele realmente é”.

À estupidez estética dos carbonários, somam-se ainda a estupidez política e organizativa. A ação se deu no mesmo dia em que por todo o país ocorreram manifestações contra o governo de Jair Bolsonaro. Entretanto, as manifestações praticamente desapareceram da cobertura midiática diante do espetáculo incendiário. Quem se beneficiou disso foi o próprio bolsonarismo, que conseguiu desviar o foco das denúncias que pesam contra o governo e agora acusa a esquerda de “terrorismo”.

Se no plano político a ação foi inoportuna, no plano organizativo ela foi amadora. Os autores não apenas deixaram pistas nas redes sociais, como acabaram incriminando o motorista que dirigia a van e acabou sendo preso na madrugada de domingo. Segundo a advogada que acompanha o caso, Thiago Vieira Zen foi contratado para transportar os pneus e não sabia da ação. Agora ele aguarda o julgamento em liberdade e deve obedecer a uma série de medidas cautelares, não podendo estar fora de casa depois das 20h. Como bem apontou Celso Lungaretti, ao relembrar um episódio em que o guerrilheiro Carlos Lamarca vetou uma ação do seu grupo, que planejava explodir a estátua de Duque de Caxias, em São Paulo, em meados de 1969: “uma mera provocação não valia o preço que o nosso pessoal, indefeso, poderia ter de pagar por ela”.

O entusiasmo da esquerda por essa ação desastrada diz muito sobre o buraco em que nos metemos. Perto de tanta estupidez os treze metros do Borba Gato quase desaparecem da vista.

Júlio Guerra ao lado de sua obra

29 COMENTÁRIOS

  1. Faz agora um ano, publiquei aqui um ensaio intitulado Outra face do racismo, e na 2ª Parte, a respeito das tentativas de purificação da língua consoante os cânones do politicamente correcto, escrevi o seguinte:

    «Com essas disputas etimológicas reconstrói-se o vocabulário e apaga-se a história das palavras. E, ao omiti-la, pretende-se refazer a história, como se fosse possível dar-lhe um percurso que ela não teve. Não foram os identitários quem inaugurou esta prática, mas é paradoxal suprimirem os traços que precisamente, a seus olhos, os legitimariam. São contradições inevitáveis, porque quando se transporta a luta para o plano dos símbolos, e portanto das aparências, a luta só pode ser aparente. A mesma inspiração leva a derrubar estátuas. A distopia assume a forma mais perversa quando pretende alterar o passado».

    Um leitor indignado com as minhas afirmações terminou um comentário crítico proclamando: «Mudemos sim o passado!».

    A este respeito, repliquei num comentário: «Na mais célebre das suas obras, 1984, George Orwell imaginou um Ministério da Verdade, que tinha precisamente como fim uma permanente reconstrução do passado, ditada pelas necessidades do presente. Na verdade, Orwell não precisou de inventar nada, porque era essa a prática do stalinismo, não só proibindo obras, mas apagando das fotografias os personagens incómodos e eliminando-lhes as menções nos textos, vedando o uso de certas palavras e substituindo-as por outras, adulterando a história do passado na convicção de que, tal como aquele comentador, estavam a mudar o passado. […] “Mudemos sim o passado!”. Com que candura aquele comentador coloca os identitarismos na linhagem das grandes abjecções da história. Mas — e é isto o principal — nem as destruições de estátuas, nem os escrachos nas universidades, nem os boicotes na internet, nem as censuras resultantes de etimologias delirantes conseguirão mudar o passado. Os factos estão em nós, nós resultamos deles, por isso são factos».

    Quando os factos são transpostos para narrativas, julga-se que a substituição de narrativas altera os factos. É uma estupidez. Ora, o problema é a dimensão da estupidez. Quando ela é individual, prejudica só o estúpido. Mas aqui, tal como Emerson Martins bem definiu, trata-se de uma estupidez monumental. E, portanto, perigosa para toda a esquerda.

  2. Entender que o passado não muda por simples movimentações simbólicas, decretos de Ministérios da “verdade” ou qualquer outra “estupidez” não deveria ser motivo para deixarmos de lado o desejo mudá-lo. Porque o desejo de mudar o passado (Mudemos sim o passado!) é o desejo de quem, seguindo talvez uma linha reflexiva diferente da “progressista”, entende que o passado faz parte do hoje, só o é por isso. O passado está em constante disputa e quem desiste dela ou já ganhou ou é esperançoso demais. Não parece ser o caso de nenhum dos aqui presentes.

    Sobre a “estupidez” de sábado passado. Me parece que as coisas não mudam por conversas mais ou menos inteligentes, mudam por contradições impostas pela luta. Estamos aqui a gastar caracteres por um motivo simples: alguma coisa aconteceu e a gente que se vire com isso. “Que pena não ser o que queríamos, mas se fosse ainda assim não seria”. As ações são sempre amadoras, Emerson, meu irmão! Cabe a nós arcar com os ônus do amadorismo, reprovar o movimento no nosso vestibular não rola porque este já é obsoleto. Arcar com os ônus significa exigir a extinção do processo contra o motorista e aprender um pouco mais com a repressão do Estado.

    O comentário do João Bernardo contrasta de certa forma com um desejo expresso no texto do Emerson, pois imagino que seria muito legal para os que hoje vivem, respiram e lutam que o Borba virasse um caipira. O que Cristina não conseguiu difundir com a valorização da obra de Júlio Guerra, volta à discussão com a desvalorização dela e o tino do Emerson. Mas talvez eu só esteja sendo bobo e leviano. De qualquer forma, creio que, por questões óbvias, é a quem é constantemente vencido no presente e foi vencido no passado que a luta serve. Pra quem venceu que restem as estátuas e estas que se virem. Ao que parece o próprio Júlio Guerra pensava assim.

    Recomendo a todos o conto Desenredo de Guimarães Rosa.

    João Bernardo, que pena eu não ter visto o teu comentário no texto anterior, até então achava que tivesse me ignorado. Ainda que sem motivos, estou bem menos indignado do que há um ano atrás e posso reconhecê-lo. O passado mudou pra mim.

    Bom dia! Vou trampar!

  3. O mosaico do Mosaico de Júlio Guerra: uma metalinguagem de Borba Gato concebida por um Oficial da PM paulista

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    Partiu do Major Galdino, da Polícia Militar de São Paulo, a iniciativa brilhante de produzir um mosaico do mosaico que realizou Júlio Guerra, retratando a figura do bandeirante e desbravador Borba Gato.

    A obra é duplamente auspiciosa: primeiro, porque o objetivo de sua realização parte da idéia de que o mosaico, como peça de arte, ajuda a suavizar a dura rotina dos policiais-militares nesse tempos difíceis de violência urbana. E em segundo lugar, mas não menos importante, porque se trata de uma metalinguagem na medida em que usa a linguagem das pastilhas para abordar uma outra obra feita em pastilhas. É como uma nova leitura com as mesmas letras, mas formando novas palavras e gerando novos significados.

    Dessa forma, o novo painel, que está localizado numa área de descanso da Unidade Militar, se presta também a uma discussão tanto do significado da obra do bandeirante, quanto da escultura que dele fez Júlio Guerra. Permite também uma nova interpretação de ambas feita pelo oficial da PM. Enfim, é como um aprendizado dentro do outro, que vai se desdobrando de acordo com a conveniência de cada época.

    Neste sentido, além de muito bem produzido técnicamente, o novo painel da corporação inova no que se refere à sua perspectiva artística, abrindo-se para novas interpretações ao mesmo tempo em que se vincula a uma figura-símbolo do bairro, o bandeirante Borba Gato. Para sua execução, o oficial da Policia Militar foi buscar o auxílio do artista plástico Sérgio Secches, um experiente mosaicista, cujo nome ficou para sempre consagrado pela epopéia da qual participou ao lado de Izabel Ruas Pereira Coelho e de Sônia Lorenz na execução do gigantesco mural azul concebido por Cláudio Tozzi para a empena de um prédio na av. Angélica, em Higienópolis.

  4. Excelente texto.

    Como acho que já li por aqui, essas queimas de estátua são também um monumento à impotência e ao conformismo com a impotência.

    Ao pão e circo, agora acrescentam pão e circo e estátua derrubada.

  5. Pena eu tenho do W. Benjamin, regularmente invocado para dar suposta caução conceitual (suposta, suposta!) e brilhareco teórico a essas fantasias de revolta, essas compensações imaginárias de uma esquerda derrotada, desmoralizada e no geral sem nada a dizer além das habituais promessas de um Brasil-feliz-de-novo. Bom texto, Emerson.

  6. Um professor universitário não teve o menor pudor de escrever nas redes sociais (em defesa do ato): ‘Tem que ser muito colonizado, supremacista branco e estadolátrico para defender a integridade de uma estátua que representa o extermínio e a escravização.’

    O comentário do professor universitário completa a receita identitária: quem discordar do ato praticado por eles (os identitários) é, não apenas racista, mas supremacista branco, colonizado e estadolátrico. Ou seja, é impossível discordar. A crítica não é bem vinda. O argumento é, portanto, hermético.

    Creio que em um dos textos do João Bernardo, defende-se que arte é forma. Para os identitários, ao contrário, arte é narrativa. Não há forma, só há conteúdo; e esse conteúdo é ditado por eles: utilizam lentes pós iluministas para julgar moralmente um mulato (o Borba Gato) do século XVI e, conforme o padrão da rede social, sentenciar se é bom ou mau.

    Aliás, o próprio João Bernardo apresentou a involução, por exemplo, da arte de Aleksandr Deneika dos anos 20 ao estabelecimento do estalinismo, demonstrando como o artista adequou-se ao realismo socialista de gosto dos estalinistas, em contraponto aos formalismos. O identitarismo de verniz progressista busca purificar o conteúdo: da linguagem à arte e tudo o mais que desejarem.

    E atenção: quem discordar é supremacista.

  7. Alguns comentários acima, leio a seguinte frase: “Estamos aqui a gastar caracteres por um motivo simples: alguma coisa aconteceu e a gente que se vire com isso.” Isso se chama irrevogabilidade do ato. Não “desse” ato; de qualquer ato.

    O que está feito, está feito e pronto, não há como voltar atrás. Disso, ninguém duvida.

    Na argumentação do comentarista, entretanto, há dois problemas.

    O primeiro: pensar que, por ser irrevogável, um ato está plenamente justificado. Isso é um non sequitur muito básico. O que está feito, evidentemente, está feito; daí não se segue, entretanto, que o que está feito seja, entre outras coisas: (a) universalmente válido; (b) justificável; (c) universalmente correto. Especialmente quando se trata de um ato político, a validade, a justificação, a correção, são (politicamente) motivadas. Se a intenção de quem queimou a estátua é uma denúncia do racismo, se o conteúdo é esse, a forma foi completamente amadora e irresponsável com os que dela participaram. Num contexto como o nosso, não podemos nos dar ao luxo de ações amadoras. Se é certo que uma ação vale mais que mil programas, que dizer da ação que destrói quem põe em prática o programa?

    O segundo: tirar da confusão entre irrevogabilidade e justificação a conclusão de que as únicas consequências válidas do ato são aquelas que se pretendia com o próprio ato. Ou seja: quando se pretende justificar um ato pela sua irrevogabilidade, segue-se daí que, estando o ato automaticamente justificado por ser irrevogável, qualquer debate público em torno dele deve ser restrito à correção de eventuais consequências indesejadas, interditado qualquer questionamento à própria justificação do ato. É necessário defender a libertação do motorista preso? Evidente que sim. É dever militante defender a liberdade de pessoas presas em atos contra adversários em comum, mesmo aqueles com quem temos profunda discordância. Isso evita que se apontem os equívocos de uma ação amadora? Ou que se silenciem as divergências de fundo? Nunca.

    Argumentar dizendo que “alguma coisa aconteceu e a gente que se vire com isso”, ou seja, “o que está feito, está feito, então não reclame”, significa aproximar-se de outra linha de argumentação de triste memória: “então porque você não vem aqui e faz?”, que vai na mesma linha de “é fácil falar, difícil é fazer”. Como o agir político é difícil, perigoso, desestabilizador, quem age pretende, com o silêncio da crítica, ter alguma compensação psicológica pelo risco assumido na ação.

    Acontece que o desejo pelo silêncio da crítica não passa disso: um desejo frustrado. Viver é agir; quem age afeta outros, e é por eles afetado. Isso é o beabá de qualquer dialética. Quem age, ao agir, é passível de crítica, tanto quanto de elogios e apoios (críticos ou não, tanto faz). O desejo pelo silêncio da crítica é um desejo infantil, imaturo, e politicamente irresponsável.

    Nos dois casos, há um apelo à ação, uma defesa do agir político — algo necessário e importante em nossos tempos. Nos dois casos, e por razões diferentes, o agir justifica-se por si próprio, e entende-se infenso à crítica externa. Não é desse tipo de justificativa que o agir político precisa.

    No plano político, querer agir sem responder em público pelo que foi feito, sem entender que o elogio ou o apoio (crítico ou acrítico, tanto faz) não é a única reação possível, equivale seja ao solipsismo (ou seja, “cada um por si e todos contra todos”, porque a única razão que importa é a própria razão do agente), seja ao autoritarismo (ou seja, a minha razão está absolutamente certa, danem-se os outros).

    “Porque você não vem aqui e faz”, tanto quanto “o que está feito, está feito, então não reclame”, têm esses dois problemas como pano de fundo.

    É dessas divergências de fundo que estamos tratando aqui, tanto quanto do amadorismo de quem queimou a estátua. Em tempos em que perfis “anônimos” no Instagram são usados para organizar manifestações, incluindo ações “radicais” de “blocos autônomos”, esse amadorismo tem enorme potencial destrutivo entre nós.

    Portanto, não nos deixemos desviar por falácias e armadilhas retóricas. Sigamos debatendo o que interessa.

  8. Vejam o desfecho da ação “muito bem orquestrada”: https://www1.folha.uol.com.br/colunas/monicabergamo/2021/07/investigado-por-incendio-de-borba-gato-entregador-paulo-galo-lima-vai-se-apresentar-a-policia.shtml?utm_source=whatsapp&utm_medium=social&utm_campaign=compwa

    Em tempo, faço apelo com o comentário acima. A evidente necessidade de se solidarizar com aqueles cujo inimigo nos é comum não se deve confundir com irrevogabilidade da estupidez prática.

  9. Um breve acréscimo ao comentário de @Manolo, que me parece bastante acertado. A gramática que interdita a crítica e que impede que se debata “o que interessa” hoje em dia tem uma forma evidente, reconhecível de longe: a forma da polêmica, tão cara às redes sociais e ao jornalismo sensacionalista. Neste caso específico, a forma dos a favor da queima da estátua versus os contrários a ela, como se essa oposição existisse nesses termos, nesse grau de simplismo. Como se ao dizer do amadorismo de uma ação alguém estivesse necessariamente contra ela; ou como se ao exprimir o caráter simbólico de uma luta, para demonstrar suas limitações, exortando os companheiros a irem além dele, alguém estivesse necessariamente desdenhando do plano simbólico. O que João Bernardo faz, ao meu ver, também acertadamente, é dar ao simbólico o tamanho que ele tem, nada mais nem nada menos, mas isso podemos discutir e rediscutir. De qualquer modo, chama a atenção que os que defendem ferrenhamente a queima do Borba Gato o façam sempre por meios bastante abstratos, que chegam a ser uma petição de princípios contra os quais ninguém de esquerda realmente se colocou. Não vi ninguém (no campo da esquerda, repito!) defendendo “os bandeirantes e a manutenção de suas estátuas”. Pelo contrário. O que se fez foi uma crítica concreta, levando em conta a história da obra em questão (parte menos importante) e os desdobramentos reais evidentes de uma ação que teve falhas (e que realmente não podem ser eclipsados pelo afã de uma pseudorrevolução que se quer no horizonte, mas que lá claramente não está). Ora, se afastar-se das idealizações e descer ao nível da vida e dos fatos é um problema, e se articulá-los criticamente é estar a favor dos opressores, realmente podemos substituir as palavras todas por apenas duas: like e deslike, e coadunar com tudo o que aí está. Ou, para retomar Orwell em 1984, citado tanto por Safatle quanto por João Bernardo, abraçar a Patofala e sair por aí grasnando.

  10. O galo pôs fogo no Borba Gato?
    O anarca comemora
    Feminista solta fogos e a vizinh reclama do ruído
    O liberal condena o incêndio da estátua
    O identitário acha execrável não terem derrubado o Borba
    O Anacom avalia o ato
    O anticiv dá de ombros e prega entre os escombros
    A coquete acha lindo o efeito fantasmagórico do fogo sobre o Borba
    O teórico avalia o gesto decolonial
    O pragmático sugere a mesma fórmula para outros monumentos
    João, trabalhador de apps, passa pelo incêndio com pressa para mais uma entrega.
    No boteco em frente todos de olho na Fadinha do Skate.

  11. A queima do Borba Gato se esgotou em sua própria força e natureza, ou para citar o esquecido Zizek,o problema é como chegar na segunda feira.

  12. Duas coisas ficaram da queima do Borba Gato:

    1) O exemplo da ação (mesmo que estúpida e questionável, o mundo político brasileiro é carecedor de ações concretas) e
    2) A prisão de um trabalhador precarizado e pai de criança pequena.

    Provavelmente, o Judiciário paulista despejará seu reacionarismo sobre o rapaz preso.

    A dúvida é: Valeu a pena?

  13. É sintomático também as vozes que, quando do ato em si, correram (mais rápido que as forças da repressão) para afirmar que se tratava de uma “infiltração”. Incluindo professores universitários com alguma relevância nas redes sociais e nos movimentos sociais. Os mesmos que viram nas manifestações cubanas apenas uma manipulação da inteligência norte-americana.

  14. Uma coisa que aconteceu em algumas cidades, mas teve destaque em BH foi a atuação de grupos ditos anarquistas e autonomistas previamente aos atos, pondo fogo em pneus em ruas do centro da cidade ou em rodovias movimentadas. Seu objetivo era radicalizar ou mostrar alguma radicalidade como um contraponto aos atos combinados com a PM e com trajeto definido. Foi bem menos impactante que o fogo no Borba Gato, mas essas ações levantam o mesmo problema que é levantado aqui: qual é o seu impacto efetivo, mesmo que simbólico, na corrente dos grandes atos plurais e democráticos contra o governo biroliro. E outro ponto, ainda que ninguém tenha sido preso até onde eu saiba, foram ações planejadas por grupos e não decididas em nenhuma “assembleia”.
    Faltou o link da matéria:
    https://www.em.com.br/app/noticia/gerais/2021/07/23/interna_gerais,1289281/grupo-antifascista-queima-pneus-em-protesto-no-centro-de-bh.shtml

    https://g1.globo.com/mg/minas-gerais/noticia/2021/07/23/manifestantes-queimam-pneus-em-ato-contra-fascismo-e-bolsonaro-no-centro-de-bh.ghtml

  15. Mais deprimente que a busca alucinada por palco de uma figura artificial como Galo, é só a quantidade de espectadores que ele encontra.

  16. Cuidado, poeta: o tempo engorda a alma.
    Depois de um certo número de páginas
    anjos não pousam mais nas entrelinhas.
    E até a lucidez, essa moderna,
    também se gasta, como qualquer moeda.

    O ter o que dizer é jogo arriscado,
    não se resolve com um só lance de dados.
    Não basta a precisão do gesto apenas.
    O gesto mais felino é quase nada
    sem o lastro da existência, essa cansada,

    com sua textura por demais espessa
    pra traspassar a tímida peneira
    da pálida poesia, essa antiga.
    O tempo é escasso. O dicionário é gordo.
    Cuidado: Todo silêncio é pouco.
    [P.H. Britto]

    ps. não se esqueçam de votar: https://www.youtube.com/watch?v=58MqDfb5kbk&ab_channel=GaleriaFilmes

  17. Passapalavra virou um bando de velho!
    Com a medida da heresia, estariam contra a queda da Coluna de Vendôme!

  18. 《Na cadeia você fala com 1 junta 40 pra ouvir. Todos queriam saber quem era o Borba Gato, e quem eram os pretos armados na minha camiseta. 14 dias pareceram 14 meses, tem um trabalho a ser feito nós presídios, encontrei uma cede de revolução ali que não consegui encontrar antes.》
    Paulo Galo

    《Por toda Berlim havia cartazes, nos quais se lia:
    Trabalhadores, Cidadãos! A Pátria está à beira de um desastre. Está ameaçada, não de fora, mas por dentro: pelo grupo Spartacus. Espanquem seus líderes até a morte! Matem Liebknecht!

    Rosa e Liebknecht foram caçados dia e noite, com a cabeça a prêmio por 50 mil marcos, e já não tiveram chance de agitar e organizar as massas. Mesmo assim, nem por um momento ocorreu a eles fugirem de Berlim. E recusaram de seus apoiadores a repetida oferta de guarda-costas.

    O último artigo de Rosa Luxemburgo, intitulado ‘A ordem prevalece em Berlim’, termina com as palavras:
    “Amanhã a Revolução vai levantar-se com estrépito novamente. E anunciar com um soar estrondoso de trombetas: Eu era. Eu sou. Eu serei!”

    Em seu último artigo, Liebknecht escreve:
    “Apesar de tudo termina assim. Os vencidos de hoje serão os vencedores de amanhã … Estejamos ou não vivos quando isso for alcançado, nosso programa irá viver: vai dominar o mundo da humanidade libertada. Apesar de tudo!”

    “Facasso de uma Revolução”, Sebastian Haffner

  19. Quando o ZNT descobrir que só se constrói um amanhã novo a partir de pessoas reais, vivas e soltas, verá que a masturbação em prol de ações estúpidas tem mais a ver com autopromoção e espetáculo, bem diferente da luta de classes da qual conhecemos.

  20. Vocês são o bando mais deprimente de velhos que a qualquer ação de uma esquerda mais ativa, mais organizada(independente do que vocês acreditem que organização seja) mais inserida nos meios populares e mais cientes de si do que vocês jamais foram, vocês só conseguem responder com a mais vazia é inútil critica de arte. Sem querer cair na psicanálise vulgar eu gostaria de perguntar quem vocês acham que se importa mais com a estética e os simbolismos aqui?

  21. Sabe quando vamos ao médico e ele bate o martelinho no nosso joelho?
    Bate o martelinho e o que acontece? Zás! A perna levanta.

    Quando certa esquerda é confrontada com alguma crítica (mesmo que bem fundamentada) reage como? – Com insultos.
    Parecem guris de 15 anos metidos a rebeldes.

  22. Chegou a vez do monumento ao “descobridor” Pedro Álvares Cabral ser tomado pelas chamas, merecidamente.

    Quanta estupidez monumental será proferida a respeito?

    Rui Costa Pimenta, o CEO vitalício do PCO, saiu na frente e já passou sua palavra: “Só serve ao Imperialismo”.

    Após 3 artigos e diversos comentários, o PassaPalavra se atrapalhou todo com o rescaldo do fogo na estátua do Borba Gato, fracassando em produzir uma crítica que invalidasse politicamente o ato, por mais que tentasse.

    Ainda pior: restou apenas a miserável impressão de o PassaPalavra julgar ser necessário sua autorização para se fazer um ato de autonomia.

  23. Não encontrei aqui a posição oficial do Passa Palavra, só zilhões de comentários… Tem outro artigo? Mas de todo modo, segundo o nacionalista acima, o site tentou “invalidar politicamente” a queimada da estátua do Borba Gato e deu a “impressão” de que exige autorização para um “ato de autonomia”. Pelo visto criticar é pedir autorização, ou segundo outros acima, “ser velho”. E se critica qual retumbante ato, nestes tempos de escalada fascista e devastação neoliberal? Uns gatos pingados, sem articulação nenhuma com nenhuma força social que não eles próprios e suas intenções políticas de reforçar a própria imagem pessoal, incendeiam uma estátua de modo a não destruí-la, serem presos e ainda darem munição para a esquizofrenia bolsonarista de uma esquerda “violenta”. E esse episódio atrasado de Os Trapalhões seria um “ato de autonomia”. Mal sabia eu que quando, aos 14, jogava pedras em vidraças de prédios do governo abandonados estava a fazer mais que um ato de liberdade, um ato de autonomia. Mais que um pivete arteiro, era um revolucionário e não sabia. E pensar que há quem pense que autonomia tem a ver com contestar a heteronomia, o controle dos outros face a estruturas e instituições de opressão e exploração. Basta distorcer o valor do “simbólico” até tudo se tornar simbolicamente explosivo para que qualquer atinho performático te torne super contestador, revolucionário sem muito esforço organizativo, ou cérebro. A queima da estátua foi bacana, mas foi tão bacana quanto qualquer grafite feito em um prédio ou vidraça de banco quebrada. Muito diferente seria se uma multidão incendiasse a estátua de Caxias no próximo dia 07 de setembro.

  24. Sweet fourteen, quebrava vidraças de prédios governamentais, abandonados.

    Já era revolucionário, e não sabia.

    Hoje critica a “meia-dúzia” de gatos pingando fogo na estátua do Borba, mas, no fundo, bem lá no fundo, gostaria de se abandonar numa multidão incinerando os símbolos da pax-cificação: burn, burn, burn.

    Ainda é revolucionário, mas já não quer saber.

    Confesso, os fantasmas das revoluções fracassadas me assombram.

    Em especial, o espectro da Revolução Alemã de 1918/1919. Eisner não me sai da cabeça.

    Após o rápido sucesso inicial do movimento em Munique, Eisner havia declarado com justificado orgulho: 《Fizemos uma revolução sem derramar uma gota de sangue! Nunca houve algo assim na história.》

    Entretanto, poucos meses depois é o sangue do próprio Eisner que jorra, tingindo de vermelho uma calçada, ao ser assassinado por um monarquista.

    Para Rosa Luxemburgo, Brecht escreve um epitáfio:

    《 Aqui jaz
    Rosa Luxemburgo,
    judia da Polônia,
    vanguarda dos operários alemães,
    morta por ordem dos opressores.
    Oprimidos,
    enterrai vossas desavenças!》

  25. xkra Global de bengala,

    À sua sugestão de queima da estátua de Duque de Caxias eu tenho algumas considerações para fazer, a bem da autonomia e radicalidade da ação.

    1) Os incendiários deverão assumir a autoria do ato
    2) Os incendiários deverão deixar claro quem tomou parte da ação para não dificultar o trabalho da polícia
    3) Os incendiários devem tirar excelentes fotos a fim de conquistar a maior quantidade possível de likes
    4) Os incendiários devem fazê-lo sozinhos, isoladamente de qualquer movimento de massas, para que seu vanguardismo seja percebido

    Sem estes cuidados a ação não poderá ser autônoma, radical, nem um exemplo.

  26. arkx Brasil poderia nos escrever um ensaio sobre sobre a fracassada revolução alemão. parece ter algo a dizer, arkx brasil.

  27. Caros pelegos 1, 2, 3…

    Agradeço do fundo do coração a sugestão.

    Por toda uma vida convivi, e bem, com pelegos, burocratas, pacifistas, reformistas, revolucionários, radicais, carbonários, etc…

    Muitas vezes me descobri sendo um deles, mas não exatamente na ordem acima. Nem sempre foram descobertas agradáveis.

    De fato talvez me fosse possível dizer duas ou três coisas sobre aquela tragédia alemã, ainda mais colocando-a na perspectiva desta dramática situação atual no Brasil.

    Por outro lado, e não tome como presunção e muito menos fatalismo, já não há o que dizer – ao menos no sentido preventivo.

    O ponto de não retorno em diversos processos ficou para trás. Nenhum freio de emergência poderá ser acionado. Entramos em estrito modo de sobrevivência.

    Será possível sobreviver? Valerá a pena?

    Talvez minha melhor contribuição nesta conjuntura seja prosseguir com um e outro comentário, sempre que me caiba e nunca com intenção inconveniente.

    Mais uma vez, muito obrigado.

    Grande abraço.

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