Por João Aguiar
Putin: vanguarda dos gestores ideológicos
No ano passado publiquei dois artigos (aqui e aqui) sobre a problemática dos gestores ideológicos, intervalados por relevantes contributos do João Bernardo sobre o mesmo assunto. Em termos práticos e muito resumidos, os gestores ideológicos distinguir-se-iam dos gestores clássicos, no sentido em que os primeiros privilegiam a prossecução de objetivos fundamentalmente ideológicos, secundarizando a atividade económica. Inversamente, os gestores clássicos correspondem à classe dominante dos playmakers da acumulação capitalista moderna. O exemplo histórico canónico de predomínio de gestores ideológicos foi o caso do metacapitalismo nacional-socialista, mais propriamente o seu programa racial executado na Solução Final, onde o delírio rácico anti-semita prevaleceu sobre os mecanismos capitalistas do aumento da produtividade.
Em síntese, Putin e a elite político-militar que o rodeia não representam a típica classe de gestores capitalistas. Por um lado, existem indicações de que quem detém o poder político não serão os chamados oligarcas russos (bilionários que controlam empresas de petróleo, gás natural ou exploração de minérios). Por outro lado, ainda mais importante, a ação de Putin no quadro da atual guerra na Ucrânia é contraproducente com os interesses económicos da acumulação capitalista.
Neste domínio, não só as sanções económicas colocarão enormes dificuldades a um tecido industrial maioritariamente composto por setores de fornecimento de matérias-primas e de bens energéticos, como a própria intervenção militar de invasão à Ucrânia representará uma crescente sangria de recursos económicos. Aliás, não deixa de ser sintomático que o empilhamento de reservas de ouro e de diversos fundos financeiros por parte do Banco Central russo, desde 2014, foi levado a cabo com o propósito de financiar uma intervenção militar, que tem um objetivo político-ideológico no seu fulcro. Ou seja, onde em condições capitalistas clássicas, a poupança constitui um elemento-chave para futuras aplicações de investimentos que potenciem o crescimento económico, no caso do regime de Putin, a poupança serviu para financiar uma ação militar, em enorme medida desligada de motivações económicas.
Sintoma da centralidade de propósitos não-económicos relativamente à economia, por si só uma característica essencial de uma orientação política fascista, a guerra de invasão da Ucrânia é o culminar de um processo político pan-russo. Este processo busca restabelecer o que os gestores em redor de Putin consideram como uma batalha pela condução dos destinos políticos mundiais. Nas palavras de Sergei Lavrov, ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia, «esta não é» uma guerra «por causa da Ucrânia, mas da ordem mundial. A atual crise é um momento inevitável, modificador de época na história moderna. Reflete a batalha sobre como será a ordem mundial» Aqui entroncam as teses do domínio da Eurásia que tanto animam a orientação do regime de Putin. Pouco importa saber se o ideólogo preferido de Putin é Dugin ou Ivan Ilyin, pois, independentemente das diferenças entre si, prevalece uma noção geopolítica e geoestratégica de domínio do que no espectro político nacionalista russo se denomina de Eurásia.
Putin, filho de três progenitores
O regime de Putin tem sido classificado genericamente como um autoritarismo. Sendo verdade, a dificuldade na classificação antes da atual invasão da Ucrânia decorre do facto de conjugar três grandes tradições políticas. Com efeito, as três grandes forças políticas e sociais do século XX, combinando alguns dos piores aspetos de cada uma delas – o socialismo estatista e autoritário soviético; a articulação entre um capitalismo de Estado e o capitalismo selvagem assente nas matérias-primas e nos bens energéticos; o fascismo pós-fascista.
1.
Diretamente da polícia política e dos serviços de espionagem do socialismo soviético, com tudo o que isso implica de apego ao poder do Estado e das instituições do aparelho repressivo, Putin assenta o seu poder num Estado central forte, musculado e, à boa maneira soviética, que determina linhas de atuação unidirecionais, de cima para baixo. Claro que as orientações políticas das democracias liberais também têm uma linha de atuação top-down. Contudo, as democracias liberais adequaram-se aos mecanismos capitalistas mais avançados (a mais-valia relativa e os efeitos multiplicadores da aplicação tecnológica massiva em todas as esferas da sociedade e no mercado dos bens de consumo), precisamente porque permitem, até certo ponto: a) a contestação popular; b) a coexistência de correntes políticas concorrentes organizadas e publicamente assumidas, sem correrem o risco de pararem na prisão ou tomarem cocktails de Novichok; c) e, acima de tudo, as legislações laboral, social e política podem perfeitamente ser decorrentes da absorção de lutas sociais e da pressão popular. Os direitos sociais consagrados na maioria das democracias liberais decorrem, em grande medida, das lutas sociais de décadas. Aliás, num regime parlamentar liberal, é esse o terreno histórico de atuação das esquerdas: organizar os trabalhadores e mobilizá-los para tentar obter ganhos ao nível laboral, salarial ou de melhoria dos serviços públicos. Ora, este elemento é infinitamente exíguo no quadro do regime de Putin, pelo que se torna difícil perceber como alguma esquerda que se reivindica da luta por reformas e melhorias dentro das democracias ocidentais, não percebe que não teria sequer direito a essa modalidade de atuação se vivesse no regime estatista de Putin. Provavelmente essa esquerda teria outras funções, e ocuparia outros lugares no aparelho de Estado. Mas essa é outra questão.
2.
Existe na estrutura económica russa uma combinação inovadora e relativamente sui generis. Na direção global, um capitalismo de Estado de origem soviética, onde o Estado detém voz e papel central – mas nunca único – na determinação da política económica. Na conexão da economia russa com os mercados globais, para além da intervenção e controlo, parcial ou total, de algumas empresas energéticas pelo Estado, existe um capitalismo menos regulado e mais selvagem, nomeadamente no que concerne à ligação do regime russo ao dinheiro proveniente da exportação de petróleo e gás natural. Nesta conexão do comércio de bens energéticos com os mercados globais, surgem os chamados oligarcas: um conjunto de capitalistas enriquecidos pela venda de bens energéticos, com um papel relevante nos últimos 30 anos, no respeitante à ligação da economia russa com a economia mundial. Todavia, para lá da sua ligação pessoal e usufrutuária com Putin, os oligarcas não detêm controlo sobre o poder do Estado. Do ponto de vista político, os oligarcas atuam como intermediários, como plataformas giratórias de enriquecimento macrocéfalo entre o comércio de bens energéticos provenientes da Rússia e a transferência parcelar de verbas para alimentar o Estado russo. Representam a acomodação possível e clientelar de capitalistas privados numa sociedade controlada politicamente pelos gestores ideológicos no topo do aparelho de Estado. Para um projeto político que busca criar uma área económica e política de controlo – a Eurásia – é interessante verificar como a base da estruturação da ação dos dirigentes russos é primariamente política. De outro modo como se explica que privilegiem arrecadar volumes de capitais para a prossecução do seu ideal político eurasiático, mas deixem de lado a construção de uma economia sólida, diversificada e com tecnologia de ponta aplicada em todos os ramos de produção, incluindo o mercado dos bens de consumo?
Tantos anos, tantas décadas de industrialização socialista e o melhor que o regime de Putin “herdou” foi uma incapacidade para produzir bens de consumo, um tecido industrial ausente de capacidade inovadora nos campos da tecnologia para o consumo de massas.
Esta questão do mercado dos bens de consumo não é de somenos importância. Num plano, a expansão do mercado de bens de consumo nas economias mais desenvolvidas demonstra o poderio das empresas transnacionais, grande parte delas aderentes ao atual processo de sanções económicas ao regime de Putin e à economia russa. Do ponto de vista económico, o predomínio do mercado de bens de consumo representa o triunfo do capitalismo liberal, colocando as necessidades das populações e as suas expectativas por melhores condições de vida como mola propulsionadora para a produção de mais, novos e melhores bens e serviços, em todas as esferas da vida quotidiana. Isto é, após derrotar sucessivas levas de lutas sociais, o capitalismo liberal incorpora as reivindicações, baseando-se num alargamento do mercado de bens de consumo, cada vez mais diversificado, heterogéneo e infinitamente renovável de novos produtos e focos de atração. Esta capacidade para integrar as populações de trabalhadores na lógica expansiva do mercado ajuda a explicar como o capitalismo liberal pode persistir nas últimas décadas com elevados níveis de precariedade laboral, redução de direitos sociais e com muito menos contestação social do que o fordismo sofreu até às décadas de 70 e 80.
Noutro plano, a incapacidade histórica das experiências socialistas e pós-socialistas, como a de Putin, em expandir o mercado de bens e serviços de consumo de modo autónomo, demonstra a incapacidade congénita em providenciar níveis de conforto e de bem-estar aos seus trabalhadores, de um modo transversal. É antiga e, muito provavelmente, hoje esquecida, mesmo na esquerda pró-putinista, a discussão dentro da direção bolchevique dos anos 20 (do século passado) a propósito da prevalência de uma industrialização massiva virada para o mercado de meios de produção, com evidente secundarização da industrialização vocacionada para o mercado de bens de consumo. A verdade é que a vitória da visão da hegemonia da produção dos meios de produção adequa-se a regimes políticos em que o domínio do Estado tout court – particularmente, de Estados fundamentalmente ancorados no aparelho repressivo e militar – nunca permitiu o crescimento dos níveis de bem-estar equiparáveis às democracias liberais. E muito menos a diversificação de ramos económicos distintos.
Não por acaso, a atual dependência económica russa da (quase) mono-produção do petróleo e do gás natural decorre de um modelo económico herdeiro do menosprezo soviético pelo mercado de bens de consumo. Se as grandes empresas transnacionais mundiais, de origem/sede europeia e norte-americana são empresas de produção de bens diversificados de todo o tipo como a Apple, a Google, a Ikea, a Inditex, a Nestlé, a Maersk, a BP, a Ryanair ou a Renault, entre milhares de muitas outras, pelo seu lado, as maiores empresas com sede na Rússia vivem umbilicalmente ligadas ao Estado e ao aparelho militar e são praticamente todas do ramo energético: Lukoil, Gazprom, etc.
No plano do PIB per capita, a evolução entre 1913 e 1990, a muitíssima atrasada Rússia czarista subiu, com o impulso da União Soviética, dos 1.488 para os 6.871 dólares (um aumento na ordem das 4,6 vezes). Mesmo partindo de uma base muito mais atrasada, a sua ordem de grandeza nunca ultrapassou a registada na Europa Ocidental (igualmente de 4,6 vezes dos 3.473 para os 15.988 dólares). Nos EUA, o PIB per capita, para o mesmo período entre 1913 e 1990 subiu dos 5.301 para os 23.214 dólares (Maddison 2006: 185). Mesmo hoje, a diferença continua a ser gritante. Independentemente das limitações de um indicador como o PIB per capita, é marcante que Portugal, longe de ser uma das maiores economias europeias, tenha um PIB per capita de 22 mil dólares anuais, e a Federação Russa pouco ultrapasse os 10 mil dólares. Os EUA ultrapassam os 60 mil dólares anuais e a zona euro é quase o quádruplo do caso russo.
Pegando num indicador relacionado com o impacto da economia no bem-estar das suas populações, como a esperança média de vida (EMV), verifica-se que, no início da década de 50, Portugal tinha uma EMV de 60 anos e a Rússia em torno dos 58,5 anos. Portanto, a diferença não era propriamente gigantesca. Ora, em 2015, a esperança média de vida em Portugal ultrapassou os 80 anos de idade, enquanto na Rússia a EMV se encontra nos 70 anos. Mesmo descontando o impacto da débâcle do sistema soviético, importa referir que já em 1990, Portugal tinha uma EMV de 74 anos, enquanto na Rússia pouco ultrapassava os 69 anos. No período entre 1945 e 1990, Portugal teve uma guerra colonial, uma ditadura fascista, um Estado social praticamente só existente a partir da segunda metade da década de 70, e nem assim a gloriosa experiência socialista de uma potência global conseguiu ultrapassar o EMV de uma economia periférica como a portuguesa. Não se trata aqui de elogiar nenhum feito identitário português, mas evidenciar como o capitalismo de Estado russo, com muito mais recursos ao seu dispor, não conseguiu ultrapassar a atual 21ª economia da UE num indicador tão relevante como a EMV. Aliás, o fosso naqueles 45 anos aumentou… É desta estrutura económica e social que surge a atual classe dominante russa.
Esta breve discussão elucida como um modelo estatista da economia em combinação com a explosão e consolidação de bilionários do petróleo e do gás natural, não só implica um desenvolvimento económico sem diversidade de setores de produção e menores rendimentos, como não conseguiu incrementar os serviços públicos de saúde e na educação para a saúde num plano superior ao capitalismo liberal. Ora, este estatismo no plano político, e que ainda hoje tem repercussões no plano económico, demonstra como a defesa do regime de Putin deveria estar fora de questão.
Aliás, no atual contexto de guerra com a Ucrânia, mesmo com a ajuda da China, a economia russa irá decrescer e continuará a cavar-se um fosso ainda maior para o resto das economias mais desenvolvidas. A economia da Rússia, que já tem um PIB per capita que é metade do português (e nós sabemos o quão baixo este é), ou um PIB nacional equivalente ao do Texas, irá regredir ainda mais, no caso de um prolongamento da guerra.
3.
Outra fonte do regime de Putin é a ligação ao fascismo pós-fascista (Bernardo 2018: 1349-1373), onde Dugin será a personalidade mais icónica, mas não a única, onde também pontificam teses como a influência do domínio espiritual da grandeza russa, do que eles chamam de uma “passionarnost” (Lev Gumilev, expoente do Eurasianismo, filho da poetisa Anna Akhmatova) ou da visão geopolítica do mundo, da tese do cerco à Rússia. Ao mesmo tempo, tudo o que diga que um país, neste caso a Ucrânia, não tem direito a existir, demonstra sempre um impulso exterminacionista. A noção de que a Ucrânia não seria um Estado em si mesmo, expressa no discurso de 21 de fevereiro passado por Putin, não representa uma observação sobre o caráter politicamente construído dos Estados nacionais, já que obviamente não colocou em causa a natureza permanente da Rússia enquanto Estado. Com efeito, quando um Estado preconiza a não existência histórica e política de um outro, o problema não se resume ao aparelho de Estado e às suas instituições. Pelo contrário, o desejo imperialista de absorver um outro Estado – seja pela via da anexação direta, seja pela instauração de um regime fantoche – implica não só uma ação bélica esmagadora, como impactos impressivos e indeléveis sobre a população: 10 milhões de deslocados, dos quais quase 4 milhões de refugiados, dezenas de hospitais destruídos, infra-estrutura civil completamente arrasada, milhares de mortos em quatro semanas.
Dentro da conexão do regime de Putin ao fascismo, pode-se ainda mencionar a presença de inúmeros agrupamentos neo-nazis na Rússia. Um exemplo caricato é o do Batalhão Sparta, com mais de 7 mil efetivos e pertencente ao Exército da república separatista pró-russa de Donetsk. Após a morte do seu comandante, Vladimir Zhoga, no início deste mês, o Presidente Putin decidiu condecorá-lo como “Herói da Federação Russa”.
Já na Guerra do Donbass, em 2014, o Estado russo contou com a colaboração de agrupamentos de filiação política no mínimo muito duvidosa. Se a Ucrânia tem o Batalhão Azov, o lado russo contou e/ou conta com os mercenários do Grupo Wagner, liderado por um ex-soldado russo adornado com tatuagens nazis e que, segundo a The Economist, terá sido fotografado junto de Vladimir Putin em dezembro de 2016. Por outro lado, quando a campanha de suposta desnazificação de Putin consegue a proeza tripla de chamar nazi a um presidente da República judeu, danificar o Memorial de Babi Yar e matar um sobrevivente do Holocausto, o que mais se pode dizer?
Claro que também existem agrupamentos de tipo similar na Ucrânia, como existem por todo o Leste europeu… Mas, pelos vistos, ninguém na parte da esquerda que procura suavizar a invasão da Ucrânia quer refletir porque, desde 1991, o maior centro territorial de expansão e consolidação da extrema-direita no mundo terá sido no território dos países socialistas do Leste europeu. O Pacto de Varsóvia deu origem a uma miríade de agrupamentos fascistas, agrupando regimes distintos como o russo, o polaco ou o húngaro. Seria importante que alguém refletisse sobre o facto de décadas de socialismo e a herança política de tudo aquilo foi a explosão subsequente de múltiplas organizações fascistas, várias delas com apoio de massas.
Em paralelo, o regime de Putin é famoso por apoiar e financiar a extrema-direita europeia. (Ver aqui e aqui).
Ao mesmo tempo, a sociedade que Putin tem ajudado a construir na Rússia assemelha-se à que a extrema-direita defende em relação aos direitos das mulheres, minorias étnicas ou de orientação sexual. No tocante à perseguição política de opositores, idem aspas. Um exemplo. Na porta de casa de um jornalista e editor de uma rádio entretanto proibida de operar na Rússia, um comité de boas vindas deixou uma cabeça de porco à porta e colou um autocolante da Ucrânia com a inscrição “porco judeu”.
Nas redes sociais e noutros meios, não têm sido poucos os que, à esquerda, fazem ecoar a presença de um perigoso vetor neonazi na Ucrânia. Desse ponto de vista, a intervenção militar russa teria a sua lógica dissuasora. Mas após o que acabei de expor sobre a filiação ideológica do projeto metacapitalista da Eurásia, da guerra de invasão da Ucrânia, do apoio de Putin à extrema-direita europeia, ou do modelo de sociedade civil que o seu regime tem criado, até quando alguma esquerda continuará a contemporizar com Putin?
Quando se fala do regime ucraniano, alguém à esquerda teve os mesmos pruridos em condenar as invasões do Iraque, independentemente do comportamento político de Saddam Hussein? Mas alguém acha que o regime de Saddam era mais benigno do que o ucraniano? No total, o regime de Saddam conta com entre 250 e 290 mil mortos e desaparecidos, de acordo com a organização Human Rights Watch. E sem falar nas torturas, prisões e inúmeras outras violações. Na altura, os que condenaram a invasão e bombardeamento norte-americano nunca pensaram nestas minudências. Então, porque no caso do regime ucraniano já se aplica uma expectativa de pureza política ou ideológica?
A situação de guerra no Donbass entre 2014 e 2021, como consequência de uma inicial invasão do Estado russo, registou 4641 mortos militares do lado ucraniano, 5772 mortos militares do lado russo e 3393 civis mortos, dos quais quase 90% foram assassinados nos primeiros dois anos de guerra. É evidente que é inquietante a incorporação do Batalhão Azov na estrutura militar ucraniana. Mas importa compreender a real inserção e influência de um regimento de lunáticos neo-nazis de 2500 efetivos entre o exército ucraniano. Em termos rigorosos, o Batalhão Azov pertence à Guarda Nacional ucraniana (45 mil efetivos), e que está na dependência do Ministério dos Assuntos Internos (Administração Interna). Todavia, esta não é a principal componente militar, mas antes as forças armadas ucranianas (245 mil soldados). No conjunto das Forças Armadas ucranianas e da Guarda Nacional (290 mil efetivos), o Batalhão Azov representa menos de 1% das unidades militares ucranianas. Nestas contas, estou a tomar em consideração o número mais elevado que encontrei. A Al-Jazeera coloca o número de efetivos nos 900… Já para não falar de que não passa de uma unidade de infantaria. Se esta é uma questão política preocupante? Sim, sem dúvida. Mas só é motivo para justificar uma guerra de invasão para quem quiser confundir a árvore com a floresta.
Por outro lado, como se procurou mostrar, a influência de Putin na manutenção de uma agenda política proto-fascista atinge toda a Europa e até o continente americano, se se incluir a influência que teve na eleição e no comportamento político de Donald Trump. Não é sensato confundir a abrangência global da política externa (e interna) de Putin com a influência de um batalhão de dois mil efetivos (de 1% das forças armadas ucranianas) situado numa parte da região leste da Ucrânia. Muito menos como justificativa para uma guerra que faz dos trabalhadores e das pessoas comuns a viver na Ucrânia as principais vítimas. É com estas que a esquerda se deveria solidarizar.
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Putin surge como um filho de três mães: do socialismo soviético, readaptado ao contexto pós-queda do Muro; do capitalismo de Estado articulado com a iniciativa privada e clientelar, nomeadamente na área da venda de matérias-primas no mercado global; de um fascismo de recorte geoestratégico, com conversas anexas a um espaço vital (em torno da conquista da Eurásia).
Na cabeça de Putin, será este delírio de expansão, de reconquista de um espaço vital que o aproxima do nacional-socialismo, que estará a guiar as suas ações. Mesmo a competição entre grandes potências é vista na óptica da paranóia do cerco à Rússia e da necessidade de um espaço de influência pan-russo. A conjugação entre um estatismo político, um capitalismo de bilionários banhados em petróleo e uma Weltanschauung de uma essência pan-russa, representa o pior de três mundos: o pior dos regimes socialistas do século XX (a força do autoritarismo do aparelho repressivo do Estado), do capitalismo (aproximado) da monoprodução e desfasado dos mecanismos da mais-valia relativa; e do nacional-socialismo enxertado no contexto russo (o pan-eslavismo, o Eurasianismo, etc.).
Uma certa esquerda que vê minudências e aspetos nocivos e inconscientes nas micro agressões não é capaz de apontar para a sua própria contradição: engole o que Putin diz sobre a provocação da NATO (curiosamente no período em que esta estava mais fraca, menos relevante e desunida – ao contrário do que sucederá doravante), mas despreza os mecanismos ideológicos que estão na base da atuação dos dominantes.
Uma invasão singular
Todos os agentes políticos, sem exceção, operam de acordo com agendas políticas e ideológicas próprias. No caso dos capitalistas e dos gestores clássicos, a ideologia opera sobretudo em função da legitimação do mercado e do trabalho assalariado. No geral, as ideologias servem como formas de instigar consenso social, de modo a fomentar um ambiente propício para o aumento da produção de valor económico. Para os capitalistas liberais, a ideologia é geralmente um meio para chegar a um fim. No caso dos gestores ideológicos, as considerações económicas são secundárias e são um meio para chegar a um fim: o seu projeto ideológico.
No atual contexto de guerra na Ucrânia, o delírio de Putin chegou ao ponto de colocar o extermínio nuclear em cima da mesa… Bluff ou não, só este ponto permitiria impedir a comparação das carnificinas no Iraque ou no Afeganistão com a atual guerra na Ucrânia. Esta tem em cima da mesa a possível utilização de armas nucleares. Aliás, a doutrina militar russa concebe isso mesmo, no contexto de guerras convencionais assume recorrer a armas nucleares táticas. Ora, nada disto sucedeu nas guerras imperialistas dos EUA do pós-guerra. Os EUA procuram utilizar a guerra para ferir rivais imperialistas ou fornecer condições políticas e/ou militares para posterior expansão económica. Evidentemente, têm tudo para ser condenáveis.
Contudo, no caso de Putin, não há motivações económicas relevantes nas suas operações de ocupação (Crimeia e Donbass em 2014, Geórgia em 2008) e muito menos na atual guerra na Ucrânia. A grande diferença é que, num contexto improvável mas não completamente impossível de uma derrota militar e política esmagadora, Putin pode admitir recorrer a armas nucleares. Na medida em que os dirigentes em torno de Putin, e este acima de todos, não têm nada a perder a não ser a sua posição de poder no seio do Estado e do Estado russo no panorama internacional, a utilização em último recurso de armas nucleares não é uma variável fora da equação.
Se Putin fosse explicitamente um gestor clássico capitalista, nunca ponderaria colocar em causa as condições gerais de produção da acumulação de capital, nem a vida de milhares de milhões de vidas em jogo. Para os capitalistas e seus dirigentes políticos, a guerra é uma contingência das relações de competição entre Estados e interesses, mas, em primeiro lugar, é um aspeto secundário do seu poder e, em segundo, serve como mecanismo último de resolução de conflitos. Certamente com muitas vítimas, e com uma atitude sem escrúpulos, mas nunca com o intuito de promover uma destruição transversal a todos os domínios da sociedade e do planeta.
O lado de game changer da atual guerra na Ucrânia tem a ver com isto. Não se trata aqui de mais uma guerra de invasão e de ocupação, por mais condenável que esta seja. Por um lado, a guerra na Ucrânia trata-se de uma guerra por um motivo político-ideológico de expansão do projeto eurasiático de Putin. Por outro lado, é uma guerra que aposta numa confrontação direta entre potências nucleares, passível de uma escalada de parada e resposta, onde a agressividade pode ir crescendo. E acrescente-se ainda o facto de que os efeitos globais desta guerra podem levar a economia mundial de uma dinâmica de transnacionalização para uma dinâmica de internacionalização segmentada. Com consequências políticas ainda mais favoráveis para os nacionalismos e para os isolacionismos.
Uma evidência de que este pode ser um momento charneira na história europeia, está no facto de uma grande parte das empresas transnacionais com sede nos EUA e na UE terem participado no movimento de saída da Rússia. Um movimento destes tem sempre custos económicos elevados, e os gestores capitalistas não se gerem propriamente por considerações humanitárias ou fundamentalmente ideológicas que possam interferir com os seus investimentos. De facto, apesar de algumas delas falarem em suspensão de atividade, ninguém tem a certeza de quando e se é que poderão retomar os seus negócios na Rússia. Pode ser algo temporário, mas mesmo neste caso, a elite dirigente putinista não esquecerá os atos destas empresas.
Do meu ponto de vista, talvez estas empresas tenham feito uma análise de custo/benefício: mais vale perder o mercado russo (que nem é dos mais importantes a nível global) e favorecer condições que travem o avanço imperialista russo. Se a Rússia tivesse vencido facilmente as forças armadas ucranianas e ali colocassem um governo favorável a Moscovo, porventura, as repúblicas bálticas, a Polónia e outros países de leste estariam em muito maior risco de uma nova guerra de invasão. Mesmo sem uma guerra, que seria muito mais violenta, dada a presença em território de membros da NATO, cresceria a instabilidade junto à área económica da UE. Numa situação dessas, não impossível se a “aventura” na Ucrânia tivesse sido o “passeio no parque” que Putin aspirava, a incerteza gerada colocaria um grau colossal de atrito e de permanente receio de uma guerra pela UE adentro. Nesse sentido, perder o mercado russo, nem que seja por vários anos, não é nada comparado com os problemas que uma guerra nos países mais a Leste da UE traria a estas empresas.
Em suma, se uma classe dominante toma decisões de tudo ou nada, já não estamos a falar unicamente de capitalismo conforme o conhecemos, mas de um metacapitalismo em potência (um projeto metacapitalista de dominação continental), pelo menos na sua forma relativamente híbrida conforme descrita na secção anterior deste artigo. O capitalismo liberal tem imensos defeitos e problemas, mas a tomada de decisões nunca é (potencialmente) entrópica. Pelo menos nas premissas das tomadas de decisão, o seu fundamento não se baseia na possibilidade de contemplar alternativas com um alto risco destrutivo.
De um modo diferente, o metacapitalismo – como prática efetiva e/ou projetada – tem sempre um dilema. Os projetos metacapitalistas buscam derrotar os rivais pelos meios que os seus líderes pensam ser onde detêm vantagem sobre o seu inimigo – no plano geoestratégico e militar. Para isso, canalizam recursos que podem fazer falta noutras áreas – como o desenvolvimento tecnológico – para financiar esses projetos. Se os meios extra-económicos, como a violência bélica, não derrotarem ou fizerem recuar substantivamente os rivais liberais, então acrescenta-se à derrota militar uma competição no plano propriamente económico, a área previamente desprezada pelos gestores ideológicos que conduzem os projetos metacapitalistas. Ou seja, quando o regime de Putin, ao contrário de todas as expectativas, é derrotado ou travado militarmente, todas as suas limitações económicas somam à debacle militar. Uma vitória militar decisiva teria reforçado o seu poder interno e incrementado a sua projeção internacional, com naturais consequências na pressão ou mesmo em futuras guerras de invasão sobre a Geórgia, países bálticos, Moldávia, Polónia, etc.
Ao ser derrotado militarmente, ainda por cima quando tudo indicava o contrário, a base económica entra também na equação. Neste capítulo sobressaem três opções de resolução: 1) manter a guerra indefinidamente, isolando progressivamente a economia russa, transformando-se numa cópia da Coreia do Norte; 2) escalar a resposta militar e utilizar armas químicas ou nucleares táticas sobre a Ucrânia; 3) negociar e utilizar os intermediários (os oligarcas) que fazem a plataforma económica e relacional do Estado russo com o mundo ocidental, tentando salvar o que puder ser salvo, sem comprometer a manutenção no poder.
Com efeito, o enfoque na parte militar e geoestratégica – típico de gestores ideológicos que construíram as suas carreiras fora do universo capitalista clássico das avaliações frias do cálculo de custos, benefícios, recursos disponíveis e resultados obtidos – leva a atitudes de auto-engrandecimento e de ter mais olhos que barriga. Putin terá sobrestimado o poder das forças armadas. Parte significativa será explicada pela megalomania do projeto Eurasiático de recorte imperial e pela crença na superioridade da nação russa sobre os restantes eslavos. Outra parte advém da dimensão institucional das lideranças russas. Os seus rivais ocidentais organizam-se nas empresas, nos bancos e nos aparelhos de Estado a partir de princípios de rentabilização económica de poupança de custos e de melhorias incrementais para produzir valor económico. O regime de Putin “conta com o ovo no cú da galinha”, de acordo com o que vem na expressão popular. Isto é, conta com os rendimentos fáceis da venda de matérias-primas e de bens energéticos para financiar a sua máquina de guerra, sem grandes preocupações de criar um modelo económico complexo. 4% do PIB russo em gastos militares não é o mesmo que um valor quase idêntico por parte dos EUA.
Em próximos artigos abordar-se-á mais detalhadamente o projeto eurasiático e a forma como alguma esquerda portuguesa tem procurado suavizar a invasão de Putin.
Post-scriptum
Há pouco tempo estive a ler o O espião que saiu do frio de John Le Carré e fiquei a pensar nos paralelismos com o Putin, como aquele universo constrói um certo tipo de mentes e de disposições. E fiquei a pensar se ele era mais do tipo do Mundt ou do Fiedler. Não me refiro necessariamente a uma ligação ao Ocidente como a do Mundt, que reportava ao Smiley, mas no caráter. Claro que raramente alguém corresponde exatamente a uma personagem, nem isso faria sentido. Mas se tivesse de dizer com quem tem mais parecenças seria com o Mundt: implacável, com um altíssimo instinto de sobrevivência e sem deixar escapar muito no que diz respeito ao que realmente pensa. Aliás, é ele o tipo que o Leamas tem mais dificuldade em ler. Inversamente, o Fiedler parece mais o tipo militante, sem obviamente deixar de ser um espião cruel, mas não acima da média daqueles tipos nos serviços de espionagem. Pelo contrário, o Mundt (e o Putin?) parecem corporizar mais um tipo que encarna uma vontade de poder, mas sem o heroísmo que o Nietzsche adicionava ao conceito. É uma vontade de poder na prática efetiva e executada em todos os detalhes e que se ajusta perfeitamente a um poder discricionário. Contudo, quando se pensa na adesão, mesmo que pouco pronunciada publicamente, a um projeto político de tipo metacapitalista e com laivos de salvação civilizadora (Eurásia, Grande Rússia, etc.), não posso deixar de pensar no “idealismo” do Fiedler, na fé dele no projeto político. Será o Putin uma espécie de enxerto da fé do Fiedler no perfil implacável, frio e de grande manipulador do Mundt? Uma absorção do Fiedler pelo Mundt? A fé das certezas inabaláveis dentro do mais frio dos tecnocratas?
Bibliografia
BERNARDO, João (2018) – Labirintos do fascismo. 3ª ed.
LE CARRÉ, John (2013) – O espião que saiu do frio. Lisboa: Dom Quixote
MADDISON, Angus (2006) – The World Economy. Paris, France: Development Centre of the Organisation for Economic Co-operation and Development (OECD)
João, quando eu lia a parte do teu texto a respeito dos dirigentes meta-capitalistas dependerem dos recursos extra-econômicos para impor-se ao capitalismo clássico, particularmente o militarismo, não pude deixar de pensar na ideologia análoga propagada entre o proletariado. Eu a tenho chamado de “virilismo”, e ela é majoritariamente masculina, embora não seja algo exclusivo dos homens. O famoso “resolver tudo na porrada” aplicado aos mais diversos problemas da vida. Não é a toa que isso bate de frente com muitas questões colocadas pelo feminismo, inclusive pelo feminismo altamente integrado ao capitalismo. Desta forma, no cenário de polarização internacional vemos como nacionalismo, religiosidade e “virilismo” se contrapõe ao cosmopolitismo, capitalismo neo-liberal e debates de gênero. A propagação de um “virilismo” na população a prepara para todo tipo de guerras: de defesa, de ataque, de sacrifício, etc. Sem essa preparação, como seria possível que alguém combata as guerras? E na esquerda da órbita pró-Putinista vemos o mesmo encanto com o “virilismo”, fantasiando com exércitos vermelhos, com líderes poderosos, com bravas iniciativas que atropelam multidões por motivos nobres, resolvendo problemas econômicos com medidas de força bruta.
Lucas,
Concordo com a sua abordagem do virilismo. O fascismo e o estalinismo sempre utilizaram esse vetor. Do lado da esquerda identitária, o virilismo é dado como equivalente ao sexo masculino, contribuindo para a difusão de um feminismo excludente. Ambos os identitarismos alimentam-se mutuamente. O identitarismo hegemónico, no lado da direita mais radical, odeia o identitarismo competidor, na esquerda identitária, onde apesar das suas diferenças, ambos fazem parte de uma mesma estrutura. No caso de alguma esquerda portuguesa, é simplesmente inacreditável como alguns que se aproximam, ou são mesmo parte integrante, da esquerda identitária têm defendido o Putin. Como se o seu programa político/reivindicativo fosse sequer possível na Rússia de Putin, um dos templos da direita identitária… Na verdade, aventuro-me a especular que se alguns deles vivessem na Rússia talvez fizessem parte dos discípulos de Putin, porque a sua adesão é ao identitarismo como categoria cognitiva e política e, provavelmente, não apenas a um identitarismo em particular.
De acordo com o jornal The Guardian (https://www.theguardian.com/world/live/2022/apr/20/russia-ukraine-war-latest-ukraine-repels-numerous-donbas-attacks-as-russian-logistics-falter-says-uk-live?filterKeyEvents=false&page=with:block-6260728e8f084c98f77b1117#block-6260728e8f084c98f77b1117), terá falecido, dia 4 de abril passado, uma sobrevivente do Holocausto em Mariupol com 91 anos de idade. Segundo a Auschwitz Memorial, a sobrevivente de seu nome Vanda Semyonovna Obiedkova, estava escondida numa cave a tentar esconder-se do exército russo.
De facto, só a indigência mais profunda permite que alguma esquerda continue a equivaler a população ucraniana massacrada pelo exército de Putin com o Batalhão Azov. Aliás, é sintomático que na cidade em que o Batalhão Azov estaria mais presente antes da guerra, uma mulher tenha sobrevivido ao Holocausto, aos neo-nazis do Batalhão Azov e tenha de chegar o exército de Putin para lhe tirar a vida.
É de uma indigência monumental (https://www.publico.pt/2022/04/20/politica/noticia/pcp-nao-participara-sessao-parlamento-zelenskii-2003237) que alguma esquerda europeia e em Portugal se dedique a chamar “xenófobo e belicista” ao presidente de um Estado invadido (com quem não tenho nenhuma simpatia pessoal ou política), com uma população massacrada. Relativamente ao regime de Putin que invade, mata milhares de civis, incluindo sobreviventes do Holocausto, destrói casas, escolas, hospitais, obriga mais de 10 milhões de pessoas comuns a fugir para centenas ou mesmo milhares de quilómetros longe de casa, nem uma manifestaçãozinha simbólica em frente da embaixada russa. Depois ainda se sentem ofendidos quando lhes dizem que, objetivamente, defendem o regime de Putin.
O Direito Internacional Humanitário exige que todas as partes de um conflito evitem localizar, na medida do possível, objetivos militares dentro ou perto de áreas densamente povoadas. Outras obrigações para proteger os civis dos ataques incluem remover os civis das proximidades de objetivos militares e emitir um aviso eficaz de ataques que possam afetar a população.
Estas táticas ucranianas violam o Direito Internacional Humanitário, uma vez que colocam desnecessariamente em risco a vida de civis.
Você também não mencionou que em 2015 todos os partidos comunistas foram proibidos na Ucrânia.
Você não mencionou que Zelensky proibiu partidos opositores e de esquerda mas manteve os neonazistas.
A esquerda putinesca esforça-se por iludir a questão central: quem invadiu o quê?
Eu entendo que a questão nacional não deveria nortear o pensamento crítico comunista. Esta pergunta sobre queinvadiu quem nada tem de central, seja feita para a direita, esquerda, centro ou quem for. Basta ver que as fronteiras nacionais dividem povos e desrespeitam culturas e isto já acontecia na Ucrania desde o Maidan, ou antes, assim com existe na Rússia e por quase todas as nações. Como exemplo um oficial do exército ucraniano foi recentemente deposto do cargo por se expressar em russo nas redes sociais, o que é uma evidência do que já vem acontecendo. Ele deixou de ser ucraniano por se expressar em russo? Este é o espírito de toda identidade nacional e desemboca sempre no mesmo lugar, venha do Estado “russo” ou do Estado “ucraniano”. Já disse que o Passapalavra está perdendo a oportunidade de dar uma contribuição à crítica no que tange à este assunto e infelizmente não houve nenhum avanço. Falem da explosão do Nordstream, vinculem ameaças à China, a proposta ecologista, a questão do dólar, aí haverá crítica.