Por Luta Popular

Um ano e nove meses depois de terem sido presos arbitrariamente durante 12 dias por um roubo que não cometeram, nossos companheiros Igo e Felipinho encaram mais uma etapa de um pesadelo cujo único motivo para acontecer é o fato de serem jovens, negros e periféricos. No próximo dia 6 de outubro, às 16h, acontece a audiência de julgamento do caso. Exigimos que sejam definitivamente absolvidos e reparados pela violência racista praticada pelo Estado.

João Igo dos Santos Silva tem 38 anos e é produtor audiovisual. Felipe Patricio Lino Ferreira, de 21, é estudante, lutador profissional e professor de artes marciais. Os dois são ativistas de lutas comunitárias na zona sul da capital paulista, onde moram.

O que aconteceu

No dia 3 de janeiro de 2021, depois de comerem um yakissoba na região do Largo da Batata, os dois voltavam para casa quando o ônibus foi parado pela PM. Os policiais, de forma truculenta, mandaram os passageiros jovens e negros descerem e prendeu Igo e Felipe. Teriam as “características” e a “cor das roupas” de suspeitos por terem cometido um roubo. Com eles, não foram encontrados os pertences roubados e, na delegacia, as vítimas também não os reconheceram.

Isso pouco importou. Ficaram presos por 12 dias no Centro de Detenção Provisória (CDP) do Belém, na Zona Leste. E, mesmo que tenham passado a responder em liberdade, depois de um Habeas Corpus concedido no Tribunal de Justiça de São Paulo, estão sendo indiciados e processados criminalmente. A decisão do caso acontece, justamente, nessa audiência do dia 6 de outubro.

Provando inocência em uma sociedade racista

No sistema penal e carcerário, construído sobre os pilares do racismo secular da sociedade brasileira – aliás, como uma engrenagem fundamental para o seu funcionamento – as coisas acontecem da seguinte forma: Não são as autoridades policiais que precisam provar a culpa de alguém para prendê-la. Se não for rica e branca, é a pessoa acusada que tem que provar sua inocência. A despeito da inversão revoltante, foi exatamente isso que aconteceu.

Vídeos de câmeras de segurança, coletados e apresentados pela defesa dos dois jovens, provam que eles estavam caminhando tranquilamente – sem fugir e nem carregar nada nas mãos – poucos minutos depois do horário em que as vítimas relataram ter sido assaltadas. [Veja aqui].

“Nosso caso não é um caso isolado, é uma prática reiterada. Quando nossas vozes são ouvidas, não são só as nossas, mas sim a voz de toda uma população excluída e marginalizada, que sofre na pele e na consciência as marcas dessas injustiças praticadas pelo Estado”, diz Felipe.

Os dois são mais duas das milhões de vítimas do sistemático encarceramento em massa que atinge determinada raça, classe e território. O mesmo Estado que não garantiu reparação a pretos e indígenas após a abolição da escravidão, segue – por meio da seletividade do sistema de justiça, da criminalização da pobreza e do genocídio praticado pela polícia – violentando e matando essa mesma população.

“Infelizmente, nunca foi fácil pra gente, porque a gente carrega isso desde criança, a gente sabe como o sistema funciona. Mas a gente é parte da caminhada do povo, a gente tem uma responsabilidade”, disse Igo para os advogados enquanto estava preso. “É difícil acreditarmos na Justiça, mas acreditamos na nossa luta e no nosso povo, e podemos ter certeza que não estamos sozinhos, pois juntos somos a força, juntos faremos a transformação”.

A gente conta, de novo, com o apoio de todo mundo na luta por absolvição e justiça. Compartilhe!

Igo, Felipinho, tamo junto!

Pela vida e a liberdade do nosso povo!

MAIS INFORMAÇÕES:

Nota da campanha pela soltura de Igo e Felipe, com apoio de diversos movimentos e entidades:
Repercussão do caso:
Depoimentos familiares e amigos:

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