Por Grupo de desorientação política
No final da tarde chuvosa do dia 7 de setembro de 2022, um pouco titubeantes, fomos à Avenida Paulista sem saber ao certo o que iríamos encontrar. Chegando lá, nos deparamos com resquícios da manifestação que, horas antes, havia tomado conta da avenida. Depois que a multidão já havia debandado, uma pequena concentração ainda se agitava ao redor de uma caixa de som, enquanto alguns vendedores ambulantes circulavam para se desfazer das últimas mercadorias. Aos que restavam, perguntamos o motivo de estarem ali e suas expectativas para o futuro. Este vídeo foi montado a partir de trechos dessas entrevistas.
“eu já fui o caos, eu sei o que é o caos”, “você também vai estar preparado pro fim do mundo?”
Essas falas respondem a frase que passou pela minha cabeça vendo isso aqui: detonar Bolsonaristas naquela passeata em Copacabana é mole, quero ver numa carreata em Jacarepaguá com o povo evangélico e trabalhador precarizado. As tensões tão mais latentes do parece.
BRASUCA ou CAÔ SUPRASSUME CAOS.
Discurso empreendedor e fanatismo religioso. São duas bases fortes do discurso bolsonarista.
Como enfrentar isso?
O que vi hoje foi uma tristeza absoluta entre os eleitores do Lula. A molecada da faculdade estava convicta de que ontem o bolsonarismo seria varrido, que seria uma vitória expressiva, que o Bolsonaro seria relegado à latrina e que os bolsonaristas voltariam pras sombras.
Ontem mostrou que 2018 não foi onda passageira e tampouco um acidente histórico.
E o que vejo por parte da esquerda, ou dos progressistas (chamem como preferirem), é uma reprise de 2018: memes; charges; o discurso de não votar num machista, racista e homofóbico; a exaltação de um NE combativo; o risco de um golpe; uma ilusória crença em que só o Brasil branco votou no Bolsonaro; o sonho de que é possível virar voto de bolsonarista…
Até quando vamos fechar os olhos para o fato de que quase metade de quem compareceu às urnas legitimou os 4 anos de governo Bolsonaro? Até quando vamos ignorar que os conservadores e reacionários, finalmente, encontraram nele um legítimo representante? A direita moderada respira por aparelhos. Sim, o centrão fez uma bancada grande, mas o PSDB descansa em paz. Foi abandonado até pelo conservador interior paulista, cuja maioria dos eleitores mais uma vez ratificou o bolsonarismo.
E como parte do caos, uma estudante muito bem intencionada me disse: “Ontem, tentei convencer um colega do movimento negro a ir votar. Ele me disse que se recusava a escolher entre dois brancos opressores.”
Outra emendou: “Os comunistas também se recusaram a votar no Lula e afirmaram que o agravamento das tensões sociais será melhor para a organização da Revolução Brasileira.”
Rimos, mas talvez devêsemos ter chorado.
A molecada bem intencionada só consegue vislumbrar saída numa eleição do Lula. Não se trata nem de optar pelo menos pior. Nasceram e cresceram sob o lulismo, não vislumbram nada para além de apertar teclas.
Autogestão, a emancipação da clase ser obra da classe, a autogestão se faz na luta autogerida… São princípios que me forjaram.
Mas hoje, só vejo o caos no horizonte.
Parte da esquerda fecha os olhos, como crianças, mas o outrora comunista Aluysio Nunes fez um prognóstico que me pareceu lúcido: no caso de uma possível vitória do Bolsonaro, com a bancada que fez na câmara e no senado, ele conseguirá fundar seu partido; indicará mais 4 ministros do Supremo; se tornará um fuhrer.
O Lula pode ser eleito, mas talvez só adie o inevitável. Marchamos para um regime fascista.
o reverso do discurso machista, racista e homofóbico é justamente o discurso identitário e multiculturalista. São os dois lados da mesma moeda… Por sua vez, o discurso empreendedor e fanatismo religioso são o reverso do discurso desenvolvimentista e messiânico… Ou seja… Quem nos dera o fascismo fosse só de direita…