Por Treta no Trampo

Trabalhadores das empresas terceirizadas que atuam da área restrita do Aeroporto Internacional de Guarulhos estão sofrendo intimidações e demissões arbitrárias em retaliação à paralisação realizada na última terça-feira, 3 de outubro.


Logo após o movimento, nos dias 5 e 6 de outubro trabalhadores de pelo menos três empresas (Swissport, Dnata e Orbital) foram comunicados de suas demissões. As empresas alegam que as demissões devem ocorrer em massa e por justa causa. Mesmo funcionários que tinham estabilidade, por cumprirem mandatos na Comissão Interna de Prevenção de Acidentes (CIPA), foram demitidos. Outros trabalhadores foram chamados a devolver seus crachás de acesso à área restrita do aeroporto, inviabilizando sua possibilidade de trabalhar, o que indica uma futura demissão.

Trata-se de um ataque frontal ao direito de greve e organização, e até o momento o sindicato da categoria — que não deu as caras no dia da paralisação — não se manifestou.

Além disso, diferentes trabalhadores relataram que, além de serem coagidos e interrogados pelos supervisores das emrpesas, estão sendo chamados para questionamentos pela Polícia Federal.


A paralisação de terça feira, que durou 24h, foi organizada pelos próprios funcionários contra a política de proibição severa do uso de celulares dentro da área restrita, onde é realizado o embarque. Sob o pretexto de “combate ao crime”, a medida das autoridades do Aeroporto termina servindo para aumentar o controle e a pressão sobre o trabalho desses funcionários.

O movimento ocorreu no mesmo dia em que São Paulo era também chacoalhada por greves e protestos dos trabalhadores do Metrô, Sabesp, CPTM e estudantes universitários.

8 COMENTÁRIOS

  1. Este artigo muito me tem feito refletir.
    A greve selvagem dos trabalhadores do aeroporto foi divulgada apenas na página do Treta, aqui no Passa Palavra, no Valor e em uma página de notícias locais de Guarulhos.
    Foi quase por completo ignorada pelas organizações de esquerda, militantes políticos e movimentos sociais. Mesmo acontecendo em um dia de mobilizações variadas, poucas ações propuseram alguma solidariedade.
    Apesar da perseguição e das demissões flagrantemente ilegais, não se vê nenhuma figura pública de relevo, ou parlamentares, exigindo explicações, manifestando apoio aos trabalhadores que lutam. Tampouco movimentos sociais, sindicatos ou partidos políticos exigem explicações das empresas.
    Sequer os comentaristas desse site se dignam a falar sobre essa greve, enquanto a discussão sobre o quanto o PSoL é inefetivo tem 22 comentários, os dois artigos sobre os trabalhadores de Guarulhos totalizam dois comentários (contando esse que faço agora).
    Parece que a luta de fato dos trabalhadores interessa cada vez menos à esquerda.

  2. Lucas, com todo o respeito aos trabalhadores que realmente acreditam que estão lutando pelo que dizem estar lutando, mas você acha mesmo que a cúpula da greve tem os mesmos objetivos das massas que elas pretendem arrastar?
    Você deve saber que com uma frequência absurda as raposas que dominam a pauta não apenas tocam a reunião. Quem domina a pauta geralmente entra para a reunião com as deliberações já previamente estabelecidas. O que se faz nos encontros é meramente atribuir o verniz de um processo deliberativo amplo, quando na verdade é extremamente restrito. Basta ter no bolso bons oradores ocupando cargos estratégicos.
    Mais do que as demandas (a demanda pode muito bem ser fabricada), seria interessante analisar o contexto em que essas mobilizações se inserem. E ai entra a questão das disputas internas no PSOL (MES/SAMIA/OUTROS versus MTST/BOULOS/OUTROS) e das disputas externas por cargos eleitos da institucionadade burguesa. O quanto a luta dos trabalhadores e estudantes, daqueles que realmente acreditam que estão participando das deliberações, fazem parte de um jogo perverso, de um jogo que vira do avesso o sentido da luta que eles acreditam travar?
    Não me parece que o breve surto de greves recentes é fruto de espontaneismos simultâneos.

  3. Liv,
    Parece que você não se atentou aos detalhes desta greve específica. Os trabalhadores e trabalhadoras fizeram a paralisação sem um chamado sindical, ou partidário, não fizeram uma reunião de negociação. Agora estão sofrendo retaliações, demissões e perseguições. E aparentemente, nem com a solidariedade dos comentadores de extrema-esquerda, podem contar.

  4. L L, eu nem sequer usei a palavra sindicato. Usei palavras como “cúpula” e “oradores”. A única correção que faço para tornar ainda mais amplo o comentário, é a seguinte: ao invés de “cargos estratégicos”, ler: “posições estratégicas”.
    Nenhuma categoria de trabalho está imune a esse tipo de expediente, com ou sem organização sindical. Afinal, não é só pela via dos sindicatos que se organizam os trabalhadores (ou mesmo pela via dos centros acadêmicos, quando a greve é de estudantes). Basta um bom orador (ou pelo menos alguém(s) previamente convencido) posicionado estrategicamente. Basta alguém útil e com entrada suficientemente larga. Fato é que é os trabalhadores de aeroportos não existem apartados do restante do mundo.
    E vale lembrar não vivemos no mesmo período histórico em que os carvoeiros de Zola lutaram e morreram soterrados (por sinal, saudações ao bravo Suvarin). Apesar de vivermos tão soterrados quanto.

  5. Estou lendo os comentários de Liv bastante atônito. Parece-me que para Liv se às lutas não forem “puras”, dentro de sua perspectiva política (autonomista?!), elas não merecem atenção nenhuma. Como terá sempre alguma força social (ou mesmo individual) burocratizante, os trabalhadores que estiverem sinceramente lutando por suas questões imediatas, só podem estar sendo manipulados. É a Teoria das Elites tomando conta da esquerda. Voltemos às barbas do PSOL…

  6. Irado, você poderia apontar em que trecho dos meus comentários afirmei as greves recentes (estudantes, metroviários + Sabesp e aeroportos) não merecem atenção?
    Tanto acho que merecem, que comentei sobre o assunto aqui. Este é o terceiro comentário, inclusive.
    Lucas ficou intrigado com a discrepância entre a elevada quantidade de comentário feitos do artigo sobre o congresso do PSOL e os feitos a respeito da greve dos aeroportos. Eu, assim como Lucas, também reparei a diferença. Pode ser que a razão da diferença seja a demanda em si? Não sei. Pode ser que seja a concomitância entre greves de demandas tão distintas? Talvez estejamos todos tentando compreender em que contexto cada uma se insere? Não sei responder o questionamento feito por Lucas. Até porquê só posso falar por mim.
    Quanto a mim, tento sempre que possível tento fugir das análises mais ingênuas. Afinal eu sou uma pessoa de pouquíssima fé. Sem fé consegui enxergar melhor, consigo pensar para além do véu das aparências superficiais. É um exercício diário. Recomendo.
    E eu também li Gramsci. Por isso a categoria de análise do sujeito bizarro está sempre presente nos meus comentários. Talvez, camarada Irado, a nossa diferença seja meremente bibliográfica.

  7. Exceto se Liv realmente quiser dizer, com boas fontes internas, que a greve no aeroporto de Guarulhos foi ou está sendo manipulada, me parece que nestes comentários o ruído impera.

    Por outro lado: quais medidas de solidariedade prática estão sendo necessárias no momento? Como articulá-las? Este é o cerne da questão.

  8. 《Venho aqui nesta área de comentários do PassaPalavra firmar minha solidariedade aos trabalhadores do aeroporto! Até a vitória final!》

    Ah! Tá bom… E daí? Como qualquer outro tipo de moção, disto resulta alguma prática, alguma ação concreta? Ou não passa de solidariedade de boca, meramente formal.

    A lógica alienante das Redes Sociais gera a ilusão de comentários, views e likes terem algum efeito concreto, a não ser agregar valor à plataforma virtual onde são postados.

    Não adianta choramingar por atenção e apoio, se nem ao menos consta no texto (nem um artigo completo é, apenas uma compilação de 2/3 tuítes) qualquer indicação de como prestar solidariedade ativa ao movimento em questão.

    A comunicação é o tecido conjuntivo das lutas. Sem uma comunicação bem feita, as lutas não param em pé.

    E mesmo neste sentido, muito há a se conhecer e aprender com a operação “Al-Aqsa Storm”: sem inteligência, logística e, em especial, reféns não haverá sucesso.

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