Por Poeta em Buenos Aires

Nicarágua, abril e maio de 2018. O país está imerso em uma enorme onda de protestos, liderados principalmente pela juventude do país. Este é o pano de fundo em que Sergio Ramírez nos apresenta seus personagens de romances anteriores: o inspetor Morales e o chefe de inteligência do regime, Tongolele, mais uma vez em conflito. Embora seja o terceiro livro de uma trilogia, o autor utiliza recursos habilidosos e divertidos para que o livro possa ser apreciado mesmo sem ter conhecimento dos anteriores (como é o meu caso!).

Sergio Ramírez foi nada menos que um dos cinco membros da “Junta de Governo de Reconstrução Nacional” após a vitória das forças guerrilheiras do Frente Sandinista contra o ditador Somoza, em 1979. Hoje se encontra no exílio na Espanha, após ter sua prisão decretada em 2021 pelo regime orteguista e ter perdido a nacionalidade nicaraguense no começo deste ano, por decisão de um tribunal de apelações.

A deliciosa história de espionagem e traição, com muitos ingredientes centro-americanos, nos apresenta de forma crua as reviravoltas que o nosso mundo deu nos últimos anos. Pois eventos importantes abalaram os antigos esquemas (Tongolele conseguirá seguir os passos da nova dança?). Brasil em 2013, Bolívia, Chile e Equador em 2019, Colômbia e Cuba em 2021, Peru em 2022. Nossa região viu nos últimos anos diversas manifestações populares nas ruas, seguidas de violentas repressões, independentemente de os governos e regimes em questão serem considerados de esquerda ou de direita. Como envelhecem as ideias e os partidos? Este último romance de Sergio Ramírez lança luz, no meio de tanta sombra, sobre os valores que nunca devemos abandonar.

Tongolele no sabía bailar de Sergio Ramírez. Alfaguara, 2021. 344 páginas.

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