Por Grupo Cultural Cacorê
O simpático planfleto abaixo é de 2002, ano em que o 1º de Maio classista ocorreu a praça da Sé. Recebi o texto fotografado. Digitei e compartilho. O Grupo Cultural Cacorê foi uma das forças que convocou e organizou aquele 1º de Maio. O nome Cacorê saiu de uma peça do cantador Elomar Figueira intitulada Calundu e Cacorê. O próprio artista explicou o significado das palavras. Calundu é a enfezação, o mau humor. Cacorê é a consubstanciação da enfezação. Cacorê é quando alguém sai quebrando tudo depois do calundu. O Grupo Cultural Cacorê atuou na segunda metade dos anos 1990 e começo dos 2000. Alguns cacoreanos já partiram para nunca mais, outros seguem pelejando no tempo presente. Nenhum passou para o lado de lá na luta de classes! Forte abraço e boa leitura, Jan Cenek.
Estaremos na praça da Sé, com outros lutadores do povo, a partir das 14h00 no dia do trabalhador, mas você não está sendo convidado.
Você, que adora o sorriso do patrão, que fica feliz quando o chefe lhe dá uns tapinhas nas costas.
Você, acostumado a cagüetar os colegas de trabalho, sonhando em subir de cargo, dê-nos uma força.
Contamos com sua ausência!
Você, que discrimina negros, homossexuais, índios, nordestinos, etc…; que acha o fogão e o tanque extensão do corpo da mulher, e que sua única liberdade é ver novelas, faça-nos o favor.
Contamos com a sua ausência!
Você, conivente com a repressão policial, que prende, humilha e mata pobres, garantindo a liberdade de usos e abusos dos ricos.
Você, que acha normal homem bater em mulher e ainda diz de boca cheia: “em briga de marido e mulher não se mete a colher”, dê-nos um tempo.
Contamos com a sua ausência!
Você, que pede a redução da maioridade penal, inclusive a pena de morte para aquelas almas infratoras, vítimas do descaso, sem lar, sem escola, sem saúde, sem lazer, sem nada e ao mesmo tempo faz vistas grossas quando playboys, filhinhos de papai, tocam fogo em índio ou moradores de rua, vá à merda!
Contamos com a sua ausência!
Você, que condena as ocupações dos sem-terra e sem-teto, que aplaude as falsas promessas do governo, mesmo quando este, junto com sindicalistas vendidos, visa quebrar os direitos dos trabalhadores com fim da C.L.T., pomposamente chamado de “flexibilização das leis trabalhistas”, não nos incomode nesse dia.
Contamos com a sua ausência!
Você, cuja visão de mundo vai das verdades ditas pela rede Globo à seriedade do sorriso do Sílvio Santos, pensando que a situação caótica que o F.M.I mergulhou a Argentina não recairá sobre nós brasileiros, porque somos privilegiados filhos de Deus e temos um presidente tagarelando em cinco, seis línguas, orgulhoso por comandar um povo analfabeto ou semianalfabeto, tendo Zíbia Gaspareto e Paulo Coelho como riquezas literárias, nos deixe em paz.
Contamos com a sua ausência!
Você, que se acha o máximo, vestindo camiseta ou pondo um lenço na cabeça com as cores da bandeira norte-americana, atendendo ao pedido do presidente dos Estados Unidos de declarar “guerra ao terrorismo”, pouco se importando que, com essa desculpa, massacrem-se povos inteiros, levando mais misérias a esses países, como ocorre hoje com os palestinos, bombardeados por Israel, com apoio e financiamento da porca política de Washington, passe longe de nós.
Contamos com a sua ausência!
Como dizia o poeta: “A praça é do povo como o céu é do condor.”
Da nossa parte diremos: A praça é grande. Mas não caberá peão com cabeça de patrão.
Em nosso 1º de Maio, lembraremos uma vez mais que essa data simboliza a luta dos trabalhadores conscientes do mundo todo.
Também teremos música, teatro, poesia, exposição, etc…, mas não será para você, Sr. Puxa-Saco.
Lá não teremos a presença da mídia, certamente, nem de gente famosa. Somente os que constroem a sociedade, seus produtores, são convidados.
Você, que foi reduzido a um número, vá à festa da Farsa-Força Sindical e dispute com um milhão e meio de pessoas o sorteio de quinze (15) prêmios ou fique em casa com a bunda no sofá vendo T.V., ou melhor ainda, passe o dia fazendo fofocas da vida alheia, quem sabe isso lhe trará algum prazer, mas deixe de ir à praça da Sé no 1º de Maio, afinal…; contamos com a sua ausência.
No ano seguinte, Luiz Inácio da Silva -a.k.a. Nine Fingers- (de longe, o maior de todos os puxa-sacos do capital) assumiu seu primeiro mandato como presidente da sereníssima república do Brasil…
O irônico é que os pedidos foram atendidos… e quase ninguém compareceu ao ato. Somente os gatos pingados de sempre.
É ácido ou básico, posto que que com PH inicializado? Talvez neutro, combinando melhor com algo que não é um gato pingado.
E que se candidata (entusiasticamente?) a rato molhado…
Seria cômico se não fosse trágico…mas ninguém mais aparece às manifestações do primeiro de Maio…a nossa preocupação não deveria ser exatamente a de perguntar a nós mesmo por que?