História da oposição bancária (5)

Por Bancário Anônimo

 

5. A oposição de 2009 até 2013

5.1. Situação da oposição no período anterior a 2009

Todas as mudanças (negativas) nas campanhas salariais pós-2004 que mapeamos no capítulo anterior (diminuição do número de grevistas, diminuição da participação nos piquetes e assembleias, greve de pijama, greve de fachada, diminuição do impacto no lucro dos bancos, manobras da diretoria nas assembleias, ausência da organização de base, migração dos clientes para meios alternativos de atendimento, reestruturações, etc.) transcorriam sem que fossem devidamente estudadas pela oposição bancária, que assim não tinha como desenvolver uma política adequada frente a essas questões. Até aquele momento, o MNOB era a principal oposição nacional estruturada, tendo chegado à direção dos sindicatos do RN, MA e Bauru, com grupos de oposição organizados e atuantes em São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília e Porto Alegre e presença em alguns outros estados, desenvolvendo uma mesma política e polarizando com a burocracia petista.

Havia sindicatos dirigidos pelo setor que hoje compõe a Intersindical-Central Sindical (entidade controlada pelo PSOL, que na época ainda não tinha se separado da outra Intersindical), no ES e baixada santista, e também oposições em outros estados, mas com um posicionamento muito oscilante, muitas vezes compactuando com a Articulação em vários pontos, compondo chapas conjuntas com a própria CUT ou seus satélites (PcdoB, DS, Trabalho, etc.), etc. Dessa forma, o MNOB aparecia como “a oposição” de verdade. Entretanto, essa oposição “oficial” não reconhecia a nova realidade que vinha se desenhando na categoria e se limitava a repetir o mesmo discurso da greve de 2004, exigindo o fim da Mesa Única da Fenaban e a reposição das perdas, a partir de um índice de reajuste diferenciado daquele da Articulação, como eixo de agitação principal.

O MNOB organizava anualmente o Encontro Nacional da Oposição Bancária, aberto e de base, antes da campanha salarial, e às vezes também com uma segunda edição, ao final do ano, depois da campanha. Esses Encontros eram realizados geralmente em São Paulo ou Rio de Janeiro, para onde vinham dirigentes e ativistas dos sindicatos de oposição e militantes de outros estados. Nesses Encontros era discutida uma pauta de reivindicações alternativa, contendo as demandas históricas da categoria, diferente da pauta rebaixada do Comando Nacional da Contraf-CUT. Essa pauta era então divulgada pelos militantes e ativistas do MONOB por meio de panfletagens nas diversas bases. Quando as negociações começavam de fato, o MNOB realizava, por meio dos sindicatos em que tinha participação na direção, um ato simbólico de entrega da sua pauta alternativa à Fenaban, reivindicando a abertura de uma 3ª Mesa de negociação, junto às da Contraf e Contec. Também havia a tentativa de convencer os sindicatos dirigidos pela Intersindical-Central Sindical a aderir à pauta da oposição, de modo que fosse atingido o número mínimo de 5 sindicatos exigidos pela legislação para forçar a patronal a reconhecer uma 3ª mesa de negociação.

O pressuposto dessa política era de que os Encontros da Oposição eram o “verdadeiro” espaço de organização da categoria, portanto, o MNOB não participava das assembleias e encontros preparatórios da Conferência Nacional da Contraf-CUT em que se elegia o Comando Nacional. Mas o MNOB participava dos Congressos específicos dos funcionários do BB e CEF, ou das suas assembleias preparatórias, com o pretexto de dialogar com “setores de base” independentes da Articulação ou com a Intersindical e tentar trazê-los para a sua política. Seja como for, nem por acordo entre as cúpulas da oposição e nem por pressão (que nunca existiu) de alguma base, a Fenaban jamais tomou conhecimento dessa pauta alternativa.

As campanhas seguiam então aquele roteiro previsível: a direção do sindicato de São Paulo impunha sua linha na Conferência Nacional da Contraf-CUT e no Comando Nacional, que começava a campanha pedindo como reajuste a reposição da inflação mais 1,5% ou 2% a mais e encerrava aceitando 1% ou 0,5% acima da inflação oficial, o que era propagandeado como grande “vitória” e “aumento real”. A oposição, por sua vez, começava as campanhas defendendo reajustes entre 20% e 30% e um plano de reposição de perdas, e achava que com isso iria atrair mais bancários para as suas propostas. O raciocínio do MNOB era mais ou menos o seguinte: os militantes da oposição iriam fazer a agitação da pauta histórica da categoria, os bancários iriam reconhecer seus reais interesses nessa pauta e iriam passar por cima da direção sindical, como na assembleia de 2004, e tomar o controle da luta. Só que isso nunca aconteceu.

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Outro ponto importante em que a estratégia permanente do MNOB se mostrava desajustada era na proposta de assembleias específicas como contraposição à Mesa Única da Fenaban. Essa tática fazia algum sentido em 2004 e nos anos imediatamente seguintes, quando a realização de assembleias específicas por banco serviria para motivar os funcionários de BB e CEF a seguir em greve por suas pautas específicas. Passados alguns anos, a Articulação adotou a manobra de fazer assembleias separadas por banco, aparentemente como estava sendo reivindicado, mas com o detalhe crucial de não colocar em votação justamente as pautas específicas. No momento em que se decide encerrar a campanha e aprovar o acordo, são marcadas três assembleias separadas, no mesmo horário e em locais diferentes, para os trabalhadores de BB, CEF e privados; mas nessas assembleias não se vota as pautas específicas e sim a pauta comum, ou seja, o índice da Fenaban. Com isso, aprova-se o índice da Fenaban em separado em cada assembleia, encerra-se a greve e nunca se discutem os pontos da pauta específica. Em geral, esses pontos específicos são remetidos para “mesas de negociação permanente”, que os bancários apelidaram de “enrolação permanente”. O conjunto da oposição demorou para perceber a necessidade de exigir não a separação das assembleias, que já estava sendo feita, mas a separação da votação do índice da Febaban da votação da continuidade da greve. Deveria ser votada a aprovação ou não do índice da Fenaban, e em seguida, em outra votação separada, a votação da continuidade ou não da greve pela pauta específica de cada banco. Essa modificação na tática para as assembleias já separadas não foi incorporada, entretanto.

A oposição seguiu na sua rotina de agitar uma “campanha alternativa” completamente artificial, e depois acusar a burocracia de ter “traído” a greve. Com isso, a oposição continuava mantendo para si mesma a imagem de mais combativa, mas se abstinha de questionar a fundo porque a campanha alternativa nunca conseguiu a adesão de um número maior de bancários além dos militantes das organizações e simpatizantes próximos nos seus poucos locais de trabalho. O coletivo Bancários de Base (BdB), sobre o qual falaremos mais adiante, tentou fazer esse questionamento e elaborar uma estratégia de campanha diferente, com outros eixos, mas apesar de alguns acertos seguiu sendo minoria na oposição de São Paulo. O MNOB seguiu sendo a oposição “oficial”, tendo o direito de falar nas assembleias, mas sem usar esse direito para colocar propostas que realmente batessem de frente contra a estratégia de campanha salarial da Articulação.

Trata-se de uma oposição “bem comportada”, que parece priorizar as pontes de diálogo com a burocracia em detrimento dos pontos que poderiam fazer a diferença nas campanhas. Ao usar o microfone nas assembleias, o MNOB faz a sua fala contra a Mesa Única e em defesa de um reajuste diferenciado, mas não denuncia a greve de fachada, a falta de democracia, a falta de espaço para os trabalhadores se manifestarem, etc., nem propõe medidas capazes de fazer os bancários se motivarem a romper com o controle da Articulação sobre a campanha, como a eleição de representantes de base, a mudança do horário das assembleias, a não aceitação da compensação das horas, etc. O uso da fala pelo MNOB se limita a fazer o seu “marketing” como “a oposição” combativa, e o seu “ser combativo” se limita a pedir um índice de reajuste maior ou alguma pauta partidária inventada pelo PSTU. A obsessão do PSTU na época com a luta contra a Mesa Única da Fenaban e a exigência de negociações ou mesas separadas por banco tinha por trás uma tentativa de fazer com que os bancários do BB e da CEF se chocassem com os governos Lula e Dilma e abandonassem suas ilusões no PT, tentativa que nunca se concretizou.

 

5.2. Os erros e limites estratégicos da oposição

A despeito da estratégia do MNOB centrada na expectativa de uma nova “rebelião de base” igual à de 2004, o esvaziamento das greves pós 2004 levou a um esvaziamento progressivo do próprio MNOB. A política do PSTU, direção majoritária da oposição, não ajudou muito a reverter esse quadro. Já em 2006 essa política havia provocado a saída da Associação de Osasco (primeira formação do que viria a ser o coletivo Bancários de Base), da Oposição Operária – BA e da LER (depois MRT), devido a discordâncias várias, em especial à divergência com a linha de vincular o MNOB à construção da Conlutas. O que o PSTU impunha ao MNOB era que as chapas para eleições sindicais tinham que ter no seu programa a desfiliação da CUT e filiação à Conlutas. Outros coletivos de oposição e ativistas independentes alertavam que isso não era consenso ou sequer era compreendido pelos bancários, pois estava sendo feito de maneira apressada, sem o devido aprofundamento, etc. Era aceitável a desfiliação da CUT, mas não a vinculação à Conlutas, que a maioria da base nem sequer tinha noção do que se tratava.

Mesmo assim, o PSTU impunha a sua linha sem mediações, atropelando qualquer processo de desenvolvimento da consciência política dos ativistas, substituído por um imediatismo grosseiro. Isso gradualmente afastava os demais coletivos e ativistas independentes. Para que se tenha uma ideia, das centenas de bancários que se tornaram ativistas na greve selvagem de 2004, um dos únicos que permanece militando na base de São Paulo até hoje é o autor deste texto; todos os demais foram ao longo dos anos se dispersando por não se sentirem contemplados pelas formas de organizações existentes (e isso não contém nenhuma auto-proclamação, pois o autor também foi na época participante e portanto co-responsável por todos os equívocos dessas formas de organização que está descrevendo).

O fato de que centenas de trabalhadores que despertaram para a luta na greve de 2004 não tenham encontrado um espaço de organização e tenham praticamente todos se dispersado ou sido cooptados pela opção de tentar fazer carreira nos bancos é uma evidência estarrecedora da incompetência das organizações da oposição. É uma demonstração trágica de falta de habilidade e de muito imediatismo, açodamento, fanatismo e até mesquinharia. A prática deletéria de construir o partido captando militantes a qualquer custo, em detrimento da construção do movimento, levou a que não se construíssem nem o movimento, nem os próprios partidos.

As organizações políticas que atuam entre os bancários não conseguiram transformar trabalhadores em militantes, elas se sustentam “girando” militantes estudantis ou de outras categorias para ingressar nos bancos públicos via concursos. Uma oportunidade histórica, que foi o aparecimento de centenas de trabalhadores dispostos à luta (ou milhares, se considerarmos o país inteiro), pela qual é preciso esperar muito tempo, por vezes décadas, foi miseravelmente perdida no pós-2004. Essa derrota histórica tem que ser colocada na conta das concepções dirigistas, vanguardistas, substituístas, auto-proclamatórias dos partidos e organizações que pretendem “dirigir” os trabalhadores.

Cabe lembrar aqui que o processo que aconteceu entre os bancários, com o desencanto do funcionalismo do BB e CEF e bancos públicos menores em relação ao PT, se reproduziu também em muitas outras categorias, principalmente do funcionalismo público e em empresas estatais e de economia mista (Correios, Petrobrás), que eram justamente a base eleitoral mais fiel do partido desde a década de 1980, e que agora forneciam uma base social real para a ruptura da CUT e a criação da Intersindical e da Conlutas. Entretanto, essa base social jamais se expandiu a ponto de desafiar realmente o monopólio da representação cutista e das demais centrais pelegas. Ao contrário, o impulso da chamada “recomposição” do movimento sindical arrefeceu e as pequenas centrais mais combativas pararam de crescer e estacionaram num teto que as coloca de fora inclusive da repartição do bolo do imposto sindical (que pode ter sido desde sempre o verdadeiro objetivo da sua existência).

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Sem processos de luta semelhantes à greve bancária de 2004, a Intersindical e a Conlutas aos poucos se acomodam a um sindicalismo burocrático pseudo-combativo, insuficiente para construir uma nova referência de organização. O marco dessa acomodação e do fracasso desses projetos foi o colapso patético da tentativa de fusão entre Conlutas e uma parte da Intersindical no Conclat de 2010 em Santos. Tudo começou muito mal desde antes do Conclat, quando a Intersindical rachou definitivamente em duas organizações, uma Intersindical-Central Sindical (controlada pelo PSOL) e uma Intersindical composta pela A.S.S. (Alternativa Sindical Socialista), PCB e outros grupos (mas que depois se reduziu apenas à A.S.S.). O motivo do racha foi exatamente a decisão do setor que constituiria a Intersindical-Central Sindical de ir para o Conclat para a fusão com a Conlutas, o que os outros setores não aceitaram e os fez construir outra corrente. E para completar, o congresso fracassou devido à impossibilidade de se chegar a um acordo quanto à divisão dos cargos de direção da central que se pretendia criar. Claro que nenhum dos envolvidos nessa pantomima reconhece que era esse o motivo da divergência, então tudo apareceu como um desacordo em torno do nome que a nova entidade receberia (!!!!!!!!!!!).

Mais importante do que tudo isso é o fato de que não havia da parte de nenhuma dessas correntes nenhum interesse real em superar as formas existentes de organização representadas pela CUT e seu sindicalismo burocrático-estatal, mas apenas de apresentar uma fachada mais combativa. O resultado é que depois do malfadado Conclat, ao invés de uma unificação, tivemos uma fragmentação ainda maior: passaram a existir 2 Intersindicais e a Conlutas, que acrescentou um CSP ao seu nome, significando “Central Sindical e Popular”. O “Popular” nesse nome indicava a presença de outros movimentos sociais além dos sindicatos, mas mesmo isso foi abalado poucos anos depois, quando o MTST, que se tornaria um dos mais importantes movimentos do país, saiu da Conlutas, também por divergências que tinham relação com a obsessão do PSTU por cargos e controle. Esses episódios lamentáveis demonstram a falta de seriedade dessas organizações, que colocam a sua obsessão pelo controle sobre os aparatos acima da necessidade de organização da classe.

 

5.3. As críticas dentro da oposição

O processo que vivenciamos entre os bancários de esvaziamento do MNOB correu paralelo com o processo mais geral de atrofia política e organizativa de quase todas as correntes que se organizaram nessa ruptura do PT/CUT. A politica do PSTU para a Conlutas foi de transformar uma coordenação de lutas em central sindical. A preocupação com o controle sobre o aparato sindical passou a prevalecer sobre a necessidade de organizar as lutas. Num primeiro momento, vários coletivos e ativistas que divergiam da linha do PSTU para o MNOB eram capazes de articular uma crítica em torno desse aspecto da questão, a estratégia da organização majoritária da oposição, mas não atentavam ou não compreendiam na sua totalidade outro elemento mais geral, o modus operandi do governo petista e da patronal para lidar com o conflito social.

O potencial aberto com as rupturas da CUT e do PT nesse momento especifico foi se fechando por um lado devido às politicas adotadas pelo governo e pela patronal (como veremos no ponto 5.6.), mas os setores minoritários da oposição apenas enxergavam ou priorizavam outro lado, a crítica ao partido que dirigia a oposição, o PSTU. Essa crítica se centrava na forma como os partidos que atraíram os ativistas desse primeiro ciclo de ruptura e enfrentamento priorizaram a sua auto construção em detrimento da construção do movimento. Para o PSTU e outros grupos que atuam com a mesma lógica, é mais importante captar militantes e construir o seu partido do que construir um organismo permanente do movimento, uma oposição sindical ou coordenação de lutas que tenha organicidade, regularidade, reuniões permanentes, presença nos locais de trabalho, representatividade perante os trabalhadores, atividades culturais, elaboração teórica, finanças próprias, etc.

A crítica parcial dos setores dissidentes da oposição bancária contra a direção do PSTU no movimento destacava os seguintes pontos:

– a oposição praticada pelo MNOB contra a Articulação era em boa parte formal, testemunhal, protocolar. Uma oposição que comparecia organizadamente somente na época das campanhas salariais e eleições das entidades, sem ter uma presença real e cotidiana nos locais de trabalho. Ainda que os ativistas da oposição procurassem conduzir os enfrentamentos nos seus locais com mais ou menos empenho, conforme cada caso individual, não havia reuniões regulares, panfletos regulares, finanças próprias, etc.;

– nas campanhas salariais o MNOB limitava-se a bradar contra a Mesa Única da Fenaban e o índice de reajuste rebaixado da burocracia, contrapondo os Encontros da Oposição e a pauta alternativa como solução de todos os problemas, mas sem um enfrentamento a fundo contra a burocracia. Brigavam para poder falar nas assembleias, mas quando tinham esse direito usavam as falas para defender as pautas do partido no momento, e não as medidas que poderiam levar os bancários a questionar o controle da burocracia sobre a luta (eleição de representantes de base, horário e formato das assembleias, comandos de base, etc.);

– recusa em sequer admitir e consequentemente debater e buscar medidas para romper com o cenário preocupante da “greve de fachada” e “greve de pijama” que estava se instalando.

– recusa a fazer um debate político consistente sobre o papel dos bancos públicos, o projeto privatista do PT, as medidas do governo para enfrentar a crise capitalista que emergia precisamente naquele momento.

Com base nessas caracterizações, alguns coletivos no interior do MNOB mas não alinhados com o PSTU começaram a formular um outro projeto mais global para a oposição bancária, tanto no nível local como nacional. Nesse primeiro momento, o raciocínio desses setores é de que o fundamental era construir uma tática para o movimento de oposição que fosse além do que o PSTU aplicava. Se a tática do partido fosse superada, e uma outra linha, mais radical e autêntica fosse seguida pelo movimento, uma nova rebelião de base talvez se tornasse possível, era o pressuposto desse raciocínio. A outra parte do problema, as medidas do governo petista e dos banqueiros, ainda não entravam devidamente nas cogitações dos setores minoritários da oposição.

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5.4. Antecedentes do Encontro das Oposições de 2009

Os sintomas do esgotamento da estratégia da oposição e os riscos de esvaziamento do próprio movimento eram percebidos por vários coletivos e ativistas em várias partes do país. Para reverter esse esvaziamento seria preciso no mínimo que todos aqueles que tinham essa percepção atuassem em unidade para desenvolver uma outra estratégia para o movimento. Se tivesse havido essa visão de conjunto e a unificação dessas forças políticas ainda neste momento, talvez tivesse sido possível construir uma outra referência para os trabalhadores (que poderia ou não reverter o esvaziamento do movimento).

Essa era a aposta dos militantes bancários da organização Espaço Socialista, que progressivamente se afastaram do MNOB e se aproximaram do coletivo Bancários de Base, que já tinha uma atuação independente enquanto coletivo de oposição (e mantinha organizados os elementos da antiga Associação de Osasco). No seu interior conviviam militantes de diferentes organizações, conforme veremos mais adiante, mas evitava-se o debate sobre central sindical (CUT, Intersindical, Conlutas) ou opção partidária/eleitoral. Dessa forma, havia mais abertura para bancários “de carne e osso”, com suas diferentes colorações partidárias e ideológicas, do que nas reuniões do MNOB. Naquele momento o Bancários de Base (também conhecido pela sigla BdB) mantinha algumas qualidades decisivas que estavam sendo perdidas pelo MNOB: uma maior combatividade, a prática da ação direta, a busca da organização no local de trabalho, a defesa da democracia de base no movimento (contra os acordos entre Articulação e PSTU para usar o microfone nas assembleias), e o funcionamento interno aberto e democrático.

Ao mesmo tempo que o coletivo Bancários de Base se fortalecia em São Paulo com o ingresso de militantes que se afastavam do MNOB, no nível nacional, no início de 2009, aconteceu o racha da regional do PSTU no Rio Grande do Norte, com a saída de importantes militantes e dirigentes sindicais do funcionalismo federal, saúde e bancários. Esse racha foi motivado por uma série de questões (gravíssimas) relativas ao que transcorria em outras categorias, além de uma questão específica em bancários, o aparelhamento do MNOB pelo PSTU, que veio à tona nesse momento. O partido recolhia dinheiro dos sindicatos dirigidos pelo MNOB (que pagavam contribuições fixas) para financiar um militante profissional, sem que isso tivesse sido discutido no movimento, e esse militante aplicava a política do partido, também sem discussão com o conjunto do movimento.

Somente os militantes do PSTU tinham conhecimento da existência de um profissional “do MNOB”, e nem sequer os sindicatos que pagavam as contribuições sabiam disso. Na época havia três sindicatos com militantes do MNOB/PSTU na diretoria, os sindicatos estaduais do RN, MA e o de Bauru e região. Em alguns casos, não havia sequer um militante orgânico do partido na diretoria, apenas ativistas identificados com o MNOB, mas o núcleo do partido em São Paulo ditava a linha para os sindicatos nos outros estados. A existência de um militante profissional “do MNOB” não tinha sido sequer discutida em instância nenhuma do movimento, apenas no próprio PSTU, mas essa prática foi levada adiante mesmo assim pelo partido, refletindo uma atitude de se considerar “dono” do movimento. O aparelhamento veio à tona quando militantes na diretoria do sindicato do RN exigiram uma prestação de contas das contribuições e descobriram que existia um “profissional” sendo pago. Esse incidente causou grande revolta em todos os setores do MNOB e criou um trauma em relação à contribuições financeiras dos sindicatos para o movimento.

Na época os debates eram travados em grupos de e-mail, e o grupo da oposição bancária nacional fervilhou ao longo do ano de 2009 com as polêmicas suscitadas pelo escândalo do aparelhamento. Foi nesse clima que se preparou o Encontro das Oposições de 2009. O trabalho dos companheiros da diretoria do sindicato do RN, que era o mais consolidado dos três dirigidos pelo MNOB, proporcionava uma base concreta para uma tentativa de desafiar a política do PSTU na condução da oposição bancária nacional. Se houvesse uma atuação unificada de todos os coletivos de oposição e ativistas independentes, para derrotar a política do PSTU e construir uma outra estratégia para a oposição, talvez tivesse sido possível traçar um novo curso para tentar reverter o quadro de esvaziamento do movimento pós-2004, cujos sintomas vínhamos detectando. Mas não foi possível construir essa unidade naquele momento, e a construção de uma oposição nacional com uma linha diferenciada daquela proposta pelo PSTU, cuja necessidade era vislumbrada por alguns desde 2009, também não foi um processo simples e linear, e somente em 2011 daria origem à FNOB, conforme veremos mais adiante.

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5.5. O Encontro das Oposições de 2009 e suas consequências

Até 2009, o MNOB realizava um Encontro Nacional anual aberto e de base em que se discutia a pauta alternativa da oposição e referendava uma estratégia de campanha, baseada na rejeição da Mesa Única e na agitação de um índice diferenciado de reajuste. Agitava-se uma pauta e uma campanha alternativa que só existia para os militantes do MNOB, não para a patronal nem para os bancários. Para estes, praticamente nada mais além dos símbolos adotados diferenciava o MNOB da direção sindical: era um grupo que aparecia na época da campanha salarial ou das eleições do sindicato e entidades com uma pauta mais avançada, e que pareciam “mais raivosos”. Era comum que os trabalhadores nos bancos tratassem os militantes da oposição que eventualmente iam fazer uma panfletagem, um piquete ou alguma atividade como “vocês do sindicato”, sem diferenciar quem era diretoria e quem era oposição.

Ou seja, o MNOB era visto pela categoria como um grupo de pessoas distante da sua realidade, tanto quanto a própria diretoria. A oposição era vista como um grupo alternativo que supostamente traria as soluções, caso de alguma forma (não se sabe como) chegasse a dirigir os sindicatos e entidades. Uma espécie de “logotipo” ou “marca” de sindicato que não era a CUT, mas era tão distante quanto a burocracia oficial, igualmente “alienígena” e artificial, afastado da realidade dos bancários, com um discurso sempre já pronto e cuja única diferença era de ser meio fanático e mais raivoso.

A oposição não era vista como um movimento do qual se pudesse fazer parte, um lugar que se pudesse frequentar, um espaço de organização em que os bancários pudessem se colocar e se reconhecer como sujeitos. No discurso dos próprios militantes, o MNOB era uma “alternativa de direção”, uma espécie de direção sindical eternamente sentada no banco de reservas esperando a chance de entrar em campo e dirigir o sindicato, chance que nunca surgiu. Pelo menos era essa a dinâmica que se impunha, por mais que alguns grupos minoritários no MNOB exigissem mais radicalidade e autenticidade, mais proximidade com os trabalhadores, etc.

Ao longo dos anos pós-2004, os Encontros Nacionais da Oposição foram se tornando gradualmente mais esvaziados e despolitizados. Para que se tenha ideia, em 2008, o Encontro priorizou a leitura da pauta alternativa a ser apresentada à Fenaban, cláusula por cláusula, ao invés de uma discussão política aprofundada, um debate mais sistemático sobre a situação da categoria. Mesmo assim, a ideia que se mantinha é de que os Encontros do MNOB representavam o “verdadeiro” fórum de discussão das reivindicações da categoria, já que a Conferência Nacional oficial da Contraf-CUT era considerado um fórum burocrático, viciado e estéril (e a Contec nem entrava na equação). De maneira substituísta, o conjunto da oposição sustentava a ilusão de que o seu Encontro Nacional poderia ser visto pela categoria como uma referência e servir como ponto de partida para uma nova “rebelião de base”. Bastava que se elaborasse a política mais correta.

Considerando a realidade exposta no ponto anterior, alguns militantes atuando a partir do coletivo Bancários de Base deram inicio à preparação do Encontro de 2009 elaborando uma Tese, em que pela primeira vez se fazia uma discussão aprofundada não só da conjuntura geral, mas da própria situação da categoria, do balanço da oposição, e finalizava com propostas de mudanças para uma reorganização nacional da oposição. A Tese foi discutida via e-mail com os participantes das listas de discussão da oposição nacional e contou com a assinatura de militantes independentes de outros estados que reivindicavam o MNOB. Ao ser apresentada antecipadamente nas listas da oposição, a Tese do coletivo Bancários de Base fez com que as outras organizações também se movessem e apresentassem suas próprias elaborações (essa Tese está disponível no link: http://bancariosdebasesp.blogspot.com.br/2012/01/organizar-uma-oposicao-esstruturada.html).

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Entretanto, o esforço do coletivo Bancários de Base e dos companheiros que tinham rompido com o PSTU no RN e em outros estados não foi suficiente para imprimir um outro rumo à oposição bancária nacional, ainda na campanha de 2009. Logo de início, na instalação do Encontro daquele ano, o PSTU colocou em votação o caráter do Encontro como fechado ou aberto, ou seja, se se tratava de um Encontro “do MNOB” ou “das oposições”. A maioria votou com o PSTU, definindo o Encontro como sendo do MNOB, e com isso quase toda a delegação do coletivo Bancários de Base se retirou do Encontro. Em seguida, na discussão de estratégia de campanha, o PSTU trouxe a proposta de voltar aos fóruns da CUT de organização da campanha salarial, ou seja, voltar a participar da Conferência Nacional dos Bancários da Contraf-CUT (aquela mesma que até o momento anterior era definida como um espaço burocrático, viciado e estéril). A justificativa é de que era necessário “disputar os setores em crise que iriam se chocar com a Articulação”.

Desde a greve de 2004 o MNOB tinha rompido com os fóruns organizados pela Contraf-CUT, por entender que se tratava de espaços viciados, constituídos pela massa dos dirigentes sindicais petistas em todo o país, destinados a referendar a pauta rebaixada montada pela Articulação, blindar os governos do PT, impedir que os bancários entrassem em greve por suas reais reivindicações e enterrar as campanhas salariais. Nessas Conferências e Congressos preparatórios das campanhas salariais, os burocratas sindicais da Articulação se comportavam como uma torcida organizada, cantando palavras de ordem em defesa dos governos do PT (com a presença de ministros petistas naquilo que deveria ser um espaço dos trabalhadores!!!), insultando e/ou quase agredindo os militantes da oposição ou mesmo bancários de verdade que por algum acaso conseguissem inadvertidamente passar pelos filtros anti-democráticos na base de cada sindicato.

Essa proposta de voltar aos fóruns organizados pela Contraf-CUT, portanto, provocou uma revolta generalizada, em especial por parte dos companheiros do RN, e a quase dissolução do Encontro de 2009 em um tumulto no plenário. A proposta de voltar para os fóruns da CUT apareceu como um gigantesco retrocesso, um abandono da pauta histórica e da campanha alternativa da oposição, um movimento oportunista em busca de acordos ou quem sabe até de cargos no Comando Nacional eventualmente cedidos pela burocracia, sempre disposta a cooptar oposicionistas arrependidos. Para todos os que não eram orgânicos do PSTU, essa proposta era um verdadeiro disparate. Para não implodir o Encontro, a solução intermediária alcançada (depois de uma longa interrupção do debate) foi de que os sindicatos do MNOB defenderiam a pauta alternativa, e as oposições do MNOB participariam das assembleias e encontros de base dos sindicatos da CUT nos demais estados, para chamar os “setores críticos” e de base a romperem com a Articulação, mas o MNOB nacional não disputaria cargos na Conferência Nacional da CUT.

O principal fruto dos embates do Encontro de 2009, porém, foi o acordo que foi alcançado entre diversos coletivos para manterem um diálogo entre si e buscarem juntos a construção de uma alternativa nacional de organização que não se submetesse às políticas do PSTU. Essa alternativa teria que esperar até 2011, quando finalmente foi fundada a Frente Nacional de Oposição Bancária – FNOB. Em que pese a diversidade das posições dos vários coletivos que compunham a FNOB, o denominador comum entre eles era a crença de que os problemas da oposição bancária eram causados pelos erros do PSTU. Se esses erros fossem corrigidos por meio da elaboração de uma outra política, discutida democraticamente, sem aparelhamento, manobras, oportunismo, etc., a oposição seria novamente capaz de recolocar os bancários em luta, revertendo o esvaziamento pós-2004, ou gerando uma nova rebelião como a de 2004. Essa era a expectativa de todos os que apostaram na construção da FNOB. Embora alguns tivessem um maior grau de clareza em relação ao retrocesso na participação da base, todos na prática endossavam essa narrativa básica de que bastava mudar a direção política da oposição.

5.6. Enquanto isso, no dia a dia dos bancários

A partir de 2009, as medidas do governo do PT para o enfrentamento da crise capitalista mundial deflagrada no ano anterior envolveram diretamente os bancos públicos, através da explosão do crédito. O endividamento dos consumidores foi uma das formas encontradas pelo governo para estimular a economia. Os resultados de uma tal política de incentivo ao consumo sem aumento real da renda dos trabalhadores eram previsivelmente temporários, e vivenciamos pelo menos desde 2013 o seu esgotamento. Mas naquele primeiro momento, ainda em 2009, os resultados se mostraram suficientes para contornar as manifestações mais agudas da crise, manter a popularidade de Lula e do PT e eleger Dilma em 2010. O Brasil parecia imune à crise e se dizia que os “BRICs” (sic) iriam salvar o capitalismo.

Além da política do governo do PT em especial através dos bancos públicos (que envolvia também uma série de outras formas de ajuda aos capitalistas), a patronal de modo geral adotou uma postura preventiva em face da crise mundial, lançando mão de reestruturações e principalmente intensificação do trabalho para aumentar a exploração e garantir os lucros. Nos bancos públicos e privados isso se manifestou em um agravamento drástico da sobrecarga de serviço, da pressão por metas e do assédio moral.

O resultado dessa política dos bancos é que, a partir de 2010 principalmente, a “greve de pijama” começou a ter um outro conteúdo: “greve do saco cheio”. Os trabalhadores que aderiam à greve continuavam ausentes dos piquetes e assembleias. Mas o conteúdo da greve não era apenas de “férias fora de época”, mas um “não aguento mais continuar trabalhando”. A greve passa a ser um momento para aliviar a pressão nos locais de trabalho que se torna crescentemente insuportável. A partir de 2010 principalmente, as greves voltam a ter um conteúdo de revolta contra o cotidiano e a situação nos bancos. Mas essa nova revolta já encontra um formato de campanha salarial “institucionalizado” na forma da “greve de fachada”, aquela em que os bancários fingem que fazem greve, os sindicalistas fingem que negociam e os bancos fingem que concedem um reajuste maior.

Assim, por mais que a adesão possa até ter voltado a aumentar nos anos seguintes a partir de 2010, essa adesão se manifesta de forma desorganizada desde a origem, desprovida da concepção de ação coletiva, sem a disposição para realizar uma nova rebelião de base (como a de 2004), sem se enfrentar com a direção do sindicato, sem comparecer nas assembleias, nem muito menos nos piquetes, etc. A própria memória da luta de 2004 já estava se perdendo, conforme aquela geração de grevistas vinha sendo cooptada pela opção de tentar fazer carreira, e a condução das campanhas salariais seguintes nos moldes das encenações que descrevemos só fazia reforçar a narrativa de que não valia à pena fazer a luta. Além disso, havia mudanças na composição da categoria, com planos de aposentadoria, reestruturações, etc., e até mesmo a rotatividade aumentou (tornou-se comum que funcionários dos bancos públicos pedissem exoneração depois de alguns poucos anos, ao perceber que a carreira não era atraente como se pensava). E as novas gerações de bancários que ingressaram nos anos seguintes não chegaram a conhecer uma greve de verdade, por isso não “sabiam” que podiam se mobilizar ou como fazer isso.

Do ponto de vista da estratégia de campanha salarial, essa mudança na situação dos bancários exigia também uma mudança nos discursos ou eixos de agitação da oposição. Ao invés de apenas discutir índices de reajuste diferenciados e o restante da pauta histórica, o eixo de campanha deveria ter mudado para as condições de trabalho e o dia a dia nas agências e departamentos, destacando o excesso de serviço, falta de contratações, a cobrança de metas, o assédio moral, o adoecimento, etc. O coletivo Bancários de Base tentou fazer essa adequação, voltando a sua agitação para as questões de condições de trabalho. No âmbito da propaganda, o coletivo editou em 2011 a cartilha “Bancário Não é Vendedor”, com o apoio do sindicato do RN/FNOB, com o objetivo de discutir a fundo a situação da categoria e fornecer elementos teóricos para uma resistência (o texto da cartilha está disponível em http://bancariosdebasesp.blogspot.com.br/2012/10/cartilha-bancario-nao-e-vendedor.html).

História da oposição bancária (5)

A cartilha fez bastante sucesso num primeiro momento, tanto assim que a própria Articulação foi obrigada a lançar um “slogan” de campanha salarial para 2011, o “bancário não é máquina”, uma frase genérica, que não vai no centro do problema vivido pelos bancários e não desmascara a forma específica da exploração imposta pelos bancos. Esse tema de campanha foi criado pela diretoria do sindicato com o objetivo evidente de neutralizar a cartilha do Bancários de Base/FNOB. A partir de 2011 em diante, todos os anos a direção do sindicato inventa um tema de campanha salarial para efeito de marketing, uma espécie de “samba enredo”, como se a nossa campanha fosse um desfile de carnaval.

5.7. Os percalços na construção da FNOB

Conforme dissemos anteriormente, a ruptura dos demais setores do MNOB com o PSTU iniciada em 2009 somente se concretiza de fato no Encontro da oposição de março de 2011, em Natal-RN, quando se vota uma estratégia de campanha de não participação em fóruns da CUT e não construção de chapas para as eleições dos sindicatos e entidades da categoria que envolvessem setores governistas (Articulação, PCdoB, DS, etc.). O PSTU estava em minoria neste Encontro e implorou para que essa orientação não fosse posta em votação, mas os demais setores mantiveram a posição. A partir desse momento se consolidou o racha da oposição, com o PSTU mantendo o nome e a tática que havia dado para o MNOB e os demais setores construindo uma nova Frente de oposição. O PSTU e o MNOB seguiriam seu curso em separado, reproduzindo ad infinitum um discurso e práticas desgastados e sem apelo, numa espécie de piloto automático, enquanto a FNOB passou a expressar os debates estratégicos que buscavam reativar as lutas da categoria.

Depois desse racha inicial em Natal, um novo Encontro é realizado ainda antes da campanha salarial, em maio de 2011, em Recife, já sem a presença do PSTU, dando início à construção de um novo bloco de oposição nacional, com a presença de vários coletivos e entidades que discordavam da política do partido. No Encontro de São Luís, em dezembro de 2011, esse bloco recebe o nome de Frente Nacional de Oposição Bancária – FNOB. Faziam parte da Frente a maioria da diretoria do sindicato do Rio Grande do Norte, a minoria do Maranhão (onde havia uma chapa única com PSOL e PSTU) e alguns anos depois parte da diretoria de Bauru e Região (nesse sindicato a diretoria é composta em proporcionalidade, com o número de vagas correspondendo à votação de cada chapa, e conforme alguns militantes aderem à FNOB, passa a haver disputa de chapa contra os que permanecem no MNOB) e uma série de pequenas organizações: Espaço Socialista (representando o coletivo Bancários de Base SP), Movimento Revolucionário Socialista – MRS (presente em vários estados), Grupo de Ação Socialista – GAS, que representava parte da diretoria do RN, Unidade Coletivo Sindical – UCS, representando a oposição de Recife, além da ANBERR, associação de beneficiários do fundo de pensão antigo da CEF. No seu ano de nascimento, a FNOB buscava recolher a herança de combatividade deixada pelo MNOB e resgatar o impulso que havia no momento da sua fundação.

O PSTU era visto como um partido que havia abandonado a estratégia e as bandeiras históricas da oposição para retornar aos fóruns da CUT e às chapas para as eleições sindicais e de entidades da categoria em conjunto com setores governistas e não classistas. Por isso, nesse primeiro momento da FNOB, a obsessão dos diversos coletivos participantes era a diferenciação com o MNOB/PSTU e a reafirmação da estratégia original do MNOB, que tinha sido abandonada pelo PSTU, fato que gerou crises nos Encontros de 2009 e 2010, até produzir o racha. Essa estratégia consistia na reafirmação da campanha alternativa, baseada na rejeição da Mesa Única, na não participação dos fóruns da CUT, na defesa de um índice diferenciado como eixo de agitação e, do ponto de vista da estratégia de crescimento da oposição, na não participação em chapas com setores governistas, burocráticos e não-classistas de modo geral nas eleições de sindicatos e entidades.

Além desses pontos centrais, cada coletivo da FNOB expressava em suas posições as características diferenciadas das bases onde atuavam. A maioria da diretoria do sindicato do RN e as minorias do MA e de Bauru aderiram ano após ano à FNOB e nos debates internos buscavam expressar as preocupações de dirigentes sindicais combativos e respeitados nas suas bases, mas atuando em locais periféricos, sem muito impacto na definição das campanhas da categoria. Assim, do seu ponto de vista, a prioridade deveria ser fazer a FNOB crescer, por meio da vitória em eleições sindicais em outras bases. Os coletivos de oposição ligados à FNOB, por sua vez, situados em bases mais centrais, como São Paulo, Brasília e Porto Alegre, expressavam a preocupação de tentar estruturar um trabalho de base, numa perspectiva de muito mais longo prazo – disso decorre a proposta da cartilha “Bancário Não é Vendedor”. A disjuntiva entre prioridade para eleições x trabalho de base começou a despontar logo nos primeiros anos da FNOB, mas a princípio ainda de maneira latente.

É importante fazer aqui a seguinte ressalva: imputar aos companheiros dirigentes dos sindicatos da FNOB uma opção pelas eleições sindicais em detrimento do trabalho de base não significa que nas suas próprias bases eles não faziam o seu trabalho. Pelo contrário, a conquista das direções sindicais só se tornou possível porque esses militantes eram muito reconhecidos nas suas respectivas regiões. Não se trata pois de dizer que os sindicatos da FNOB não faziam trabalho de base nas suas regiões, mas de que a FNOB como um todo nacionalmente não fazia o trabalho que seria necessário para que a Frente crescesse em outra bases. Seria preciso que a FNOB fortalecesse as oposições sindicais nos outros estados, para que elas pudessem desenvolver as panfletagens, agitações, reuniões, encontros, atividades, etc., para que os trabalhadores se organizassem nesses locais, até mesmo para que um dia finalmente vencessem eleições sindicais. Trocando em miúdos, seria preciso que os sindicatos da FNOB financiassem as oposições, assim como no passado tinham financiado inutilmente um profissional do PSTU na época do MNOB. Mas o escândalo do aparelhamento do MNOB fazia com que os sindicatos não quisessem repetir a experiência.

História da oposição bancária (5)

As oposições ligadas à FNOB, por sua vez, não ficaram isentas de erros, vinculadas que estavam à política de micro-organizações como MRS e Espaço Socialista, as quais reproduziam a lógica vanguardista e de auto-construção característica da tradição marxista-leninista e/ou trotskista. Essas organizações tinham uma atuação voltada para as polêmicas internas na suprestrutura do movimento, para os debates com outras correntes, para a disputa de direção, por mais que alguns militantes individualmente tentassem da maneira mais honesta atrair trabalhadores para a luta.

5.8. A campanha salarial de 2011

Na principal base do pais, uma parte do coletivo Bancários de Base – SP impulsionou a construção da FNOB, mas isso só aconteceu na medida em que a miríade de pequenas organizações que frequentavam o coletivo se afastaram. Em certo momento chegaram a se reunir no BdB integrantes de Espaço Socialista, PSOL, Nova Democracia, Utopia Socialista, Movimento Negação da Negação, PCB, Rizoma, Oposição Operária, além de bancários independentes. Na prática essas pequenas organizações todas estavam no Bancários de Base na intenção de captar ativistas descontentes com o MNOB. Tratava-se de uma paródia em miniatura e mais colorida do mesmo procedimento que o PSTU usava para o MNOB: o PSTU usava a oposição bancária para captar ativistas descontentes com a direção do sindicato; as diversas organizações usavam o BdB para captar militantes descontentes com o MNOB.

Na medida em que o setor liderado por Espaço Socialista apostou numa estratégia nacional que passava pela construção da FNOB e exigia um compromisso militante com uma identidade política própria e presença constante na categoria, essas correntes todas se afastaram. Além disso o Bancários de Base desenvolveu uma percepção própria do novo momento do país com a crise econômica internacional e a política do PT para contorná-la, e os correspondentes impactos na situação da categoria. E também, com o acúmulo de reflexão sobre as campanhas de 2009 e 2010, o coletivo já tinha percebido que a estratégia de construção e os eixos de agitação tinham que ser mudados. Assim, buscava apresentar outras preocupações que não as mesmas do restante da FNOB:

– reafirmar a democracia no movimento, ou seja, reforçar os fóruns de participação de base, funcionamento regular da oposição, etc.;

– eixos de discussão baseados nas condições de trabalho (a partir da percepção da intensificação do trabalho nos bancos como resposta patronal à crise mundial de 2009) ;

– necessidade de um debate de propaganda voltado para o papel dos bancos na economia e dos bancários como parte da classe trabalhadora.

Assim, nos Encontros da FNOB de 2011 e 2012, por iniciativa também do BdB-SP, eram discutidas Teses e Contribuições que continham inclusive críticas internas à própria FNOB. Essas criticas iniciais abordavam a não implantação de um funcionamento regular, ausência de reuniões periódicas da FNOB, discussões realizadas apenas por uma parte dos coletivos, chapas para eleições sendo montadas sem uma discussão mais ampla sobre programa e composição, etc.

Na campanha salarial de 2011 o BdB-SP disputou as assembleias (desde a primeira, em que se deflagrou a greve) com panfletos contendo as propostas que poderiam realmente mudar os rumos da campanha: assembleia no horário dos grevistas até o final da greve (para evitar a ida massiva de gerentes e fura greves para votar no fim da greve, no horário da noite), assembleias unificadas até a discussão das cláusulas econômicas (índice de reajuste da Fenaban), nenhum acordo contendo compensação das horas, representante da base na mesa de negociação, etc. Os panfletos surtiram efeito e a pressão dos bancários depois de duas ou três assembleias obrigou a diretoria a ceder, concedendo falas à oposição e colocando propostas em votação. Mesmo com todas as manobras da diretoria para falar por mais tempo, distorcer e amalgamar as propostas, etc., a oposição ganha a votação. A diretoria não reconheceu o resultado, encerrou a assembleia e tocou a greve por mais 11 dias sem convocar mais nenhuma assembleia organizativa.

História da oposição bancária (5)

A assembleia de encerramento da greve descumpriu tudo o que foi votado na assembleia anterior e aconteceu como vinha sendo nas campanhas passadas: no horário da noite, separada por bancos, com presença de gerentes e fura greves, etc. A burocracia aprendeu com seus erros e modificou a forma de conduzir a campanha, visando diminuir ainda mais a possibilidade de perder as assembleias, como aconteceu em 2011. A partir de 2012, a burocracia mudou a forma de deflagração das greves, dividindo a primeira assembleia em duas: uma para aprovar indicativo de greve, e outra realizada poucos dias depois para referendar o indicativo. Com isso, desapareceu o caráter decisivo da primeira assembleia, como sendo aquela em que se rejeita a proposta da Fenaban e se deflagra a greve para o dia seguinte (como era feito desde 2004). Dado o caráter menos decisivo da primeira assembleia, que não deflagra diretamente a greve, os bancários deixam de comparecer, ou comparecem menos tensionados. A única preocupação é a aprovação do indicativo de greve, sem se atentar para as questões organizativas da greve, que sequer são mencionadas.

Os aspectos organizativos ficam para a assembleia seguinte, em que se referenda o indicativo de greve anteriormente aprovado, mas que passa a ser mera formalidade, com um comparecimento ainda menor. Com menor comparecimento dos bancários nas assembleias organizativas, ficava mais difícil para as oposições defender suas propostas, quaisquer que fossem elas. O esvaziamento das assembleias consolida ainda mais a greve como uma simples formalidade, uma data no calendário, sem discussão sobre como deve ser organizada, sem a disputa de propostas, sem debate político, etc.

As assembleias organizativas, realizadas já com a greve em andamento, quando não há proposta da patronal para ser votada e não há possibilidade de encerramento da greve, também se tornam mais rarefeitas. Na última greve da categoria, em 2016, ficamos mais de 20 dias sem sequer uma assembleia para discutir os rumos e a organização do movimento. Com isso, os espaços de intervenção da oposição diminuem. A Articulação aprendeu com os acertos da oposição e tomou medidas para neutralizá-los. A oposição por sua vez, não aprende e segue repetindo os mesmos erros, como veremos na parte seguinte.

História da oposição bancária (5)

 

A publicação deste artigo foi dividida em 8 partes e um glossário, com publicação semanal:
Parte 1
Parte 2
Parte 3
Parte 4
Parte 5
Parte 6
Parte 7
Parte 8
Glossário

As fotografias que ilustram o texto são da autoria de Felix Nadar (1820-1910).

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