Entrara naquele espaço voltado às discussões sobre arte e contemporaneidade. Foi recebida por uma empregada negra, com fardamento completo, vestido preto, avental branco com rendas. Logo depois, passou mais uma senhora negra, devidamente fardada, oferecendo bebidas em uma bandeja. Em seguida, outra, mais jovem, com o mesmo uniforme, oferecia canapés. No salão principal a artista palestrava sobre como era revolucionário, ela, uma mulher negra e trans, ser convidada para falar sobre sua obra e como isso era uma ruptura com o conservadorismo que nos cerca. Passa Palavra
Se o assunto fosse outro a palestrante poderia se chamar Djamila.
Se a ideologia da identidade tivesse surgido no período de ascensão do fascismo e do nazismo, provavelmente, os adeptos dessa ideologia reclamariam cargos e privilégios junto a Hitler e Mussolini.
Já fui em um ABEÁfrica na UFBA em Salvador. Vários acadêmicos antirracistas usando roupinhas com estamparia africana e brincos de búzios e vários acadêmicos de Angola e Moçambique usando camiseta, calça jeans e tênis. E os terceirizados, todos negros, usando seus fardamentos da empresa. E a galera fantasiada de soba dando ordens para a galera da terceirizada: pegar água para servir o conferencista, ligar o ar-condicionado, carregar mesas e cadeiras, passar uma vassourinha aqui, passar um paninho ali…