Por Victor Heringuer
Excepcionalmente a coluna de Thiago Canetieri não poderá ser publicada essa semana. Oferecemos aos nossos leitores o poema de Victor Heringer publicada na coletânea “Não sou poeta”
Adeus, Sebastianópolis
sangue salgado fruta atlântica rubi
cintila de carros de polícia
a cidade que nunca expulsou seus poetas
Adeus, Sebastianópolis
Vou-me embora de vontade.
Obcecado pelo semidesértico
e pelos quadrados de Maliévitch
nasci aqui equivocado
Rilke não foi carioca, por isso não se irritava
e não gostava de samba
e sabia ficar sozinho
Quero escrever este poema na única noite gelada do ano.
Não consigo viver no Rio.
Mas conseguiria viver em outro lugar?
Aprender a ser sujo.
Uma pichação na Presidente Vargas diz Antes eu sonhava
agora já nem durmo.
Difícil este poema em pleno século 21.
Não é assim que a vida vem.
Não é assim que a vem.
Desconfiamos da vida.
Ela não vai vir.
Já está distante e se afasta
velha estrela apagada.
A vida inteira o eco
dos primeiros atos selvagens.