Por Charles Jr e Antônio Carlos

01 de Janeiro de 2025 [1]

Ano novo, vida velha. Isso mesmo galera, ano virou, mas a lógica continua a mesma. Poucos ganham e muitos se lascam. Em um Brasil em que os trabalhos precários e a informalidade atingem a maioria da população, onde 60% dos trabalhadores recebem até 1 salário minimo per capita e 31% recebem de 1 a 3 salário mínimos, as classes dominantes bombaram sua lucratividade… e é essa lógica que vamos tentar debater.

Pra frente Brasil, salve a seleção!

Depois da última crise cíclica (durante a pandemia) os donos do jogo resolveram trocar seus bonecos. Alguém mais experiente e minimamente inteligente era necessário. A coisa é simples, é só não atrapalhar e, de quebra, dar o empurrãozinho à normalidade burguesa. Como diria o bom velhinho: depois da crise, a estagnação, a retomada e a superação do último patamar produtivo. Mas eles precisavam de uma ajudinha para retomar o crescimento.

Querendo ou não, Haddad Lula da Silva acertou a mão. O que lhe rendeu elogios ímpares. Mas vamos ao que importa: números, bebê, números, igualzinho ao que papai ensinou, uma base concreta para reflexões concretas da realidade.

Chama!

Do estrangulamento à volta do crescimento econômico 

A década de 2011 a 2020 foi a pior década para economia brasileira dos últimos 120 anos (Figura 1), superando até o fiasco econômico dos planos dos anos 1980. Essa última década perdida veio a reboque dos últimos dois períodos de crescimento do capitalismo brasileiro; lembremos do pleno emprego e ápice produtivo brasileiro de 2003 a 2007 e 2009 a 2014 [2], (Figura 2). Mas muita gente pôs “a culpa” nas desastrosas políticas econômicas iniciadas em 2014 com Dilma e Levy, passando da “pinguela para o futuro” de Temer e Meirelles, que no máximo conseguiram os pibinhos de 1% [3], até chegar no Posto Ipiranga Guedes. Para além das reformas da previdência e das leis do trabalho, estes últimos mandatários do país demonstraram sua incompetência para apoiar quem os pôs no poder [4]. Meus amigos, papai já dizia: a crise nunca nos faltará e o Estado serve, antes de mais nada, para salvar e potencializar o lucro das classes dominantes.

Assombrados pela possibilidade da década atual entrar para o clube das perdidas, as classes dominantes resolveram colocar em cena seu antigo funcionário, Lula da Silva, em uma dobradinha com seu presidenciável preferido, o Picolé de Chuchu Alckmin. Um pequeno parênteses. A entrada dos dois em cena é digna de um roteiro de cinema: Lula sai da prisão para fazer uma aliança com seu antigo arqui-inimigo a fim de salvar o Brasil das garras do fascismo. Eis a sociedade do espetáculo. Fecha parênteses. E o plano deu bom. Nos dois anos de governo conseguiram dois robustos Pibões, 3,3% em 2023 e, provavelmente, quase 4% em 2024. Como dizem no jargão econômico, o “crescimento é sustentável”, pois é puxado pela indústria, como veremos a seguir nos dados de produção industrial e empregos.

Figura 1
Figura 2

Pra frente Brasil!

Estimativas da CNI apostam em um crescimento de mais de 4% da indústria em 2024. Sendo o maior dos últimos 10 anos, esse crescimento  representa a superação de uma longa depressão da indústria de transformação no Brasil (Figura 2). Os dados de crescimentos do III trimestre de 2021 até IV trimestre de 2023 são negativos ou crescimentos residuais. Já nos três trimestres de 2024, e sem nenhuma dúvida o IV trimestre, são positivos. A coisa virou.

Mais dados que confirmam o eloquente crescimento da indústria brasileira neste ano são os de geração de emprego. Segundo o Caged [5], em 2024 a indústria apresentou saldo de 422.680, número este bem superior aos 252.000 e 127.145  de 2022 e 2023, respectivamente.

O crescimento da indústria tem repercussão nos outros setores. No total em 2024 foram gerados 2,2 milhões de empregos formais, contra 1,48 milhões em 2023, sendo 1.184.652 empregos nos Serviços, o Comércio registrou um saldo de 358.786, a Construção gerou 200.613 e a Agropecuária também apresenta saldo positivo de 57.436 postos de trabalho.

O renascer da indústria brasileira também pode ser visto nos dados de vendas de carros, em 2024 foram 2,63 milhões de emplacamentos, o maior dos últimos 10 anos, embora ainda distantes dos 3,5 milhões de 2014 [6]. E nas vendas de eletrodomésticos, que tiveram um verdadeiro boom entre janeiro e agosto de 2024, segundo o gerente das marcas Consul e Brastemp, o melhor faturamento, adivinhem? dos últimos 10 anos [7].

Figura 3

Os dados do crescimento da  produção industrial são o mais próximo que podemos chegar do motor do crescimento de cada país, região e/ou território. Os conglomerados aguardam os países (estados e até municípios) brigarem entre si para só depois entrarem com seus “investimentos”, ou melhor, com suas máquinas, instalações e matérias-primas prontas para extrair mais-valia do proletariado. Mas vamos aos resultados, dessa vez o resultado de quase uma década de retirada de direitos e carestia para a classe trabalhadora.

Crescimento demais, emprego demais, é hora de cortar?

Como aprendemos nos 13 anos de governos da esquerda democrática, são governos de conciliação de classes, burgueses, banqueiros, grandes proprietários de terras e trabalhadores, e nas atuais circunstâncias econômicas e políticas as concessões que os chefes estão dispostos a ceder aos trabalhadores são nulas. Isto fica claro quando, depois de anos de estagnação econômica, desemprego, sub emprego, pauperização, bastou um ano de crescimento mais vigoroso para soar o sinal de alertar burguês: é hora de cortar.

A cara de pau da burguesia, mediante um dos seus principais porta vozes, o Globo:

Mudança idêntica deveria ser feita na política de reajuste das aposentadorias. Quem trabalha costuma ter filhos e dependentes. Gasta mais com aluguel, comida, luz e água. Como se apresenta diariamente no local de trabalho, é obrigado a gastar parte do orçamento familiar em roupas melhores e transporte. Tem estilo de vida completamente distinto de quem já se aposentou. Também já não contribui para o crescimento e a produtividade da economia. Por isso, o razoável é sua remuneração ser corrigida também pela inflação, de modo a preservar seu poder de compra, mas sem o ganho real devido aos que estão na ativa. [8]

Para o jornalão burguês o aposentado não tem direito a vestir-se, comer e morar com dignidade, afinal, já cumpriu seu papel na valorização do capital.

Seguindo as ordens da classe dominante, ou o mercado, o governo da esquerda democrática preparou um pacote de “economia de gastos”, principalmente onde atingem diretamente os trabalhadores que já vivem em condições paupérrimas, como a mudança do cálculo do salário mínimo [5], educação e assistência social. Podemos ver em detalhes na figura abaixo:

Figura 4

Encerramos por aqui

Cresceu, mas como de costume em uma economia onde prevalece a mais-valia absoluta (extração de mais-valia por aumento da jornada, maior intensidade do trabalho, etc.) sabemos que tudo escorre de porrada no lombo do trabalhador. Desde os servidores públicos [10], imersos numa lógica produtivista do teletrabalho, até toda a classe trabalhadora que teve essa mixaria como média, sim, eu disse a média dos salários de todos os empregos criados. Segundo o Caged, o salário médio real de admissão em novembro foi de R$ 2.152,89.

Não é à toa que a luta contra a escala 6×1 colou igual chiclete na classe trabalhadora. E é só isso que sempre foi o nosso — ir à luta, rapaziada.

Nos próximos textos iremos discutir os limites impostos para o crescimento da economia brasileira, a atual situação da economia dos EUA e mais assuntos que põem o nosso na bola da vez, mas antes temos um recadinho direto da praia do Gonzaga…

Recadinho do mestre:

“Enquanto a economia reguladora do sistema mundial (EUA) está em um estado estacionário, a brasileira tem um dos melhores desempenhos da produção industrial no mundo, do emprego, dos investimentos produtivos, segundo lugar em investimentos externos do mundo, produção interna de máquinas recorde nos 10 últimos anos, etc…. mas a parasitária capitalista acha que a economia nunca esteve tão perto do abismo porque o governo gasta muito e não corta despesas sociais, saúde, educação e outras ligadas à pobreza absoluta que caracteriza a economia brasileira… Essa polêmica só pode ser resolvida na rua, com guerra civil e revolução proletária internacional…”.

ADENDOS

BALANÇO DO 2° ANO DO GOVERNO LULA:

  1. Crescimento do PIB em 2023 de 3,2% e em 2024 3,5%. (link)
  2. Taxa de desemprego 6,1%, menor taxa da história. (link)
  3. A massa de rendimento real foi novo recorde, chegando a R$ 332,7 bilhões. O rendimento real habitual de todos os trabalhos (R$ 3.285). (link)
  4. Crescimento da indústria de 3,6% em 2024, maior em 10 anos. (link)
  5. Crescimento de 75% do emprego na indústria, destes 55% são jovens. (link)
  6. Segmentos de alta tecnologia crescem 5%, acima da indústria de transformação, que vai crescer 3,6%. (link)
  7. A taxa de investimento como proporção do PIB em 18%. (link)
  8. O Brasil se tornou o 2° maior receptor de investimentos estrangeiros diretos do mundo em 2024. (link)
  9. Investimento em infraestrutura saiu de R$ 188 bilhões em 2022, para R$ 260 bilhões em 2024. (link)
  10. Com o Plano Mais Produção, a Nova Indústria Brasil (NIB) disponibilizou R$ 507 bilhões de crédito para investimentos. BNDES, FINEP, EMBRAPII, CEF, BB, BASA e BNB, estão juntos para estimular uma Indústria Mais Inovadora e Digital, Exportadora, Verde e Competitiva. (link)
  11. BNDES aumentou o volume de Desembolso de R$ 98 bilhões em 2022, para R$ 148 bilhões em 2024. O crédito para a indústria cresceu 262% em 2024. (link)
  12. Com a Nova Indústria Brasil (NIB), Novo PAC e PTE, o setor privado já anunciou investimentos de R$ 2,3 trilhões. (link)
  13. Finep bateu recorde e ultrapassa R$ 10 bi em financiamentos. Recursos financeiros liberados pela Finep em 2024 representam o dobro do montante financiado em 2023. O desempenho também representa um crescimento três vezes superior em relação ao resultado de 2022. (link)
  14. Com a NIB estimulando a agroindústria, a taxa de crescimento da agroindústria teve o melhor resultado em 14 anos, crescimento de 4,2% em outubro, e 2,7% no acumulado. (link)
  15. Linhas branca e marrom registraram o maior crescimento da produção e vendas nos últimos 10 anos, 25%. (link)
  16. Com o Mover, programa da NIB, o setor automotivo bateu recorde nas vendas, crescimento de 15% em 2024. A produção cresceu 11%, o maior crescimento dos últimos 10 anos. (link)
  17. Máquinas e equipamentos estão puxando o crescimento industrial, crescimento de 8,3% em 2024. (link)
  18. O setor de bens de consumo duráveis cresceu 9,8% em 2024. São mais bens como automóveis,  geladeiras, TVs, fogões, máquinas de lavar, etc, chegando ao povo. (link)
  19. No ranking mundial de produção industrial, o Brasil avançou 30 posições, saltando de 70° para 40°. (link)
  20. Varejo chega ao fim do ano com alta de 12,2% nas vendas na comparação com 2023: Entre os itens mais procurados estão: os eletrônicos (alta de 25,9% nas vendas ante 2023); os brinquedos (+24%) e as roupas e os acessórios (+13%). Setor alimentar, 18,4%. (link)
  21. Depois de mais 40 anos, foi aprovada a Reforma Tributária, que estimula investimentos e exportações. Estima-se que a reforma gerará um crescimento adicional da economia de 12% a 20% em 15 anos. Hoje, esses 12% representariam R$ 1,2 trilhão a mais no PIB de 2022. (link)
  22. Taxa de pobreza caiu para mínima histórica: 27,4%. (link)
  23. A taxa de miséria caiu para a mínima histórica. Parcela de brasileiros miseráveis caiu para 4,4% (link)
  24. Amazônia tem menor taxa de desmatamento em 9 anos. Taxa de desmatamento caiu 77,2 no Pantanal e 48,4% no Cerrado. 25. Ponto fundamental: o governo Lula encontrou o país destruído. Entre 2015 e 2022, a taxa média de crescimento do PIB foi 0,4%, com desemprego e pobreza crescentes. Bolsonaro deixou um rombo fiscal: rombo de R$ 800 bilhões em 4 anos, sem jamais cumprir o Teto de Gastos. 26. Estima-se déficit primário de R$ 55,4 bilhões para 2024. Se considerar R$ 20 bilhões de recursos empossados. Mais gastos de R$ 40 bilhões do Perse e Desoneração da Folha, despesas que não foram o governo que criou, mas o Congresso, 2024 teria superávit fiscal. 27. Inflação abaixo das expectativas do mercado. O Índice de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15) foi de 0,34% em dezembro e ficou 0,28% abaixo do resultado de novembro (0,62%). Acumulado de 4,71% em 2024. As expectativas do mercado: alta inflacionária de 0,45% e 4,82%. 28. Foram várias reformas e programas estruturais criados e aprovados pelo governo que garantem ao país crescimento de longo prazo e retomada da indústria: Mercado de carbono, Lei do Hidrogênio de Baixo Carbono, Lei do Combustível do Futuro, Nova Lei de Informática, Programa Brasil Semicondutores, Programa de Mobilidade Verde e Inovação (MOVER), Marco de Garantias, Regime Especial da Indústria Química (REIq), Brasil Mais Produtivo, Programa Brasileiro de Inteligência Artificial (PBIA), Lei do Combustível do Futuro, Plano Mais Produção, Debêntures de Infraestrutura e Programa Nacional de Produção e Uso de Biodiesel. Esses programas são instrumentos de políticas públicas de Estado, para que o país mantenha a retomada do crescimento econômico de longo prazo e fortalecimento da indústria. (link 1) (link 2)

Notas

[1] O intuito deste ensaio é começar a materializar as reflexões de cada dia. Conjuntura local e internacional, sempre ancorados por dados concretos da realidade.
[2] Passou-se pela crise cíclica de 2008 com queda na taxa de lucro, mas, em seguida, retomaram as taxas de produção e taxa de lucro.
[3] Mantendo a economia respirando por aparelhos, num estado estacionário.
[4] A grande burguesia obteve lucros, mas foram incompetentes em cuidar de questões importantes do Estado capitalista, como legislação ambiental, queimadas, preço dos combustíveis, etc.
[5] (1) https://agenciagov.ebc.com.br/noticias/202412/novo-caged-acumulado-ano-2-2-milhoes-empregos-formais; (2) https://www.gov.br/secom/pt-br/assuntos/noticias-regionalizadas/caged-2023/12/santa-catarina-termina-2023-com-saldo-de-62-6-mil-empregos-formais; (3) https://forbes.com.br/carreira/2023/01/caged-brasil-fecha-431-mil-vagas-em-dezembro-mas-saldo-de-2022-e-positivo
[6] https://www.fecombustiveis.org.br/noticia/com-263-milhoes-de-emplacamentos-em-2024-venda-de-carros-tem-melhor-resultado/259593
[7] https://oglobo.globo.com/economia/negocios/noticia/2024/09/23/black-friday-e-natal-renovam-otimismo-da-industria-de-eletrodomesticos.ghtml
[8] https://oglobo.globo.com/opiniao/editorial/coluna/2024/11/e-preciso-desvincular-bpc-e-aposentadoria-do-salario-minimo.ghtml
[9] Segundo o IBGE 60% dos brasileiros vivem com até um salário mínimo https://valorinveste.globo.com/mercados/brasil-e-politica/noticia/2023/12/06/60percent-dos-brasileiros-vivem-com-ate-1-salario-minimo-por-mes.ghtml.
[10] https://passapalavra.info/2022/09/145731/

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