Por Leo Vinicius
Palestine Action é uma rede de ação direta que nasceu em 2020 no Reino Unido, com adesões e ações em alguns outros países. Pode-se dizer que dão continuidade a uma tradição de ação direta de algumas décadas no Reino Unido [1], e têm conseguido resultados efetivos em objetivos intermediários para frear o genocídio palestino, algo que as expressivas manifestações de rua no Reino Unido parecem não conseguir.
Através de obstruções, muito jato de tinta vermelha em fachadas e dentro de empresas e fábricas envolvidas no apartheid e no genocídio, além de algumas outras formas de danos materiais, a ação direta não-violenta do Palestine Action ataca onde os capitalistas sentem: no bolso. A empresa bélica israelense Elbit Systems tem sido especialmente visada. Com seu nível de organização e suas ações diretas metódicas e sistemáticas, o Palestine Action conseguiu, por exemplo, que a Elbit fechasse duas fábricas no Reino Unido [2], que o banco Barclays vendesse suas ações da Elbit [3], e que fornecedores, locadores, transportadores e até lobistas terminassem contratos com a Elbit [4]. Quebrar vidraças de bancos e sujar de tinta suas paredes frequentemente é só uma catarse. Mas quando é algo organizado com objetivo e com sistematicidade, como fez o Palestine Action, se torna um instrumento de pressão econômica. Mais do que fazer um banco vender suas ações da Elbit, a ação direta do Palestine Action colocou a indústria bélica do Reino Unido em crise de financiamento. Para não serem alvo, os bancos têm fechado contas e recusado trabalhar com empresas da cadeia produtiva de armamentos [5].
Evidentemente isso não vem sem riscos para muitos ativistas. Há quase um ano 18 ativistas estão presos com acusações de terrorismo – os Filton18. Contra eles está sendo usado o Terrorism Act, uma lei que entrou em vigor em 2000 no Reino Unido, feita para enquadrar como terrorismo movimentos de ação direta que causam danos à propriedade, como Animal Liberation Front, Earth First!, entre outros. Outros ativistas do Plestine Action enfrentam processos na Justiça devido às ações, embora não por terrorismo.

A relação nada surpreendente da polícia e do Judiciário britânicos com a Embaixada de Israel foi revelada pela imprensa [6]. Uma vez que, diferentemente de partidos e sindicatos [7], não é possível comprar um movimento descentralizado e não hierárquico, o lobby israelense teria que atuar no aparelho repressivo britânico para lidar com movimentos dessa natureza. Aos incompráveis: repressão e cadeia. A legislação antiterrorismo também está sendo usada contra jornalistas britânicos que incomodam a política colonialista e genocida de Israel [8].
Em junho de 2025 ativistas do Palestine Action conseguiram entrar numa base da Força Aérea britânica e lançaram jatos de tinha vermelha em dois aviões, inclusive nos motores. Também usaram pés de cabra para causarem danos. (a Força Aérea britânica realiza voos para Israel de reconhecimento e inteligência sobre Gaza, e a base é usada para transporte de carga militar para Israel). Dias depois o governo de Keir Stamer, do Partido Trabalhista, anunciou que iria levar ao parlamento a proscrição do Palestine Action, enquadrando-o como grupo terrorista. Essa proscrição significa que além dos ativistas, qualquer um que demonstrar apoio ao Palestine Action, mesmo que verbal, será criminalizado. Diante dessa ação de proscrição do governo, dia 22 de junho foi realizada uma manifestação em Londres, com centenas de apoiadores, reprimida pela polícia. Outras ocorreram pelo Reino Unido.
A ironia do destino, facilmente explicável pela mudança de função e de perspectiva devido ao repugnante carreirismo de Keir Stamer, é que o atual Primeiro Ministro em 2003, como advogado de Direitos Humanos, defendeu ativistas que entraram na base da Força Aérea britânica em 2003 e sabotaram bombardeiros dos Estados Unidos para impedir que fossem ao Iraque. Stamer afirmou na época que embora a ação fosse ilegal, era justificável pela intenção de evitar crimes de guerra. Os casos eram extremamente similares com os que o Palestine Action realizou [9].
Como apontado no título de um artigo da Novara Media, o Palestine Action está sendo banido por ser efetivo [10]. Inúmeras organizações pro-Palestina estão os apoiando contra esse banimento. Eles não estão isolados, se inserem num movimento que no Reino Unido é bastante expressivo. Mas talvez só consigam impedir esse banimento se houverem demonstrações de apoio para além dessas organizações, para além do movimento contra o genocídio e o apartheid.
O genocídio e o horror que a população de Gaza passa, que nenhuma palavra em nenhuma língua é capaz de descrever, se tornou a ordem das coisas. A barbárie mais plena e absoluta se tornou parte do status quo nas chamadas democracias liberais. A iniciativa de proscrição do Palestine Action e daqueles que encontram maneiras efetivas de acabar com o genocídio é prova disso.

Notas
[1] Ver “O Movimento de Ação Direta Britânico dos anos 1990”, em 5 partes: https://passapalavra.info/2009/08/11022/
[3] Ver: https://www.thecanary.co/uk/news/2024/10/31/barclays-divest-elbit-palestine-action/
[4] Ver: https://novaramedia.com/2025/06/23/palestine-action-is-being-banned-because-its-effective/
[5] Ver: https://www.telegraph.co.uk/news/2025/06/14/defence-debanking-crisis-israel-war-national-security/
[6] Ver por exemplo: https://www.theguardian.com/uk-news/2025/apr/29/police-and-prosecutors-details-shared-with-israel-during-uk-protests-inquiry-papers-suggest
[7] Sobre o lobby israelense atuando sobre sindicatos britânicos, ver: https://passapalavra.info/2025/05/156639/
[8] O caso mais grave é o do jornalista Richard Medhurst: https://www.nuj.org.uk/resource/nuj-and-ifj-statement-on-arrest-of-richard-medhurst.html
[10] Vale a pena ler o artigo: https://novaramedia.com/2025/06/23/palestine-action-is-being-banned-because-its-effective/
As artes que ilustram o texto são da autoria de Sliman Mansour (1947-).






ação direta
aqui&agora
insurgente
guerrilheira
planetária
385 votos a 26.
O parlamento britânico votou hoje, dia 2 de julho, para proscrever a rede de ação direta não violenta Palestine Action como grupo terrorista.
Isso significa que qualquer um que sequer apoiar verbalmente o Palestine Action pode pegar até 14 anos de prisão.
O pedido de proscrição foi feito pelo governo do Partido Trabalhista. Nunca antes um absurdo desse havia sido feito no Reino Unido, enquadrar um grupo que não ameaça, sequestra, mata ou machuca pessoas ser enquadrado no mesmo status da Al Qaeda e ISIS.
O classe política dos EUA, Reino Unido e Alemanha são capazes de tudo e qualquer coisa para defender o interesse colonialista, racista e genocidário de Israel.
Detalhe que o governo do Partido Trabalhista foi canalha ao ponto de colocar pra votação, juntos, o Palestine Action e dois grupo neonazistas que cometem violência e atentados contra pessoas.
A questão já foi judicializada. Seguirá batalha jurídica e política nas ruas.
A votação se deu no mesmo dia em que se descobre que o bombardeamento de um café essa semana por Israel em Gaza, que era local usado por jornalistas, e que matou e mutilou várias pessoas, foi realizado com bomba de 500lbs, o que por si já configura um crime de guerra. Se precisasse de mais um.
Há pouco mais de uma hora, o jornal Observador publicou a seguinte notícia:
«Quarenta e uma pessoas foram detidas este sábado na capital britânica depois de terem participado numa manifestação de apoio ao grupo pró-Palestina Palestine Action, proibido no Reino Unido, anunciou a polícia londrina. Segundo a polícia, uma pessoa foi detida por agressões.
A organização Defend Our Juries, que promoveu a manifestação em Londres e em outras cidades do Reino Unido, confirmou as detenções.
Na capital britânica, a manifestação decorreu na Praça do Parlamento, com os participantes a exibirem cartazes com as frases “Oponho-me ao genocídio, apoio Palestine Action”.
O parlamento britânico aprovou no início de julho a proibição da atividade do grupo Palestine Action no Reino Unido e classificou-o como “organização terrorista”.
O processo foi desencadeado pelo Governo após um ato de vandalismo numa base aérea, do qual são acusadas quatro pessoas, detidas, que serão ouvidas pelo tribunal na próxima sexta-feira.
Na altura, o grupo Palestine Action alegou que o protesto visou interromper “a participação direta do Reino Unido” em “genocídios e crimes de guerra no Médio Oriente”, nomeadamente na guerra entre Israel e o movimento islamita palestiniano Hamas na Faixa de Gaza, enclave palestiniano.
Peritos da ONU criticaram a decisão de Londres, assinalando que “meros danos materiais, sem colocar em perigo a vida de outras pessoas, não são suficientemente graves para serem classificados como terrorismo”.
Na semana passada, em Londres, 29 pessoas, incluindo um padre e profissionais da saúde, foram detidas por terem participado igualmente numa manifestação de apoio à organização Palestine Action.»
A notícia pode ser lida aqui.
Police Fail to Arrest Hundreds Who Defy Palestine Action Ban
It’s unenforceable.
by Charlotte England
9 August 2025
https://novaramedia.com/2025/08/09/police-fail-to-arrest-hundreds-who-defy-palestine-action-ban/
Em novembro a Justiça poderá reverter a proscrição do Palestine Acrion. Enquanto isso a pressão contra a proscrição continua, inclusive com essas formas de desobediência civil.
Ampliando sua escalada autoritária em favor do supremacismo genocida de Israel, o governo do Partido Trabalhista britânico colocou a polícia hoje para dar batidas e prender cinco pessoas importantes do Defend our Juries, o grupo de direitos civis formado basicamente por advogados que tem organizado manifestações contra a proscrição do Palestine Action. Os cinco foram enquadrados na lei antiterrorismo (ou apoiadores de terroristas).
Na última manifestação organizada (comentário acima), houve a maior prisão em massa desde 1961 no Reino Unido. Para o próximo sábado, dia 6 de setembro está programada outra ainda maior. São manifestações de desobediência civil.
Essas prisões são parte da tentativa de impedir a manifestação de sábado e sufocar o movimento com repressão.
https://novaramedia.com/2025/09/02/police-arrest-key-members-of-protest-group-defying-palestine-action-ban-after-dawn-raids/
Sábado, dia 6 de setembro, 1500 manifestantes na Praça do Parlamento em Londres, no maior ato de desobediência civil da história da Grã Bretanha.
A polícia prendeu manifestantes de uma da tarde às 9 da noite. Mas não conseguiu prender todos, “apenas” cerca de 900.
Durante a semana haviam prendido nas suas casas organizadores do Defend Our Juries, o grupo que tem organizado esses atos de desobediência civil contra a proscrição do Palestine Action. Todos estão sendo enquadrados na lei antiterrorismo.
https://novaramedia.com/2025/09/07/police-fail-to-arrest-two-thirds-in-biggest-ever-protest-against-palestine-action-ban/
Mais uma notícia para se ter uma ideia, de um lado, o caráter totalmente repugnante do atual Primeiro Ministro britânico e, por outro lado, como o governo do Reino Unido se tornou um governo colonial de Israel.
Ker Stamer, o Primeiro-Ministro veio a público se colocar contra a decisão da Polícia de não permitir que os torcedores do time Maccabi, de Israel, atendam ao jogo entre Aston Villa e Maccabi em Birmingham. A decisão foi tomada no risco de violência. Em novembro do anos passado os hooligans do Maccabi foram filmados atacando pessoas nas ruas de Amsterdam, arrancando bandeiras da Palestina de janelas e cantando slogans e músicas extremamente racistas e ameaçadoras contra árabes.
Mas Keir Stamer diz que a proibição é antissemitismo. Keir Stamer usa a surrada carta do antissemitismo para permitir que racistas possam ir e agredir pessoas e entoar cânticos racistas no país que ele governa. A preocupação do Primeiro-Ministro no dia de hoje é reverter a decisão da Política em favor dos hooligans racistas.
Em 2015 Keir Stamer discursava em uma atividade que pedia boicote a Israel e focava em excluir Israel da Fifa. Aqui pode ser visto ele com uma grande bandeira atrás escrito “Chute pra fora da Fifa o racismo de Israel”. https://x.com/Kahlissee/status/1872399253609590878/photo/1
Uma aula da chamada democracia burguesa, se o caso Assange já não fosse suficiente. É pra não deixar dúvidas o que é o Sistema Judiciário numa sociedade de classes.E pra não deixar dúvida que o interesse dos supremacistas judaicos é também o interesse da classe dominante.
O início do julgamento sobre a proscrição do Palestine Action estava marcado para 25 de novembro.
Retiraram o juiz do caso em cima da hora sem darem sequer motivo. Era o mesmo juiz que viu fundamento na ação de uma das fundadoras do Palestine Action. Colocaram 3 juízes no lugar, dois dos quais com histórico favorável ao governo e a Israel. É descarado.
https://www.theguardian.com/uk-news/2025/nov/25/removal-judge-palestine-action-ban-legal-challenge-justice-chamberlain