Por Jan Cenek
T
I
a vida não tem graça
vamos brincar de morrer
vamos brincar de forca
na árvore da vida
II
vamos com calma
vamos dançando
vamos pedalar
para além da vida
sem filosofias
sem desespero
vamos pedalar
sem olhar para trás
vamos pela estrada
da deslembrança
III
dança menino
vai dançando
atravessa brincando
a fronteira da vida
IV
deitado no mato
no meio da noite
debaixo da lua
no pé da palmeira
o vento lambendo
a testa da mata
folhas caindo
dança das sombras
V
quanta beleza
na música dos bichos
na brisa leve
no perfume da terra
como é belo
o chamado do vazio
VI
fecha os olhos
abraça o vento
dorme
meu irmão
o canto dos pássaros
não te despertará
VII
meu irmão
mora na mata
meu irmão
dorme na mata
vai virando pó
vai virando pedra
vai virando saudade
vai desvirando homem
D
Com um único nó na corda,
cruzaste a borda da vida.
Em meio metro de queda,
a moeda fria do fim.
Na derradeira volta do mundo,
a primeira mancha no rosto,
no meio da manhã.
A cavalgada no lombo da morte.
O esgarçar do couro do corpo.
A pancada na ponta do peito.
O tranco na porta de saída da vida.
O enforcamento no topo do sonho:
teu cadáver pendurado nas nuvens.
O salto do alto:
o tombo para fora.
Com suas cartas de despedida erguidas:
os suicidas acenam.
Ao som do último samba:
dança,
meu camarada!

O Passa Palavra não publica comentários irrelevantes e desrespeitosos.
Dois poemas que iluminam o último ato da última cena. Um surpreendido na partida enquanto fecha os olhos e abraça o vento, o outro pego no pulo pendurado nas nuvens. Me trouxe à lembrança outros versos desta terra: “Ah! Certamente eu sou a mais hedionda/Generalização do Desconforto…/Eu sou aquele que ficou sozinho/Cantando sobre os ossos do caminho/A poesia de tudo quanto é morto!”.
Os bailarinos cansaram
Não querem mais dançar
Abandonam o palco
Antes da última cena
Último ato
Encenam
A vida não vale a pena o⁰