É possível a realização de atos sem grandes estruturas, que dialoguem com os trabalhadores. Não houve hostilização aos professores, pelo contrário, entre indagações e conversas a população apoiava a atitude dos docentes, pois cientes do retrocesso que os aguarda com o PL 4330. Por Passa Palavra
No último sábado (9), os visitantes da exposição sobre Leonardo Da Vinci, no edifício da sede da Federação da Indústria do Estado de São Paulo (FIESP) na Avenida Paulista, foram surpreendidos com algo a mais do que as 40 peças e 10 obras interativas do gênio renascentista.
Ainda na fila para entrar – que tardava em média 2 horas – as pessoas receberam panfleto expondo alguns dos impactos e retrocessos que a lei da terceirização generalizada pode acarretar para os trabalhadores: redução do salário, aumento da jornada de trabalho e das demissões, maior incidência de acidentes no trabalho etc.
Professores de escolas e faculdades da rede particular de ensino, vestindo camisetas com mensagens contrárias ao PL 4330, panfletaram em frente ao prédio da FIESP, onde também estenderam uma grande faixa em protesto. Diversas pessoas paravam para escutar os argumentos e procurar entender melhor o que era essa tal lei da terceirização. Os impactos para o campo educacional não diferem dos demais segmentos de trabalho, no sentido de aumento das extensas jornadas de trabalho, baixa remuneração, instabilidade e precarização. Somado a esses fatores, vislumbra-se, também, a transformação do professor em mero aplicador de material, o fim da possibilidade de projeto pedagógico sério através de professores que tenham vínculos com as instituições de ensino, bem como responsabilidade na produção e aplicação de materiais didáticos. Além da fragmentação e destruição da relação entre estudantes, professores e projeto pedagógico, uma série de outros direitos trabalhistas e acordos coletivos encontram-se em xeque, caso o PL 4330 também seja aprovada pelo Senado, depois de o projeto ter passado pela Câmara dos Deputados.
Apesar do número relativamente pequeno de professores, os seguranças da FIESP ficaram atônitos com o ato em frente a uma das sedes que mais tem a ganhar com a aprovação generalizada da terceirização para toda e qualquer atividade, como bem pode ser visto nas falas e louros cantados por Paulo Skaf (presidente da entidade) em propagandas televisivas. A situação foi tão curiosa que os seguranças receberam ordens de fechar os portões que davam acesso ao prédio, isso considerando que havia diversas centenas de pessoas chegando para tentar ver o penúltimo dia da exposição. Quem estava fora não entrava pela Paulista, e quem estava dentro tinha dificuldade para sair.
Neste momento os professores até deram uma força e compraram sacos de pipoca para entregar aos visitantes que aguardavam pacientemente na fila.
O principal talvez tenha sido demonstrar que é possível a realização de atos sem grandes estruturas e parafernálias e, mais que isso, que esses atos podem dialogar com os trabalhadores que, sem exceção, não hostilizaram os professores, mas entre indagações e conversas, demonstravam apoiar a atitude dos docentes, pois cientes do retrocesso que os aguarda caso o PL 4330 seja aprovada. Como era de se esperar, os grandes veículos de comunicação pouco tem contribuído com o debate. Vale lembrar que, tanto à direita quanto à esquerda, o setor de comunicações tem sido um dos primeiros a implantar a terceirização em massa em suas redações.
As estruturas sindicais também pouco têm colaborado com as mobilizações, não se vê nenhuma agitação nos locais de trabalho, mesmo as convocações de atos de rua são tímidas. Os “professores auto-convocados” aparecem como uma resposta à inação do Sinpro-SP, por isso pressionam o sindicato a tomar posicionamentos mais claros e a realizar uma assembleia. Organizam-se em seus locais de trabalho, tentando discutir com as equipes de trabalho as implicações deste projeto que pode significar o fim do recesso remunerado e da estabilidade semestral; ao mesmo tempo procuram apresentar para os pais e alunos as consequências deste projeto para a sociedade. Começam, assim, a fazer uma pequena atuação articulada nos seus locais de trabalho.
Os desafios colocados ainda são muitos, como conseguir articular diversos setores e segmentos de trabalhadores; fazer com que os sindicatos entrem efetivamente nesta luta, não apenas de modo simbólico e midiático; que os grupos independentes e autonomistas se somem a esta batalha. E, por dentro do próprio local de trabalho, lutar para que a situação de retrocesso da terceirização não apenas não avance, mas se extingua, o que significa dialogar e realizar lutas que incluam os já terceirizados nos diversos segmentos trabalhistas, incluindo os de ensino.
Fotos: Passa Palavra.