Enquanto 24 manifestantes foram condenados a diversas penas, foi absolvido o agente da polícia que abateu o jovem Carlo Giuliani com um tiro na cara, disparado a quatro metros de distância.
Os grandes protestos contra a cimeira do G-8, realizada em Génova (Itália) em Julho de 2001, foram selvaticamente reprimidos pelo governo de Sílvio Berlusconi. As prisões arbitrárias contra manifestantes pacíficos, os assaltos ao estilo de milícias fascistas contra as instalações onde se alojavam as organizações participantes e as sevícias, torturas e humilhações levadas a cabo por agentes policiais ao som de hinos e slogans fascistas foram sinais claros da decisão dos governos europeus de, rapidamente, criminalizarem qualquer oposição de massas ao sistema – aterrorizando manifestantes pacíficos e aniquilando as organizações mais radicais.
Num processo intentado contra os altermundialistas, 24 pessoas foram condenadas a penas que variam dos cinco meses aos onze anos de prisão. A condenação mais pesada foi pronunciada contra Marina Cugnaschi, natural de Lecco, no Norte da Itália, considerada como pertencendo ao «Bloco Negro», que reagrupava os manifestantes mais radicais considerados pela polícia como responsáveis pelas destruições e saques durante as manifestações.
Na época, a morte, nos confrontos provocados pela própria polícia, de um jovem de 23 anos cuja única arma era um extintor de incêndios, alvejado na cara a quatro metros de distância, foi largamente noticiada e comentada. Os médias [a mídia] do sistema fizeram o que puderam para ocultar a selvajaria injustificada da polícia e as provas de que se tratou de um puro assassinato. Mesmo assim, várias dezenas de agentes, identificados por manifestantes e passantes, foram julgados, alguns condenados em última instância a penas puramente simbólicas.
O agente Mario Placanica, assassino comprovado de Carlo Giuliani, foi absolvido há dias na última instância possível: o Tribunal Europeu dos Direitos do Homem. O nome deste tribunal é, na ocorrência, uma irónica marca de hipocrisia! Para “temperar” esse escandaloso veredicto, o tribunal outorgou à família do assassinado uma indemnização de 40.000 euros [R$ 105.000], como que considerando que esse assassinato é um simples caso de responsabilidade civil do Estado.
O local onde se deu o crime, hoje baptizado Piazza Carlo Giuliani, fica como memória da brutalidade crescente das democracias formais e como sinal do que os democratas que mandam no mundo serão capazes de fazer para preservarem a sua hegemonia (ver site do comité em www.piazzacarlogiuliani.org).
Resta dizer o quanto, então como agora, os poderosos meios de informação, privados e públicos, se empenharam na ocultação da verdade e no espalhamento do mito dos “marginais violentos” que, protestando, “põem em causa os valores democráticos”, assim justificando a repressão brutal, desproporcionada e selectiva dos governos. Essa função dos médias [da mídia] no caso vertente, assim como os próprios factos, ficou bem documentada no livro do jornalista Renato Teixeira, que esteve presente nos acontecimentos: Os ardinas da mentira (Ed. Dinossauro, Lisboa) editado em Maio de 2007.
A seguir pode ver um pequeno vídeo de um grupo de rap do Estado espanhol de denúncia e homenagem a Carlo Giuliani, que tem o interesse de conter algumas imagens do momento do assassinato. Passa Palavra
Na foto de Destaque: A polícia tenta ocupar rapidamente o local do assassinato, para impedir fotos e filmagens e controlar as provas do crime.