Por Mulheres da Frente de Luta por Moradia
Nós, mulheres sem-teto, trabalhamos duro para o sustento de nossos filhos e de nós mesmas. Trabalhamos como: cozinheira, costureira, gari, arrumadeira, nos serviços de limpeza, nos hospitais, comércio, nas escolas, cuidadora, motorista, metalúrgicas, têxteis. Estamos dando duro em uma infinidade de produção e serviços para manter de pé toda sociedade. Além disso, cuidamos de nossas moradias, de nossos idosos e criamos nossos filhos. Com toda essa labuta diária, que consome nossa vida, não somos reconhecidas, não somos valorizadas. E apesar desse trabalho duro, enfrentamos dupla jornada de trabalho, desrespeito em longos trajetos no transporte público, não ganhamos o suficiente para suprir as nossas necessidades e de nossos filhos. Sofremos a violência diária dos baixos salários, insuficientes para nossas necessidades e incompatível com a importância de nosso trabalho. Executamos a mesma função e recebemos salários inferiores. Em qualquer desarranjo do sistema capitalista, somos as primeiras a perder o emprego.
Somos humilhadas diariamente, pois não conseguimos nos alimentar de maneira adequada, tratar da saúde, ter lazer, nem tempo para estudar. E, combinado com esses infortúnios, devido à precariedade de nossas vidas, não conseguimos assegurar um futuro diferente para nossos filhos. Percebemos claramente que o sofrimento que nossos antepassados viveram e que nós estamos enfrentando está reservado para nossos filhos e netos. São gerações sucessivas condenadas violentamente pelo trabalho humilhante e salários abaixo de nossas necessidades. Somos enclausuradas em territórios e moradias inóspitas para a vida humana.
Sentimos e acompanhamos, em nosso dia a dia, que as pessoas que utilizam nosso trabalho e se apropriam das riquezas por nós produzidas são preguiçosas e irresponsáveis. São totalmente inúteis e danosas para a nossa vida e de nossos filhos. São delinquentes, criminosos de sangue frio executando políticas econômica e social que os enriquecem sem trabalho, e não se importam com a miséria e a morte das trabalhadoras. São desumanos e anticristãos.
Frente a este cenário catastrófico para nossas vidas e de nossos filhos, resolvemos correr atrás de nossos DIREITOS. Sabemos que, no papel, a legislação assegura o nosso Direito a uma moradia digna.
Por isso, ocupamos este imóvel abandonado sem função social para ser nossa casa. Pleiteamos a sua desapropriação, sem indenização ao injusto possuidor, e adequá-lo para morada de nossas famílias. No lugar de ratos, dengue, pulgas e todo tipo de pragas urbanas que trazem doença para região; vamos limpar e colocar gente. Aceitamos o apoio de toda vizinhança. Precisamos de móveis, utensílios domésticos, material de construção, roupas e alimentos.
Paz e bem. Venha nos visitar e conhecer nossas famílias. Vamos construir um ambiente de harmonia nesta comunidade.
NENHUMA MULHER SEM CASA