Na terceira parte desta “biografia política” de Mário Pedrosa, a ênfase recairá sobre a produção do semanário Vanguarda Socialista, seguindo até as vésperas do golpe militar de 1964. Por Manolo

1. Vanguarda Socialista e União Socialista Popular (1945-1948)

Com a anistia política durante o processo de queda de Getúlio Vargas, Mário Pedrosa passou a fazer reportagens como correspondente internacional, a convite de Paulo Bittencourt. Ainda em 1945 voltaria ao Rio de Janeiro, já para fundar o jornal Vanguarda Socialista e a organização União Socialista Popular. Nesta última, formada por antigos integrantes da LCI, dissidentes do PCB e socialistas independentes, apoiaria a candidatura à presidência de Eduardo Gomes num manifesto entregue ao candidato em 12 de junho, em que exigiam a elaboração de uma constituinte democrática.

Sobre o Vanguarda Socialista diria Antonio Candido, ele mesmo filiado ao PSB e integrante do corpo editorial do periódico da seção paulista do PSB, o Folha Socialista:

Em torno de Mario se juntaram no Rio principalmente antigos trotskistas ou simpatizantes, inclusive seu concunhado Nelson Veloso Borges, industrial abastado que escrevia no Vanguarda Socialista artigos com pseudônimo, sobretudo sobre a questão agrária, e era provavelmente o principal apoio financeiro do jornal. O Vanguarda Socialista estabeleceu um nível elevado no debate político da esquerda brasileira e contribuiu para aclarar as idéias dos que procuravam se orientar fora dos caminhos mais batidos.

Hílcar Leite, um dos redatores do jornal, resumiu assim sua plataforma:

Almoço de comemoração do 1º aniversário do jornal Vanguarda Socialista (1946)
Almoço de comemoração do 1º aniversário do jornal Vanguarda Socialista (1946)

…era preciso reestudar o bolchevismo, reanalisar todas as conseqüências da Revolução Russa, que havia se tornado uma revolução democrática frustrada. Havia se tornado a ideologia de um estado totalitário chamada capitalismo coletivo ou capitalismo de Estado, e não socialismo. Era preciso dar novamente autonomia ao proletariado e recriar sua consciência social e política – isso era fundamental. Mantidas as críticas à democracia burguesa, era preciso também fazer a crítica à democracia soviética (…) o que tínhamos de enfatizar mais, se queríamos conquistar a classe operária, era o exame crítico da União Soviética. Examinávamos a situação política, as democracias burguesas, mas enfatizávamos a União Soviética, mostrando seu caráter de classe – eles vão chegar ao predomínio cada vez maior dos militares, ao crescimento do Estado Nacional. Mostrávamos isso para voltar novamente às bases teóricas, à Rosa Luxemburgo, aos grandes clássicos do socialismo. (…) Voltamos a todos os clássicos, fizemos várias descobertas sensacionais.

Vanguarda Socialista não estava isolado no cenário político internacional:

Tratava-se de um movimento internacional de reestudo de todo o movimento socialista. Foi o início da crítica à Revolução Bolchevique e ao estado do bolchevismo depois de Lenine. (…) Achávamos que a União Soviética, a partir do momento em que aceitou fazer a guerra, era uma potência capitalista, uma potência imperialista. A gente fez Vanguarda Socialista, que se tornou na América Latina o porta-voz da nova plataforma.

Socialisme ou barbarie, revista francesa quase contemporânea de Vanguarda Socialista
Socialisme ou barbarie, revista francesa quase contemporânea de Vanguarda Socialista

O “movimento” ao qual Hílcar Leite se refere não é mais que a continuidade dos debates sobre a natureza da União Soviética havidos ainda no desenvolvimento da Revolução Russa desde 1917 e estancados pela prisão, exílio, desaparecimento e morte de uma geração inteira de militantes revolucionários pelo esforço conjugado das “democracias ocidentais” e do Estado soviético a partir da década de 1920. Retomado após a II Guerra Mundial pelos sobreviventes das oposições – de todos os matizes – aos PCs e engrossado por uma leva de militantes mais jovens, este “movimento” deu origem a publicações semelhantes – em intenção, embora diferentes em conteúdo – como Socialisme ou Barbarie (fundada em 1949 pelo grupo de Cornelius Castoriadis, Claude Lefort, Daniel Mothé, Edgar Morin etc. – que Pedrosa trazia para o Brasil e punha à disposição de quem quisesse), Correspondance (fundada em 1951 por C. L. R. James e Martin Glaberman) e News and Letters (fundada em 1955 pela ex-secretária de Trotsky, Raya Dunayevskaya). Lançado em 31 de agosto de 1945, Vanguarda Socialista pode ser considerado um dos pioneiros deste processo de autocrítica do movimento anticapitalista no pós-Segunda Guerra Mundial.

Hílcar Leite dá detalhes do funcionamento do semanário:

No começo éramos três gatos pingados aqui no Rio de Janeiro: o Mário Pedrosa, o Nelson Veloso Borges e eu. (…) Distribuíamos pelo Brasil: São Paulo, Recife, Belo Horizonte, Juiz de Fora, Porto Alegre, até Manaus. Onde a gente tinha um amigo, mandava o jornal para lá. Ele era impresso aqui no Rio nas oficinas do Jornal do Brasil. Tínhamos um velho companheiro lá, José Caldeira Leal, que tinha arranjado as condições ideais de preço. A Vanguarda não era um jornal clandestino, era vendida em bancas. Foi lançada antes da queda de Getúlio, e no começo chegou a vender 20 mil exemplares.

No editorial “Diretivas”, do primeiro número do jornal, já constavam seus objetivos:

Mário Pedrosa na década de 1950
Mário Pedrosa na década de 1950

Vanguarda Socialista, como o nome indica, visa fazer a propaganda da idéia socialista a preparar, sem imediatismo ou tempo marcado, quadros para o futuro. Não é órgão de nenhum partido, não está sujeita a nenhuma disciplina partidária; é um trabalho coletivo de vários companheiros irmanados por um mesmo ideal e mais ou menos estruturados pela mesma base cultural marxista. Os editores deste semanário, também não pertencem a uma mesma organização política, acontecendo aliás que muitos deles não fazem parte de partido algum. (…) …não é um jornal de agitação para a massa; é um jornal de vanguarda. Isso significa que não visa lançar uma idéia, ou um objetivo exclusivo para uma multidão, e bater e rebater na mesma tecla, até que a massa aja em conseqüência dessa agitação; queremos lançar muitas idéias, disseminar um corpo de idéias para os indivíduos, os pequenos grupos a fim de que esses, organizando-se e orientando-se por elas, se reúnam e se preparem para uma ação sistemática e esclarecida sobre o que se chama de largas massas. (…) O grupo de camaradas que se decidem a lançar o presente semanário têm isso em comum: a necessidade de se reorganizar o movimento socialista proletário, nacional e internacionalmente, sobre novas bases, e começando tudo de novo. Porque, na realidade, se trata de começar tudo de novo. Nós vamos aqui, auxiliando-nos mutuamente, e enriquecendo-nos com novos reforços, tentar desenvolver um trabalho de crítica e construção relativamente ao passado movimento revolucionário ou reformista, comunista ou socialista, tal como evolveu até hoje. (…) Tentaremos tirar a experiência das formidáveis experiências que vêm abalando a humanidade, desde a primeira grande guerra mundial e a revolução russa, até os carregados dias de hoje, albores pálidos da nova era atômica. (…) Não olharemos para nenhum desses acontecimentos com olhos apologéticos. Não aceitaremos nenhuma ideologia, muito menos as oficiais, como explicação desses grandes acontecimentos. Para nós, por exemplo, a revolução russa foi o maior acontecimento do século, e deste, Lenine continua a ser a figura culminante. Mas nem de um nem de outra falaremos com unção religiosa ou beatífica admiração. Queremos tirar partido da importantíssima vantagem de vivermos mais de vinte anos depois daqueles fenômenos acontecerem. (…) [Não] encararemos o ulterior desenvolvimento da revolução russa ao que se chama hoje de stalinismo, movidos apenas por uma justa indignação de revolucionários que vêem os altos ideais conspurcados pela dura realidade; procuraremos estudá-lo objetivamente, separando o que ali foi ditado pela lei de ferro da necessidade objetiva e o que é conjuntural ou deformação evitável. O fenômeno do fascismo e do nazismo não é para nós, apenas, uma explosão de violência e sadismo, mas uma resultante orgânica da época contra-revolucionária que mediou entre as duas guerras. (…) Reputamos igualmente (…) todas as lutas fracionais do passado (…). Nesse sentido encaramos o esforço sobre-humano de Leon Trotski de transportar para o Ocidente a formidável experiência do bolchevismo russo, como praticamente fracassado. A sua tentativa de deslocar a Internacional Comunista do ambiente russo em que pouco a pouco se transfomara num instrumento da política externa do Estado russo, no intuito de restaurar-lhe o internacionalismo proletário, para que ficasse apenas, e na realidade, um instrumento a serviço do proletariado mundial independentemente das contingências da política externa soviética, não deu resultado. O isolamento da revolução russa, em virtude da revolução proletária nos outros grandes países do ocidente europeu não se ter dado, consumou-se, e o resultado foi o nacionalismo soviético da era atual. Apesar de seu gênio político e de sua flama revolucionária, a mais pura e a mais alta que já brilhou sobre a face da terra desde Saint-Just, a idéia de Leon Trotski não vingou, mas ele morreu, defendendo, intransigentemente, contra tudo e contra todos, os alicerces econômicos da União Soviética, isto é, a propriedade estatizada dos meios de produção e a planificação econômica, contra qualquer ataque de fora ou de dentro. (…) A Terceira Internacional foi burocraticamente dissolvida quando, como organização política autônoma do proletariado mundial já havia desaparecido. Os atuais partidos comunistas representam de uma parte, o passado e de outra, os interesses do Estado Soviético. Estão condenados à cisão em face das contradições sociais e políticas do mundo atual. Uma parte se transformará, definitivamente, num instrumento totalitário da atual tendência à estatização do capitalismo. A outra parte irá fundir-se às melhores forças proletárias que seguem hoje no campo da Segunda Internacional, e constituirão, com outros grupos, os futuros partidos socialistas que serão a síntese do que de melhor trouxe o bolchevismo russo e o que de permanente e fecundo se contém no socialismo ocidental, cuja vitalidade provou ser muito mais irredutível do que pensaram os revolucionários russos. (…) O nosso semanário refletirá todos esses problemas e anseios. À luz da formidável experiência de nossa época, procuraremos analisar os acontecimentos nacionais e internacionais. Nosso esforço de superação não significa conciliação, que não resolve as contradições, mas apenas as contém resignadas ou passivas; significa realmente um esforço para resolvê-las, fazendo a depuração do que nelas ainda vive, ou já é morto. (…) Nosso esforço não é ambicioso; pois não é isolado. Por toda parte da Europa como da América, na França ou nos Estados Unidos, na Inglaterra como na Itália ou Alemanha, e até mesmo obscuramente, clandestinamente, talvez em algum recanto da Rússia, ele se vai registrando numa elaboração vagarosa mas constante, porque não passa do processo próprio do pensamento marxista que na volta às suas origen, quer renovar-se ao calor das formidáveis transformações de nossa época. Do fundo de suas pesquisas, estamos certos de uma coisa: é que a liberdade não soçobrará para que o socialismo triunfe, pois, sem ela, o socialismo jamais será possível.

Sobre este esforço daria testemunho Paul Singer:

Neste panorama é que surge a figura de Mario Pedrosa com o Vanguarda Socialista, que foi para nós um extraordinário educador político. Li o Vanguarda com paixão, ao lado da Folha Socialista, que era editada aqui em São Paulo, e não vejo nenhuma divergência de postura ampla entre os grupos que editavam estes periódicos. A diferença que havia é que o Vanguarda Socialista era mais denso, intelectualmente muito mais pretensioso, publicava textos de Marx, de Engels, de Trotski, de Rosa Luxemburgo, de Kautski, autores que ainda não conhecíamos. (…) Tenho a impressão de que Mario Pedrosa tinha como critério que os clássicos tinham que ser conhecidos diretamente, não por meio de vulgarizadores, coisa que eu, depois que me tornei professor, pratiquei a vida inteira. Não sei se aprendi isso com Florestan Fernandes ou com o Vanguarda Socialista, mas quando me propus a dar cursos de Economia, por volta dos anos 60, fazia meus alunos lerem Adam Smith, Ricardo, Marx diretamente e nunca usei vulgarizadores, nunca usei, digamos, o conhecimento já depurado, didatizado, simplificado e geralmente traído. O Vanguarda Socialista nos fazia ler os clássicos, o que para mim é até hoje é uma lição fundamental. Entre os clássicos que o Vanguarda Socialista nos apresentou estava Rosa Luxemburgo. Ela era, para os mais iniciados, uma heroína derrotada da Revolução Alemã de 1919. Tínhamos uma idéia vaga sobre o que ela representava – como representa até hoje, a meu ver – em termos de visão, não só do socialismo, mas da luta de classes, da luta pela libertação humana. Aprendemos com Mario Pedrosa e o Vanguarda Socialista que Rosa Luxemburgo era radical em sua paixão tanto pela liberdade como pela igualdade, sendo companheira e ao mesmo tempo crítica dos revolucionários bolcheviques. Sua polêmica contra a dissolução da Assembléia Constituinte e contra a proibição de todos os partidos exceto o comunista, na Rússia, ainda em 1918, antecipou todas as outras que iriam se generalizar apenas após a Segunda Guerra Mundial.

Um ano depois do editorial “Diretivas”, uma tese (“Novos Rumos”) sintetizaria as principais posições de Vanguarda Socialista diante da conjuntura: a Revolução Russa e seu significado através da história, o significado político e econômico da eleição do Partido Trabalhista na Inglaterra e a questão do imperialismo.

Quanto à URSS, o jornal segue a posição de Pedrosa: a burocracia soviética havia-se convertido em nova classe opressora, a economia havia-se transformado em capitalista e para superar tais condições uma revolução política, somente, não bastava. Tanto nas “Diretivas” quanto em “Novos Rumos” o alvo eram ao mesmo tempo os stalinistas, por seu atrelamento acrítico à política da URSS, quanto os trotskistas, que criticavam aspectos conjunturais da política soviética mas defendiam-na como se ainda fosse um território onde vigessem relações socialistas.

A eleição do Partido Trabalhista na Inglaterra parecia, aos membros de Vanguarda Socialista, abrir aos trabalhadores uma via alternativa à submissão aos diktats soviéticos. Sua novidade seria a incorporação do planejamento econômico como pauta, o que permitiria – aos olhos de Vanguarda Socialista – superar o velho reformismo e conciliar o “programa mínimo” de reivindicações com o “programa máximo” de socialização dos meios de produção.

Quanto ao imperialismo, Vanguarda Socialista via o capitalismo de Estado como tendência econômica global, o que intensificaria a luta imperialista. Muito embora a expansão do capitalismo de Estado fosse, aos olhos de Vanguarda Socialista, um avanço socialista frente ao capitalismo liberal, abria novas tensões internacionais, com ameaças à paz mundial; a luta pela divisão do mundo travada entre capitalistas financeiros seria substituída pela redivisão geopolítica do globo entre um dos grandes estados imperialistas, sobretudo Estados Unidos e URSS.

Mas Vanguarda Socialista não se limitava apenas à reflexão sobre a situação internacional; Paul Singer, que foi leitor assíduo do jornal, diria sobre seu posicionamento quanto à política interna:

A posição do Vanguarda Socialista e de um grupo de socialistas aqui em São Paulo, que eu poderia dizer que foram meus mestres, era a de que nenhuma das duas coisas era aceitável, ou seja, nem encarar o comunismo soviético como sendo o que desejávamos para o Brasil, nem aceitar o modelo de democracia que Getúlio estava de certa forma representando naquele momento.

Ainda no período Vanguarda Socialista, em 13 de novembro de 1948, Pedrosa faria a conferência Os socialistas e a III Guerra Mundial, depois transformada em livro. Nela, diria que a economia mundial havia sido colocada diante de um dilema:

"Os socialistas e a III Guerra Mundial", de 1948
"Os socialistas e a III Guerra Mundial", de 1948

…escolher entre não intervir, deixando que os milhões de desempregados se acumulassem, que as mercadorias se amontoassem sem escoamento, a fim de que o padrão monetário e o valor do outro não sofressem ataque, até que de novo, automaticamente, não se sabe quando, os altos fornos da grande indústria voltassem a funcionar (…), ou intervir o Estado para dar trabalho aos desempregados, criar artificialmente mercados, estimulando a procura, elevando muros protecionistas cada vez mais altos, subvencionando as indústrias de exportação para o dumping no exterior, desvalorizando a própria moeda para aumentar a concorrência externa.

Os estados totalitários optaram pela segunda alternativa e, ao agir contra o capital financeiro, recolocaram as forças produtivas em funcionamento na corrida armamentista para a conquista de novos mercados externos. A concorrência econômica, forçosamente, foi transformada em guerra, que não chegou a pôr fim ao processo, que apenas ganhou “graus de acabamento diferentes”: EUA e URSS ocuparam o lugar das antigas potências imperialistas e, atuando como estados nacionais, fortaleceram seus “setores administrativos”, tendo como principal exemplo as invasões executadas pela URSS no Leste Europeu – feitas para eliminar as burguesias locais, estabelecer o regime político de partido único, estatizar a economia e garantir a expropriação dos recursos destes países em favor da URSS. A ideologia socialista, neste caso, ocultava sob a máscara da técnica a supressão do apoio espontâneo e ativo das massas – condição sine qua non, segundo Pedrosa, para a construção do autêntico socialismo. Pedrosa conclui:

O Estado nacional soberano é a última forma de dominação política burguesa, quer dizer, de classe. Todo o programa que vise a fortalecer o Estado para que ele organize as forças produtivas em função de seu prestígio e de sua capacidade de competição no exterior é um programa nacionalista e burguês, isto é, anti-socialista. Dentro do Estado nacional, qualquer que seja a estrutura econômica predominante, qualquer que seja seu grau, maior ou menor, de estatização das formas de propriedade, o fundamento político social de tal é a divisão da sociedade em classes. A estatização da economia nessa base nacional não abole, mas agrava a divisão das classes na sociedade. Foi o que aconteceu na Rússia, onde uma casta dominante explora a maioria do povo. Eis porque sua estrutura econômica e social, sua cultura nada têm de socialistas e permanecem inteiramente dentro dos moldes da cultura e da economia burguesas.

Note-se aqui que, para Pedrosa, “estado nacional soberano” parece ter caráter bem diferente do sentido amorfo que comumente se dá à expressão na teoria política tradicional. Enquanto nesta o “estado nacional soberano” é simplesmente este Estado que conhecemos – composto por “território, povo e soberania”, organizado em regime federativo ou unitário etc. – para Pedrosa – assim como no conceito de “estado livre burocratizado” que empregara no tempo da IV Internacional – o “estado nacional soberano” passa a agir independentemente da vontade da maioria do povo, considera-se “soberano” frente a ele. É um esboço da teoria da burocracia que adotaria décadas depois.

Vanguarda Socialista, responsável pela formação de uma geração inteira de socialistas – dentre os quais poderíamos incluir Florestan Fernandes (ex-militante do PSR) e Maurício Tragtenberg (a esta altura, já expulso do PCB) – seria encerrado em 1948, no clima de acirramento da Guerra Fria e da repressão a tudo o que parecesse “comunista”. Mas deixou marcas: Paul Singer, por exemplo, diz que “Até hoje, se alguém tem acesso à coleção do Vanguarda Socialista, tem muito o que ler”.

2. O Partido Socialista Brasileiro (PSB) (1947-1950)

Diversas correntes socialistas haviam se formado no processo de redemocratização em 1945; a União Socialista Popular de Mário Pedrosa era apenas uma delas. Havia, ainda, a Esquerda Democrática, “ala esquerda” da União Democrática Nacional (UDN) que reunia desde antigas lideranças da “esquerda” brasileira como João Mangabeira e Nestor Duarte até antigos membros do PCB como Astrojildo Pereira e Caio Prado Júnior, passando por pequenos grupos como a União Democrática Socialista de Antonio Candido e Aziz Simão. Com a legalização do PCB, os antigos comunistas retornaram ao Partidão; a União Socialista Popular se uniria à Esquerda Democrática, que daria origem, posteriormente, ao Partido Socialista Brasileiro (PSB).

Antonio Candido resume o processo:

Quando se fundou a Esquerda Democrática, em agosto de 1945, entraram para ela grupos e pessoas de vários matizes, desde liberais socializantes e antigos tenentistas até ex-trotskistas, não faltando simpatizantes do stalinismo, além de socialistas independentes, como o meu grupo. A certa altura, os integrantes do Vanguarda Socialista quiseram também incorporar-se. Nós, de São Paulo, manifestamos pleno acordo, mas houve resistências no Rio, onde a influência stalinista era acentuada. Apesar das reservas, eles acabaram não apenas entrando, como o seu jornal se tornou órgão da seção carioca, que não tinha conseguido ter um periódico, ao contrário de São Paulo, onde fundamos e mantivemos a Folha Socialista. Pouco depois, em 1947, a Esquerda Democrática passou a denominar-se Partido Socialista Brasileiro, por cessão dos socialistas remanescentes pelos quais fora fundado em 1933.

Hílcar Leite, integrante do grupo de Vanguarda Socialista, dá mais detalhes:

João Mangabeira, dirigente do PSB
João Mangabeira, dirigente do PSB

…tinha sido criado o Partido Socialista Brasileiro, que não permitia a nossa entrada porque tínhamos um jornal independente. Afinal de contas, não éramos mais a Liga Comunista, o clube dos trotskistas, não éramos grupo de vanguarda e não intervínhamos politicamente com nenhum nome. Então resolvemos entrar no Partido Socialista, que na época estava sob a direção do João Mangabeira e do Bayard [Demaria] Boiteux. Quando percebemos que o problema fundamental era a existência do jornal, oferecemos o jornal ao Partido.

O PSB, por sua crítica ao stalinismo, conseguira reunir em suas fileiras intelectuais como Rubem Braga, José Lins do Rego, Joel Silveira, Hélio Pellegrino e Sérgio Buarque de Hollanda. Conseguiu se enraizar na União Nacional dos Estudantes (UNE) entre 1947 e 1950 através das presidências sucessivas de Roberto Gusmão e Rogê Ferreira, mas jamais conseguiu se expandir para além dos setores intelectualizados e da região de São Paulo ou do “bastião de Recife” (cujos prefeitos entre 1955 e 1964 foram do PSB). Sua penetração entre trabalhadores era também muito baixa, e manteve-se como partido de intelectuais e lideranças já destacadas.

O grupo da Vanguarda Socialista, durante a sucessão do presidente da República Eurico Gaspar Dutra, levantou dentro do PSB a candidatura de João Mangabeira à presidência e ganharam; assim uma candidatura sabidamente derrotada foi lançada pelo partido – “mas”, segundo Hílcar Leite, “era um problema de consciência de classe”, de demarcação de um campo socialista independente dos demais candidatos. O grupo de Vanguarda Socialista lançou candidatos a vereadores que partiram para a agitação na porta das fábricas – e foram fragorosamente derrotados. Hílcar Leite relembra:

Logo depois começou uma campanha contra nós dentro do partido. Tudo o que nós apresentássemos, eles eram contra. Fomos sendo isolados, até que aparecíamos lá e ninguém queria falar conosco, só podíamos falar com os dirigentes. Aí resolvemos sair para começar tudo de novo.

Outros companheiros de Pedrosa dos tempos de Vanguarda Socialista permaneceriam no PSB, mas o partido, segundo Paul Singer, “havia sido integralmente ocupado pelos janistas [partidários de Jânio Quadros (1917-1992), político brasileiro e presidente da República entre 31 de janeiro e 25 de agosto de 1961]” até 1960, quando a direção nacional expulsou os janistas. A renovação causada pela retomada do programa socialista no começo da década de 1960 e a entrada significativa de novos militantes – como os jovens intelectuais Antonio Houaiss e Jamil Haddad, o líder estudantil Altino Dantas, o líder das Ligas Camponesas Francisco Julião, o sindicalista rural João Pedro Teixeira e do jornalista Barbosa Lima Sobrinho – não reverteriam o pequeno papel desempenhado pelo partido na política até sua dissolução pelo Ato Institucional n.º 2 dos ditadores militares em 1965, que resultou na dispersão completa de sua militância – que ou bem foi incapaz de manter uma estrutura clandestina sob o regime militar, como o fizeram outras organizações da esquerda brasileira, ou bem optou pela dissolução pura e simples.

Aquilo que prometia, a princípio, ser uma nova experiência de organização na esquerda partidária brasileira terminava como mais um partido no jogo institucional. Pedrosa se candidataria a deputado em 1950, sem sucesso. Dentro do PSB, onde permaneceria até a dissolução do partido, ficaria sem a companhia do grupo que o acompanhara desde a ruptura com o PCB. Estava, mais uma vez, sozinho.

3. O intelectual independente (1950-1964)

Mário Pedrosa em seu apartamento (1952)
Mário Pedrosa em seu apartamento (1952)

Pedrosa seguia seu caminho, apesar dos desacertos do PSB. Tenta a vida como professor: em 1949 presta concurso para a cátedra de História da Arte e Estética da Faculdade de Arquitetura do Rio de Janeiro, com a tese Da natureza afetiva da forma na obra de arte; em 1955, presta concurso para a cadeira de professor de História do Brasil do Colégio Pedro II no Rio de Janeiro com o texto Da missão artística francesa: seus obstáculos políticos; em 1956, concorre à livre-docência do mesmo colégio com a tese Evolução do conceito de ideologia: da filosofia à sociologia, e obtém o grau. Era um professor curioso, segundo lembra o sociólogo Luciano Martins:

Mario pontificava. Mas é preciso qualificar essa palavra. Porque ele o fazia de forma muito especial: sem nunca impor nada, por meio do simples exercício de sua inteligência, com um ouvido atento ao que os outros diziam e com essa capacidade, rara em intelectuais, de nem sempre levar muito a sério o que eles próprios afirmavam, ou o que os outros diziam. Não havia qualquer empáfia ou pretensão de impor verdades. Muito ao contrário, em geral brilhava em Mario, mesmo quando dizia as coisas mais sérias, um olhar travesso. Lembro-me sempre, por exemplo, de que quando a necessidade de ganhar a vida o converteu em professor de História do Brasil no ginásio do Colégio Pedro II, um dia chegou em casa exultante pelo lúcido engano de um aluno pouco afeito ao manejo de advérbios. Na resposta que dera à questão sobre o que havia sido a Inconfidência Mineira, o menino escreveu: “Uma revolução de intelectuais, aliás fracassada”.

Vive também do jornalismo: além de continuar até 1951 escrevendo críticas de arte para o Correio da Manhã, faz o mesmo para o jornal carioca A Tribuna da Imprensa entre 1950 e 1954, escreve artigos sobre artes visuais para o Jornal do Brasil entre 1957 a 1971, e colabora também na Folha de São Paulo. Em 1952, num artigo para a Tribuna da Imprensa de 25 de outubro de 1952, diria sobre política:

A política em nossos dias tende a tornar-se cada vez mais uma técnica e muito menos um combate pela elevação material e cultural do povo. Os poderes públicos à medida que crescem, que intervém por toda parte, que abarcam todos os aspectos da vida moderna se vão tornando monstros irresponsáveis de mil cabeças, movidos apenas por uma norma – a da eficiência.

Neste período, suas atividades como crítico de arte tornam-se o centro de sua vida. Já trabalhara no Museum of Modern Art (MoMA) de Nova Iorque durante seu exílio estadunidense, mas agora sua atividade como militante das artes seria fortalecida. Dissemos na introdução que não trataríamos deste aspecto por ser exaustivamente tratado em outras biografias, mas uma breve cronologia não atrapalhará a narrativa:

Mário Pedrosa no Japão (1959)
Mário Pedrosa no Japão (1959)

Membro da Associação Internacional de Críticos de Arte (AICA) desde sua fundação, em 1948, torna-se vice-presidente da entidade em 1957. Contemplado com bolsa da Unesco, passa quase dez meses no Japão, entre 1958 e 1959, quando escreve um estudo sobre as relações da arte japonesa com a arte contemporânea ocidental. Organiza o Congresso Internacional de Críticos de Arte, em Brasília, São Paulo e Rio de Janeiro, em 1959. Com o título A Cidade Nova, Síntese das Artes, o congresso debate a criação de Brasília e reúne muitas personalidades de destaque internacional. É membro das comissões organizadoras das Bienais Internacionais de São Paulo de 1953 e 1955, e diretor-geral da bienal de 1961. Dirige o Museu de Arte Moderna de São Paulo de 1961 até 1963. Em 1966 volta a colaborar com o Correio da Manhã.

Mesmo assim, sua atividade política não parou, ao menos no campo intelectual. Sobre este período, o sociólogo Luciano Martins tem a dizer:

Conheci pessoalmente Mario Pedrosa em meados dos anos 50. Em sua casa, em Ipanema, ele mantinha o que na tradição intelectual francesa se chamaria um salon. E é esse seu lado “instituição”. Por lá, impreterivelmente, todos os sábados à noite, passavam jovens intelectuais e artistas, suficientemente independentes para recusar ortodoxias, ou politicamente ignorantes e inquietos (como eu), na busca de marcos de referências para construírem uma visão de mundo que a universidade era então incapaz de lhes dar. Foi estimulado por Mario, por exemplo, que estudei a Revolução Russa, que li Trotski, que entrei em contato com Socialisme ou Barbarie e que mergulhei nas obras seminais de Karl Mannheim e de Schumpeter. Na casa de Mario e Mary se dava uma espécie de encontro de águas. O convívio entre os velhos amigos e companheiros de Mario, como Barreto Leite Filho e Lívio Xavier (com o racionalismo erudito do primeiro e o ceticismo mordaz do segundo muito aprendi), os artistas e intelectuais inovadores como Lygia Clark, Aluizio Carvão, Franz Weissman, Milton da Costa, Ivan Serpa, Helio Oiticica, Almir Mavignier, Abrão Palatinik, Ferreira Gullar, Lygia Pape, Carlinhos de Oliveira, Oliveira Bastos e, ainda, a figura flamejante de Helio Pellegrino e jornalistas de talento como Cláudio Abramo, Janio de Freitas e Newton Carlos, para citar apenas alguns que agora me ocorrem. Nessas reuniões, animadas apenas por um ou dois cafezinhos, que Mary trazia de vez em quando, nas pausas de suas muito concretas e às vezes irreverentes intervenções (…), se discutia de tudo. A situação internacional, a evolução do mundo comunista, as tendências do capitalismo, a revisão do marxismo, as expressões da arte no mundo e no Brasil, a política do cotidiano brasileiro e os rumos do país. (…) Era uma gente interessante e estimulante. Certamente muito mais do que aquela que eu encontrava no curso de Ciências Sociais que então iniciava na Faculdade de Filosofia. E isso explica, em parte, o fascínio que Mario Pedrosa e seu círculo então exerciam sobre grande parte da intelectualidade jovem e independente de então. Mas não era isso (apenas) que fazia de Mario Pedrosa um fenômeno intelectual. O que o constituía como tal eram tanto sua acumulação intelectual num amplo leque de conhecimentos como sua permanente abertura ao novo, resultantes de uma fecunda inteligência aliada à insaciável curiosidade intelectual. O que o constituiu também como tal foi sua real contribuição para o entendimento do mundo, ou para uma maneira inteligente de procurar entendê-lo, contribuição que socializava mediante essa espécie de reedição do método socrático.

Era neste ambiente, ainda segundo Luciano Martins, que se discutiam temas “quentes”:

"Panorama da pintura moderna", de 1952
"Panorama da pintura moderna", de 1952

Sua vertente política se exerceria então de forma bem mais complicada, às vezes aparentemente contraditória, o que de alguma maneira refletia o espaço reduzido existente para uma esquerda democrática e independente, face às mudanças que estavam ocorrendo tanto no plano internacional como no plano interno, um e outro sempre exaustivamente discutidos no círculo intelectual de Mario. No campo internacional estávamos em plena Guerra Fria, na qual as duas superpotências exerciam impunemente a violência em suas respectivas áreas de influência e polarizavam lealdades incondicionais, sem deixar espaço para o exercício de qualquer forma de dissidência ou de apoio crítico. Condenar tanto a repressão comunista ao levante operário da Alemanha Oriental de 1953 como a intervenção norte-americana na Guatemala de Jacob Arbenz ou a invasão russa na Hungria de 1956 significava condenar também quem o fizesse a infernos políticos que se alternavam pendularmente. Como se a crítica e a coerência, por lealdade a certos valores fundamentais, não mais tivessem lugar no exercício da política. Novamente, o pensamento crítico sucumbia aos “alinhamentos incondicionais”. Numa época feita de maniqueísmo, quem ousasse exercer sua independência crítica, ante a violência ora de uma, ora de outra das duas superpotências, era em geral politicamente exilado no campo da outra – um campo ao qual de fato não pertencia. Com alguns mais, Mario Pedrosa viveu essa situação e muitas vezes foi levado a militar num terreno que não era o seu – e a pagar o preço político disso. No plano interno, o Brasil vivia uma fase conturbada e de referências políticas confundidas: a agitação lacerdista, o suicídio de Vargas, o golpe de 11 de novembro, os sindicatos enfeudados ao Ministério do Trabalho, a inquietação militar, a corrupção e o clientelismo populista aliados ao conservadorismo pessedista como sustentação de Kubitschek, o udenismo golpista, as esquerdas a reboque dos ziguezagues do PC etc.

Mesmo sem participar de outra militância além da filiação – solitária – ao PSB, Mário Pedrosa não deixava de acompanhar os movimentos políticos e analisá-los:

Nesse momento, ao que me lembre, a análise que Mario fazia era de que o populismo estava em crise, mas que essa crise não estava suficientemente madura de modo a criar espaço para um movimento operário autônomo; que as tensões sociais tendiam a se agravar, mas sem um instrumento que as canalizasse para um objetivo político claro; que as instituições políticas democráticas eram frágeis e vulneráveis; que o “desenvolvimentismo” juscelinista não levaria a nada (aqui, é verdade, escapou a Mario a importância das mudanças econômicas então em curso); e que a heterogeneidade estrutural do país com fragilidade das instituições políticas fatalmente desembocaria numa crise de poder. Nesse cenário, seriam os militares que exerceriam papel decisivo e era preciso conquistá-los para a idéia de que sem grandes reformas sociais, sobretudo a reforma agrária, não haveria estabilidade social e política no país. Data daí a aproximação de Mario com os militares “intelectualizados” da Escola Superior de Guerra, onde fez conferências. O diagnóstico estava certo, a escolha dos parceiros políticos é que estava errada – e disso Mario se daria conta logo depois.

4. O Conselho de Cultura de Jânio Quadros (1961-1962)

Sessão do Conselho Federal de Cultura presidida por Mário Pedrosa (1961)
Sessão do Conselho Federal de Cultura presidida por Mário Pedrosa (de costas) (1961)

Em 1961 Pedrosa assumiria uma curta e inesperada atividade: secretário-geral do Conselho Nacional de Cultura, criado por Jânio Quadros. O conselho enquadrava-se nas políticas contraditórias de Jânio Quadros de aproximação das esquerdas, de um lado, e criação desenfreada de factóides populistas, de outro; ao mesmo tempo em que tinha Pedrosa como secretário-geral, Oscar Niemeyer na Comissão Nacional de Artes Plásticas, Sérgio Buarque de Hollanda na comissão de Filosofia e Ciências Sociais, Otto Maria Carpeaux na Comissão Nacional de Música e Dança, uma das primeiras “ordens” que recebeu do presidente da República foi uma minuta de projeto para… a nacionalização dos quadrinhos.

Antonio Candido, convidado por Pedrosa para o Conselho, relata:

…fui morar no interior, perdi contato com Mario Pedrosa, e creio que só nos vimos novamente quando voltei para São Paulo em 1961. Ele era então secretário do Conselho Nacional de Cultura, criado pelo governo Jânio Quadros. Notificado de que me haviam nomeado membro, recusei, pois não queria colaborar com o governo de Jânio, que tínhamos apoiado para prefeito de São Paulo em 1953, mas de quem nos separamos a seguir, salvo um grupo que saiu do Partido, gente como o nosso presidente Alípio Correia Neto, Aristides Lobo, Francisco Giraldes Filho, Caetano Álvares e outros. Mario, que provavelmente indicara o meu nome, não se conformou e veio a São Paulo me pedir para reconsiderar, o que fiz em atenção a ele. Creio que àquela altura ele estava confiando demais nos liberais, como aconteceu com diversos setores da esquerda como reação contra a ditadura stalinista. Devido ao Conselho, convivemos nas reuniões mensais, no Rio, mas por pouco tempo, pois logo aconteceu a renúncia de Jânio e, com ela, o nosso afastamento.

Luciano Martins dá outro testemunho:

O recém-empossado Jânio Quadros cria um Conselho Nacional de Cultura e nomeia Mario para o cargo de secretário geral. Enquanto se discutia o que fazer desse Conselho (algo que ninguém sabia muito bem), um belo dia, provavelmente depois de uma noite de grande inspiração, o presidente “ordena” (a linguagem era essa) que o Conselho apresente, com data marcada, minuta de projeto para a “nacionalização das histórias em quadrinhos”. No Conselho, houve perplexidade total, e foi um deus-nos-acuda entre os donos dos grandes jornais, cuja vendagem estava relacionada a essas coisas. Com a renúncia de Janio Quadros, o assunto pôde ser alegremente esquecido, e Mario pôde voltar-se para coisas mais sérias.

Fora do Conselho a partir de 1962, Pedrosa retornaria às reuniões em sua casa. Com o golpe militar de 1964, resolve fazer um balanço de sua produção intelectual interior para explicar as razões políticas, sociais e econômicas do golpe. Era a origem de A opção imperialista e A opção brasileira, verdadeiro testamento político de Pedrosa divido em dois volumes, publicados em 1966.

REFERÊNCIAS

Mais uma vez, artigos da coletânea Mário Pedrosa e o Brasil, organizada por José Castilho Marques Neto (São Paulo, Fundação Perseu Abramo, 2001) foram fundamentais, especialmente: “Um socialista singular”, de Antonio Candido; “A utopia como modo de vida (fragmentos de lembrança de Mário Pedrosa)”, de Luciano Martins; “Mário Pedrosa e o socialismo democrático”, de Isabel Loureiro – cuja dissertação de mestrado sobre Vanguarda Socialista é ausência lamentável no mercado editorial; e, por fim, “Mário Pedrosa e o Vanguarda Socialista”, de Paul Singer. Os trechos citados do editorial “Diretivas” foram retirados da tese de doutorado de Marcelo Mari, Estética e política em Mário Pedrosa (1930-1950), usada novamente para complementar as informações encontradas no material já citado. A cronologia da militância estética de Pedrosa nos anos 1950/1960 foi encontrada num perfil publicado pela Enciclopédia Itaú de Artes Visuais.

3 COMENTÁRIOS

  1. Dou os parabéns pelo excelente trabalho de recuperar a trajetória daquele que foi um dos dos mais combativos e principais militantes brasileiros, Mário Pedrosa!

  2. Reforço as palavras do colega Marcelo Mari e aproveito para dar uma informação sobre as referências do trabalho: a entrevista de Hilcar Leite utilizado aqui está no livro “Velhos Militantes”, organizado pela Angela de Castro Gomes.

  3. Agradeço ao Marcelo Ribeiro pela correção. Na pressa de escrever me esqueci de inserir esta referência.

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