Por Dalma Roussif
O que tem em comum todos os oportunistas de esquerda? A barba. O PSOL era um partido de pessoas com dificuldades para crescer a barba: Chico Alencar, Tarcísio Motta, Heloísa Helena, Sâmia Bonfim. Glauber Braga e sua barba adolescente, Marcelo Freixo e a barba calva que não esconde a própria cara (de pau). Veio Guilherme Boulos com sua barba e roubou o partido.
Lula, que dita modas desde 1978, quase sempre teve a sua barba. Quando usou bigode ele teve um câncer. Mais recentemente alguns petistas passaram a fazer a barba: os dois últimos governadores da Bahia, o atual e o anterior, fazem a barba — talvez tenham passado a fazer depois da chacina de Cabula, para combinar com suas polícias.
Em matéria de moda, recomenda-se uma que una essência e aparência. Quando preciso, usar barba, como Boulos. A barba é o retoque radical que não faltará para cativar um público já de todo cativo, o eleitorado de esquerda, quando, sempre constrangido pela lógica (por vezes bastante concreta) do mal menor, votar em Boulos. Por caminhos misteriosos, a barba evoca as barricadas (mesmo que sejam de pneus na radial leste) e as greves (sempre no passado e no ABC). Isso consola esta parcela do público.
Em matéria de política, recomenda-se o disfarce: porque partidários do comunismo deveriam escrever isso na testa e na costeleta, depois que um golpe militar bem-sucedido, em várias etapas, tornado público a cinco anos, de novo tipo, destruiu da democracia tudo o que ela trazia de garantias, mantendo apenas sua mais superficial aparência?
As obras que ilustram o artigo são de A. Sokolov, Victor Mikhailovich Vasnetsov e A.A. Pasetti
A Resistência, quando ainda era o MAIS (que sempre foi muito menos do que uma alternativa), defendia em seus documentos internos que era necessário e possível infiltrar seus militantes no MTST e cooptar a organização por dentro. No final foi o MTST que se infiltrou e tomou pra si o PSOL.
Agora os barbudos vão começar a se apresentar para as eleições do Conselho Tutelar, já que esse é o novo espaço que essa esquerda barbuda quer adentrar.
Se o mapa dos Conselheiros eleitos for replicado nas eleições municipais, a universal ganha em 90% do território de SP. E a esquerda ganha onde? Onde o povo vive? Não,
onde o povo bebe água mijada do meio fio enquanto os revolucionários solidários almoçam, festejam, cirandeiam e se amam cegamente. Será que publicizar que “ja ganhou”, que “tá no papo”, é suficiente para reconstituir a realidade? Me parece que essa é a aposta da campinha eleitoral do PSOL para 2024.
Resumo Eleição Conselheiros Tutelares da cidade de São Paulo:
– Territórios dominados pela Universal: Capão Redondo, Cidade Ademar, Itaquera, Jd Helena, Lageado, Grajaú I, Parelheiros, Penha, Jaçanã, Moóca, Santana, Pedreira, São Mateus, São Miguel, São Rafael, Tremembé, Campo Limpo, M’Boi Mirim.
– Territórios onde a Universal tem maioria: Rio Pequeno, Bela Vista, Ermelino, Matarazzo, Vila Curuçá.
– Territórios onde a Universal tem minoria: Cidade Tiradentes II, Sé.
– Territórios onde a suposta Esquerda ganhou integralmente: Lapa, Pinheiros, Butantã, Vila Mariana, Vila Prudente.
Onde o Lulismo chega, fenece a Esquerda.
Afinal, o que desejam os Lulistas? Mandatos, cargos, comissões, verbas, patrocínios, editais… Negócios, nada além.
Da arte de contar uma mentira falando meias-verdades:
Governo Lula festeja JÁ ter criado 1,38 milhões de empregos formais entre Janeiro e Agosto de 2023.
Entretanto, o salário médio de admissão é de apenas R$ 2.037,90. Ou seja: 1,5 SM.
Há mesmo o que festejar? Haja mais-valia absoluta…
Com a criação de empregos com salário médio de R$ 2.038, se compreende o motivo de boa parte dos trabalhadores fugirem da escravidão assalariada – mas apenas para caírem no inferno da informalidade.
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PS: Acabei de receber de um médico do SUS, aceito sugestões:
《Como explico para 20 pacientes que acompanho que estão na fila de prótese de quadril faz 6 anos… 8 não andam mais e possivelmente não terão a possibilidade do procedimento …》
ALEGORESE DA DESFAÇATEZ
megalomanias paranoides hibridizadas: a insignificância infiltra a irrelevância, que coopta a insignificância; a resultante é uma contração tensorial assintótica – ou seja: a montanha pariu um rato morto
“Mandatos, cargos, comissões, verbas, patrocínios, editais… Negócios, nada além…” Afinal, SÓ os desejam os Lulistas? O que desejam os “esquerdistas? O que desejam os “ANTICAPITALISTAS (também antiesquerdistas, antidireitistas, anti [quase] tudo… exceto a si mesmos…)? E os editores das editoras “esquerdistas”, ou “ANTICAPITALISTA”, o que desejam? E os autores “esquerdistas” ou “ANTICAPITALISTAS” o que desejam? Quantos volumes de um livro são necessários para ser “esquerdista” ou “ANTICAPITALISTA”? Afinal, o que querem gregos e troianos? Brasileiros e lusitanos? Paulistas e baianos? Outraspalavrianos ou Passapalavrianos?
E você, Otelo, o que deseja?
Além de Desdêmona? Desejo receber uma herança que me gere renda para que eu possa controlar meu tempo e, controlando meu tempo, possa assim, em nome do anticapitalismo, estudar e escrever e viajar e palestrar e estudar e escrever e viajar e palestrar e estudar e escrever e viajar e palestrar….
Ou você pode ser só um com teto que recebeu um MCMV-E indevidamente. Ou você pode ser ser um jovem estudante com teto financiado pelo bolsa família e/ou pelo auxílio aluguel (tipo bolsa FAPESP, sabe? Só que para libertar-se do trabalho e militar, ao invés de libertar-se do trabalho e estudar). Ou então você pode realmente ser um herdeiro, um incorporador e não contar pra ninguém, pq segundo a lenda conta o indivíduo-formador-orador veio da luta, se diz ter sido um dia ele próprio um acampado.
E sobre o que os tais anticapitalista querem, a gente pode começar pelo que eles não querem. Não queremos que esse tipo de gente que perversamente anda pela via que o povo explorado pavimentou, pavimenta, pavimentará, exista.
Boa sorte nas pesquisas, isso é se a curiosidade um dia te atacar e te transforme em um indivíduo sem fé.
Otello, vc viu o filme “The Place”? Da prá fazer…
https://www.youtube.com/watch?v=ZPaodj6g3BU
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A música no lugar: dá prá fazer…
https://www.youtube.com/watch?v=yAab-z5HYII
Otello fala de uma condição invejável, mas com certo ressentimento… o que você faria Otello, se alcançasse essa possibilidade de controlar seu próprio tempo? Se dedicaria às lutas sociais de alguma forma, ou iria “curtir a vida”?
O ressentimento de Otelo, ou Otello, já inspirou tiradas mais criativas aqui nos comentários do Passa Palavra. Agora é só azedume. Você está bem, Otelo/Otello?
Quanto ao assunto do artigo, soube que foi a verdadeira barbárie, estilo CONUNE ou pior. Pelos relatos de um colega, tinha gente lá perguntando até se ali não era lugar de inscrição para Minha Casa Minha Vida. Enfim, eles que são brancos que se entendam.
Quanto aos conselhos tutelares, o mapa eleitoral desenhado por Liv para São Paulo reproduz o que vi em outras cidades. Na verdade, desde que me entendo por gente os conselhos tutelares são hegemonizados por evangélicos, sendo a disputa apenas entre qual igreja leva a maioria das cadeiras. A Universal, aliás, tem projeto de poder muito claro e bem definido há pelo menos duas décadas e meia, quando mudaram o discurso da rejeição da política pelo discurso do “irmão vota em irmão”. Por ter esse projeto de poder muito explícito, maduro e bem desenhado, e pela centralidade dos conselhos tutelares e câmaras de vereadores nesse projeto de poder (se acham a bancada evangélica no Congresso grande, olhem para a proporção da mesma bancada nas câmaras municipais), é sempre a Universal quem sai majoritária nos conselhos tutelares. Diferentemente da esquerda eleitoral, os evangélicos fazem um “trabalho de base” monstruoso (em todos os sentidos da palavra) todos os dias lá onde estão os mais miseráveis. Não espanta que tenham ganhado de lavada nessa eleição. É delírio coletivo achar que esse estado de coisas mudaria de uma hora para a outra. Mas…
Sem dúvida o diagnóstico do Manolo sobre os conselhos tutelares é correto.
No entanto, o mapa reproduzido por Liv é fruto de um equívoco. Alguma pessoa da esquerda paulistana, munida de uma listinha feita por amigos, viu o resultado e conferiu na sua listinha. Não conferiu os candidatos que não conhecia, aí transformou militantes por moradia em lideranças de direita.
Em última instância é emblemático de como a “mobilização” por essas eleições foi completamente alienada.
LL, você tem um mapa melhor?
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E eu realmente não conheço ninguém no movimento por moradia que seja de esquerda. E olha que é neste buraco que nasceu a minha militância. Conheço vários, isso sim, que possuem o verniz instagramavel da esquerda. Mas parecer ser algo, não é ser algo. Vou, se eu tiver algum tempo hoje (neste ponto Otelo está correto: seria incrível a vida liberada do trabalho), conferir pessoalmente a lista e retorno ao companheiro. Bom dia!
Após a execução do irmão da Deputada Federal do PSOL, esta “Mensagem ao Oitavo Congresso Nacional do PSOL: Assunto Aparência” parece ter ganho outro sentido.
Até mesmo porque alguns dos assassinados eram barbudos e, segundo linha inicial de investigação policial, aparentemente foram confundidos com milicianos.
Seja como for, o choque é geral. Após 9 meses de Lula 3 permanece sem elucidação quem mandou matar Marielle, e agora uma outra pergunta se soma a tantas outras sem respostas: quem são os mandantes deste novo crime?
E isto logo em seguida a um conturbado Congresso do partido, no qual a questão principal foi ser ou não ser Lulista, não faltando nem mesmo um assessor do pastor-deputado por pouco não meter a picareta nas costas de um rival…
Em réplica ao desejo manifesto de Otello de “estudar e escrever e viajar e palestrar” “em nome do anticapitalismo”, assegurado pela renda de uma herança, fiz referência ao filme “The Place”.
Numa das cenas do filme, o misterioso personagem principal é taxado de “monstro”, então retruca: “Eu apenas alimento os monstros”.
As criaturas monstruosas continuam à solta. Quem as alimenta? A renda de uma herança? As barbas feitas? A lógica do mal-menor? A mais superficial aparência da Democracia Liberal Representativa Burguesa? Nossos desejos inconfessos? Aqueles que despudoradamente assumimos?
Dá prá fazer…
Que grande infelicidade… O irmão de uma deputada ser confundido com um miliciano. Mera má sorte que destoa do profissionalismo daqueles que queimaram Marielle.
Por via das dúvidas, vou me acautelar: por baixo das folhas ei de morar.
Sendo o conteúdo principal da mensagem o assunto aparência, agora já apareceram os corpos dos culpados. Em menos de 24 horas. Haja paciência…
Os presumidos responsáveis não tiveram a prudência de se acautelarem por baixo das folhas? Ou tudo não passa de uma versão solta ao vento, como folhas de um Outono que insiste em perdurar?
Quem manda?
Uma vez tendo ocupado o Palácio do Planalto, os Porões da Ditadura resistem a voltar aos subterrâneos. Os cães raivosos circulam soltos pela noite. As criaturas monstruosas cometem mais monstruosidades. Quem as alimenta?
No final de 1980, foi realizado um evento oficial no Hotel Glória, Rio de Janeiro, promovido pela International Police Association, que serviu de biombo para uma outra reunião, esta clandestina, fazendo parte do contexto da Operação Condor.
Foram três dias de reuniões oficiais e duas noites de conspirações. Foi então traçada uma estratégia violenta de combate à abertura democrática no Brasil.
Para preservar altas patentes militares brasileiras, das reuniões conspiratórias participaram apenas os operadores do porão da Ditadura.
Foram eles também os principais executores dos diversos atentados ocorridos posteriormente. Entre eles, a explosão da carta-bomba na OAB e o caso do Riocentro.
Também se planejou uma explosão de todo o quarteirão do prédio do JB (Jornal do Brasil).
Participariam desta operação membros do mesmo grupo que em 27/05/1977 partiu de Pernambuco num avião Hércules da FAB. Seu destino foi Luanda, em Angola, onde explodiram a Rádio Nacional de Angola, a pedido do governo dos EUA.
fonte: “Memórias de uma Guerra Suja”, depoimento de Cláudio Guerra.
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PS: Cappelli se reúne com Cláudio Castro para discutir segurança no Rio de Janeiro: as raposas agradecem 👏🏼
CHUANG TZU x MAQUIAVEL ou WU WEI?
escasseantes cabelos e mancácio fortalêncio, mandatados por suas respectivas facções do partido da ordem, brincam de raposar; o porco-espinho apenas sorri…
Pergunta Irado… o que você faria Otello, se alcançasse essa possibilidade de controlar seu próprio tempo? Se dedicaria às lutas sociais de alguma forma, ou iria “curtir a vida”? Dizem os metafísicos: “Ninguém pode servir a dois senhores; pois odiará um e amará o outro, ou se dedicará a um e desprezará o outro. Vocês não podem servir a Deus e ao Dinheiro” (Mateus 6, 24). Parafraseando (ou blasfemando) Deus: Ninguém pode servir a duas ideologias; pois odiará uma e amará a outra, ou se dedicará a uma e desprezará a outra. Vocês não podem servir às lutas sociais (ou ao anticapitalismo) e ao Dinheiro (ou ao capitalismo)… Ou será “Que Dá Pra Fazer”…?
Por sua vez, Manolo Pergunta: Você está bem, Otelo/Otello? Como pode estar quem trabalha como caixa de supermercado numa jornada de oito horas (que, somada às duas horas de almoço – artifício do empregador para burlar a jornada e reduzir a mão de obra – mais as duas horas de locomoção ao local de trabalho, perfazendo, minimamente uma jornada real de doze horas, isso se o transporte não atrasar ou você tiver que ficar até o último cliente passar pelo caixa depois do horário de atendimento…), com um uniforme que não tem bolsos nem nas calças nem nas camisas (forma que os patrões e os sindicatos encontraram para diminuir as revistas pessoais…), e ainda assim responsável (contratualmente) por quebra de caixa, por recebimento de notas falsas, etc? “Manolo, você que sabe tudo” (João Bernardo 29/05/2023 at 10:37 em https://passapalavra.info/2023/04/148108/#comments), me responda, como estou?
Arkx Brasil diz que criaturas monstruosas continuam à solta. Quem as alimenta? No meu caso, simples… meu ticket refeição…
Dá prá fazer… Não sei… (quanto o demo tá pagando pelas almas de assistentes administrativos, auxiliares de escritório, vendedores, faxineiros, etc…?https://www.poder360.com.br/economia/10-profissoes-concentram-31-dos-empregos-formais-do-brasil/) Já que mal dá pra comer… Talvez, quem saiba responder são os “Doutores” que, além de “anticapitalistas”, são “antiacademicistas”…
Otelo/Otello/Ottello (virá o Ootteelloo?), na minha experiência, exploração e miséria não criam, sozinhos, amargor e ressentimento. É que você não sabe nem se eu tomei café da manhã de hoje, que dirá o resto. Você só imagina, projeta uma figura imaginária qualquer, e argumenta contra esse sujeito imaginário que criou. O mesmo vale para qualquer dos outros com quem você polemiza estritamente por ataques pessoais, arrumando tempo na sua exaustiva jornada de trabalho para ler todos os comentários do site e citá-los de memória. Pena. Essa inteligência arguta que você mostra em seus comentários seria muito mais bem usada de outras formas, inclusive em prol de lutas, não fossem o amargor e o ressentimento que a animam nos últimos tempos. Fique bem, e depois conversamos. (A propósito, falando em sujeitos imaginários: quem me garante, Otelo/Otello/Ottello, que você trabalha mesmo como caixa de supermercado?)
Retomando o assunto das eleições para conselheiros tutelares, espero que Liv tenha tempo para apresentar esses comentários à lista de eleitos. Não é ironia, é vontade de saber se a situação em São Paulo é igual ou parecida com outras cidades que conheço, para as quais comecei a fazer algumas análises um pouco mais aprofundadas. Quanto mais parâmetros de comparação tiver, mais interessantes ficarão os resultados.
Sabem qual é a melhor forma de escapar de um debate? É produzindo artificialmente um falso debate. Otello é, pelo visto, muito bom nisso!
《- Dá prá fazer…》É como responde o misterioso personagem principal do filme “The Place”, a cada vez que alguém lhe procura para satisfazer um desejo. Então um acordo é firmado. Sempre haverá algo a ser feito, em troca.
Recuperar o marido, a saúde do filho, a plenitude mística, a visão, a sanidade mental, o amor do filho… Ficar bela, se livrar do pai, passar uma noite com a garota do poster…
Viver de herança, hegemonizar um partido, ter uma barba espessa… Vencer a eleição para o Conselho Tutelar, ter casa própria, manter as aparências…
Prá fazer, dá. A questão é em troca do quê… Ainda assim, mesmo o personagem misterioso tem também seus desejos.
E a se considerar os últimos acontecimentos, parece que os barbudos do Hamas andaram também fazendo seu pedido: “- Dá prá fazer…”, responderam os também barbudos da Guarda Revolucionária Iraniana. Afinal, todos prezam muito suas barbas e o disfarce, por lá e no caso, é continuar barbudo.
Numa espetacular operação de inteligência, e protegidos por uma série de ações diversionistas em meio a uma barragem de milhares de foguetes, comandos penetraram em território israelense e fizeram capturas preciosas: entre as quais, o Brigadeiro-General Nimrod Aloni, das forças especiais israelenses. Não foi o único, é de se presumir.
Por toda parte, o ponto de não retorno já foi ultrapassado. Haja ticket refeição…
Manolo, na minha experiência, exploração e miséria criam, sozinhos, amargor e ressentimento: “A condição de trabalhadores assumida a cada nova geração é fixada de antemão. Ela é uma condenação. No final dos anos de 1970 e na década seguinte e hoje ainda, tantas milhares de mãos anônimas escreveram pelas paredes de Paris “metro, boulot, dodo”, viajar entre a casa e o emprego, trabalhar, dormir — o circuito fechado que constitui o padrão capitalista para a vida de qualquer trabalhador, a integração durante 24 horas por dia nos processos do capital. O ato do assalariamento não assinala a inauguração da apropriação capitalista do uso da força de trabalho; ao contrário o assalariamento ocorre porque o conjunto dos capitalistas detinha já previamente o direito de usar o conjunto da força de trabalho, porque o processo de produção dessa força de trabalho fizera-se como processo capitalista, em que o output pertence portanto, por direito, ao capital. O salário é a condição para a reprodução desse processo de apropriação, e não o seu fundamento” (João Bernardo – Economia dos Conflitos Sociais, p. 107 versão PDF). Como não azedar-se diante da tal condenação: “metro, boulot, dodo”? Mas concordo com você sobre as projeções imaginárias… E, se as “psicologias” estiverem certas, da mesma forma que eu crio projeções imaginárias sobre você, você as cria sobre mim…: “O homem é escravo do que fala e dono do que cala. Quando Pedro me fala de Paulo, sei mais de Pedro do que de Paulo” (Freud?)”…
Manolo e Anticristo, está no título deste artigo: “Assunto aparência”. Então, estou debatendo aparências… Ou será que só psolistas e esquerdistas cultivam barbas? Se não forem só psolistas e esquerdistas que cultivam barbas, quem está falseando o debate?
O que garante que eu trabalhe mesmo como caixa de supermercado é a mesma garantia que o autor deste artigo se chame Dalma Roussif, que o Manolo seja o Manolo ou que o Anticristo seja de fato o anticristo…
PS: Manolo, queria, mas não consigo ler todos os comentários do site e, muito menos, citá-los de memória… Mas, há muitos anos, desde o saudoso fundo negro do site (que o João Bernardo comemorou o fim…) acompanho seus artigos e comentários. Seus artigos são sempre um primor. Seus comentários, porém… Nem sempre foram tão gentis (ou gentilmente irônicos)… Não me recordo (ou não vi) você desejar a alguém que “fique bem” (mesmo ironicamente..). Fique bem, sinceramente falando, você também!
Ootteelloo: -> “na minha experiência, exploração e miséria criam, sozinhos, amargor e ressentimento”
Quando eu tinha 16 anos, pegava um ônibus lotado às 5:30h. Quase sempre a viagem de 1:30h era feita em pé, espremido e num calor escaldante desde o raiar do dia.
Às 18h começava a volta para casa, onde iria chegar após às 19:30h. Pelo menos ía sentado.
Nos deslocamentos diários, nunca me deparei – sequer uma única vez – com escritos nos muros do tipo “metro, boulot, dodo”. Afinal, ser infeliz em Paris tem lá o seu charme.
Demorei muito tempo para compreender a completa ausência de “amargor e ressentimento” exalando daqueles corpos, havia apenas acidez fétida de suor, muito suor.
Tampouco no dia a dia a revolta se apresentava, a não ser em inócuas explosões esporádicas: um chute na porta do ônibus, um banco rasgado, uma discussão besta…
Com os primeiros fios de barba despontando em meu rosto, olhava a cara daquelas pessoas em busca dos motivos para se submeterem sem reação a uma situação tão absurda.
Para elas a vida é assim, foi assim e assim será sendo. Os condenados da Terra sequer tem consciência de sua condenação. Sem amargor, sem ressentimento. Apenas uma resignação inerente à própria vida. No entanto, era impossível “ficar bem”, para ninguém.
Anda não conhecera os “barbudos oportunistas de Esquerda”, pois esta se encontrava sumida nos porões da ditadura.
Por outro lado, tive a oportunidade de participar com meus pais, lideranças comunitárias, de ações concretas, e autônomas, em prol de água, luz e esgoto nos bairros periféricos, nos quais todos residíamos.
Tanto tempo depois, nada mudou. Minha barba cresceu, mas os engarrafamentos não diminuíram. A Esquerda ressurgiu das tumbas, apenas para ser outra vez cativa dos burocratas e oportunistas de sempre. Meus pais morreram, suas obras ficaram, mas as condições de exploração continuam as mesmas.
E continuamos reféns.
《Foi anunciado o principal objetivo da operação do Hamas – fazer reféns (secretário de imprensa do grupo palestino “Jihad Islâmica” Dawud Shihab).
Isto é necessário para dois propósitos – a troca de palestinos nas prisões israelitas (há 7.000 deles lá) e para evitar operações terrestres de Israel na Faixa de Gaza.
Ou seja, se as tropas israelenses tentarem entrar no território do Hamas, as execuções começarão. Não é difícil imaginar o efeito que os vídeos correspondentes terão.
Mas quem iniciou todos esses processos já está preparado para as consequências de tudo isso. Eles não os aterrorizam.》
Arkx Brasil, quando eu tinha 16 anos, já fazia uns dois anos que trabalhava, pois comecei a trabalhar com 14 anos, no tempo que ainda podia. Também pegava um ônibus lotado às 6:30h. Quase sempre a viagem de 1:00h era feita sequer em pé, mas pendurado do lado de fora do busão… Segurando, as vezes nas pontas dos dedos (pois eram vários que estavam pendurados na portas), mas evitava on calor escaldante…. Como naquele tempo se entrava pela porta de trás e se descia pela porta da frente, eu torcia para que o ônibus ficasse assim até pelo menos perto do ponto final. Assim eu ficava com o passe pra comer um churrasco grego ou comprar uns cigarros paraguaios… Seria eu um rebelde antissistema ou um criminoso comum?
Também nos meus deslocamentos diários, nunca me deparei – sequer uma única vez – com escritos nos muros do tipo “metro, boulot, dodo”. Também num estive em Paris ou na Europa (mas confesso que já estive no Jardim Europa pra “pagar pau” pros carros importados…)… Mas vi por ai frases interessantes: “Deus não existe… É o diabo de bom humor” ou “O diabo não existe, e Deus de porre”… Enfim, o fato de não encontrarmos pixado por aí “metro, boulot, dodo”, não invalida nossa condenação…
Othelium, no mínimo, no mínimo, sua memória está lhe traindo. Ninguém faz uma viagem de 1h num ônibus pendurado do lado de fora da porta. Mesmo com os engarrafamentos, há muitos momentos em que o deslocamento se faz em velocidade alta. É impossível se manter por tanto tempo agarrado pelos dedos sem sofrer um acidente.
Vi muito esta situação acontecer, mas em trechos curtos entre poucos pontos. Muitas vezes também a porta traseira era deixada deliberadamente aberta, para ventilar o ônibus. Parte do corpo do passageiro ficava do lado de fora, mas com os pés bem firmes nos degraus.
Ah! Memórias… nelas confiar, ou não?
PS:
Os barbudos do Hamas já fizeram também uma baixa na campanha do barbudo Boulos. Cuidado com o que se pede. Dá prá fazer, mas há uma contrapartida. Boulos ganhou o PSOL, mas já perdeu um ex-futuro secretário.
Lula, por exemplo, almejava ser Prêmio Nobel da Paz por conta da guerra na Ucrânia. Agora, com o Brasil na Presidência do Conselho de Segurança da ONU, se vê às voltas com um conflito de ainda mais difícil solução.
arkx Brasil, você tem razão, as memórias podem falhar… Porém, acho que você não percebeu alguns importantes detalhes: “naquele tempo se entrava pela porta de trás e se descia pela porta da frente” (acredito que só quem tenha mais de 40 anos – ou começou a trabalhar “registrado” com 14 anos… – viveu esta situação… falo de um tempo em que não havia, pelo menos aqui na região da Vila Nova Cachoeirinha, zona norte de São Paulo (e em boa parte da cidade, creio eu), nem terminal de ônibus, nem corredores de ônibus – se, não me “falha a memória”, eles começaram [frise-se “começaram”] a ser implantados no final dos anos 80). Comecei a trabalhar no tempo que havia CMTC, Fepasa, RFFSA… não havia bilhete único (muito posterior à criação dos terminais…), havia (de papel) passe e passe escolar (que na hora da compra tinha-se que escolher passe CMTC, para uso só na CMTC ou passe contratada, para uso noutras empresas). Aqui (Cachoerinha), naquele tempo, só havia duas ou três linhas de ônibus que levavam para o centro, CMTC e Viação Brasília… (Esta última empresa tinha uns pau veio que quebrava toda hora, a CMTC quebrava menos, mas quebrava… outro importante momento em que eu e todos mais torcíamos para que o ônibus quebrasse, o mais perto de casa ou do trabalho para não pagar a passagem…). A CMTC tinha a linha Paissandu x Jardim Peri, enquanto a Brasília tinha a Parque Tiête (se não me “falha a memória”). Então, não era nada incomum, nos longínquos anos 1980, sem terminais de ônibus e sem corredores de ônibus (que, apesar da APARÊNCIA, não existem desde de sempre…), andar dependurado na porta de trás do busão (aliás, eu não disse que andava todo o percurso sempre, mas que “torcia para que o ônibus ficasse assim até pelo menos perto do ponto final”). Se a memória pode falhar, a interpretação do passado a partir da realidade presente ou da realidade pessoal, também podem falhar…
Camaradas Arkx e Otelo, peço perdão pois terei que interromper o fluxo de argumentos dos camaradas.
Manolo, segue link para verificar um mapeamento preliminar que fiz a respeito dos Conselheiros Tutelares eleitos em São Paulo. E aproveito para agradecer aos moderadores do Passa Palavra, que me orientaram sobre qual seria a forma mais segura de compartilhar esta planilha: https://cryptpad.fr/sheet/#/2/sheet/view/ThtmmW7nrpfF-KEUa8XCrb76dSGlIQakQm25CTOxbkE/
A dificuldade de fazer este mapeamento são duas:
Primeira, pesquisar o universo de candidatos me tomaria (e de fato tomou) mais do que o intervalo entre uma tarefa e outra. São 260 eleitos, destes eu consegui verificar a metade. Temos então 130 conselheiros mapeados (e não se preocupe L L, eu consultei diversas listas, não apenas as “listinhas dos meus amigos”) e 130 conselheiros não mapeados. Destes 130 conselheiros não mapeados, 110 foram eleitos pela primeira vez. Eu suponho que a dificuldade em mapear estes conselheiros esteja relacionada a “bolha” das minhas redes sociais que alteram (personalizam?) o resultado das pesquisas. O que me faz pensar (vamos ver se se comprovará) que desses 130 conselheiros não mapeados, a grande maioria seriam enquadrados como conservadores.
Segunda, a posição dos conselheiros mapeados nem sempre é certeira. Por isso consta na planilha “supostamente” isso ou aquilo. Isso porque notei que, com exceção das listas que constavam indicações de candidatos Pró-Vida, existe um transito de posições: Diversos conselheiros conservadores poderiam tranquilamente vir a apoiar uma candidatura como a da Tabata Amaral (que se diz progressista). E o mesmo acontece com diversos conselheiros apontados como progressistas.
Outro ponto interessante: Por um lado, nenhuma lista progressista indicava nomes da ala esquerda da esquerda. Por outro lado, haviam listas de indicações conservadoras que apontavam estritamente nomes de extrema-direita.
Outra curiosidade, entre o eleitos, apenas 84 conselheiros foram reeleitos. Ou seja, 176 cargos foram renovados. E, ao que tudo indica, a bronca do campo progressista com as eleições para conselheiros está mais relacionada com a perda de cargos do que com qualquer outra coisa.
Muitíssimo obrigado pela sistematização, Liv. Será muito útil a todos. Uma historinha sobre conselhos tutelares, que talvez conecte o debate sobre conselhos tutelares com o tema do artigo. Lá pelo fim dos anos 2000 e início dos anos 2010, certas frações do PSOL soteropolitano adotaram a tática de eleger algumas pessoas para conselhos tutelares. Na época, o que se pautava não era, digamos, algo como “ocupar o espaço com ideias progressistas”. Não: o argumento era simplesmente o de “liberar” alguns militantes para continuarem fazendo suas atividades, agora remuneradamente, em outras áreas. Não se pode esquecer que conselheiros tutelares são eleitos para um cargo remunerado que, a depender da cidade, paga entre R$ 1.500,00 a R$ 6.300,00 de salário.
Othelium: -> “Quase sempre a viagem de 1:00h era feita sequer em pé, mas pendurado do lado de fora do busão…”
Otelovich: -> “não era nada incomum, nos longínquos anos 1980 […] andar dependurado na porta de trás do busão (aliás, eu não disse que andava todo o percurso sempre,”
Se às vezes a memória nos trái, quase sempre ela também dramatiza. E como… seja exagerando ou subestimando.
Mas sem as memórias, o que seria de nós? Por isto exigir coerência da memória é um erro bem imbecil. Muito melhor é aprender a conviver com os criativos caprichos dela.
E aqui o mais importante são as péssimas condições de transporte, até hoje as mesmas. Quanto a isto as memórias de todos nós são bem coerentes.
Grande abraço.