Angela Davis foi convidada por uma professora de Harvard para falar sobre a união entre a luta dos negros e palestinos; cobrou 35 mil dólares. Angela Davis era provavelmente o maior ícone da esquerda americana nos anos 1970; hoje ela vai a eventos onde uma bilionária afirma que ela e Davis são muito parecidas — e aparentemente Davis não acha nada de estranho nisso. Passa Palavra

11 COMENTÁRIOS

  1. Mas qual é o problema de ela cobrar 35 mil pela palestra? É uma universidade de granfinos. Eles podem pagar e repagar. O que importa é o conteúdo da apresentação. O que ela disse, afinal, e por quê seria parecida com a bilionária?

  2. O quanto ela recebeu e de quem ela recebeu importa. Não só o valor e a fonte do valor pago por uma palestra isolada, mas principalmente pela rotina de palestras, assim como por outros expedientes, como por exemplo a venda de seu acervo pessoal para a burguesia (Havard). A renda importa, claro, por uma questão de sobrevivência individual. Mas e a renda sobressalente importa como? Para nós aqui importa para desvendarmos o coerência do indivíduo. Importa porque é preciso que exista coerência entre todas as esferas da vida. O que se fala é o que se faz? Para um indivíduo que se diz lutar por um horizonte revolucionário, necessariamente precisa ser. A renda sobressalente de Angela Davis serve a um projeto de vida individual ou para um projeto de vida ultrapasse o indivíduo. Os valores sobressalentes serão destinados a que/quem? Serão acumulados em um banco? Assumirão a forma de bens imóveis (propriedade da terra) e/ou móveis (jóias/artes)? Se acumulados em uma poupança, em terras ou objetos de luxo, estão sendo acumulados com qual objetivo? Para servir de herança? Quem são os herdeiros? Salvo engano, Ângela Davis não tem filhos. Se não estão sendo de alguma forma acumulados, estão sendo gastos com que? Com os prazeres da pequena burguesia? Ou será que Ângela Davis está destinando esses valores (talvez até de forma anônima, quem sabe…) a algum projeto que possa vir a contribuir com a transformação de fato do atual estado de coisas? A pregação da palavra “revolução” precisa ser consequente, por isso é preciso haver coerência absoluta entre todas as esferas da vida do indivíduo. Não pode existir uma esfera da vida privada que uma tal concepção revolucionária de mundo possa ser flexibilidade sem consequências práticas em relação as demais esferas. O que vemos, infelizmente, são militantes que perdoam suas prazerosas estripulias econômicas com demasiada facilidade.
    Eu desconheço o uso que Ângela Davis faz dos valores sobressalentes que recebe. Se for um uso coerênte com os parâmetros de vida da classe intelectual pequeno burguesa, talvez realmente haja algumas semelhanças entre ela e a bilionária.

  3. Cobrar 35 mil dólares para falar sobre uma causa de militância para estudantes. Parece bem claro que a causa é na verdade o dinheiro. O que ela disse final? Talvez nada porque quem sabe a professora que convidou não tinha como pagar.

  4. Então quais foram as “estrepulias pequeno-burguesas” de Angela Davis? Pela forma como foi exposto, esse flagrante não explícita o delito, deixando apenas uma suspeita no ar. Suspeita, quando não se fundamenta, torna-se leviana, podendo descambar para o delírio conspiratório. Ficar nessa suspeita, sem apresentar evidências, pode transformar o Passa Palavra em um Duplo-Expresso. Todo mundo que não vive de herança, renda fundiária, dividendos, lucro(industrial ou comercial), juros, etc, precisa vender sua força de trabalho para sobreviver. Seja para Harvard, Cambridge, Oxford, Yale, Stamford, Köln, Coimbra, Toledo, Salamanca, Paris, Nanterre, etc…seja para a Escola Educar Para Crescer, na Avenida Dom Almeida Lustosa, Parque Albano, Jurema, Caucaia, região metropolitana da Grande Fortaleza, CE, Brasil. Não é porque alguém trabalha em um determinado lugar; ainda que seja em um órgão de reprodução ideológica e profissional de administradores, contadores, advogados, politólogos, economistas, publicitários e jornalistas; que, necessariamente, estará em comunhão de convicções e interesses com a classe dominante, com seus patrões, empregadores, contratantes, ou, no caso das universidades, mantenedores/mecenas. Quem leu o capítulo sobre a maquinaria no livro I de O Capital sabe que uma das menções mais abundantes de Marx a situação das condições laborais nos recintos fabris era justamente aos relatórios do inspetor de fábrica Leonard Horner, uma figura que, mesmo sendo um burocrata monarquista, anglicano e conservador, por várias vezes, buscou interceder pelos trabalhadores operários contra os interesses dos ávidos industriais. E quanto a bilionária, há uma pergunta que não pode ser ignorada: o que ela viu em comum com Angela Davis?

  5. Camarada Felipe, na superfície você parece ter respondido ao meu comentário. Mas na realidade que jaz por baixo de tua fraca argumentação é possível notar que provavelmente você sequer leu o que escrevi (com exceção talvez das últimas frases).

  6. Felipe:

    “Once upon a time she was on the F.B.I.’s Ten Most Wanted List. Now she’s on Martha’s Vineyard’s Five Most Coveted List. Davis has been featured on the cover of Vanity Fair and in the New York Times Magazine, while the rarefied New York Review of Books raved at “this preeminent black woman radical’s brilliance.”21 Woke president Amy Gutmann feverishly introduced a presentation by Davis at University of Pennsylvania and, in a royalty-meets-royalty lovefest, South Carolina’s second richest billionaire introduced her at University of South Carolina;22 Davis has even launched a Los Angeles-based “radical” fashion line.23 ”
    “21 “Ava DuVernay Interviews Angela Davis on This Moment,” Vanity Fair (September 2020); Nelson George, “Angela Davis Still Believes America Can Change,” New York Times Magazine (19 October 2020); Keeanga-Yamahtta Taylor, “‘Hell, Yes, We Are Subversives,’” New York Review of Books (22 September 2022). 22 http://www.youtube.com/watch?v=RiteFqDG758; https://www.youtube.com/ watch?v=MtN5bYZ0_NI 23 Priya Elan, “Civil Rights Activist Angela Davis Launches Fashion Collaboration with LA Label,” Guardian (15 December 2020). ”

    (I’ll Burn That Bridge When I Get To It!., de Norman X. Finkelstein)

    Sobre ela cobrar 35 mil dólares para dar uma palestra para estudantes sobre uma causa de lutas sociais, se você estiver com computador talvez consiga achar ma web, ou mesmo no livro acima. O mesmo Finkelstein expõe isso numa fala dele no Youtube, a qual não tenho como achar agora.

  7. Nos anos 70, o Solidarity publicava esse comentário sobre a Angela Davis:
    __
    Angela Davis – Mude os Prisioneiros Políticos!
    Publicado em Solidarity for workers’ power #7.04, 8 de Dezembro, 1972

    Angela Davis. Mulher. Negra. “Radical”. Presa pelo governo que assassinou Joe Hill, que incriminou Tom Mooney, que executou Sacco e Vanzetti, que perseguiu o Chicago Seven, que tem um dedo em todas as tramas contrarrevolucionárias do Marrocos às Filipinas, da Guatemala ao Irã. Nada mais fácil do que lançar-se às cegas na campanha pela sua libertação.

    Nada mais fácil, também, do que “esquecer” (ou pior, negar) sua alardeada fidelidade a um Partido que apoiou o enquadramento (e execução) de inúmeros revolucionários na Rússia e em outros lugares, o estupro da Hungria e da Tchecoslováquia, a supressão de qualquer ação autônoma da classe trabalhadora ou do pensamento por cinco décadas. Dentro dos próprios EUA, seu partido acolheu a ferrovia para a prisão dos 18 caminhoneiros e trotskistas de Minneapolis em 1941. Em relação à luta dos negros, o Partido traiu o “Movimento Duplo V” e o ameaçou a Marcha sobre Washington, em 1941, que resultou na FEPC. Em relação à Libertação das Mulheres, os Partidos Comunistas se opõem à legalização do aborto na França e na Itália, e na Rússia deram medalhas às mulheres por se multiplicarem como coelhos.

    O que se seguiu à recente libertação de Angela Davis merece ser mais amplamente conhecido. Ela se comprometeu a lutar pela libertação de todos os presos políticos. Lucrando com a publicidade, o Partido Comunista dos Estados Unidos a nomeou para seu Comitê Central.

    Em 28 de julho de 1972, o The Times publicou uma “Carta Aberta a Angela Davis” de Jiri Pelikan, uma das principais figuras da “Primavera de Praga”. Durante esse período, ele havia sido diretor da TV da Tchecoslováquia e presidente da Comissão de Relações Exteriores do Parlamento. (Pelikan também foi eleito para o Comitê Central do Partido Tcheco durante o Congresso “ilegal” realizado em uma fábrica de Praga algumas horas após a invasão soviética de agosto de 1968). A carta descrevia por que Pelikan se tornara comunista, saudava a libertação de Angela e aceitava sua promessa de lutar pela liberdade dos presos políticos em todo o mundo. Angela lutaria pela libertação de presos políticos na Tchecoslováquia e na União Soviética? A carta de Pelikan listava a forma como os comunistas estavam sendo perseguidos na Tchecoslováquia, não apenas pela prisão, mas também por serem privados de trabalho por causa de suas crenças políticas. As crianças estavam sendo privadas do seu direito de estudar por causa dos “pecados” dos pais.
    (…)
    Angela não respondeu à carta de Pelikan. Em vez disso, ela saiu em uma grande turnê. Primeiro, para a terra de onde emanaram as ordens que prenderam os comunistas tchecos. Lá, ela foi homenageada e recebeu um doutorado na Universidade de Moscou. Depois, para a Bulgária. Em seguida, para a própria Tchecoslováquia. Enquanto isso, em Nova York, Charlene Mitchell, amiga íntima e associada política de Angela Davis, emitiu uma declaração em seu nome. “Senhorita Davis”, disse ela, “não achava que as pessoas deveriam deixar os países socialistas para retornar ao sistema capitalista. Mesmo que essas pessoas dissessem que eram comunistas, ainda estavam agindo em oposição ao sistema socialista, objetivamente falando… Pessoas na Europa Oriental entraram em dificuldades e acabaram na prisão apenas se estivessem minando o governo”. (The Times, 29/07/72).

    Enquanto isso, Angela havia desembarcado em Cuba. A edição de 8 de outubro do Gramma (“Semanário Oficial do Comitê Central do Partido Comunista de Cuba”) a encheu de elogios. Dorticos, presidente da República Cubana, prendeu a Ordem Nacional de Playa Giron em sua lapela na presença de Fidel – um defensor público, lembre-se, da invasão russa da Tchecoslováquia. (A ordem havia sido criada em 1961 para apresentação a “Cuba ou figuras estrangeiras que se envolveram em feitos notáveis ​​para a paz ou o progresso da humanidade”). Gramma relatou uma manifestação em massa realizada em 28 de setembro na Plaza de la Revolucion, em Havana. Aqui Angela Davis deu sua resposta pública a Jiri Pelikan. “Nossa estadia na Tchecoslováquia aumentou muito nossa apreciação por aqueles que… estavam participando da construção do socialismo, enquanto se mantinham firmes contra a intriga imperialista, a sabotagem e a contrarrevolução… O requisito crítico era desafiar os pseudorrevolucionários que tentam usar o anti-sovietismo para dividir e confundir o movimento anti-imperialista (sonoros aplausos)”.

    As atitudes em relação a esses stalinistas colocam sérias questões para os revolucionários. Angela Davis não é novata na política, desconhece o passado e o histórico internacional dos partidos comunistas. Ela é uma firme apparatchik. Ela faz parte de um aparato dedicado ao repressivo Capitalismo de Estado.

    Então, onde nos situamos? Por um lado, opomo-nos a toda perseguição do poder estatal burguês ou burocrático. Negamos aos nossos governantes o direito de encarcerar qualquer pessoa, até mesmo nossos futuros inimigos de classe. Por outro lado, não temos ilusões sobre o destino que os revolucionários enfrentariam nas mãos de pessoas como Angela. Nós nos dissociamos daqueles que fizeram campanha por sua libertação sem mencionar sua posição política.

    Os próprios revolucionários acabarão tendo que acertar contas com a contrarrevolução stalinista. Mas não podemos, entretanto, permitir que o Estado burguês usurpe esta função. Congratulamo-nos com a soltura de Angela Davis… enquanto documenta as suas declarações ultrajantes sobre os presos políticos tchecos, declarações que felizmente minam a sua credibilidade aos olhos de muitas pessoas comuns. Reafirmamos nossa oposição a toda repressão governamental. Opor-se apenas a algumas formas de tal repressão é destruir a própria credibilidade e aparecer como a imagem espelhada desse retalho stalinista. Haverá tempo suficiente para decidir como enfrentar os stalinistas quando eles procuram destruir o poder dos Conselhos Operários, como sem dúvida o farão. Enquanto isso, nosso principal inimigo é nossa própria classe dominante. Devemos nos opor a todos os seus atos arbitrários, mantendo um olho em seu sucessor, esperando nos bastidores.
    __
    Temos um aviso sobre o que viria ser (ou, na verdade, era) essa impostora.

    Link: https://criticadesapiedada.com.br/2022/09/05/suicidio-pelo-socialismo-maurice-brinton/

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