Por Maria Filipa

Na tribuna sobe o chefe
De semblante iluminado,
Vai falar das injustiças
Do sertão abandonado,
Vai louvar o lavrador,
Mas com o povo… afastado.

Diz que luta pela terra,
Pelo justo e pela paz,
Mas quem fala do assédio
Já não volta nunca mais.
Foi demitida calada
Pra não manchar o cartaz.

Não se ouve a trabalhadora,
Nem se apura a agressão,
Só se prega o Evangelho
Com bonita entoação,
Enquanto o medo corrói
Quem escreve a documentação.

O discurso é libertário,
Mas o gesto é de patrão,
Quem denuncia o assédio
Vira alvo e punição.
Na mística, tudo é belo —
Mas sobra contradição.

“É pela classe oprimida!”,
Grita forte a direção.
Mas se a opressa trabalha ali,
Não tem voz, nem proteção.
É silenciada em nome
Da sagrada instituição.

Quem assina a denúncia
É jogada no sertão,
Dizem: “foi por rebeldia”,
Mas é pura repressão.
A verdade é inconveniente
Pra quem vive de oração.

Na CPT das promessas,
Quem ergue a voz é traidor.
Quem cala ganha prestígio,
Quem obedece é o servidor.
Mas justiça sem coragem
É só mística sem valor.

E assim vão lavando as mãos
No altar da conveniência,
Exaltando o povo do campo
Com bem pouca coerência.
Enquanto queimam no fogo
As mulheres da consciência.

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