Por João Bernardo
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Desmentindo as previsões de Engels e de Marx, a guerra mundial iniciada na Europa no final de Julho de 1914 não se deveu à questão polaca e, além disso, colocou a autocracia russa ao lado das democracias. Mais importante ainda, em vez de os temas nacionais assumirem o relevo que os dois fundadores do marxismo lhes haviam atribuído no caso de um conflito militar generalizado, ocorreu então a primeira revolução realmente internacional, porque não se tratou só de uma simultaneidade de lutas em diversos países, mas de uma verdadeira ultrapassagem das fronteiras.
No Natal de 1914, menos de cinco meses depois de ter deflagrado o conflito, já se registavam casos de fraternização entre as tropas alemãs e as britânicas numa das linhas de frente, e o movimento ampliou-se às trincheiras francesas. Apesar da severidade das punições disciplinares, incluindo condenações à morte, e dos bombardeamentos que os comandantes ordenavam para impedir o contacto pessoal entre os soldados de cada um dos lados, os episódios de fraternização continuaram, e durante o Inverno de 1915-1916 tornaram-se mais frequentes entre os soldados franceses e os alemães, sucedendo o mesmo no Inverno seguinte. Aliás, já em Abril de 1916 os soldados de quatro regimentos russos haviam tomado a iniciativa de estabelecer uma trégua com os austro-húngaros para que pudessem em conjunto celebrar a Páscoa ortodoxa. Superavam-se assim as fronteiras, que pareciam tanto mais intransponíveis quanto o impasse que imobilizara as principais frentes de batalha levara a cavar sistemas de trincheiras de um e outro lado.
Ao mesmo tempo que nas frentes de combate um número crescente de soldados violava um dos preceitos mais básicos da disciplina militar, entre os civis multiplicavam-se as greves e aumentava a quantidade de operários que nelas participava. Do lado das Potências Centrais, o número de dias de trabalho perdidos por greve na Alemanha cresceu 500% entre 1915 e 1916, e 700% entre 1916 e 1917, atingindo então dois milhões. Do lado da Entente, as greves aumentaram na Grã-Bretanha em 1916 e 1917. Em França, de 1915 a 1916 o número de movimentos grevistas subiu 220% e a quantidade de participantes aumentou mais de 340%, sendo as cifras correspondentes entre 1916 e 1917 de cerca de 120% e de 610%. Entretanto, o rendimento do trabalho nas fábricas de material de guerra diminuiu 15% na região de Paris e 50% em Bourges. Finalmente, na Rússia, mais de dez mil operários entraram em greve em Janeiro de 1916 numa base naval do Mar Negro e pouco tempo depois, do outro lado do país, estavam em greve quarenta e cinco mil trabalhadores no porto de Petrogrado. O carácter radical destas movimentações avalia-se ao sabermos que em Outubro de 1916 cerca de duzentos mil operários russos participavam em 177 greves de carácter político.
A relação entre as lutas operárias e os movimentos de fraternização dos soldados ocorria nos dois sentidos e as autoridades militares temiam os contactos que, durante os períodos de licença na retaguarda, os soldados efectuavam com os operários grevistas. Este receio tinha razão de ser, porque há numerosas indicações de que os sindicatos, nomeadamente em França, ajudavam as deserções. Aliás, um dos aspectos reveladores do carácter assumido pelos motins e sublevações militares nas linhas da frente foram os frequentes apelos à solidariedade dos grevistas e do movimento operário em geral. Assim, não espanta que tanto os soldados insurrectos como os oficiais superiores usassem a palavra greve para denominar as sublevações militares colectivas, sucedendo até que soldados alemães retirados da frente de batalha insultassem de «fura greves» aqueles que os iam substituir.
Entretanto aumentavam as deserções, que podemos classificar literalmente como greves militares totais, com a diferença de que, para ser maciço, um movimento de deserção tem de ocorrer simultaneamente em ambos os lados. Na Rússia, em Julho de 1915, os serviços secretos e o próprio ministro da Guerra alertaram as autoridades para as enormes proporções atingidas pela deserção e a dificuldade de reter os soldados nas trincheiras. E em Julho de 1917 um relatório do serviço de informações do exército francês indicou a presença de dez mil desertores só na região parisiense. A situação era idêntica do outro lado das frentes de batalha, e em Setembro de 1918 calculava-se que quatrocentos mil soldados tivessem desertado do exército austro-húngaro, enquanto no Outono desse ano estimava-se em mais de setecentos e cinquenta mil o número de desertores na Alemanha. Mas foi na Itália que este movimento atingiu as proporções mais impressionantes, a tal ponto que no final da guerra havia pendentes um milhão e cem mil processos por deserção, correspondentes à quinta parte dos soldados. A justiça militar rendeu-se à evidência e, perante a impossibilidade de levar a tribunal um tão grande número de desertores, eles acabaram por ser amnistiados em 1919.
Toda esta movimentação culminou em 1917 e 1918. Já em Setembro de 1915, na Rússia, soldados reservistas ou convalescentes tinham-se juntado aos protestos populares, chegando a entrar em confronto com a polícia, e no final desse ano amotinaram-se os marinheiros em dois navios de guerra. Mas a primeira data marcante assinalou-se entre Abril e Setembro de 1917, quando a revolta se propagou nas trincheiras francesas, atingindo o auge em Maio e na primeira metade de Junho. Durante estas seis semanas amotinou-se a maior parte do exército francês, e cinquenta e quatro divisões sublevaram-se contra os comandantes, hastearam bandeiras vermelhas e ameaçaram marchar sobre a capital para derrubar o governo. No mês seguinte, em Julho, as tropas francesas amotinaram-se na frente de Salónica. O ímpeto do movimento confirma-se pela crueldade da repressão. Em França, entre o início de Junho de 1917 e o final de Dezembro, as condenações à morte em conselho de guerra atingiram um número igual ou superior ao registado durante os trinta e quatro meses anteriores, desde que a guerra começara. Mas o ânimo dos insurrectos não esmorecia, e em Janeiro de 1918 dois regimentos franceses sublevaram-se, exigindo a paz. Até no âmbito do comando britânico, apesar de os soldados se mostrarem aí mais respeitadores da hierarquia, ocorreu durante vários dias, em Setembro de 1917, um motim de australianos e neozelandeses, submetido à custa de trezentas prisões e do fuzilamento de um dos cabecilhas. E no Corpo Expedicionário Português, dependente também do comando britânico, as insubordinações e revoltas persistiram desde Abril de 1918 até ao final do conflito, sucedendo mesmo que uma unidade sublevada corresse a tiro o general comandante da divisão. Entretanto, em Fevereiro de 1918 haviam-se amotinado algumas tropas gregas.
As fronteiras, que não tinham conseguido impedir as fraternizações, não puderam também evitar a internacionalização das revoltas. A marinha alemã amotinou-se no Verão de 1917, sendo condenados à morte e executados os dois principais dirigentes do levantamento, assim como foram executados quatro dirigentes do motim ocorrido em navios austro-húngaros em Fevereiro de 1918, quando um dos couraçados chegou a hastear a bandeira vermelha. E na Hungria, em Maio de 1918, dois mil soldados recusaram-se a seguir para a frente de combate, recebendo o apoio dos trabalhadores das minas de carvão vizinhas. Em Outubro desse ano, na frente do Piave, os amotinados de duas divisões austro-húngaras negaram-se a contra-atacar. Noutra das Potências Centrais, a Bulgária, a linha de frente desintegrou-se completamente em Setembro de 1918, quando os soldados se recusaram em massa a prosseguir o combate, o que, em conjunto com a agitação popular, propiciou uma tentativa insurreccional, esmagada com a ajuda de tropas britânicas. Entretanto, nas batalhas do Verão e do Outono desse ano sucedeu que milhares de soldados alemães se entregassem como prisioneiros sem esboçar qualquer resistência. As condições estavam assim preparadas quando a revolta dos marinheiros da armada alemã do Báltico, no final de Outubro de 1918, se estendeu rapidamente em Novembro por todo o país e sublevou os restantes soldados e os operários da indústria, dando início à tão célebre revolução dos conselhos. Também o processo revolucionário iniciado em Março de 1919 na Hungria, bem como as esperanças que animaram o proletariado agrícola e industrial da Itália em 1919 e 1920, estiveram na imediata continuidade da agitação social que encerrara a guerra.
Com efeito, durante todo este período a junção entre as revoltas militares e as greves civis intensificou-se e levou a verdadeiras insurreições de toda a classe trabalhadora. Na Itália, em 1917, o movimento de contestação cresceu a tal ponto entre os operários e os camponeses que em Agosto desencadeou-se em Turim uma revolta de cinco dias, e a violência da repressão deixou cerca de cinquenta mortos, duzentos feridos e mais de oito centenas de presos. Entretanto, as greves de Abril de 1917 em Berlim haviam mobilizado entre duzentos mil e trezentos mil trabalhadores. Na mesma altura uma vaga de greves agitou o Império Austro-Húngaro e em Novembro desse ano cem mil operários manifestaram-se em Budapeste a favor de uma paz imediata. As greves e os motins provocados pela fome tornaram-se tão frequentes em Budapeste e em Viena que em Janeiro de 1918 uma vaga de greves, reivindicando a paz imediata, paralisou estas duas capitais do Império Austro-Húngaro, devendo as autoridades retirar sete divisões das frentes de combate para mandá-las impor a ordem nas ruas. Nesse mesmo mês de Janeiro iniciou-se em Berlim e estendeu-se a meia centena de cidades alemãs uma série de greves que mobilizou várias centenas de milhares de operários e foi acompanhada por manifestações contra a guerra e a fome, repetindo-se o movimento em Viena e Budapeste em Junho de 1918.
A «revolução de Outubro» foi apenas a expressão russa dessa revolução europeia. Hoje, aqueles que celebram a revolução russa como um acontecimento singular estão na verdade a obnubilar a memória de uma grande revolução internacional. Curiosamente, essa memória é também sonegada pelos altos comandos militares, que têm impedido o acesso à documentação, excepto a raros historiadores que gozem da confiança política das autoridades. Este conjunto de factores faz com que, perante uma indiferença generalizada, seja esquecida a primeira revolução efectivamente internacional.
Mas, além do seu carácter internacional, o processo revolucionário ocorrido durante a primeira guerra mundial foi ainda mais profundo e destacou-se pela forma como os soldados e os operários começaram a organizar-se — os conselhos. Os conselhos eram assembleias de base com funções de discussão, deliberação e execução, desprovidas de hierarquias fixas, porque os soldados ou os operários podiam em qualquer momento revocar o mandato dos delegados eleitos e, portanto, não alienavam o controle exercido sobre a luta. Foi a antecipação de uma sociedade nova, uma revolução no sentido real do termo, que ao mesmo tempo ultrapassava a divisão entre nações e remodelava as formas de organização social.
Os conselhos de soldados e os conselhos de operários não nasceram na cabeça de ideólogos. Em França, em Maio e na primeira metade de Junho de 1917, as cinquenta e quatro divisões que se rebelaram contra os comandantes elegeram os seus próprios representantes. Também na Itália, na sequência da sublevação operária de Turim em Agosto de 1917, começaram a surgir no norte do país as comissões de fábrica, cujas implicações revolucionárias se manifestariam durante as grandes greves e movimentos de ocupação de Agosto e Setembro de 1919. E tanto nas cidades alemãs como em Budapeste e Viena a agitação operária deu lugar à criação de conselhos. Até na Grã-Bretanha as greves de 1916 e 1917 suscitaram a expansão e a generalização dos shop stewards, membros dos sindicatos eleitos pelos trabalhadores nas unidades de produção e que defendiam naquela época as posições da base operária, frequentemente oposta às direcções sindicais.
Aliás, em russo sov’et significa conselho, o que mais ainda reforça a inserção da revolução russa de 1917 naquele processo revolucionário de âmbito europeu. Tenho observado muitas vezes que a História é irónica, e não pode haver maior ironia — triste ironia — do que chamar soviético ao regime que depressa eliminaria os sov’et e haveria de instituir uma das formas mais drásticas de burocratização da vida política e intelectual. Ainda nisso a Rússia acompanhou os acontecimentos europeus. Terminada a guerra, a revolução desarticulou-se internamente e, num ritmo mais ou menos veloz, os conselhos burocratizaram-se, em França e sobretudo na Alemanha, nomeadamente na Baviera, e também na Áustria, na Hungria, finalmente na Itália. Mas o seu a seu dono, porque neste declínio a Rússia foi precursora. Ao assinar em Brest-Litovsk a paz separada com as Potências Centrais, em Março de 1918 — precisamente quando de um e outro lado, na França e na Itália, tal como na Alemanha e no Império Austro-Húngaro, as sublevações dos soldados e as greves dos trabalhadores atingiam enormes proporções — o novo governo bolchevista mostrou que preferia os seus interesses nacionais ou, mais exactamente, nacionalistas, aos interesses da revolução internacional. Depois, em Março de 1921, os marinheiros de alguns navios da armada russa do Báltico e a guarnição da importantíssima base naval de Kronstadt, em conjunto com os operários dos estaleiros e oficinas, sublevaram-se em apoio ao movimento grevista que a partir dos últimos dias de Fevereiro alastrara em várias fábricas e estabelecimentos industriais da vizinha cidade de Petrogrado, além de outros grandes centros urbanos, e exigiram o regresso ao sistema originário dos sovietes. Mas o partido bolchevista, incluindo a sua facção mais à esquerda, decidiu liquidar militarmente esta insurreição, e ficou assim colocado o epitáfio na revolução dos conselhos.
Entre os escombros progrediu o fascismo, que só existia em gérmen, mas a partir de então assumiu um colossal desenvolvimento. As interpretações marxistas do fascismo são geralmente um fracasso, sobretudo as que fizeram parte da cartilha oficial. Como o Partido Comunista alemão era o segundo mais importante, logo a seguir ao da União Soviética, a Alemanha foi o principal campo de acção política do Komintern. Ora, à medida que se desenhava entre os comunistas alemães a estratégia de competir em nacionalismo com os nacionais-socialistas e se aproximar deles para minar o Partido Social-Democrata, Grigory Zinoviev foi elaborando no Komintern a teoria do social-fascismo, que classificava a social-democracia como uma parte constitutiva do fascismo ou a considerava até o elemento mais nocivo do fascismo. Stalin optou por uma formulação prudente, declarando em 1924 que «a social-democracia representa objectivamente a ala moderada do fascismo». Mas, seguindo a directiva promulgada em Janeiro de 1924 pelo præsidium do comité executivo do Komintern, em Abril desse ano o 9º Congresso do Partido Comunista da Alemanha definiu a social-democracia como uma «fracção do fascismo», e o 12º Congresso, reunido em Junho de 1929, classificou-a como a vanguarda do fascismo e a sua modalidade mais perigosa, uma orientação que o Komintern tornou obrigatória para o movimento comunista mundial. Assim, enquanto os fascismos ascendiam e se consolidavam, a social-democracia era assinalada como o perigo que devia ser combatido com maior urgência.
Só em meados de 1935, dois anos e meio depois de Adolf Hitler ter conseguido a nomeação para a chancelaria, o Komintern inverteu o rumo e abandonou no seu 7º Congresso a catastrófica tese do social-fascismo, indicando então a aliança com os partidos social-democratas como eixo estratégico da luta contra o fascismo. Mas nem por isso passara a lucidez a inspirar os intérpretes oficiais da doutrina, porque no relatório apresentado naquela ocasião, o novo secretário-geral do Komintern, Georgi Dimitrov, considerou que «o fascismo é o poder do próprio capital financeiro». Esta definição ainda hoje inspira os meios marxistas, embora devesse ser óbvia a sua falta de fundamento, pois se o fascismo se limitasse a ser a expressão directa do grande capital teria prevalecido nos países com as economias mais desenvolvidas, o que nunca sucedeu.
É certo que no geral insucesso das interpretações marxistas do fascismo se encontram algumas excepções de vulto, mas são apenas casos individuais. Quanto à questão que aqui nos interessa, destaca-se Clara Zetkin, que em Junho de 1923, na 3ª sessão plenária do Komintern, advertiu: «O fascismo não é de modo nenhum a vingança da burguesia contra um proletariado que se tivesse insurreccionado de maneira combativa. Sob um ponto de vista histórico e objectivo, o fascismo ocorre sobretudo porque o proletariado não foi capaz de prosseguir a sua revolução». Esta indomável revolucionária entendeu uma das principais lições da fracassada revolução dos conselhos em que participara — que os fascistas não se afirmam contra um movimento operário em ascensão, mas só quando ele está em declínio devido à agudização das suas contradições internas. A mesma perspectiva de análise foi defendida por Trotsky pelo menos desde 1932, e ainda no seu último texto, um esboço de artigo que ditou aos secretários pouco antes de ser assassinado, Trotsky enunciou um modelo de cronologia que se inicia por uma crise social muito grave, prossegue com «o aumento da radicalização da classe trabalhadora», conseguindo mobilizar as camadas intermédias e deparando com as hesitações da grande burguesia, para ocorrer depois «a exaustão do proletariado» e «uma indecisão e uma indiferença crescentes» que, perante «o agravamento da crise social», precipitam o desespero das camadas intermédias e lhes provocam «o aumento da hostilidade para com o proletariado, que não correspondeu às suas esperanças». E Trotsky concluiu — e com esta conclusão encerrou a sua vida. «Estas são as premissas da formação rápida de um partido fascista e da sua vitória». Entendemos assim muito, tanto sobre o fascismo como sobre os movimentos revolucionários, como demonstrou o malogro da revolução dos conselhos.
Na primeira parte vimos a possível relação entre a «nação revolucionária» e a «nação proletária». Em seguida, na terceira parte veremos como a guerra mundial de 1939-1945 fundou a consolidação geopolítica das «nações proletárias». Na quarta parte veremos uma nova vaga de internacionalização das lutas e quais os seus resultados. Na quinta parte veremos como a ecologia dinamiza duplamente o processo gerador do fascismo. Na sexta parte veremos como os identitarismos transportaram o fascismo clássico para um contexto geopolítico transnacional. Na sétima e última parte veremos as transformações internas sofridas pela classe trabalhadora e a crise terminal dos marxistas.
Referências
A citação das decisões do 9º Congresso do Partido Comunista da Alemanha está em Ossip K. Flechtheim, Le Parti Communiste Allemand (K. P. D.) sous la République de Weimar, Paris: François Maspero, 1972, págs. 243-253 e Hermann Weber (1972) «Postface», em Ossip K. Flechtheim, op. cit., pág. 328 e em id., La Trasformazione del Comunismo Tedesco. La Stalinizzazione della KPD nella Repubblica di Weimar, Milão: Feltrinelli, 1979, pág. 294. A citação de Stalin acerca do «social-fascismo» encontra-se em Isaac Deutscher, Staline. Biographie Politique, Paris: Gallimard (Le Livre de Poche), 1964, pág. 488 e R. Palme Dutt, Fascisme et Révolution. Étude des Tendances Politiques et Économiques des Derniers Stades de la Décomposition du Capitalisme, Paris: Éditions Sociales Internationales, 1936, pág. 242. A passagem extraída do relatório apresentado por Dimitrov no 7º Congresso do Komintern pode ler-se em Georges Dimitrov, «L’Offensive du Fascisme et les Tâches de l’Internationale Communiste dans la Lutte pour l’Unité de la Classe Ouvrière contre le Fascisme. Rapport au VIIe Congrès Mondial de l’Internationale Communiste, presenté le 2 Août, 1935», em Oeuvres Choisies, vol. II, [Sofia]: Sofia-Presse, 1972, pág. 7. Clara Zetkin está citada em Nikos Poulantzas, «À Propos de l’Impact Populaire du Fascisme», em Éléments pour une Analyse du Fascisme. Séminaire de Maria-A. Macciocchi, Paris VIII – Vincennes, 1974-1975, 2 vols., Paris: Union Générale d’Éditions (10/18), 1976, vol. I, pág. 106. A passagem citada do último texto ditado por Trotsky encontra-se em Leon Trotsky, «Bonapartism, Fascism and War (His Last Article)», Fourth International, Outubro de 1940, reproduzido em George Breitman e Evelyn Reed (orgs.) Writings of Leon Trotsky (1939-40), Nova Iorque: Merit, 1969, págs. 121-122 e encontra-se também antologiada em George Lavan Weissman (org.) Leon Trotsky. Fascism. What it Is, How to Fight it. A Revised Compilation, Nova Iorque: Pathfinder, 1970, pág. 29.
As ilustrrações reproduzem obras de Bridget Riley (1931- ).






Autonomia, NÃO!
Em 26 de novembro de 1920, menos de duas semanas após a vitória sobre o Exército Branco, membros do alto comando do Exército Negro, e muitos de seus comandantes subordinados, foram convidados a uma reunião organizada pelo Exército Vermelho, onde foram presos e executados.
Trotsky foi o mentor desse massacre. Assim como o massacre de Kronstadt. Anos depois o efeito bumerangue retorna a León sob a forma da machadinha de Ramon…
Quando a derrota se configurava para o Exército Vermelho, a Makhnovtchina (o Exército Negro) irrompeu pela retaguarda dos czaristas e, com seu então inovador conceito de guerra de movimento (a partir de uma ágil e fortemente armada cavalaria), desfechou um golpe estratégico no Exército Branco, selando o destino da Guerra Civil.
O ucraniano Nestor Makhno foi o gênio militar organizador da Makhnovtchina (na qual os oficiais eram eleitos) e mais tarde inspirador da Coluna Durruti, na Guerra Civil Espanhola.
Junto com cada ascensão do Fascismo, como na Ucrânia ou na Espanha, se ouve o grito mudo de uma revolução asfixiada.
Como são estranguladas as revoluções? Sempre com a decisiva participação de seus grandes inimigos: os burocratas oportunistas e os pelegos conciliadores.
《Os conselhos eram assembleias de base com funções de discussão, deliberação e execução, desprovidas de hierarquias fixas, porque os soldados ou os operários podiam em qualquer momento revocar o mandato dos delegados eleitos e, portanto, não alienavam o controle exercido sobre a luta. Foi a antecipação de uma sociedade nova, uma revolução no sentido real do termo, que ao mesmo tempo ultrapassava a divisão entre nações e remodelava as formas de organização social.》
Autonomia não é um conceito abstrato, e sim a forma como a Revolução se materializa num processo de organização popular autônoma pela base.
Cabe a Vanguarda Revolucionária identificar essas instâncias e promover a articulação entre elas, agindo como tecido conjuntivo das lutas.
Descontado o último parágrafo, kraxbrisal empunhou com galhardia a atitude de resistência insurgente.
Saúde& Alegria
Caro João Bernardo,
Em quais referências você se baseou para obter esses dados sobre o número de movimentos grevistas na Europa na década de 1910?
Caro Cícero Dião,
No Labirintos do Fascismo dediquei a esse assunto um capítulo intitulado «Da Guerra Mundial à Revolução Internacional», que na edição Hedra (São Paulo: 2022) se encontra no vol. I, págs. 302-329. Na versão anterior, de 2018, esse capítulo ocupa as págs. 232-251, aqui. Aí poderá encontrar numerosas referências, bem como uma discussão muito mais detalhada do que a exposição sumária que faço neste Manifesto.