«Esta é a primeira guerra feita contra uma população civil confinada», impedida de sair dos cenários de bombardeamentos por quem a bombardeia, disse o ministro conselheiro da Autoridade Palestiniana, Moussa Abuanim, num debate no Porto, na tarde de 31 de Janeiro. Por Passa Palavra
«É verdade que antes de começar os bombardeamentos, a força aérea israelita lançou cartas avisando a população para fugir, o que não disse foi para onde», uma vez que a Faixa de Gaza se encontra cercada pelas Forças Armadas israelitas. No território, com uma densidade populacional de «sete habitantes por metro quadrado [não é quilómetro]» não existe, aliás, para onde fugir: «em Gaza só há casas, não há montanhas, não há campos, não há ribeiras», explicou.
Nesta que foi uma das raras alocuções públicas de um representante oficial da Autoridade Palestiniana no nosso país desde o início da ofensiva israelita, o diplomata acusou ainda Israel de «ter medo da paz», sublinhando que Telavive «entrou sozinha e saiu sozinha de uma guerra que ninguém lhe fez».
“Só falta a bomba atómica”
Falando numa iniciativa do «Movimento pela Paz», que reuniu várias dezenas de pessoas no auditório do Sindicato dos Trabalhadores dos Seguros, Abunaim descreveu pormenorizadamente as circunstâncias «dramáticas» de sobrevivência que o povo palestiniano enfrenta na faixa de Gaza. As forças armadas israelitas — disse — «atacaram escolas, hospitais, instalações dos media [da mídia] e da ONU, bem como transportes e instalações da Cruz Vermelha».
Nesta ofensiva, «o exército israelita atingiu todos os seus limites. Só têm uma arma que ainda não utilizaram: a bomba atómica», afirmou o diplomata.
Um representante do Movimento pela Paz afirmou que Israel terá lançado sobre a reduzida e densa faixa de Gaza «um milhão e meio de bombas», durante a ofensiva, que classificou como um «genocídio» e «um crime contra a Humanidade».
Moussa Abuanim evitou referir-se ao Hamas, embora minimizando as acusações israleitas contra o disparo de rocketes «artesanais», conforme os descreveu, pelo movimento islamita, livremente eleito para o governo pelo povo palestiniano. O representante da OLP considerou, porém, ter sido a política agressiva de Israel que construiu a vitória eleitoral do Hamas.
Exigindo o julgamento dos responsáveis israelitas pela ofensiva contra Gaza, o diplomata palestiniano sublinhou, sem mencionar o nome do novo presidente norte-americano, que os «Estados Unidos devem assumir o papel de mediadores entre as partes e não de parte, ao lado de Israel».
Referindo-se à União Europeia, reiterou a necessidade de que a UE «assuma uma posição política» e não apenas de «pagadora da reconstrução daquilo que Israel destrói». Na Cisjordânia, ilustrou, existe «uma ponte que já foi reconstruída 18 vezes e outras tantas destruída pelos militares israelitas. De toda as vezes foi o dinheiro da UE que pagou essa reconstrução».
Apesar da importância do orador, do seu cargo diplomático oficial em Portugal e da divulgação pública da iniciativa, a comunicação social não enviou um só jornalista em serviço, justificando dessa maneira as críticas e a indignação dos presentes em relação à cobertura jornalística dos ataques israelitas contra Gaza.