Por Passa Palavra

 

cesare-1As declarações feitas à imprensa pelo presidente do Supremo Tribunal Federal, Cezar Peluso, além de artigos como o do jurista Wálter Maierovitch e da ação popular apresentada por Fernando Destito Francischini, deputado federal eleito pelo PSDB do Paraná, mostram que a direita está seguindo um caminho inescrupuloso para tentar, com uma pirueta jurídica, passar por cima de uma decisão legal de Lula e colocar Cesare Battisti num avião para a Itália. Aliás, era precisamente isto que desde há algum tempo previam vários ativistas defensores de Cesare. A direita tenta fazer passar como algo normal este verdadeiro golpe de Estado judicial.

Na última sexta-feira, o advogado de defesa Luís Roberto Barroso afirmou em nota pública que a negação do Habeas Corpus pelo presidente do Supremo Tribunal Federal viola “o princípio da separação de poderes e o Estado democrático de direito” e que a “manifestação do Presidente do Supremo, sempre com o devido e merecido respeito (afirmação que é sincera e não meramente protocolar), constitui uma espécie de golpe de Estado”. O ex-ministro da Justiça Tarso Genro igualmente denunciou a manobra de julgar a decisão de Lula: “Quando o Supremo Tribunal Federal, que é a instância máxima do Judiciário, age de forma absolutamente ilegal e ditatorial como agora, cria-se a pior das situações, pois não há mais a quem recorrer”, disse ao site iG.

Logo após a decisão de Lula, viu-se as raivosas declarações das autoridades italianas, “as passeatas e as sugestões publicadas na imprensa de que Cesare Battisti deveria ser seqüestrado no Brasil e levado à força para a Itália, apenas confirmam o acerto da decisão presidencial”, comentou Barroso. No Brasil, a decisão foi recebida com furor pela direita. Para Tarso, “os que chamam Battisti de terrorista são os mesmos que defendem a impunidade aos torturadores, que vivem soltos e impunes pelo País afora.”

64outravezJá não dá mais para tratar com meias palavras a situação de Cesare Battisti. Infelizmente, desde o momento em que Cesare foi preso ouvimos vários dos seus defensores, tanto no Brasil como na Europa, defenderem uma política do silêncio e pretenderem que as pressões nos corredores seriam mais eficazes do que as pressões públicas. Ainda na véspera de Lula ter tomado a decisão de não extradição algumas dessas pessoas faziam campanha para que os defensores de Cesare se mantivessem em absoluto silêncio, nem sequer prestando declarações a jornalistas, com o perverso argumento de que tudo o que dissessem só estimularia a má vontade do governo italiano. Como se a má vontade do governo italiano pudesse ser estimulada!

E, assim, o alheamento em que os movimentos sociais e os partidos políticos da extrema-esquerda se mantiveram acerca da situação de Cesare Battisti — alheamento que nós, no Passa Palavra, sempre temos criticado, tanto em público como em privado — foi objetivamente estimulado por aqueles que viam nessa atitude uma caução da política do silêncio e das pressões nos bastidores.

Mas hoje todos podem entender claramente que a política do silêncio é a política do avestruz.

É necessário alertar a opinião pública de esquerda para a possibilidade, cada dia mais próxima, de um golpe de Estado judicial que coloque Cesare Battisti num avião rumo à Itália antes de a defesa de Cesare ter qualquer possibilidade de reação.

Leia aqui uma carta de Cesare Battisti ao Supremo Tribunal Federal

e para saber mais sobre o caso de Cesare Battisti leia aqui.

8 COMENTÁRIOS

  1. Não é de hoje que desconfiamos das decisões da Justiça brasileira em todos os parâmetros.A decisão do presidente LULA sendo questionada por um grupo de juristas(lavaram as mãos para ele decidir)que se acham deuses,tem a cara de um golpe para privilegiar a direitona.Desde casos em que as decisões favoreceram a elite criminosa,tudo dentro da lei,mas que a opinião pública fica a duvidar quando os três “P” é que continuam permanecendo trancafiados.Elementos da alta sociedade ficam em suas mansões gozando de liberdade que dizem vigiada,com todas as mordomias.Que país é esse???????

  2. Bom trabalho para essa luta. A ver se a conquista não volta para trás. Qualquer coisa que queiram dinamizar por Portugal sobre o assunto digam algo. Abraço fraterno.

  3. Se não dá mais para esperar algos dos ‘corredores’, nem de burocracia, justiça…’leis’, é hora de ter um pouco de ação direta.
    Mas concordo quando se diz do alheamento, a esquerda está tão alheia que qualquer ato público seria vazio.
    MAs não vejo outra saida.

  4. E evidente que se trata de um acto de revanchismo politico de uma direita dura e vencedora sobre um representante de uma corrente utópica de esquerda,vencida.O habitual:os vencedores julgam e condenam os vencidos por vingança e para obter crédito político.A tentativa de transformar um velhíssimo crime político em crime comum com base na denúncia de um arrependido (premiado com redução de pena)não convence minimamente.Em Itália o tribunal provou a existencia de um crime politico.Deverá o crime político ser punido com a prisão perpétua?O crime politico justifica a extradição?Da direita à esquerda será difícil encontrar quem diga que sim.

  5. “Em Itália o tribunal provou a existencia de um crime politico” – Tese controversa, como sabemos.

    “Deverá o crime político ser punido com a prisão perpétua?” – Vamos questionar apenas a intensidade com que a direita usa seus tribunais para julgar militantes e ex-militantes? Para um homem de 56 anos como Battisti, talvez uns 20 anos de pena seja mais “justo” que a perpétua, não?

    “O crime politico justifica a extradição?” – Para quem? Para Berlusconi, Peluso e Gilmar Mendes, entre outros, sim. Caso contrário, Battisti não estaria preso desde 18 de Março de 2007. Inclusive, não estaríamos aqui debatendo este caso, pois ele simplesmente não existiria. Aliás, quais ações um “crime político” deve justificar?

    “Da direita à esquerda será difícil encontrar quem diga que sim” – Eis uma autêntica frase de “uma corrente utópica de esquerda, vencida”. Da direita à esquerda, e vice-versa, já ouvi muitos dizerem que sim. Repito: caso contrário, Battisti não estaria preso desde 18 de Março de 2007. Inclusive, não estaríamos aqui debatendo este caso, pois ele simplesmente não existiria.

    Com esses argumentos, não iremos muito longe na ajuda a Battisti…

  6. Livros de apoiadores de Cesare Battisti proibidos nas Bibliotecas de Veneza

    Uma circular enviada por Raffaele Speranzon, assessor de cultura de Veneza, e do partido de Berlusconi, manda retirar das estantes das bibliotecas de Veneza os livros de todos os autores que em 2004 firmaram uma carta pela liberdade de Cesare Battisti. Os blibliotecários que não obedecerem serão responsabilizados, diz a circular.

    Entre os autores banidos mais conhecidos do público brasileiro está, por exemplo, o filósofo Giorgio Agamben.

    Ainda na lista de banidos se encontra, entre muitos outros:

    Valerio Evangelisti, Wu Ming, Massimo Carlotto, Tiziano Scarpa, Nanni Balestrini, Daniel Pennac, Giuseppe Genna, Girolamo De Michele, Vauro, Lello Voce, Pino Cacucci, Christian Raimo, Sandrone Dazieri, Loredana Lipperini, Marco Philopat, Gianfranco Manfredi, Laura Grimaldi, Antonio Moresco, Carla Benedetti, Stefano Tassinari.

    Receia-se que tal política se estenda para a região e para além dela, se nada for feito.

    Por que será que a grande mídia não noticia este fato? Será se é porque não pega bem mostrar a face fascista dos que querem Battisti extraditado, do governo Berlusconi e do “Estado Democrático de Direito” italiano?

    E ainda há os que dizem, contra todos os fatos, que não há nada que mostre que Battisti seria perseguido político. Se os apoiadores dele já o são, imaginem ele.

    Link com a notícia: http://ilgazzettino.it/articolo.php?id=134755&sez=NORDEST

    Sobre o fato, por autores Wu Ming, coletivo de autores banido: http://www.wumingfoundation.com/giap/?p=2572

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